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A Proposta de Reestruturação do Passivo de R$87,5 Bilhões das Operações de Crédito Rural no Brasil
As negociações das dívidas dos produtores rurais foram retomadas com vigor nos últimos meses a partir da proposta governamental apresentada ao setor agropecuário em reunião realizada em 11 de março de 2008. Esta proposta foi elaborada em conjunto pelos Ministérios da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, da Fazenda, do Desenvolvimento Agrário e da Integração Nacional, com o objetivo de solucionar definitivamente o endividamento dos produtores rurais, e resultou da Agenda de Trabalho Interministerial assinada em 26 de setembro de 2007 com base no levantamento das operações de crédito rural realizado pela Secretaria de Política Econômica (SPE), do Ministério da Fazenda. A proposta governamental foi apresentada aos parlamentares da bancada ruralista em março último e analisada pelo setor agropecuário através de suas entidades representativas: Confederação Nacional da Agricultura (CNA), Organização das Cooperativas do Brasil (OCB), Comissão de Agricultura, Política e de Desenvolvimento Rural (CAPADR) da Câmara dos Deputados, Conselho Nacional do Café (CNC), Associação Matogrossense dos Produtores de Algodão (AMPA) e Associação dos Produtores de Soja de Mato Grosso (APROSOJA-MT). Para elaboração das propostas para liquidação ou renegociação das dívidas rurais, as operações de crédito foram organizadas em dois grupos, sendo um para a agricultura empresarial e operações efetuadas anteriormente à criação do PRONAF, e outra para as operações efetuadas no âmbito da agricultura familiar. Os programas abrangidos pela proposta são: Grupo I - Securitização (SEC I e II), PESA, Recoop, Funcafé, Recuperação da Lavoura Cacaueira, Prodecer II, Fundos Constitucionais (inadimplentes), Finame Agrícola, Moderfrota, Fat Integrar - e Grupo II – PRONAF, Procera e Crédito Fundiário. Segundo o Governo Federal, as medidas a serem adotadas para o equacionamento do endividamento rural ocorrem num cenário de recuperação da renda agrícola pelo segundo ano consecutivo e conseqüente aumento do poder de compra do setor. O valor bruto da produção (VBP)1 está estimado em cerca de R$143 bilhões, em 2008, o que representa um ganho real de 14,3% em relação ao ano anterior, superando o pico, até então, alcançado em 2003, quando atingiu cerca de R$133,9 bilhões. 'O objetivo do governo federal com as medidas de reestruturação do endividamento rural é facilitar a quitação das operações efetuadas na década de 80 e 90, e renegociadas, concedendo descontos para a liquidação antecipada, além de reduzir os encargos das operações inadimplentes, facilitando a recuperação da adimplência dos mutuários. No bojo dessas medidas, que variam por programa e tipo de cada grupo de dívidas, destacam-se a: O setor agropecuário, após análise da proposta do governo, avaliou que apesar de o executivo buscar uma solução definitiva, alguns pontos não atenderam aos pleitos do setor e estão sendo discutidos. Consideram que apesar da recuperação da renda agrícola neste ano, não será suficiente para garantir a capacidade de pagamento do custeio da safra de algumas culturas e apenas amenizará os prejuízos que se acumulam desde 2003/04, dado que os atuais preços praticados no mercado não significam aumento de rentabilidade da agropecuária, prejudicada pelo aumento dos custos de produção, problemas climáticos, falta de infra-estrutura e valorização cambial. Outro fator relacionado é o aumento dos custos financeiros resultante da escassez de recursos do crédito rural oficial e do elevado grau de endividamento, que obrigam os produtores a tomar recursos para financiar as lavouras com juros livres e de mercado. Dessa forma, o setor sugere que algumas diretrizes básicas e imprescindíveis devem estar contempladas, dentre elas: Com base no levantamento das operações de crédito rural 'em ser' (ativas), com posição em 31 de agosto de 2007, contratadas até 30 de junho de 2006 e das operações inscritas em Dívida Ativa da União até 11/08/2007, elaborado pela Secretaria de Política Econômica, do Ministério da Fazenda, segue descrição do passivo das operações de crédito rural do Grupo I e II (Tabelas 1 a 6). Grupo I Tabela 1 - Bloco A - Operações Contratadas nos Anos 1980 e 1990 e Renegociadas em Anos Anteriores Tabela 2 - Bloco B - Operações de Crédito Rural de Custeio Efetuadas nas Safras 2001/02 a 2005/06 e Prorrogadas por até 5 Anos Devido a Problemas Climáticos, Sanitários ou de Preços: Operações de Custeio Rural Efetuadas com Recursos da Poupança Rural com Taxas de Juros Livres Tabela 3 - Bloco C - Operações Correntes de Crédito Rural Destinadas a Investimento e Comercialização Rural: Operações do Finame Agrícola e Finame Agrícola Especial; Programas de Investimento Rural Operados pelo BNDES e Equalizados pelo Tesouro Nacional (Moderfrota, Moderinfra, Moderagro, Prodecoop, entre outros); Outros Programas do BNDES não Equalizados: FAT Integrar, Proger Investimento, Outras Operações de Investimento e Comercialização Rural Efetuadas com Recursos Obrigatórios dos Bancos contratos Tabela 4 - Bloco D - Operações Efetuadas com Recursos dos Fundos Constitucionais e Não Incluídas no PRONAF, PESA, Securitização I e II, Reccop ou Programa da Lavoura Cacaueira Tabela 5 - Bloco E - Operações de Crédito Rural com Risco da União e que, por Inadimplência, já foram incluídas na Dívida Ativa da União ou que vierem a ser incluídas até 30/12/2008 Referentes às Operações inadimplidas até 31/03/2008 Grupo II Tabela 6 - Operações de Crédito Rural do PRONAF, PROCERA e Crédito Fundiário O passivo das operações de crédito rural totaliza aproximadamente R$87,5 bilhões. Desse total, R$27,3 bilhões referem-se às dívidas antigas: Securitização I e II, PESA, RECOOP, Funcafé, Cacau e PRODECER II E III. Os débitos de custeio somam R$10,4 bilhões e as operações de investimento totalizam R$17,3 bilhões. As operações com recursos dos Fundos Constitucionais somam R$12,0 bilhões e aquelas inscritas na Dívida Ativa da União, R$7,1 bilhões. As operações relacionadas à agricultura familiar totalizam R$13,4 bilhões. De acordo com informações da Comissão de Agricultura, a proposta elaborada pelo Governo foi encaminhada ao Congresso Nacional através de Medida Provisória e deverá ser votada no próximo dia 27 de maio. A proposta apresentada pode ser considerada um avanço nesse processo recorrente de renegociações das dívidas rurais que vêm tumultuando o financiamento da produção agropecuária. Espera-se que a atual proposta, que partiu da análise do passivo, seja uma solução consistente de longo prazo e de fato venha sanear financeiramente a dívida rural. Nesse sentido, cabe também destacar a importância das ações voltadas ao fortalecimento e difusão da utilização do seguro rural, bem como dos mercados de futuros e opções como instrumentos de proteção dos riscos de produção e preço e, consequentemente, da capacidade de pagamento dos produtores. ________________________ 2 Propostas de Renegociação das Operações de Crédito Rural, Ministério da Fazenda, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário, Ministério da Integração Nacional. Disponível em: < http://www.cna.org.br/site/noticia.php?ag=0&n=19357>. Acesso em: 31 mar. 2008. 3Informações capturadas no site da CNA: www.cna.org.br. Palavras-chave: endividamento rural, crédito rural, passivo rural.
Fonte: Elaborada pelas autoras com base nos dados da Secretaria de Política Econômica da Secretaria da Fazenda (SPE/SF). Programa 1 SEC I 2 SEC II 3 PESA 4 Reccop 5 Funcafé Dação 6 CACAU 7 PRODECER II 8 PRODECER III Total
Fonte: Elaborada pelas autoras com base nos dados da Secretaria de Política Econômica da Secretaria da Fazenda (SPE/SF). Programa 1 Custeio rural 2 Proger custeio 3 FAT giro rural Total
Fonte: Secretaria de Política Econômica da Secretaria da Fazenda (SPE/SF). 1 Finame agrícola especial 2 Moderfrota 3 Moderagro 4 Prodecoop 5 Moderinfra 6 BNDES: outros programas equalizados 7 BNDES: Finame agr. e outros programa não equalizados 8 FAT integrar 9 Outros investimentos 10 Crédito de comercialização 11 Proger investimento Total
Fonte: Secretaria de Política Econômica da Secretaria da Fazenda (SPE/SF). 1 FNO 2 FNE 3 FCO Total
Fonte: Procuradoria Geral da Fazenda Nacional (PGFN). DAU Total
Fonte: Levantamento das Operações de Crédito Rural do PRONAF, PROCERA e Crédito Fundiário, Secretaria de Política Econômica (SPE), Ministério da Fazenda. Blocos
contratos
(R$) 2) Operações de investimento do PRONAF grupo B. Total
1 Os dados foram elaborados pelo MAPA, tendo os valores sido deflacionados pelo IGP-DI-fev./2008 (FGV), com base no LSPA-IBGE - Preços Recebidos pelos Produtores (FGV), citado em Propostas de Renegociação das Operações de Crédito Rural, Ministério da Fazenda, Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento, Ministério do Desenvolvimento Agrário e Ministério da Integração Nacional.
Data de Publicação: 28/05/2008
Autor(es):
Rejane Cecília Ramos Consulte outros textos deste autor
Terezinha Joyce Fernandes Franca (terezinha.franca@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor