Estimativa De Custo De Produção E De Despesa Da Cultura De Uva Niagara No Estado De São Paulo, Safra 2002/2003

            Na revista Informações Econômicas de dezembro de 2001, apresentou-se artigo abordando, para a uva comum de mesa da variedade Niagara no Estado de São Paulo, os sistemas de produção vigentes e as principais mudanças na tecnologia adotada pelos agricultores da principal região produtora paulista (EDR de Campinas), bem como as matrizes de coeficientes técnicos, estimativas de custos de formação e de produção e indicações tanto da rentabilidade da atividade quanto das despesas e remunerações dos proprietários e dos meeiros.
            A estimativa da rentabilidade da atividade baseou-se na estrutura de custo de produção denominada Custo Operacional Total (COT), tradicionalmente utilizada pelo IEA, que engloba despesas diretas e indiretas e não inclui a retribuição ao fator terra, a remuneração ao empresário e a remuneração ao capital fixo das construções e benfeitorias.
            Utilizou-se, também, para as estimativas das remunerações dos proprietários e dos meeiros, um item adicional, denominado Despesa, seguindo as normas dos usuais contratos vigentes entre os proprietários e meeiros da região, e que se diferenciou do COT por não incluir os custos de mão-de-obra do meeiro e a depreciação referente à formação do vinhedo e de máquinas e equipamentos.
            Embora aquele artigo registrasse as condições de preços do produto e dos fatores de produção na safra 1999/2000, observou-se que ao longo de 2000 não ocorreram grandes alterações nos preços pagos e recebidos pelos produtores estudados, concluindo-se que os resultados comentados eram também uma boa indicação para os custos, receitas e rentabilidade vigentes no final de 2000, ou seja , da safra 2000/2001.
            Verificou-se que as estimativas da rentabilidade da atividade e das remunerações dos proprietários e dos meeiros nessas safras eram significativas e condizentes com os elevados riscos, exigência de mão-de-obra qualificada e especificidades da viticultura
            Entretanto, a partir de acompanhamentos posteriormente efetuados na região estudada, detectou-se grande insatisfação dos produtores com os resultados da safra seguinte (2001/2002), os quais colocam que tanto os preços pagos quanto os recebidos evoluíram desfavoravelmente nesse período, acarretando dificuldades financeiras para um grande número de pequenos proprietários e meeiros. Na região, a usual condução da cultura é através de parceria, entre o proprietário e um casal de meeiros, para cada hectare de uva em produção.
            Visando fornecer informações sobre a viticultura paulista e elaborar um quadro inicial da cultura na safra em andamento, cuja colheita se concentra entre meados de novembro e de fevereiro próximos, apresentam-se a seguir estimativas do COT e da Despesa da uva Niagara na safra 2002/2003, no Estado de São Paulo, e verifica-se a evolução dessas estimativas relativamente às registradas na safra 1999/2000.
            Nesse período, registrou-se efetivamente significativo aumento (29,9%) no COT por hectare da atividade, que passa de R$ 9.843,16 na safra 1999/2000 para R$ 12.784,50 na safra 2002/2003. No Custo Operacional Efetivo (COE), que considera somente as despesas diretas, a variação é um pouco maior (33,3%), passando de R$ 7.778,47 para R$ 10.368,89 por hectare (tabela 1).
            Os dois principais itens do custo, referentes a outros materiais (basicamente caixas e forração) e a mão-de-obra, apresentaram variações de, respectivamente, 21,7% e 25,0%, pouco menores que a assinalada para o COT, enquanto os maiores aumentos ocorreram em adubos e corretivos (60,6%) e em defensivos (51,5%). Nos demais itens, os aumentos estiveram ao redor da variação do COT, ressalvando-se, como exceções, que não há alterações nos valores do item depreciação da quadra, em razão de se ter adotado o mesmo valor de formação nas duas estimativas, e no do item seguro, que embora no período tenha apresentado mudanças e atualmente conte com mais de uma taxa para cobertura, que varia segundo o risco associado à localização da produção, a média dessas novas taxas eqüivale-se à vigente na estimativa anterior.
            Ao se analisar a Despesa, que segundo os contratos vigentes entre proprietários e meeiros registra apenas os efetivos desembolsos efetuados na atividade durante a safra, verifica-se que a variação é maior do que a assinalada para o COT. Entre as safras 1999/2000 e 2002/2003, a Despesa aumentou 35,0%, tendo passado de R$ 6.181,20 para R$ 8.344,32 por hectare. A evolução diferenciada nos preços dos insumos, já comentada, acaba acarretando alteração na importância relativa dos principais itens da Despesa. Aumentam as participações de adubos e corretivos (de 23,0% para 27,4%) e de defensivos (de 10,8% para 12,1%), enquanto os demais itens apresentam pequenas reduções ou mantêm a importância relativa na Despesa.

            Ao lado desses aumentos nas estimativas de custo e de despesa, as condições climáticas têm sido desfavoráveis à cultura ao longo da safra em andamento, e as expectativas dos produtores de uva Niagara no Estado de São Paulo nesta safra 2002/2003 são de queda na produção e de elevação dos preços do produto, que, se por um lado poderão minimizar e/ou compensar as dificuldades dos proprietários e meeiros com as elevações dos custos e despesas, por outro lado poderão ser neste final e início de ano um elemento adicional a contribuir negativamente na evolução da renda dos consumidores e dos índices de inflação.

 

Data de Publicação: 01/12/2002

Autor(es): Arthur Antonio Ghilardi (arthurghi@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor