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Café: mudança de patamar na curva futura de janeiro
A majoração da taxa de juros básicos da economia
para o patamar de 12,25% a.a. por parte da equipe econômica, ocorrida em
21/01/2015, deslocou para cima as médias semanais dos contratos de juros
futuros na BM&F-Bovespa. A expectativa dos agentes de mercado é que ocorram
outras altas na taxa ainda nesse ano, com pico nos contratos futuros para outubro
de 2014. Tendência de baixa para os contratos deverá ocorrer somente após o
início do próximo ano (Figura 1). A alavancagem da taxa SELIC implica redução do nível
de atividade da economia (expectativas atuais são de PIB nulo). A frenagem dos
negócios pode significar encolhimento generalizado da demanda de produtos e
serviços. Todavia, em razão da conhecida inelasticidade do café, pode-se
desenhar cenário para a expansão de seu consumo no mercado interno. No mercado de dólar futuro da BM&F-Bovespa, os
investidores mantiveram expectativas baixistas para a paridade cambial.
Enquanto na média da primeira semana do mês, em segunda posição, a cotação foi
de R$2,72/US$, na última o real havia se valorizado para o patamar de
R$2,63/US$ (Figura 2). Essa valorização do real não impediu que os embarques
internacionais de café alcançassem o maior resultado para o mês de janeiro dos
últimos quatro anos contabilizando US$590,64 milhões2. Tal
desempenho denota o ávido interesse pelo produto por parte dos importadores a
despeito da valorização do real no período. É conhecida a correlação existente entre taxa de
câmbio e cotações do café arábica na BM&F-Bovespa, ou seja, majoração
positiva na taxa repercute com queda nas cotações futuras. Entretanto,
aparentemente, tal correlação não tem vigorado em decorrência da análise
fundamental que indica, pelo menos por ora, segundo deficit consecutivo no balanço oferta x demanda global de café com
mobilização de estoques (já baixos) para atender o fluxo de suprimento global. Em janeiro de 2015, no mercado de contratos futuros
de arábica da Bolsa de NovaYork (ICE), observaram-se dois momentos distintos.
Enquanto nas duas primeiras semanas o mercado atuou em alta para a média das
cotações em aberto, nas duas últimas houve reversão com queda no valor dos
contratos. Assim, na média da quarta semana do mês, os contratos foram
negociados a US$¢177,22/lbp, enquanto na média da primeira semana os mesmos
contratos estavam cotados a US$¢185,02/lbp, representando declínio de 4,22% no
período (Figura 3). A cotação do café na Bolsa de Nova York, em janeiro
de 2015, para o vencimento em julho de 2015, teve uma média de R$716,60/sc., em
valores trazidos para São Paulo, descontado o deságio de qualidade do produto
brasileiro. Considerando-se que o preço médio à vista do café em Marília (SP)
em janeiro de 2015 foi de R$460,90/sc.3, tem-se valor positivo
de R$256,13/sc.
para aquele que faz o hedge do café
em Nova York e do dólar na BM&F para o vencimento em julho de 2015. Permanecem as incertezas quanto ao tamanho da safra
brasileira 2015/16, tanto nas variadas consultorias, quanto nas entidades
governamentais. A escassez de precipitações, associada às elevadas temperaturas
médias incidentes nos cinturões da Zona da Mata e Montanhas Capixabas, poderá
trazer prejuízos, similares aos observado na safra passada, em ambas as regiões
na atual temporada. Ademais, é substancial o percentual de talhões submetidos
ao manejo agronômico de podas, estimando-se que, na Alta Mogiana de Franca,
cerca de 25% das lavouras foram esqueletadas4. Na bolsa londrina, os negócios com café robusta
oscilaram bastante ao longo das quatro semanas de janeiro, com as três
primeiras em alta e a última em baixa, em oposição ao observado nas cotações
futuras do arábica. Severo o deficit hídrico
no cinturão de robusta do norte do Espírito Santo associado aos relatos de
distúrbios climáticos no Vietnã colocam sob dúvida o potencial da colheita
dessas regiões, agregando mais um fator de incerteza ao mercado de café (Figura
4). Em janeiro de 2015, as expectativas de retorno das
precipitações sobre os principais cinturões de café no Brasil e, consequentemente,
queda nas cotações, motivaram a saída de operadores desse mercado. Entre os
fundos e grandes investidores, embora ainda liquidamente comprados, houve recuo
no balanço de compra e venda. Também entre os fundos de índices, operadores que
normalmente posicionam-se long no
mercado, houve queda, prenunciando que o mercado percebeu poucas chances de
realização de lucros com o carrego de contratos futuros de café (Tabela 1). Hipótese plausível para a queda na demanda por
contratos de café pelos diferentes tipos de operadores pode se vincular às
perdas incorridas nos negócios envolvendo o petróleo e metálicas. O
desfazimento de posições em café pode ter sido acionado para arrefecer perdas
em outras posições futuras. Em 2014, a volatilidade trimestral dos contratos
elevou-se na comparação com os mesmos trimestres do ano anterior. Essa maior
instabilidade do mercado pode ter afastado operadores mais cautelosos. Por
outro lado, exigiu dos cafeicultores boa estratégia comercial na busca de
seguro de preço para o produto. A volatilidade em 2015 pode até se acentuar,
pois há entre as consultorias aquelas que detectam a possibilidade de vir a
faltar café5 (Figura 5). ____________________________________________________________________ 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos, conduzido pelo
Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA, o analista de
sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2CONSELHOS DOS
EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL - CECAFÉ. Banco
de dados. São Paulo: CECAFÉ. Disponível em:
<http://www.cecafe.com.br>. Acesso em: fev. 2015. 3INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA - IEA. Banco de dados.
São Paulo: IEA. Disponível em:
<http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx>.
Acesso em: fev. 2015. 4ANGELO, J. A. et
al. Previsões
estimativas das safras agrícolas do Estado de São Paulo, 2° levantamento, ano
agrícola 2014/15, e levantamento final, ano agrícola 2013/14, novembro de 2014.
Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 10, n. 1, jan. 2015. Disponível em:
<http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=13588>. Acesso em fev.
2015. 5J. GANES CONSULTING. Soft commodities. New York: J. Ganes Consulting. Disponível em:
<http://www.jganesconsulting.com>.
Acesso em: fev. 2015. Palavras-chave:
preços futuros, Bolsa de Valores, mercado de café.
Data de Publicação: 19/02/2015
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor