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Transações Comerciais Paulistas e Brasileiras com a Espanha: 2005-2007
As
transações comerciais com a Espanha1, como ocorre com todas as nações
integrantes da União Européia, são quantificadas a partir dos negócios de
importação e exportação das empresas baseadas em território espanhol. Sendo
assim, não apenas muitos produtos que partem ou destinam-se à Espanha são
retransacionados para outros países - muitos deles após alguma transformação -,
como também muitos produtos que entram por empresas baseadas em território de
outras nações européias são destinados ao consumo final pela população
espanhola.
No
período 2005-2007, as vendas brasileiras para empresas sediadas na Espanha
cresceram de US$2,16 bilhões para US$3,41 bilhões. Tomando as exportações
paulistas em separado, elas evoluem de US$0,40 bilhão para US$0,53 bilhão no
mesmo período. Isso significa que a participação paulista recua de forma
persistente, recuando de 18,6% para 15,5% (Figura 1). Isso decorre do embargo
europeu à carne bovina oriunda de São Paulo que levou outras unidades da
federação a ampliarem suas vendas de carne para a Europa. Também contribui o
aumento das exportações brasileiras de soja e milho, que não têm como origem os
agronegócios paulistas.
Tomando as importações, verifica-se que, no período 2005-2007, as aquisições
brasileiras de empresas baseadas na Espanha crescem de US$1,33 bilhão para
US$1,84 bilhão. No caso paulista as compras evoluem de US$0,73 bilhão para
US$0,92 bilhão, ou seja, crescem num ritmo inferior ao total das importações
brasileiras com o que a participação paulista recua de 54,5% para 49,8% (Figura
2). Assim conquanto as compras paulistas recuem, há que se ter nítido que São
Paulo consiste na grande porta de entrada para produtos oriundos de empresas
espanholas para o mercado brasileiro.
Figura 1 - Exportações Paulistas e
Brasileiras para a Espanha, 2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a
partir de dados do SECEX/MDIC.
Figura 2 - Importações Paulistas e
Brasileiras da Espanha, 2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a
partir de dados do SECEX/MDIC.
Tal fato se reflete nos saldos comerciais, que no caso paulista se mostra negativo - evoluindo no período 2005-2007 de US$0,33 bilhão para US$0,39 bilhão -, enquanto no caso brasileiro há superávit crescente nas transações com empresas baseadas na Espanha, indo de US$0,82 bilhão para US$1,56 bilhão (Figura 3).
Nas exportações brasileiras para as empresas baseadas na Espanha, os agronegócios não apenas são preponderantes como têm participação crescente no período 2005-2007, indo de 57,6% para 60,5% com valores aumentando de US$1,24 bilhão para US$2,06 bilhões (Figura 4). Isso demonstra a relevância setorial nas transações com aquela nação ibérica.
Figura 3 - Saldos das Transações
Comerciais com a Espanha, São Paulo e Brasil,
2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de
dados do SECEX/MDIC.
Figura 4 - Exportações dos Agronegócios nas Exportações Totais Brasileiras para a Espanha, 2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de dados do SECEX/MDIC.
No caso paulista existe uma relevância menor dos agronegócios, cujo percentual das exportações apresenta-se oscilante no período 2005-2007, dado que no biênio 2005-2006 os valores dessas exportações estiveram em torno de US$0,12 bilhão e, em 2007, ocorreu aumento para US$0,15 bilhão (Figura 5). Isso decorre da expressão dos demais setores, notadamente industriais e de serviços, baseados em território paulista.
Tanto assim que a participação dos agronegócios paulistas nas exportações dos agronegócios brasileiros para empresas baseadas em território espanhol recua de 9,4% para 7,4% no período 2005-2007 (Figura 6). O embargo europeu à carne bovina brasileira oriunda de São Paulo e as exportações de cereais das demais unidades da federação explicam essa queda de relevância.
Figura 5 - Exportação dos Agronegócios nas Exportações Totais Paulistas para a Espanha, 2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de dados do SECEX/MDIC.
Figura 6 - Participação das Vendas dos Agronegócios Paulistas nas Exportações dos Agronegócios Brasileiros para a Espanha, 2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de dados do SECEX/MDIC.
Finalizando, uma demonstração de que a base industrial e de serviços baseada em São Paulo se mostra determinante para a diferenciação do perfil das exportações para empresas baseadas em território espanhol está no fato de que o valor médio das exportações totais paulistas no período 2005-2007 - ainda que cadentes de US$1.793/t para US$1.450/t - se mostra muito superior ao da média brasileira ainda que tenha aumentado de US$246/t para US$287/t. Isso porque nas demais unidades da federação os valores médios são muito reduzidos - elevam-se de US$206/t para US$250/t -, o que evidencia uma estrutura primário-exportadora com baixa agregação de valor (Figura 7).
Figura 7 - Valor Médio das Exportações
Paulistas e Brasileiras para a Espanha,
2005-2007.
Fonte: Elaborada pelo IEA a partir de
dados do SECEX/MDIC.
Em síntese, ocorrem diferenças relevantes entre o perfil das transações comerciais entre empresas paulistas e brasileiras com empresas espanholas, sendo que: a) em São Paulo há déficit enquanto no plano nacional há superávit; b) as importações feitas por empresas baseadas em São Paulo são proporcionalmente maiores que as das brasileiras como um todo, o que mostra ser o território paulista uma plataforma de entrada para produtos oriundos da Espanha no território brasileiro; c) nas vendas paulistas a participação dos agronegócios é menor que no Brasil dada a diferença de estrutura industrial e de serviços; d) as vendas paulistas exatamente pela maior agregação de valor apresentam-se com valores médios muito superiores aos das demais unidades da federação brasileira. Noutras palavras, além de centro determinante do consumo definindo participação preponderante nas importações, São Paulo se diferencia em relação à realidade primário-exportadora do restante do Brasil.
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1Existe
um esforço bilateral recente de ampliação das relações comerciais entre o Brasil
e a Espanha e, nesse ensejo, recentemente missão espanhola visitou o Brasil com
o que se mostra relevante acompanhar os desdobramentos em termos de negócios
entre essas nações.
Palavras-chave: comércio Brasil-Espanha, importações, exportações, saldos comerciais.
Data de Publicação: 11/06/2008
Autor(es):
Sueli Alves Moreira Souza Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor