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A cultura do figo em São Paulo
O figo está entre as vinte principais frutas exportadas pelo Brasil e vem mantendo a terceira posição no ranking de volume comercializado, entre as frutas de clima temperado, com 0,9 mil toneladas. Fica atrás apenas da maçã com 153,0 mil toneladas e da uva com 28,8 mil toneladas, atingindo o patamar de US$ FOB 2,109 milhões1 em 2004. Os maiores importadores do figo brasileiro são Alemanha, França, Países Baixos, Reino Unido e Suíça, dentre mais de dez países para onde, costumeiramente, são feitos embarques aéreos 2.
A produção de figo nos países localizados na Bacia Arábica do Mediterrâneo representa a maior parte da produção mundial. Em 2004, a Turquia respondeu por 26% do total; o Egito, por 18%; a Grécia e o Irã, por 7% cada um; Marrocos e Espanha, por 6% e o Brasil, na 10a colocação, por 2% da produção mundial.3
O figo é cultivado em cerca de quarenta países. Embora haja países com grandes
produções, estas se destinam principalmente ao mercado interno, ficando o Brasil
(figo tipo comum: Roxo de Valinhos) e a Turquia (tipo polinizado, tipo Smirna)
como importantes fornecedores de figo ao mercado internacional.
A colheita brasileira do figo ocorre num período de entressafra da produção da
fruta fresca no Hemisfério Norte e nos países do Mercosul. Assim, são amplas as
possibilidades de exportação, pois o produto brasileiro entra no mercado
internacional a partir de dezembro, logo após a safra dos países mediterrâneos.
A produção do figo pode ser destinada tanto para a comercialização in natura quanto para a industrialização. Para a
indústria, o fruto meio maduro destina-se à produção do doce de figo, seco e
caramelado, tipo rami; o figo inchado, ou de vez, pode ser usado para o preparo
de compotas e figadas, enquanto os figos verdes são empregados para a produção
de compotas e doces cristalizados.
O cultivo da figueira no Brasil baseia-se praticamente na plantação de uma única
variedade, Roxo de Valinhos, com maior expressão econômica nos Estados do Rio
Grande do Sul, Minas Gerais e São Paulo, em regiões bem delimitadas (figura 1).
Fonte: Elaborada pelos autores com base em IBGE (2005)4
No Rio Grande do Sul, a região mais importante é a de Pelotas, com produção quase totalmente dirigida para o processamento industrial nas inúmeras fábricas locais 5.
Em Minas Gerais, destacam-se as áreas produtoras ao redor de Poços de Caldas, Andradas e Guaxupé, cujas colheitas encontram colocação nas fábricas da região, muitas delas de caráter familiar, ou são enviadas para serem processadas na indústria paulista de conservas6.
Em São Paulo, os municípios produtores de maior importância são os de Valinhos,
Campinas, Louveira e Bragança Paulista, com a principal produção voltada para
mesa, destinada tanto ao mercado interno quanto ao externo (figura 2). Em 2004,
essa região exportou 40% de sua produção de figo.
Figura 2 – Distribuição Geográfica da área plantada com figo, 1998-2003 (dados preliminares)
1ponto = 0,5 hectare
Fonte: Elaborada pelos autores com base em CATI (2003)7
Após drástica redução da produção na década de oitenta, a cultura estabiliza-se por volta de 7 mil a 8 mil toneladas no período de 1996 a 2004. A área em 2003 foi estimada em 489,7 hectares, com 712 mil plantas8 detectadas em 201 UPAs (imóvel rural), apresentando modesto aumento comparado ao levantamento 1995-969, que totalizou
622 mil plantas em 472,7 hectares. Tendência semelhante foi verificada no
Levantamento Subjetivo do IEA/CATI que, em 1996, sumarizou 402 mil pés contra
527 mil em 2003.
As reduções de área e do número de pés de figo nas regiões produtoras paulistas
foram devidas não só à escassez de mão-de-obra especializada, exigida
principalmente pela colheita da fruta, mas também pela valorização do preço da
terra provocada por loteamentos imobiliários e pela urbanização. Embora venha
sofrendo esta transformação, o município de Valinhos continua sendo o principal
produtor paulista. Contudo, a concorrência do setor primário com a urbanização,
neste município, tem provocado o deslocamento da atividade para cidades
vizinhas, como o município de Louveira que, atualmente, está entre os principais
municípios produtores (figura 3).
Fonte: Elaborada pelos autores a partir de CATI (2003)10
Cerca
de 76% das UPAs que cultivam figo se encontram em imóveis de tamanho 2 a 20
hectares e, mais restritamente, 55% entre 2 e 10 hectares. Ao examinar o tamanho
da área cultivada de figo em cada UPA, verifica-se que 60% dessa área
encontram-se em pomares de tamanho até 5 hectares.
O cultivo do figo vem sofrendo um processo de adensamento no qual a densidade
oscilou em torno de 1200 a 1300 plantas por hectare no levantamento 1995-96 para
1600 a 1700 plantas/ha em 1998-2003 (figura 4).
Fonte: Elaborada pelos autores com base em CATI (2003)11
A colheita do figo concentra-se de novembro a março, período de entressafra da produção da fruta fresca no Hemisfério Norte e nos países do Mercosul. No mercado interno, por sua vez, os preços são menos atrativos tornando a exportação uma opção vantajosa. Para o mercado europeu, o maior volume deve ser exportado até o fim de janeiro devido à entrada do fruto originário da Turquia em fevereiro com preços inferiores aos praticados pelos produtores brasileiros (figura 5).
Fonte: Elaborada pelos autores com base em PINO et. al. (1997)12
Uma característica dessa cultura é a utilização da mão-de-obra familiar, média de 6 pessoas por UPA, bem como trabalhadores permanentes, em média 5 pessoas por UPA13. Um homem repassa, em média, 700 a 800 pés de figo por dia, em 3 horas de serviço, e colhe ao redor de 500 frutos maduros (suficientes para 16 a 20 engradados com 3 gavetas cada), considerando-se apenas osfisiologicamente maduros. Este fruto exige mão-de-obra qualificada, pois, ao mesmo tempo em que se embala, se procede à seleção dos frutos por classe e tipos, segundo as características de tamanho e de qualidade14.
Cerca de 31% da área cultivada de figo é na forma de monocultura. Entre as
frutas, a goiaba e o pêssego são os cultivos comumente realizados com o figo
(27% da área de figo), pois há um melhor aproveitamento da mão-de-obra
existente, dado que a produção da goiaba ocorre na entressafra do figo e o
pêssego, no Estado de São Paulo, um pouco antes do reinicio da safra do figo
(figura 6).
Fonte: Elaborada pelos autores com base em CATI (2003)15
Devido
às características de perecibilidade, os frutos devem ser colhidos com cuidado
para evitar quedas e batidas, protegendo-os dos raios solares, e encaminhados
imediatamente para galpões estrategicamente localizados próximos à plantação. Em
67% das unidades produtivas, existem barracões que podem ser utilizados também
para classificar e embalar os frutos e, em 12%, existem galpões de embalagem
especializados para este fim. Esses galpões concentram-se nas UPAs onde o figo é
cultivado exclusivamente (cerca de 28%) e entre os produtores que cultivam figo
e pêssego (17%).
Em 30% das unidades produtivas, os proprietários apresentam nível educacional acima do 2o grau completo; a residência do
proprietário na UPA não é comum (37% das unidades produtivas) e em 62% das UPAs
os proprietários são sindicalizados (destes 30% são produtores exclusivamente de
figo). A assistência técnica, privada ou oficial, é utilizada pelos
proprietários em 70% das unidades. A adubação, tanto mineral quanto orgânica, é
praticada em 60% das UPAs e somente em 20% realizava-se adubação verde.
As categorias parceiro e arrendatário são comuns em 37% das unidades produtivas
e, destas unidades, 33% produzem exclusivamente figo.
A ficicultura pode ser desenvolvida em outras regiões do estado. Todavia,
deve-se enfatizar que se trata de uma cultura que deve ser implantada em
concentrações regionais, uma vez que pequenas produções isoladas não oferecem
cargas suficientes para transporte econômico.
O figo é uma fruta climatérica, ou seja, com capacidade de amadurecer depois de
colhido. Portanto, é um fruto de alta perecibilidade, com uma vida útil estimada
em menos de uma semana quando armazenado em temperatura ambiente. Os frutos são
geralmente colhidos no período matutino e encaminhados para a comercialização
ainda no mesmo dia.
Os frutos são embalados em gavetas (320X150X50 mm para 1,5Kg; 275X135X50 mm ou 270X115X50 mm para 1Kg), deitados, para evitar problemas com vazamento de líquidos pelo ostíolo, e arrumados em engradados (3-5 gavetas por engradado)16.
O valor do figo no mercado atacadista é dado principalmente pelo seu tamanho,
pela sua cor e pela sua aparência. Quanto ao tamanho, a classificação utilizada
está relacionada à quantidade de frutos que cabe em uma gaveta denominada tipo,
ou seja, tipo10, tipo 8 e tipo 6. Este último, o mais valorizado, consegue
melhor preço no mercado. Quanto mais arroxeada a coloração, uma característica
da variedade, maior a aceitação. A aparência está ligada à integridade do
ostíolo e à isenção de defeitos.
Os produtores utilizam marcas próprias, que não visam ao efeito promocional
direto sobre os consumidores, mas ficam conhecidas pelos comerciantes. Ou seja,
o bom produtor, que tem uma fruta de qualidade, transmite confiança e torna-se
conhecido pelo mercado, o que lhe dá preferência nas vendas praticadas no
atacado. Conseqüentemente, há uma procura maior pela marca, valorizando o
produto.
O Entreposto Terminal de São Paulo da Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (ETSP - CEAGESP)17 é o principal local de comercialização do figo, com influência na formação de preço da fruta no mercado nacional. Foi responsável, em 2004, pela comercialização de aproximadamente 30% do figo roxo de Valinhos consumido in natura no Brasil.
O figo comercializado pelos atacadistas da CEAGESP tem como principais destinos
hipermercados, supermercados, quitandas, sacolões, feiras e mercados
especializados, inclusive CEASAs de outros estados.
A comercialização de figo no ETSP é realizada por 110 atacadistas, parte dos
quais também são produtores. Existe uma concentração no volume comercializado no
Entreposto onde cinco atacadistas detém 81% deste volume (figura 7).
Fonte: SEDES/ CEAGESP
Os cinco primeiros atacadistas têm o produto para ofertar durante todo o ano, devido ao surgimento de novas práticas agrícolas, enquanto os outros comercializam a fruta sazonalmente, ou seja, no período da safra (figura 8).18
Fonte: SEDES/CEAGESP
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1SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR – SECEX, 2004. Disponível em http://www.mdic.gov.br. Acesso em 2 de abril de 2005.
3FOOD AGRICULTURAL ORGANIZATION – FAO (2004). Statistical – database. Disponível em www.apps.fao.org. Acesso em 2 abril de 2005.
4 INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro, 2004. Disponível em www.sidra.ibge.gov.br . Acesso em 05 de março de 2005.
5AMARO, Antonio Ambrosio & HARDER, Wilmara Correa Comercialização do figo. I Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Figueira. Anais. p.185-211, Ilha Solteira – SP
6 Op. Cit. 5.
7COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL Levantamento Censitário de Unidades de Produção Agrícola do Estado de São Paulo, São Paulo: CATI/SAA, 2003 (não publicado).
8 Op. Cit 7.
9 PINO F.A. et al. (Orgs.). Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do estado de São Paulo. São Paulo: IEA/CATI/SAA, 1997. 4 v.
10 Op. Cit. 7.
11Op. Cit. 7.
12 Op. Cit. 9.
13 Op. Cit. 7.
14Op. Cit. 5.
15Op. Cit. 7.
16DURIGAN, J.F. 'Pós-Colheita do Figo'.Simpósio Brasileiro sobre a Cultura da Figueira. Anais,Ilha Solteira, 18 a 29 de nov.,1999.
17 CEAGESP: www.ceagesp.gov.br
18 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número
HP-34/2005
Data de Publicação: 19/05/2005
Autor(es):
Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor