O Mercado de Lima Ácida Tahiti

1- Introdução

            A denominação 'limão' é usada para as frutas cítricas com o suco muito ácido, nela estão incluídos tanto os limões verdadeiros (Citrus Limon) como o 'Siciliano' e o 'Eureka' e também as limas ácidas, cujas variedades mais conhecidas são o 'Tahiti' (Citrus latifolia) e o 'Galego' (Citrus aurantifolia). As estatísticas disponíveis não fazem distinção entre os limões e as limas ácidas. Desse modo, estima-se que 70% do total da produção mundial seja de limões verdadeiros e o restante de limas ácidas1; no entanto, quase a maior parte da produção brasileira é constituída de limas ácidas da variedade Tahiti, conforme mostram os dados da CEAGESP. Segundo a FAO (2008)2, o Brasil é o quarto produtor mundial de limões, ficando atrás apenas de México, Índia e Argentina.

            A produção brasileira, entre 2001 e 2006, apresentou aumento de 6,5%, enquanto a área cultivada caiu 7,0% no mesmo período. A Região Sudeste é a principal produtora, com aproximadamente 88% do total, sendo que o Estado de São Paulo é o principal produtor e exportador do Brasil3 (Figura 1) .

Figura 1 - Porcentagem da Produção de Limão por Região Brasileira, 2006.

 

Fonte: Elaborada pelos autores com base em IBGE.

            Segundo o IBGE, em 2006, São Paulo foi responsável por 80% da produção brasileira de lima ácida, seguido da Bahia (3,98 %), Minas Gerais (3,51 %) e Rio de Janeiro (3,34%).

            Apesar da importância comercial da lima ácida, são poucas as pesquisas sócio-econômicas sobre a fruta e por conseqüência a disponibilização de dados para auxiliar o produtor na tomada de decisão no momento de planejar o plantio e a comercialização do produto.

            Muraiama (1962)4 escreveu: 'O limoeiro é uma praga. Nasce e cresce em qualquer terreno, em qualquer clima, em qualquer latitude. E produz muito, abundantemente, sem parar, o ano todo. Talvez por isso que o limão é um artigo desvalorizado, quase sem preço para o produtor, embora seja uma fruta de muita utilidade. Para o produtor o preço auferido por saco de limão posto na frutaria ou na banca do mercado é irrisório. Mas, a cultura lhe custa quase nada, pois o gasto se resume na compra do adubo, da muda, do plantio, como quase não há praga e nem moléstia a combater, e um limoeiro produz uma imensidade de frutos durante anos, qualquer preço, ínfimo que seja, é lucro'.

            Nos últimos 45 anos muitas foram as mudanças que se deram no cultivo de lima ácida e limão, naquela época o limão Galego era a variedade mais popular e apreciada. Ainda em seu estudo Muraiama (1962) diz sobre o Tahiti: 'esta variedade é recente, ainda pouco conhecida do grande público, mas está tendo boa aceitação', de lá para cá a lima ácida Tahiti ganhou espaço, mostrou-se produtiva e resistente às doenças que afetaram a citricultura nos últimos anos e se tornou a variedade mais produzida e consumida no Brasil, sendo hoje, ao contrário daquela época, o Galego o menos conhecido e consumido no país.

            O limoeiro não pode mais ser considerado uma 'praga', que 'nasce e cresce em qualquer terreno, em qualquer clima, em qualquer latitude, produz muito, abundantemente, sem parar, o ano todo', hoje o limão tem produção profissionalizada, exige cuidados em adubação para garantir qualidade de fruto colhido, é exigente em tratamentos fitossanitários em virtude das pragas e doenças da citricultura que se desenvolveram nos últimos anos, não pode ser plantado em qualquer terreno, pois também sofre competição, principalmente no Estado de São Paulo (maior produtor da fruta) com a cana-de-açúcar quanto à área de cultivo e deve ter produção planejada para que não haja superoferta no mercado e os preços despenquem.

            O limão tornou-se um negócio para alguns produtores e uma opção para manter o produtor rural no campo para outros5.

            O negócio limão em 2006 teve valor da produção no Brasil de aproximadamente R$372 milhões, ou seja, uma cultura que antes não era considerada como negócio lucrativo, hoje é fonte de renda de muitos produtores rurais.

           A quantidade de limão exportada pelo Brasil no período 1998 a 2007 cresceu 2.431%, atingindo a marca de 58.250 toneladas (Tabela 1) 6.

Tabela 1 - Receita Gerada, Volume Exportado e Variação no Preço do Limão, Brasil, 1998-2007


Item
1998
1999
2000
2001
2002
2003
2004
2005
2006
2007
Receita (US$ milhão)
1,423
2,962
4,642
7,635
9,891
16,949
18,299
26,300
32,953
41,715
Embarque (1.000t)
2,301
5,336
8,607
14,811
21,826
34,012
37,326
44,258
51,481
58,250
Preço (US$ FOB/kg)
0,61
0,55
0,53
0,51
0,45
0,49
0,49
0,59
0,64
0,71

Fonte: Elaborada pelos autores com base em SECEX.

            As receitas geradas pela exportação da fruta também apresentaram um aumento surpreendente, exibindo alta de 2.831% (Figura 2).

Figura 2 - Volume e Receita das Exportações Brasileiras de Limão, 1998- 2007.

 

Fonte: SECEX; Datafruta; IBRAF.

            No ranking de exportações brasileiras de frutas em 2007 quanto ao valor de exportação, o limão ficou em sexto lugar atrás de uva, melão, manga, maçã e banana.
As exportações de limão atingiram o volume de 58.250t em 2007, comparando com 2006 observa-se aumento de 13,15% no total das exportações da fruta (Tabela 2).

            A Holanda foi o principal mercado da fruta brasileira, respondendo por aproximadamente 63,5% da totalidade exportada em 2007. Em segundo lugar, Reino Unido (16,04%), seguido de Canadá (4,82%) e Alemanha (3,63%) (SECEX, 2008)7.

Tabela 2 - Comparativa das Exportações Brasileiras de Limão, 2006/2007

Exportação

de 

limão

Var. (%) 2006/2007
 
2006
 
2007
Valor 
Volume
 
Valor (US$)
Volume (kg)
 
Valor (US$)
Volume (kg)
26,59
13,15
 
32.952.830
51.480.751
 
41.714.672
58.250.084

Fonte: SECEX; Datafruta; IBRAF.

            É importante ressaltar que a Holanda funciona como um centro de distribuição do limão brasileiro para a Europa, sendo que os principais destinos da fruta são: Alemanha, França e Portugal.

            Quanto ao mercado interno é o limão in natura o principal produto comercializado, ou seja, há grande canalização da produção para o mercado de fruta fresca, a indústria é a segunda opção do produtor paulista.

            A demanda por limas ácidas assim como por todas as frutas cítricas é influenciada pelo calor, aumenta nos meses quentes, que é quando há menor produção da fruta, o que influencia diretamente no preço do produto, pois o volume ofertado é baixo e a demanda grande. No início de janeiro há um aumento na oferta de lima ácida no mercado, mas a demanda pelo produto é grande o que impede que o preço seja o mais baixo do ano (Figura 3).

Figura 3 - Volume e Preço da Lima Ácida Tahiti Comercializados no ETSP, da CEAGESP, 2007.

 

Fonte: CEAGESP.

            Segundo os atacadistas da CEAGESP, o mercado interno prefere limão de casca lisa e muito suco, e o mercado externo dá preferência à fruta com casca de coloração verde intensa.

            O mercado paga mais por frutas de tamanho entre 24 e 27 dúzias, ou seja, de tamanho médio, de coloração verde intensa, casca lisa e limpa e, principalmente, com muito suco. Notou-se durante a pesquisa que há ágio de até 100% relacionado à qualidade do limão.

            Frutas que possuem coloração amarelada, pouco suco ou ainda presença de oleocelose são as que têm a menor cotação no mercado e apresentam maior dificuldade de comercialização.

            No Brasil, os dados disponíveis no IBGE, obtidos através da Pesquisa de Orçamento Familiar (POF), sobre o consumo per capita referem-se apenas ao ano de 2003. Nesse período, a média nacional de consumo da fruta foi de 0,548kg/ano. A Região Sudeste foi a principal consumidora, exibindo uma média 0,808kg/ano, seguida da Região Norte (0,503kg/ ano), Centro - Oeste (0,361kg/ano), Nordeste (0,355kg/ano) e Sul (0,271kg/ano).

           O consumo aparente de limão pelos importadores do limão brasileiro em 2003, segundo a FAO9, mostra que o consumo brasileiro (in natura e industrial) é baixo quando comparado ao consumo de outros países (Tabela 3).

Tabela 3 - Consumo Aparente1 de Limão e Limas pelos Importadores Brasileiros, 2003

País
kg/habitante
Espanha
11,22
Itália
9,10
Grécia
8,84
Emirados Árabes
8,40
E.U.A
6,35
Canadá
2,51
Bélgica
2,31
França
1,98
Dinamarca
1,91
Portugal
1,89
Suécia
1,80
Holanda
1,68
Alemanha
1,57
Ucrânia
0,74

¹Consumo aparente é o total produzido mais o total importado menos o total exportado.

Fonte: FAO.

            O mercado interno do limão se mostra como um negócio com potencial de crescimento, pois o consumo brasileiro ainda é muito baixo. Esse consumo está atrelado ao hábito do consumidor que utiliza o limão como condimento e para preparação de drinks. No entanto, uma das oportunidades para o crescimento da demanda de limão é a educação do consumidor.

            Os investimentos na produção de limão no Nordeste podem vir a ser um problema para o produtor paulista em longo prazo, pois no segundo semestre quando a oferta do produto paulista no mercado é mais baixa, os preços se tornam mais atrativos, e é nessa janela de mercado que o limão nordestino entra para competir com o paulista.

            O produtor deve planejar sua produção e comercialização para garantir melhores preços no mercado.

            A organização de produtores de limão é de grande importância, pois as ações ainda são isoladas e não atendem a todos.

            Quanto ao mercado externo, o produtor deve estar atento às exigências quanto à segurança alimentar do consumidor final, principalmente com resíduos de defensivos, garantias de rastreabilidade da fruta e o monitoramento de pragas quarentenárias que podem impedir a entrada de produtos brasileiros no mercado internacional.

            O planejamento das exportações é fundamental para garantir que a lima ácida Tahiti continui sendo um bom negócio no mercado de frutas exóticas e não haja excesso de oferta sem aumento de consumo, pois, por ser um produto considerado exótico e pouco consumido no continente europeu, qualquer oferta maior traz efeitos desastrosos aos preços da fruta, ou seja, deve-se continuar no mercado de exóticos com aumento de consumo gradativo e não entrar em concorrência com o mercado de limão Siciliano, que é a fruta conhecida e consumida em larga escala no exterior, com preços inferiores ao Tahiti nacional.
_______________________________________________________
1AMARO, A.A.; CASER D.V.; DE NEGRI, J.D. Tendências na produção e comércio de limão. Informações Econômicas, São Paulo, v. 33, n. 4, p. 37-47, abr. 2003.

2FOOD AND AGRICULTURE ORGANIZATION - FAO - FAOSTAT. Disponível em: <http://www.fao.org>. Acesso em: 11 abr. 2008.

3INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Produção Agrícola Municipal. Rio de Janeiro: 2001-2006. Disponível em: <http:www.ibge.gov.br>. Acesso em: 10 mar. 2008.

4MURAIAMA, S. J. Cultura de limões, série ABC do lavrador prático. Edições Melhoramentos, São Paulo, n. 66, 1962, 31p.

5SILVA, P.R.; FRANCISCO, V.L.F. S; BAPTISTELLA, C.S.L. Caracterização da cultura do limão no estado de São Paulo, 2001-2007. Informações Econômicas, São Paulo, v.38, n.7, p. 24-31, jul. 2008.

6INSTITUTO BRASILEIRO DE FRUTAS. Datafruta. Disponível em: <http://www.ibraf.com.br>. Acesso em: jul. 2008.

7SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO. Disponível em: <http://www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br/alice.asp. Acesso em: 13 set. 2008.

8FISCHER, I.H. et al. Caracterização dos danos pós-colheita em citros procedentes de 'packing house', Revista Fitopatologia Brasileira, v 32, n. 4, jul.-ago. 2007.

9Op. cit. nota 2.

Palavras-chave: comercialização, limão, citricultura.

Data de Publicação: 16/12/2008

Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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