PREÇOS AGROPECUÁRIOS: acumulado no ano de 2008 fechou em alta de 4,12%

              O Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista (IqPR)1 encerrou o ano de 2008 com alta de 4,12%. Os índices dos produtos de origem vegetal (IqPR-V) e animal (IqPR-A) apresentaram variação positiva de 3,58% e 4,62%, respectivamente (Tabela 1). Quando a cana-de-açúcar é excluída do cálculo do índice, o IqPR fica em 1,01%, e o IqPR-V (cálculo somente dos produtos vegetais) fica com variação negativa em 3,38% (Tabela 1).

Tabela 1 - Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista, Acumulado no Ano de 2008

Índice Acumulado

São Paulo

São Paulo – sem cana

Acumulado no ano

2008

Acumulado no ano

2008

IqPR

4,12 %

1,01 %

IqPR-V

3,58 %

-3,38 %

IqPR-A

4,62 %

Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            Interessante destacar que os preços agropecuários no ano de 2008 não estiveram entre os que mais pressionaram os índices de inflação, dado que, tanto o IqPR que contempla todos os produtos, como os indicadores parciais para produtos animais e vegetais, tiveram variações anuais que devem ser menores que os acumulados anuais do IPCA, que mensura a inflação oficial. A cana teve variação positiva de 7,89%, em função da sua elevada participação na ponderação do IqPR. Os preços dos produtos vegetais, sem considerar a cana, tiveram expressiva redução em 2008 (-3,38%), comparando com 2007. Nesse caso, os impactos no IqPR total se mostram ainda menores (1,01%), mostrando que a agropecuária contribuiu efetivamente para o controle da inflação em 2008.

            Mas essa perspectiva de comportamento dos preços agropecuários não foi a mesma durante todo o ano de 2008. A visualização mostra duas realidades distintas para os preços agropecuários, tendo como divisor de águas a crise econômica que eclodiu no final do primeiro semestre (Figura 1). Nos primeiros seis meses, verificou-se uma escalada de aumento de todos os índices de preços agropecuários, sendo que nesse período houve preocupações com a exacerbada elevação dos preços dos alimentos em todo mundo, que levaram à ocorrência de convulsões em países pobres como o Haiti e mesmo em nações desenvolvidas como os Estados Unidos (falta de arroz nos supermercados).

Figura 1 - Evolução Mensal da Variação Acumulada do Índice Quadrissemanal de Preços Recebidos pela Agropecuária Paulista no Ano de 2008. 

Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            Organismos internacionais, como a Organização das Nações Unidas para Fomento e Agricultura (FAO), se mobilizaram envolvendo destacadas autoridades de diversas nações na busca de ações convergentes visando estancar as convulsões das massas e evitar o iminente desastre de ampliação da fome mundial. Mas o segundo semestre teria uma conjuntura madrasta dessas postulações conjunturais para discutir questões estruturais como a fome. Isso porque, nesse período, todos os indicadores de preços agropecuários despencaram para níveis que são muito menores que os verificados no final do primeiro semestre do ano, ainda que superiores aos observados no início do ano de 2008. Isso porque os preços internacionais de commodities reduziram-se expressivamente em decorrência da crise econômica. Ao menos da ótica das manchetes, a fome foi extirpada do mundo como num passe de mágica, embora ela continue a ser vivida por imensas massas humanas como problema estrutural.

            Essa gangorra de preços de forma alguma se mostra interessante para os agropecuaristas, dado que o investimento notadamente em inovação está associado à formação de expectativas em realidade de estabilidade econômica, sendo a volatilidade dos mercados um elemento inibidor dessa decisão estratégica de modernização produtiva. Mais ainda, o olhar para toda a trajetória dos indicadores de preços agropecuários em 2008 mostra que, no período de decisão de plantio da safra de verão, no final do primeiro semestre de 2008, os patamares de remuneração do produto de lavouras e criações estavam no pico – o que também de forma concomitante ocorreu com insumos como fertilizantes e óleo diesel. Com o passar do tempo – em que muitos produtores já haviam feito o preparo o solo e/ou semeado e não mais tinham como reverter a decisão de plantio sem perdas -, os indicadores de preços agropecuários diminuíram abruptamente. Isso configura na safra de verão 2008/09 uma situação de descompasso entre preços e custos afetando a rentabilidade da agropecuária.

            Destacando os produtos, seis tiveram altas quando se compara dezembro de 2008 a dezembro de 2007: tomate de mesa (299,14%), arroz (46,69%), carne bovina (12,13%), cana-de-açúcar (7,89%), soja (3,18%), leite tipo B (1,67%)(Tabela 2). A maior alta foi do tomate de mesa, que nas últimas quadrissemanas de dezembro de 2007 tivera queda expressiva em função da 'boa oferta do produto associada à baixa qualidade do produto (o clima na época da produção comprometeu a qualidade do fruto)'. Da ótica conjuntural, a realidade de dezembro de 2008 se mostra oposta em dezembro de 2007, em que 'a grande elevação nos preços do tomate pode ser atribuída ao excesso de chuvas nas regiões produtoras, enquanto as variações de preços da batata mostram a recuperação das cotações em relação a pico de safra ocorrido no mês anterior, quando atingiram valores muito baixos'. Também o arroz, no final de 2007, estava mergulhado numa conjuntura de preços muito baixos e desestimuladores para os produtores que viram as cotações recuperarem em 2008.

            Os produtos que apresentaram maiores quedas de preços no mesmo período foram: feijão (56,54%), milho (43,61%), amendoim (42,36%), laranja para indústria e mesa (40% e 39,56%), batata (34,91%), banana-nanica (28,18%) (Tabela 2). Portanto, para ficar nos alimentos básicos, situação inversa do arroz e do tomate de mesa, há o caso do feijão, que era o vilão da cesta de alimentos no final de 2007, quando os preços do produto se mantiveram 'em elevação em virtude da baixa oferta do produto no mercado em decorrência da estiagem prolongada que atrasou e prejudicou o plantio e consequentemente o início da colheita da safar das águas'. Neste final de 2008, os preços em queda dessa leguminosa alimentar refletem uma continuidade da redução que ocorre desde o final de setembro e, ainda que chuvas tenham castigado as regiões produtoras do Sul-Sudeste, a oferta se mostra crescente pressionando para baixo os preços recebidos pelos agropecuaristas.

Tabela 2 - Variações das Cotações dos Produtos, Estado de São Paulo, Dezembro de 2008 em Relação a Dezembro de 2007

Fonte: Instituto de Economia Agrícola.

            Finalizando, há que se ressaltar ainda que preços agropecuários elevados para um produto não significa ganhos extraordinários para os produtores, uma vez que tais preços são elevados exatamente porque não há produção disponível no campo. E preços baixos normalmente significam abundante oferta. Assim, quando tem o produto o agropecuarista não tem preço e quando tem preço não tem o produto. Em linhas gerais, se em 2007 os preços agropecuários pressionaram a inflação para cima, em 2008 ancoraram as variações de preços a taxas menores.
____________________________________________________________
1 Artigo completo com a metodologia: PINATTI, E. et al. Índice quadrissemanal de preços recebidos pela agropecuária Paulista (IqPR) e seu comportamento em 2007. Informações Econômicas, São Paulo, v. 38, n. 9, p. 22-34, set. 2008. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=9573>. Acesso em: 2009.

Palavras-chave: amendoim, safra 2008/09.

Data de Publicação: 14/01/2009

Autor(es): Eder Pinatti (pinatti@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Raquel Castelluci Caruso Sachs (raquelsachs@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor