Banana: enchentes no Nordeste prejudicam exportações brasileiras em 2008

 

            Em primeiro de janeiro de 2006, a União Européia adotou um novo regime de importação para o setor de bananas, em que se fixou uma tarifa única (de 176 euros) com base no princípio comercial de Nações Mais Favorecidas, substituindo a tarifa de 680 euros que incidia sobre as exportações que ultrapassassem a quota de 2,2 milhões de toneladas. Estimuladas por essa medida empresas multinacionais, como a Del Monte (capital árabe, com sede nos EUA), a americana Dole e a irlandesa Fyffes Pineapples Limited, mobilizaram-se para ampliar os investimentos no Brasil. Esperava-se que a exportação de banana pelo Nordeste brasileiro chegasse a 100 mil toneladas em 2006 e, segundo a SECEX¹, chegou-se bem perto, ultrapassando as 96 mil toneladas.

            Em 2007, contrariando as expectativas de ampliação, as exportações brasileiras de banana caíram 4,4% (em quantidade) em função da redução de 26,7% nas compras do Reino Unido (por razões que não se identificou). Dessa forma, o total exportado pelo Nordeste recuou para pouco mais de 88 mil toneladas.

            Entre os meses de março e abril de 2008 o desastre: chuvas torrenciais inundaram as fazendas da Del Monte no Vale do Açu (Rio Grande do Norte), afetando drasticamente a produção e a exportação brasileira da fruta.

            'A fruticultura foi atingida na região do Vale do Açu, que abrange Açu, Ipanguaçu, Baixo Açu e Alto do Rodrigues. Nessas áreas, terras cultivadas principalmente com manga e banana ficaram submersas e grande parte da produção foi perdida. A Del Monte, maior produtora e exportadora de bananas no Brasil, é apontada como uma das mais prejudicadas. Ainda está mensurando o baque das enchentes nos negócios. Já sabe, no entanto, que perdeu 3 milhões de caixas de bananas ou 70 mil toneladas da fruta. ‘Só aí perdemos cerca de US$ 15 milhões. Quando a estrutura entrar na conta o prejuízo deve subir para duas ou três vezes isso’, calculou Newton Assunção. O baque provocado pelas cheias levou a matriz da companhia, a americana Del Monte Fresh, a desistir de replantar as áreas totalmente devastadas. Das 12 fazendas da empresa no Rio Grande do Norte, único Estado brasileiro em que produz a fruta, oito foram parcialmente atingidas. Nas quatro restantes a perda foi total'  

Maior estrago deixado no Vale do Açu pela cheia do Piranhas/Açu foi na produção de banana, algo em torno de 60 milhões de dólares³.

            A Del Monte demitiu algumas centenas de funcionários (principalmente da área pós-colheita) e ameaça abandonar as atividades no Brasil caso o governo não libere o crédito devido ao ICMS retido pela Lei Khandir.

            Como resultado os embarques de banana nos primeiros 8 meses de 2008 apresentaram reduções (-31,2% na quantidade e -20,0% no valor) em relação a igual período do ano passado.

            A queda nas vendas de banana para a União Européia foi de 32,0% na quantidade e 30,0% no valor, indicando pequena variação no preço médio praticado (+ 2,9%). Novamente o Reino Unido foi o principal responsável pela queda nas transações (-54,6% da quantidade), seguido por Itália e Holanda. Em contrapartida as exportações para Alemanha, Espanha e Portugal tiveram aumento. O fato de as vendas de banana à Espanha terem sido feitas a preços menores nos impede de concluir plenamente que os mercados que pagaram menos (Reino Unido e Itália) foram sacrificados em relação aos que pagaram mais (como Alemanha e Portugal).

            As exportações para países do MERCOSUL caíram 30,4% na quantidade, mas aumentaram 11,4% no valor, graças ao aumento de 62,3% no preço. Problemas climáticos no Sul e Sudeste do Brasil provocaram a elevação dos preços fazendo que os exportadores priorizassem o mercado interno em relação à Argentina (-48,4% na quantidade e -21,2% no valor exportado), que não aceitou o aumento de preços e deve ter recorrido à banana equatoriana, e Uruguai (-4,1% na quantidade e mais 38,6% no valor) que aceitou parcialmente os preços mais elevados (pagou US$ 218,82/t nos meses de janeiro a agosto de 2008, contra US$ 147,38/t no mesmo período de 2007) (Tabela 1).

Tabela 1 - Exportações Brasileiras de Banana, por País de Destino, Janeiro a Agosto de 2007 e de 2008

País de destino
2007
2008
Variação (%)
Quant.
Valor 
Preço
Quant.
Valor 
Preço
Quant.
Valor 
Preço
(t)
(US$ mil)
(US$/t)
(t)
(US$ mil)
(US$/t)
Uruguai
25.842
3.912
147,38
24.775
5.421
218,82
-4,1
38,6
48,5
Reino Unido
28.567
10.329
361,77
12.983
4.882
376,00
-54,6
-52,7
3,9
Itália
13.340
4.951
371,30
8.668
3.216
371,03
-35,0
-35,0
-0,1
Holanda
11.891
4.298
361,26
8.510
3.121
366,81
-28,4
-27,4
1,5
Alemanha
6.356
2.387
375,36
6.902
2.655
384,73
8,6
11,3
2,5
Argentina
37.614
3.257
86,89
19.418
2.567
132,22
-48,4
-21,2
52,2
Espanha
41
13
316,45
3.410
1.224
358,88
8184,1
9294,8
13,4
Portugal
1.204
366
304,35
1.255
478
380,59
4,3
30,4
25,1
Subtotal
124.855
29.514
236,38
85.921
23.565
274,26
-31,2
-20,2
16,0
Outros
85
34
400,36
92
86
936,60
7,6
151,7
133,9
Total
124.940
29.548
236,99
86.012
23.650
274,96
-31,2
-20,0
16,0
União Européia
61.403
22.357
364,19
41.747
15.641
374,66
-32,0
-30,0
2,9
MERCOSUL
63.456
7.169
111,36
44.193
7.989
180,77
-30,4
11,4
62,3

Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            A mudança nos destinos da banana brasileira provocou alterações nos movimentos dos respectivos portos de saída do produto. O porto de Pecem, o principal terminal de envio da banana nordestina à União Européia, exportou menos 43,2% na quantidade nos meses iniciais de 2008, em relação ao mesmo período de 2007. Dionísio Cerqueira, terminal de saída para a Argentina, apresentou redução de 41,1%, enquanto Santana do Livramento e Chuí apresentaram até mesmo maior movimentação, com o trânsito rodoviário da banana para o Uruguai (Tabela 2).

Tabela 2 - Exportações Brasileiras de Banana, por Porto de Saída, Janeiro a Agosto de 2007 e de 2008

Porto
2007
2008
Variação (%)
Quant.

(t)

Valor

(US$ mil)

Preço

(US$/t)

Quant.

(t)

Valor 

(US$ mil)

Preço

(US$/t)

Quant.
Valor 
Preço
Pecem (CE) 
60.150
21.915
364,34
34.149
12.511
366,36
-43,2
-42,9
0,6
Dionísio Cerqueira (SC)
29.396
2.546
86,62
17.321
2.367
136,64
-41,1
-7,1
57,7
Santana do Livramento (RS)
8.498
1.378
162,10
8.872
1.850
208,56
4,4
34,3
28,7
Jaguarão (RS)
11.214
1.591
141,85
8.298
1.792
216,01
-26,0
12,7
52,3
Chuí (RS)
5.763
920
159,64
7.195
1.737
241,41
24,9
88,8
51,2
Fortaleza (CE)
37
10
261,70
3.869
1.524
393,81
10233,7
15450,4
50,5
Natal (RN)
1.179
365
309,36
3.253
1.240
381,30
175,9
240,1
23,3
Subtotal
116.237
28.724
247,11
82.957
23.021
277,51
-28,6
-19,9
12,3
Outros
8.704
824
94,69
3.056
629
205,89
-64,9
-23,7
117,4
Total
124.940
29.548
236,50
86.012
23.650
274,96
-31,2
-20,0
16,3

Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            O Rio Grande do Norte, em função das inundações, não conseguiu manter o suprimento dos clientes europeus e teve suas exportações de banana reduzidas em quase 48% da quantidade e do valor, no período de janeiro a agosto de 2008, em relação aos mesmos meses de 2007. Santa Catarina, que abastece o MERCOSUL, teve redução de 30,7% na quantidade e 9,4% no valor, conseguindo obter cotações 57,8% superiores. O Ceará aumentou de maneira significativa suas vendas de banana à Europa, praticamente dobrando o valor obtido no período de 2007.

            Minas Gerais supera São Paulo exportando algumas toneladas de banana, com provável participação de banana seca ou passa, normalmente enviada ao exterior por via aérea e a preços bem superiores (Tabela 3).

Tabela 3 - Exportações Brasileiras de Banana, por Estado de Origem, Janeiro a Agosto de 2007 e de 2008

Estado
2007
2008
Variação (%)
Quant.

(t)

Valor

(US$ mil)

Preço

(US$/t)

Quant.

(t)

Valor

(US$ mil)

Preço

(US$/t)

Quant.
Valor
Preço
Rio Grande do Norte
54.020
19.785
366,25
28.324
10.314
364,15
-47,6
-47,9
-0,6
Santa Catarina
61.427
6.921
112,67
42.567
7.569
177,81
-30,7
9,4
57,8
Ceará
7.393
2.509
339,32
13.120
4.994
380,66
77,5
99,1
12,2
Minas Gerais
0
0
...1
462
296
...1
...1
...1
...1
São Paulo
957
156
162,70
892
228
255,43
-6,8
46,4
57,0
Subtotal
123.798
29.371
237,25
85.365
23.401
274,13
-31,0
-20,3
15,5
Outros
1.143
177
155,21
647
249
384,60
-43,4
40,3
147,8
Total
124.940
29.548
236,50
86.012
23.650
274,96
-31,2
-20,0
16,3

1... Preços influenciados pela banana-passa e variações com base zero.

Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            Projetando-se as exportações do Rio Grande do Norte e do Ceará com base na média de junho a agosto pode-se estimar que as remessas de banana do Nordeste brasileiro à Europa alcancem pouco mais de 55 mil toneladas em 2008, ficando longe da esperada meta das 100 mil toneladas. O Rio Grande do Norte pode alcançar 36 mil toneladas (77 mil no ano passado) e o Ceará 19,5 mil toneladas (11 mil em 2007).

            Aguarda-se que a Del Monte receba os valores correspondentes à retenção da Lei Khandir e os aplique na recuperação dos bananais, proporcionando a recontratação de empregados e a retomada do ritmo das exportações brasileiras de banana.
____________________________________________________________
¹Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio – MDIC/Secretaria de Comércio Exterior – SECEX. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>. Acesso em: 2008.

²PRODUTORES cobram ajuda prometida.Diário de Natal, Natal, 21 jun. 2008. Disponível em: <http://diariodenatal.dnonline.com.br/site/materia.php?idsec=5&idmat=172381>. Acesso em: ago. 2008.

³VÍTIMAS das chuvas aguardam ajuda prometida. Jornal de Fato, Mossoró, RN, 15 abr. 2008. Disponível em: <http://www.defato.com/15_04_2008/estado.php>. Acesso: ago. 2008.

Palavras-chave: banana, comércio exterior, exportação.


Data de Publicação: 18/09/2008

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor