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Situação Atual e Perspectivas da Produção Brasileira de Etanol de Milho
A produção brasileira de etanol a partir do milho
teve origem, em 2012, no Mato Grosso, com o objetivo de oferecer ao agricultor
mais uma opção para escoar o seu produto: as destilarias. Naquela ocasião, os
usineiros de cana-de-açúcar aproveitaram a entressafra da gramínea para
consumir o excedente da safra de milho na produção de etanol e, com isso,
minimizaram a tradicional redução dos preços recebidos pelo produtor do cereal,
na época da colheita, e em troca obtiveram uma receita adicional tanto por meio
da redução da ociosidade das destilarias quanto pela aquisição de subprodutos
do milho. Em
2012, a segunda safra brasileira de milho (antes chamada de safrinha) atingiu 39,1
milhões de toneladas, quantidade 70% acima da registrada no ano passado e 15,5%
acima da safra de verão 2011/12 (CONAB)2. Desde
então, a segunda safra brasileira de milho tornou-se a mais importante do país,
pois permanece suplantando a quantidade produzida na safra de verão (Figura 1). Desde então, o preço da saca de milho em nível de
produtor, principalmente no Centro-Oeste, é bem abaixo do de outras regiões
produtoras (Figura 2). Na entrevista formulada com as usinas à base de
milho, apurou-se que a produção de etanol é bastante viável, com o preço da
saca de milho situando-se entre R$30,00 e R$33,00. Acima disso, deve-se
considerar, também, o preço de venda do etanol, sobretudo no mercado spot, no qual prepondera a
comercialização desse biocombustível. Até recentemente, o Estado do Mato Grosso sediava
três usinas que utilizavam o milho na entressafra da cana-de-açúcar,
chamadas de flex, pois o processo de produção do álcool
(fermentação) é similar para ambas as matérias-primas (cana e milho). No caso
do milho, é necessário quebrar as grandes moléculas de amido antes de
fermentar, até a transformação em açúcar, o que requer mais etapas de produção3.
Já em relação a cana--de-açúcar, o processo é direto4. Consequentemente,
o custo de produção de um litro de etanol milho (R$1,23) é maior do que de um
litro de cana (R$1,13)5. No entanto, como as usinas flex podem funcionar linearmente por
cerca de 11 meses, pois não param na entressafra da cana, os usineiros têm a
vantagem de diluir seus custos fixos por meio de uma melhor otimização do uso
dos maquinários. Além disso, sob o ponto de vista da produção de etanol, o
processamento de milho apresenta mais vantagens econômicas comparativamente à gramínea,
pois foi possível apurar que: a) Uma
tonelada de cana-de-açúcar gera entre 70 e 85 litros de etanol, enquanto uma
tonelada de milho produz cerca de 400 litros do biocombustível, conforme levantamento
realizado nas usinas; b) O
usineiro obtém renda adicional sobre os tradicionais subprodutos do milho, como
o farelo (destilado e seco) e o óleo bruto, podendo vir a obter um produto
diferenciado para comercialização, o DDG (dried distillers grains), de alto valor
agregado. De cada tonelada de milho é possível, também, extrair 323 kg de DDG.
Em pesquisa na empresa MF Rural6,
verificou-se que em março de 2018 o DDG estava sendo negociado ao preço de
R$0,70/kg; e c) Grãos
de milho podem ser armazenados, minimizando a variabilidade sazonal do
fornecimento de cana para álcool. Diante de tantas vantagens, a produção de etanol de
milho, em 2016, expandiu-se para Goiás e, no ano seguinte, foi inaugurada em Lucas do Rio Verde (Estado do Mato Grosso)
a primeira unidade produtora de álcool exclusivamente do cereal: a FS
Bioenergia, a qual tem capacidade para destilar 1,3 milhão de toneladas de
milho, gerando 230 milhões de toneladas de etanol, 400 toneladas de farelo, 15
mil toneladas de óleo de milho e 132 megawatts/h de bioeletricidade7. Além do maior porte, essa usina inova na produção de
bioeletricidade, embora uma de suas predecessoras também agregue valor ao
processo, pois utiliza o óleo de milho para produzir biodiesel com fins de
autoconsumo. No início de 2018, outra planta exclusiva de etanol
de milho começou a ser instalada também em Mato Grosso, em Sorriso, com capacidade
para produzir 680 mil m3 de etanol e coprodução de 170 MW/h8. As entrevistas com as atuais usinas permitiram
construir uma série histórica da produção brasileira de etanol de milho desde a
safra 2012/13 até 2017/2018, a qual registra um aumento de 367% nos primeiros
cinco anos (Figura 3). Para expandir essa tecnologia, torna-se importante
para o Brasil: 1) Cumprir
as metas formalizadas no Acordo de Paris e preconizadas em sua Contribuição
Nacional Determinada (NDC) de aumentar a produção de etanol de primeira geração
para cerca de 50 bilhões de litros9; 2) Reduzir
a dependência da cana-de-açúcar e, assim, minimizar o impacto do preço internacional
do açúcar sobre a produção brasileira de etanol, uma vez que as elevações no
primeiro provocam reduções na segunda; e 3) Reduzir
as crescentes importações de álcool que interferem na regularidade do
abastecimento interno exigindo políticas paliativas, a exemplo do ano de 2017,
qaundo se registrou um aumento considerável das importações de etanol (Figura
4), principalmente nas regiões Norte e Nordeste. Segundo a Empresa de Pesquisas
Energéticas10,
o aumento das importações impulsionou a publicação da Portaria MDIC/SECEX n. 32. Esta dispõe que
a isenção do Imposto de Importação sobre o biocombustível está limitada a uma
cota de 150 milhões de litros por trimestre, a qual não poderá ultrapassar 1,2 bilhão
de litros, em 24 meses. Embora bastante difundida nos Estados Unidos, a
produção de etanol no Brasil a partir do milho figura como um novo canal de
comercialização para este cereal. Mas, pelo exposto, há fortes indícios de que
venha para ficar não só pelos benefícios financeiros que apresenta para os
diversos agentes econômicos envolvidos na cadeia produtiva, como também por ser
estratégico para a matriz energética nacional, contribuindo para sua
diversificação. 1Resultado de entrevistas realizadas com
as usinas de etanol do Brasil no período entre 02 a 08/03/2018. Os
questionários estão disponíveis para consulta dos interessados e poderão ser
solicitados aos autores. 2COMPANHIA NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Análise do mercado agropecuário. Brasília:
CONAB, out. 2017. Disponível em:
<https://www.conab.gov.br/index.php/info-agro/analises-do-mercado-agropecuario-e-extrativista/analises-do-mercado#an%EF%BF%BDlise-mensal>. Acesso
em: abr. 2018. 3MARQUES,
S. J. P.; CUNHA, M. E. T. da. Produção
de álcool combustível utilizando milho. UNOPAR
Ciências Exatas e Tecnológicas, Londrina, v. 7, p. 45-51, nov. 2008. 4Op.
cit. nota 3. 5Op.
cit. nota 3. 6MFRURAL.
Banco de dados. Marília: MFRURAL.
Disponível em: <http://www.mfrural.com.br/cadastro.aspx 7Informações
disponíveis no site da empresa: FS BIOENERGIA. Banco de dados. Mato Grosso: FS Bioenergia. Disponível
em: <http://www.fsbioenergia.com.br>. Acesso em: abr. 2018. 8Op.
cit. nota 7. 9REPÚBLICA
FEDERATIVA DO BRASIL. Pretendida contribuição nacionalmente determinada para
consecução do objetivo da convenção-quadro das nações unidas sobre mudança do
clima. Disponível em <http://www.itamaraty.gov.br/images/ed_desenvsust/BRASIL-iNDC-portugues.pdf>. Acesso em: abr. 2018.
10EMPRESA
DE PESQUISA ENERGÉTICA - EPE. Oferta de biocombustíveis. In: _____. Plano
decenal de expansão de energia 2026. Brasília: MME/EPE, 2017. p. 195-214.
Disponível em: <http://epe.gov.br/sites-pt/publicacoes-dados-abertos/publicacoes/PublicacoesArquivos/publicacao-40/topico-74/Cap8_Texto.pdf#search=etanol%20de%20milho>. Acesso em: abr. 2018. Palavras-chave: etanol de
milho, produção, Brasil.
?tp=comprar>. Acesso em: abr. 2018.
Data de Publicação: 28/05/2018
Autor(es):
Silene Maria de Freitas (silene.freitas@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Maximiliano Miura (maximiliano.miura@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor