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Floricultura: o difícil caminho do mercado externo
O
Projeto Setorial Integrado de Promoção das Exportações de Flores e Plantas
Ornamentais do Brasil (FLORABRASILIS) foi retomado em julho de 2007, visando
elevar as exportações brasileiras do setor através de um conjunto de ações que
promovem o aumento da competitividade das empresas e dos seus produtos. Tais
ações contemplam: participação em feiras internacionais; prospecção e pesquisas
de mercados; publicidade, propaganda e promoção;
projeto comprador; projeto imagem; e capacitação para comércio
exterior1. Os indicadores de desempenho dessas ações deverão
necessariamente passar por uma defasagem de tempo, assim como muitas variáveis
macroeconômicas, como taxa de câmbio, vão viesar os resultados. Em que pese
essas limitações, será feita uma análise preliminar simplificada e exploratória
desses esforços no desempenho do comércio exterior da floricultura brasileira
analisando os dados comparativos de 2007 e 2008.
O
valor acumulado das exportações de produtos da floricultura brasileira, de
janeiro a setembro de 2008, atingiu US$30,7 milhões, com crescimento de 6,0% em
relação à igual período do ano anterior, segundo dados da Secretaria de Comércio
Exterior, do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior
(SECEX-MDIC)2. Já as importações somaram US$11,5 milhões, com
variação positiva de 50,3% comparada com o mesmo período de 2007. Assim, o saldo
da balança comercial de US$19,2 milhões deste ano é 9,9% inferior ao superávit
do ano passado, indicando claramente o desempenho desfavorável do setor como um
todo.
O
grupo de bulbos3 destacou-se entre os produtos exportados perfazendo
US$15,2 milhões tanto em participação (49,6% do valor total) como em crescimento
(+16,6%) em relação ao mesmo período do ano anterior. O grupo de mudas ocupou a
segunda fatia (38,8%), porém com menor crescimento (+4,5%), passando de US$11,4
milhões para US$11,9 milhões. O grupo de flores apresentou participação de 6,3%
no valor e desempenho muito aquém (-32,9%). Por último, a exportação do grupo de
folhagens (5,3% da fatia) permaneceu quase estável com queda de 0,1% em relação
ao período anterior. Destaca-se assim a importância absoluta e relativa do
segmento de bulbos na pauta de exportações (Figura 1).
Figura 1 - Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, por Grupo, Janeiro a Setembro de 2007 e de 2008.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX (2008).
Nesse sentido, a participação da FloraBrasilis no maior encontro da floricultura mundial para realização de negócios internacionais, a Internacional Flower Trade Show (Hortifair 2007), em Amsterdã, Holanda, e na maior feira norte-americana do setor de ornamentais, principalmente de material de propagação, folhagens e plantas ornamentais, a Tropical Plant Industry Exhibition (TPIE 2008), na Flórida, Estados Unidos, mostrou-se estratégica, dada a importância dos dois países como parceiros comerciais de grupo de bulbos tendo apresentado valores de exportação de US$13,5 milhões e US$1,4 milhão para cada destino, respectivamente.
Por outro lado, o desempenho das exportações de flores de corte foi afetado, em parte, pela suspensão de três meses das exportações de rosas de São Benedito, principal pólo exportador do produto para a Holanda, principal centro distribuidor de flores da Europa e maior parceiro da floricultura brasileira. Os motivos da interrupção citados foram o câmbio desfavorável e de logística de transporte aéreo, devido à ausência de sistema aéreo de cargas4.
Em termos de resultado mensal, os valores exportados nos meses de julho e agosto de 2008 foram bem maiores dentro do período em análise de 2007, apresentando US$6,1 milhões em julho e US$6,7 milhões em agosto. O desempenho significativo do mês de julho pode ser medido também pela variação em relação ao mesmo mês de 2007 (+43,1 %). Em menor grau repetiu em agosto (+20,6%), mas esse deslocamento de pico mensal é uma tendência já observada em anos anteriores (Figura 2).
Figura 2 - Exportação Mensal dos Produtos da Floricultura Brasileira, 2003 a 2008.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX (2008).
Entre janeiro e setembro de 2008, as exportações brasileiras tiveram como destino 40 países, dos quais dois parceiros comerciais, Holanda e Estados Unidos, absorveram 81,4% do valor das vendas externas (Tabela 1). A Holanda continua como principal parceiro comercial da floricultura brasileira, com US$19,7 milhões (64,0% do total) e crescimento de 13,4%. Os Estados Unidos aparecem em segundo lugar, com US$5,4 milhões (fatia de 17,5%) e desempenho desfavorável (-11,2%) no período. Outros destinos de destaque em termos de volume são Itália (fatia de 5,6%), Bélgica (2,7%), Japão (2,1%), Alemanha (1,8), Canadá (1,6%) e Portugal (1,2%).
Desses países, destaca-se o desempenho da Alemanha com crescimento de 32,6% no valor da exportação no período. Assim sendo, a participação na principal feira de plantas ornamentais da Alemanha e da Europa (IPM 2008) em Essen, Alemanha, é muito oportuna.
País |
|
|
|
Var. %
2008/07 | |||||
US$
FOB |
Ranking |
Part.
% |
|
US$
FOB |
Ranking |
Part.
% |
Part. acum.
% | ||
Holanda |
17.347.126 |
1 |
59,8 |
19.669.342 |
1 |
64,0 |
64,0 |
13,4 | |
Estados Unidos |
6.049.467 |
2 |
20,9 |
5.370.488 |
2 |
17,5 |
81,4 |
-11,2 | |
Itália |
1.586.738 |
3 |
5,5 |
1.729.476 |
3 |
5,6 |
87,1 |
9,0 | |
Bélgica |
734.517 |
4 |
2,5 |
824.912 |
4 |
2,7 |
89,7 |
12,3 | |
Japão |
687.622 |
5 |
2,4 |
640.623 |
5 |
2,1 |
91,8 |
-6,8 | |
Alemanha |
423.621 |
8 |
1,5 |
561.828 |
6 |
1,8 |
93,7 |
32,6 | |
Canadá |
483.563 |
6 |
1,7 |
493.193 |
7 |
1,6 |
95,3 |
2,0 | |
Portugal |
462.398 |
7 |
1,6 |
365.216 |
8 |
1,2 |
96,4 |
-21,0 | |
Chile |
151.902 |
11 |
0,5 |
154.867 |
9 |
0,5 |
97,0 |
2,0 | |
Angola |
25.572 |
20 |
0,1 |
115.564 |
10 |
0,4 |
97,3 |
351,9 | |
Uruguai |
100.440 |
13 |
0,3 |
114.098 |
11 |
0,4 |
97,7 |
13,6 | |
México |
195.339 |
10 |
0,7 |
106.172 |
12 |
0,3 |
98,0 |
-45,6 | |
Espanha |
242.091 |
9 |
0,8 |
102.529 |
13 |
0,3 |
98,4 |
-57,6 | |
Argentina |
130.857 |
12 |
0,5 |
78.214 |
14 |
0,3 |
98,6 |
-40,2 | |
Polônia |
15.042 |
21 |
0,1 |
62.742 |
15 |
0,2 |
98,8 |
317,1 | |
Paraguai |
99.204 |
14 |
0,3 |
49.494 |
16 |
0,2 |
99,0 |
-50,1 | |
Dinamarca |
13.185 |
23 |
0,0 |
46.661 |
17 |
0,2 |
99,1 |
253,9 | |
República Tcheca |
13.148 |
24 |
0,0 |
39.993 |
18 |
0,1 |
99,3 |
204,2 | |
Equador |
27.835 |
19 |
0,1 |
37.450 |
19 |
0,1 |
99,4 |
34,5 | |
França |
48.332 |
16 |
0,2 |
32.880 |
20 |
0,1 |
99,5 |
-32,0 | |
Hungria |
- |
- |
- |
32.760 |
21 |
0,1 |
99,6 |
- | |
Reino Unido |
41.704 |
17 |
0,1 |
31.986 |
22 |
0,1 |
99,7 |
-23,3 | |
Índia |
- |
- |
17.862 |
23 |
0,1 |
99,8 |
- | ||
China |
7.889 |
25 |
0,0 |
16.167 |
24 |
0,1 |
99,8 |
104,9 | |
Bolívia |
- |
- |
- |
11.056 |
25 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Indonésia |
- |
- |
- |
7.500 |
26 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Ucrânia |
- |
- |
7.061 |
27 |
0,0 |
99,9 |
- | ||
Gana |
- |
- |
- |
6.526 |
28 |
0,0 |
99,9 |
- | |
Suíça |
64.446 |
15 |
0,2 |
4.361 |
29 |
0,0 |
99,9 |
-93,2 | |
Taiwan |
- |
- |
2.754 |
30 |
0,0 |
100,0 |
- | ||
Guiana Francesa |
- |
- |
- |
2.548 |
31 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Rússia |
37.326 |
18 |
0,1 |
2.200 |
32 |
0,0 |
100,0 |
-94,1 | |
Peru |
2.539 |
27 |
0,0 |
2.113 |
33 |
0,0 |
100,0 |
-16,8 | |
Egito |
- |
- |
- |
1.760 |
34 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Coréia do Sul |
- |
- |
- |
1.725 |
35 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Emirados Árabes |
- |
- |
- |
1.471 |
36 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Cabo Verde |
- |
- |
- |
667 |
37 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Colômbia |
- |
- |
- |
530 |
38 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Hong Kong |
2.166 |
28 |
0,0 |
453 |
39 |
0,0 |
100,0 |
-79,1 | |
Israel |
- |
- |
- |
313 |
40 |
0,0 |
100,0 |
- | |
Haiti |
1.242 |
29 |
0,0 |
- |
- |
- |
-100,0 | ||
Irlanda |
15.000 |
22 |
0,1 |
- |
- |
- |
-100,0 | ||
Venezuela |
3.700 |
26 |
0,0 |
- |
- |
- |
-100,0 | ||
Total |
29.014.011 |
|
100,0 |
|
30.747.555 |
|
100,0 |
|
6,0 |
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX (2008).
Apesar de todos os esforços do setor, inclusive com ações apropriadas da
FloraBrasilis, os resultados aqui apresentados indicam que a floricultura
brasileira enfrenta um difícil caminho para o mercado externo. A taxa de câmbio,
ora mais favorável para a exportação, é um ponto a favor do setor exportador,
embora a crise na economia mundial, principalmente a americana, seja um fator
agravante.
____________________________________________________________________________________
1FLORABRASILIS. Disponível em:
<http://www.florabrasilis.org.br/sis.interna.asp?
pasta=1&pagina=1>. Acesso em: 16 nov. 2008.
2Considerou-se nesta análise o grupo de produtos especificados na Nomenclatura Comum do MERCOSUL, NCM 06 da Secretaria de Comércio Exterior, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (SECEX/MDIC) Exportação, Importação e o Saldo da Balança Comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br/consulta_nova/resultadoConsulta.asp>. Acesso em: 15 out. 2008.
3O Capítulo 06 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: de Bulbos (bulbos, tubérculos, rizomas, etc.), de Mudas (mudas de plantas ornamentais, de orquídeas, etc.), de Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas, estão incluídos os de não-ornamentais como café, cana e videira, em valores ínfimos.
4FLORABRASILIS. A exportação de flores é retomada. Disponível em: <http://www.florabrasilis.org.br/sis. noticias.asp?pasta=1&pagina=29&categoria=4>. Acesso em: 16 nov. 2008.
Data de Publicação: 28/11/2008
Autor(es):
Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor