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Mercado de Lácteos em 2014 e Perspectivas para 2015
O mercado mundial de leite, em
2014, enfrentou algumas questões que influenciaram significativamente
os preços dos lácteos. Os destaques foram a diminuição das compras chinesas no
fim do ano, devido aos altos estoques desse país, e a proibição da Rússia da
entrada de produtos lácteos de países da União Europeia (UE), Estados Unidos e
Austrália. China e Rússia são os maiores importadores de lácteos do mundo. Os dois fatores, somados ao aumento da produção em
tradicionais países produtores de leite como Estados Unidos, países europeus e
Austrália, levaram a um excedente de produtos no mercado internacional e a um
elevado volume disponível para exportação, e também a consequente redução de
preços em grande parte desse ano. Além disso, a oferta internacional tem se
mostrado maior que a demanda. Vale ressaltar que o mercado da China foi afetado
indiretamente pelo embargo russo, pois a Rússia importava grande volume em de leite em pó de alguns países da
UE. Com o fechamento do mercado, esses países se voltaram para o mercado
chinês, onde o consumidor tem dado preferência ao leite importado, em função de
denúncias de contaminações no leite ocorridas em 2008 no país. A colocação de
lácteos no mercado chinês levou à criação de estoques elevados, fazendo com que
a China retraísse suas compras. No Brasil, o ano de 2014 foi de mercado firme com
crescimento da produção. No entanto, houve desaceleração do consumo por conta
de questões de ordem econômica do país, como menor crescimento do PIB e
desvalorização do dólar frente ao real. Do lado das
exportações, o cenário de 2014 foi favorável aos lácteos do Brasil. Segundo os dados do Ministério do
Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC)1, em 2014 o
Brasil aumentou seu faturamento com as exportações de lácteos em 254,3% e o
volume em 118,0%, na comparação com 2013 (Tabela 1). As expectativas de vendas brasileiras para
Rússia, após o embargo, se concretizaram. Até 2014, estas não ocorriam, mas
nesse último ano, apesar do volume ser pequeno (volume de 838.400 kg e valor de
U$3.070.982), foi o primeiro passo para
ganhar esse mercado2. No Estado de São Paulo, em 2014,
o clima seco afetou diferentemente a produção em várias de suas regiões. No
geral, houve dificuldade para se produzir leite em função das
más condições dos pastos causadas pelas temperaturas altas e falta de chuvas.
Isso levou à necessidade de suplementação alimentar do gado. Alguns produtores
tinham silagem e isso atenuou os custos para produzir leite. Houve regiões em que os produtores investiram na
produção, em função dos bons preços de 2013. Isso pode ter refletido em aumento
de oferta de leite. No entanto, essa não foi a regra. Como o mercado não foi
favorável em 2014, os produtores, a princípio, não pensam em investir nesse
ano. Devido ao crescimento econômico interno inferior ao
esperado, houve impacto na renda dos brasileiros e o consumo de lácteos e
derivados teve queda. Neste cenário, o resultado foi o aumento de estoques. Esses fatores levaram os preços recebidos pelos
produtores, conforme levantamento do Instituto de Economia Agrícola (IEA), a
estarem mais altos que 2013 até o mês de agosto, quando o impacto do clima na
produção começou a ser mais fortemente sentido, mesmo em pleno período de
entressafra, e inicia um comportamento de estabilidade e queda, terminando o
ano com preço abaixo aos do ano anterior (Figura 1)3. Os preços médios da ração para bovinos em lactação,
segundo o IEA, estiveram com cotações altas praticamente o ano todo, com
preços, a partir de julho, próximos aos praticados em 2012 (Figura 2)4.
Mesmo com essa alta, o fato não teve grande impacto na produção, pois parte dos
produtores tinha silagem suficiente para alimentar o gado. O mercado de milho, na safra 2014/15, também
favoreceu esse setor, pois esteve positivo para as compras dos produtores de
leite, pois seus preços estiveram baixos, frente ao alto estoque do produto5. Na verdade, houve comprometimento dos custos não só
com os insumos, mas também com a mão de obra, que tem sido escassa e é um dos
grandes problemas apontados pelos produtores paulistas da pecuária leiteira nos
últimos tempos. Contribuiu para essa situação a conjuntura
internacional desfavorável que levou à sobra de leite no mercado mundial e
redução de preços. No entanto, a
expansão das vendas no mercado externo colaborou para amenizar um pouco os
impactos do aumento da produção brasileira e da estagnação do consumo no
mercado interno. No varejo, os preços médios mensais do leite longa
vida, levantados pelo IEA6, mostram que, a partir de junho, o
consumidor pagou menos pelo produto do que em 2013, já em plena entrada da
entressafra, contrariando as expectativas. Isso é consequência de maior oferta do produto e
queda do consumo do brasileiro, em função do comprometimento da renda do
trabalhador que teve redução devido às dificuldades econômicas do Brasil e
também do poder de negociação dos supermercados (Figura 3). Segundo o IEA, a produção de leite no Estado de São
Paulo, em 2012 e 2013, teve queda. Em 2014, se recuperou, mesmo com a seca, em
algumas regiões (Figura 4)7. O resultado foi o aumento de estoques
que, em dezembro, cresceu ainda mais devido ao período de festas. O crescimento
pode ter ocorrido em função da disponibilidade de alimentos como o milho e
silagem (em algumas regiões) Além disso, as chuvas do fim do ano aumentaram um
pouco mais a produção, pois as pastagens tiveram recuperação. Com isso, os
preços do leite no mercado terminaram em baixa, causando desestímulo no setor
produtivo para investimentos em 2015. Parte dos estoques foi desovado em
janeiro e em fevereiro, e a tendência é o mercado se normalizar. O rebanho paulista, igualmente à produção, também apresentou
crescimento, como consequência dos investimentos feitos (Figura 5)8. Todos esses fatores vêm contribuir e confirmar a perda de
competitividade do Estado de São Paulo na produção de leite. Isso ocorre há 16
anos em um processo que não tem conseguido ser revertido pela cadeia produtiva
paulista. No entanto, vários temas como marketing,
capacitação, mercado, organização vertical para o sistema agroindustrial, ação
diretas no setor produtivo, etc. ainda não tiveram o foco necessário da cadeia
de produção como um todo. Em 2015, as expectativas são de diminuição de
oferta, tanto no Brasil quanto nos principais países produtores e exportadores,
pois com preços baixos e estoques elevados, o setor produtivo deve refrear os
investimentos. A tendência é que a inflação e o dólar continuem subindo e isso
afetará o mercado. A valorização do dólar será o principal fator a
estimular as vendas externas. No entanto, a previsão de seca na Nova Zelândia e
Austrália poderá contribuir para uma elevação dos preços internacionais, o que
traz a possibilidade do Brasil de aumentar suas exportações, tendo como foco
principal o mercado russo. Há ainda a dependência de como o mercado chinês se
comportará. Se ele voltar a comprar, isso com certeza influenciará os preços
para os produtores. Em São Paulo, as chuvas do fim de 2014 e início de
2015 melhoraram os pastos. Entretanto, a depender de sua intensidade, as
cotações poderão aumentar, principalmente no período de entressafra, pois a
previsão é que as precipitações sejam inferiores a outros anos. Segundo informantes do setor,
alguns produtores já plantaram e estão colhendo a silagem. Outros ainda vão
iniciar o plantio. As chuvas que caíram em algumas regiões já recuperaram os
pastos e nesses locais espera-se uma entressafra tranquila. Em outros pontos, a
chuva não foi suficiente e a produção vai depender da evolução das precipitações.
Em relação aos insumos, conforme último levantamento
da CONAB9, em São Paulo, com a
regularização do clima, a partir das chuvas ocorridas em dezembro e que se
estenderam até o final de janeiro, na maioria das regiões produtoras do estado,
verificou-se importantes benefícios para a lavoura de milho. Os dados
preliminares apontam para uma possibilidade de aumento na produtividade dessa
safra, apresentando um incremento de 4,8%. O fato poderá
abrandar a situação dos produtores com o custo de produção de leite, pois os
preços baixos do milho, o principal insumo da alimentação do gado, pesará menos
na manutenção da atividade, o que poderá significar um ganho maior para o
produtor. _____________________________________________________________ 1MINISTÉRIO DO
DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR. Secretaria de Comércio Exterior
- MDIC/SECEX. Sistema de análise das
informações de comércio exterior (ALICE). Brasília: MDIC/SECEX. Disponível
em: <https://aliceweb.mdci.gov.br>. Acesso em: 28 jan. 2015. 2Op. cit. nota 1. 3INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/bancodedados.html>. Acesso em: 30 jan.
2015. 4Op. cit. nota 3. 5VEGRO.
C. L. R. et al. Anomalia
climática e seus impactos sobre as culturas temporárias e perenes do Estado de
São Paulo. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 9, n. 10, out.
2014. Disponível em: </ftpiea/AIA/AIA-50-2014.pdf>.
Acesso em: 23 fev. 2015. 6Op. cit. nota 3. 7Op. cit. nota 3. 8Op. cit. nota 3. 9COMPANHIA
NACIONAL DE ABASTECIMENTO - CONAB. Acompanhamento
da safra brasileira de grãos. Brasília: CONAB, fev. 2015. v. 2, n. 5.
(Quinto Levantamento Safra 2014/2015). Disponível em: <http://www.conab.gov.br/OlalaCMS/uploads/arquivos/15_02_13_10_34_06_boletim_graos_fevereiro_2015.pdf>.
Acesso em: fev. 2015. Palavras-chave: leite, mercado,
seca.
Data de Publicação: 02/03/2015
Autor(es): Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor