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Floricultura Brasileira: novos arranjos no comércio exterior
No cenário internacional, a exportação da floricultura brasileira está longe de alcançar 1% do valor total movimentado dos cerca de oito bilhões de dólares. É um mercado dominado por pequeno número de países compradores - todos no Hemisfério Norte - e um grande número de países exportadores de ambos os hemisférios. Mesmo assim, a floricultura brasileira conseguiu expandir recentemente nesse mercado saltando do patamar de US$10 milhões atingidos até 2001, para US$35 milhões em 2007 em valores exportados. As perguntas que pairam na mente dos observadores e agentes do mercado são: o setor brasileiro conseguirá sustentar este ritmo de crescimento? De onde virão as novas oportunidades? Os movimentos mais recentes indicam que o valor das exportações brasileiras de produtos da floricultura registrou queda de 5,5% no primeiro trimestre de 2008, comparado ao mesmo período de 2007, passando de US$8,1 milhões para US$7,6 milhões, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC)1. Por outro lado, as importações apresentaram crescimento de 52,9%, passando de US$2,6 milhões para US$4,1 milhões. Como resultado, o saldo da balança comercial apresentou queda expressiva de 34,0%, com superávit de apenas US$3,6 milhões nos primeiros três meses do ano contra US$5,4 milhões em 2007 no período em questão. Por grupo2 de produtos, o valor das exportações apresentou a seguinte composição: mudas (74,0%), flores (14,3%), folhagens (6,7%) e bulbos (5,0%). O grupo de folhagens foi o que apresentou maior variação porcentual no valor exportado (+15,0%), em relação ao mesmo período de 2007, seguido pelo de mudas (+12,7%). Já os grupos de bulbos e de flores apresentaram desempenho desfavorável no período bem significativo: -62,1%, no primeiro caso e -32,4%, no segundo (Figura 1). As exportações da floricultura brasileira, no período, foram destinadas a 31 países, sendo 68,2% do valor exportado provenientes de dois parceiros comerciais de destaque: a Holanda, com US$2,9 milhões, respondeu por 37,6% da fatia total, mas apresentou menor desempenho em relação ao período anterior (-14,4%); e os Estados Unidos, com US$2,3 milhões (30,6% da fatia), apresentaram melhor desempenho (+7,8%). Outros países de destino que se destacaram em termos de valor foram: Itália (11,5%), Alemanha (4,6%), Portugal (3,7%), Japão (3,7%) e Canadá (2,1%). Paraguai, México, Irlanda e Rússia, parceiros em 2007, não apresentaram registros de exportação entre janeiro e março de 2008 (Tabela 1).
Figura 1 - Balança Comercial Brasileira dos Produtos da Floricultura, por Grupo, Primeiro Trimestre de 2007 e de 2008
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX (2008).
Tabela 1 - Exportação dos Produtos da Floricultura Brasileira, por País de Destino, Primeiro Trimestre de 2007 e de 2008 (continua)
País | | | | |||||
US$ FOB | Ranking | Part. % | US$ FOB | Ranking | Part. % | Part. acum. (%) | ||
Holanda | 3.351.319 | 1 | 41,5 | 2.867.156 | 1 | 37,6 | 37,6 | -14,4 |
Estados Unidos | 2.168.770 | 2 | 26,8 | 2.337.965 | 2 | 30,6 | 68,2 | 7,8 |
Itália | 1.029.632 | 3 | 12,7 | 881.519 | 3 | 11,5 | 79,7 | -14,4 |
Alemanha | 191.666 | 6 | 2,4 | 349.274 | 4 | 4,6 | 84,3 | 82,2 |
Portugal | 346.163 | 4 | 4,3 | 285.839 | 5 | 3,7 | 88,1 | -17,4 |
Japão | 281.542 | 5 | 3,5 | 281.671 | 6 | 3,7 | 91,7 | 0,0 |
Canadá | 92.737 | 10 | 1,1 | 162.108 | 7 | 2,1 | 93,9 | 74,8 |
Bélgica | 111.328 | 7 | 1,4 | 125.835 | 8 | 1,6 | 95,5 | 13,0 |
Espanha | 92.786 | 9 | 1,1 | 56.930 | 9 | 0,7 | 96,3 | -38,6 |
Chile | 46.266 | 12 | 0,6 | 47.750 | 10 | 0,6 | 96,9 | 3,2 |
Hungria | - | - | - | 32.760 | 11 | 0,4 | 97,3 | - |
Uruguai | 26.996 | 16 | 0,3 | 28.207 | 12 | 0,4 | 97,7 | 4,5 |
Tabela 1 - Exportação dos Produtos da Floricultura Brasileira, por País de Destino, Primeiro Trimestre de 2007 e de 2008 (conclusão)
País | | | Var. % 2008/07 | |||||
US$ FOB | Ranking | Part. % | US$ FOB | Ranking | Part. % | Part. acum. (%) | ||
República Tcheca | 9.948 | 21 | 0,1 | 22.509 | 13 | 0,3 | 98,0 | 126,3 |
Dinamarca | 4.355 | 22 | 0,1 | 21.847 | 14 | 0,3 | 98,3 | 401,7 |
Reino Unido | 27.366 | 15 | 0,3 | 21.231 | 15 | 0,3 | 98,5 | -22,4 |
Argentina | 20.620 | 18 | 0,3 | 20.841 | 16 | 0,3 | 98,8 | 1,1 |
França | 31.800 | 14 | 0,4 | 20.080 | 17 | 0,3 | 99,1 | -36,9 |
Polônia | - | - | - | 14.803 | 18 | 0,2 | 99,3 | - |
China | - | - | - | 13.372 | 19 | 0,2 | 99,4 | - |
Angola | 22.709 | 17 | 0,3 | 10.386 | 20 | 0,1 | 99,6 | -54,3 |
Indonésia | - | - | - | 7.500 | 21 | 0,1 | 99,7 | - |
Bolívia | - | - | - | 5.268 | 22 | 0,1 | 99,8 | - |
Ucrânia | - | - | - | 4.847 | 23 | 0,1 | 99,8 | - |
Gana | - | - | - | 4.367 | 24 | 0,1 | 99,9 | - |
Suíça | 56.481 | 11 | 0,7 | 3.341 | 25 | 0,0 | 99,9 | -94,1 |
Peru | 2.539 | 23 | 0,0 | 2.113 | 26 | 0,0 | 99,9 | -16,8 |
Taiwan | - | - | - | 1.500 | 27 | 0,0 | 100,0 | - |
Emirados Árabes | - | - | - | 1.471 | 28 | 0,0 | 100,0 | - |
Cabo Verde | - | - | - | 667 | 29 | 0,0 | 100,0 | - |
Hong Kong | - | - | - | 453 | 30 | 0,0 | 100,0 | - |
Israel | - | - | - | 313 | 31 | 0,0 | 100,0 | - |
Paraguai | 99.204 | 8 | 1,2 | - | - | - | - | -100,0 |
México | 35.638 | 13 | 0,4 | - | - | - | - | -100,0 |
Irlanda | 15.000 | 19 | 0,2 | - | - | - | - | -100,0 |
Rússia | 13.731 | 20 | 0,2 | - | - | - | - | -100,0 |
Total | 8.078.596 | - | 100,0 | 7.633.923 | - | 100,0 | - | -5,50 |
Em janeiro de 2008, a queda no valor da exportação em relação ao mesmo mês de 2007 foi da ordem de 6,9%. Por outro lado, em março deste ano a perda foi maior (-13,0%), com ligeira elevação em fevereiro (+3,1%) (Figura 2).
A queda no saldo comercial de 34,0% no período em questão, de um lado, é preocupante ao setor, por outro, o efeito pode ser compensado caso se confirme no futuro a forte tendência já observada desde 2006, no deslocamento dos meses de pico no valor das exportações brasileiras para os meses de junho, julho e agosto.
Nesta análise, confirmou-se que o ponto forte da floricultura brasileira no mercado internacional continua sendo a exportação de mudas de ornamentais, ou seja, fornecimento de material de propagação de qualidade, para os países como Holanda e Estados Unidos, encurtando o ciclo de produção de flores in loco. Destacou-se o papel dos Estados Unidos como comprador nos três primeiros meses do ano.
Figura 2 - Exportação Mensal dos Produtos da Floricultura Brasileira, 2003 a 2008.
Fonte: Instituto de Economia Agrícola com base em SECEX (2008).
Embora em pequena magnitude, a entrada de novos países, como importadores do produto no período analisado, deve ser considerado pelos agentes do mercado: Polônia, China, Indonésia, Bolívia, Ucrânia, Gana, Taiwan, Emirados Árabes, Cabo Verde, Hong Kong e Israel. Num mercado tão competitivo como este, o acompanhamento desses pequenos movimentos pode fazer grande diferença para o melhor desempenho, ao menos no futuro, para as empresas antenadas nos novos arranjos do mercado. O Estado do Ceará, por exemplo, famoso inicialmente pela exportação de rosas do Ceará, aumentou drasticamente a exportação de abacaxi ornamental - um produto não-tradicional - e de Sanseveria popularmente conhecida com espada-de-são-jorge 3.
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1Considerou-se, nesta análise, o grupo de produtos especificados na Nomenclatura Comum do MERCOSUL, NCM 06 do MDIC/SECEX - MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO EXTERIOR/ SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR. Exportação, importação e o saldo da balança comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura. Disponível em: <http://aliceweb.mdic.gov.br/consulta_nova/resultadoConsulta. asp>. Acesso em: 16 abr. 2008.
2O Capítulo 06 da Nomenclatura Comum do MERCOSUL (NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: de Bulbos (bulbos, tubérculos, rizomas, etc.), de Mudas (mudas de plantas ornamentais, de orquídeas, etc.), de Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas, estão incluídos os de não-ornamentais como café, cana e videira, em valores ínfimos.
3MATHIAS, M. C. Brazilian state Ceará expands production. FlowerTECH, v.11, n.1, p.20-21, 2008.
Palavras-chave: produtos da floricultura, flores, exportação, comércio exterior.
Data de Publicação: 13/05/2008
Autor(es):
Ikuyo Kiyuna Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor