Banana: expansão das exportações brasileiras perde fôlego em 2007

            Em primeiro de janeiro de 2006, a União Européia adotou um novo regime de importação para o setor de bananas, em que se fixou uma tarifa única, de 176 euros, substituindo a tarifa de 680 euros que incidia sobre as exportações que ultrapassassem a quota de 2,2 milhões de toneladas. Também fixou uma quota anual de importação de 775 mil toneladas de bananas originárias dos países do ACP (África, Caraíbas e Pacífico, basicamente ex-colônias européias) livre de tarifas aduaneiras. Empresas multinacionais, como a Del Monte (capital árabe, com sede nos EUA), a americana Dole e a irlandesa Fyffes Pineapples Limited, mobilizaram-se para ampliar os investimentos no Brasil.¹
            Em resposta ao estímulo tarifário a exportação brasileira de banana para a União Européia, em 2006, foi 45,4% superior em valor e 43,6% superior em quantidade relativamente a de igual período de 2005, segundo os dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC)2. Em contrapartida a redução de 26% no valor e 32% na quantidade na parcela enviada ao MERCOSUL proporcionou que o resultado global resultasse em aumento de 16,5% no valor e queda de 8,4% na quantidade, no mesmo período. As exportações nordestinas ultrapassaram 96 mil toneladas (estimou-se que poderiam ultrapassar 100 mil toneladas) superando as sulistas (94,46 mil toneladas) pela primeira vez na história.
            Em 2007, o desempenho das exportações brasileiras de banana frustrou as expectativas, pois ocorreu nova queda na quantidade (-4,4% em relação a 2006) compensada pelo aumento de preços (20,2%) que propiciou a variação positiva no valor total (14,9%). A acentuada retração das compras do Reino Unido (-26,7%) acabou afetando o resultado da União Européia (-7,3%), que só não foi pior graças à ampliação das importações italianas (11,6%) e holandesas (47,5%). As vendas ao bloco do MERCOSUL também caíram (-1,4%), pois, apesar do aumento da importação argentina (4%), os uruguaios compraram menos (-8,5%). Após muitos anos de queda registrou-se um aumento significativo no preço pago pelos uruguaios pela banana brasileira (53,3%) fazendo com que o valor importado por esse país aumentasse 40,3% e contribuísse para o aumento de 25,2% do valor importado pelo MERCOSUL. Com isso, pela primeira vez nos anos recentes a importância relativa do comércio de vizinhança aumentou (de 25,2% em 2006 para 27,5% em 2007) recuperando terreno em relação à exportação das multinacionais para a Europa (Tabela 1).

Tabela 1 - Exportações Brasileiras de Banana, por País de Destino, 2006 e 2007

País de destino
2006
 
2007
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Reino Unido
54,56
16,61
304,38
 
40,00
14,40
360,09
Itália
17,12
5,03
293,94
 
19,11
7,09
371,12
Uruguai
42,90
4,66
108,55
 
39,25
6,53
166,40
Holanda
11,27
3,38
299,58
 
16,63
6,03
362,40
Argentina
56,12
5,06
90,16
 
58,34
5,63
96,51
Alemanha
9,22
2,75
298,27
 
9,43
3,63
385,51
Portugal
2,09
0,62
297,08
 
1,87
0,59
315,84
Subtotal
193,27
38,10
197,14
 
184,63
43,91
237,82
Outros
1,08
0,45
421,19
 
1,09
0,39
360,39
Total
194,35
38,56
198,38
 
185,72
44,30
238,53
União Européia
95,00
28,65
301,53
 
88,04
32,12
364,78
MERCOSUL
99,02
9,72
98,13
 
97,60
12,16
124,62
País de destino
Variação %
 
Participação % no valor
Quantidade
Valor 
Preço
 
2006
2007
Reino Unido
-26,7
-13,3
18,3
 
43,1
32,5
Itália
11,6
40,9
26,3
 
13,1
16,0
Uruguai
-8,5
40,3
53,3
 
12,1
14,7
Holanda
47,5
78,5
21,0
 
8,8
13,6
Argentina
4,0
11,3
7,0
 
13,1
12,7
Alemanha
2,3
32,2
29,2
 
7,1
8,2
Portugal
-10,1
-4,4
6,3
 
1,6
1,3
Subtotal
-4,5
15,2
20,6
 
98,8
99,1
Outros
0,7
-13,8
-14,4
 
1,2
0,9
Total
-4,4
14,9
20,2
 
100,0
100,0
União Européia
-7,3
12,1
21,0
 
74,3
72,5
MERCOSUL
-1,4
25,2
27,0
 
25,2
27,5
Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            A melhora nos preços da banana, tanto no mercado europeu quanto no latino, foi devido a fatores climáticos, como geada e neve na Argentina e furacões na América Central, que prejudicaram sua produção³.
            Quanto aos portos de embarque, a queda nas exportações à União Européia refletiu-se na queda dos embarques no porto de Pecem (CE) (-7,1% na quantidade) enquanto o aumento nas exportações para o Uruguai levou à expansão das saídas rodoviárias por Santana do Livramento (RS) (3,2% na quantidade). Mesmo assim, o moderno porto cearense manteve-se com destaque como o principal local de saída da banana brasileira para o exterior, com mais de 70% do valor total em 2007 (Tabela 2).

Tabela 2 - Exportações Brasileiras de Banana, por Porto de Saída, 2006 e 2007

Porto
2006
 
2007
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Pecem (CE) - porto 
92,56
27,70
299,28
 
86,01
31,30
363,93
Dionísio Cerqueira (SC)
43,45
3,83
88,11
 
45,62
4,54
99,43
Jaguarão (RS) - rod.
19,46
2,02
103,66
 
15,44
2,38
154,23
Santana do Livramento (RS) - rod.
12,03
1,28
106,33
 
13,45
2,32
172,21
Chuí (RS)
10,74
1,32
122,91
 
9,73
1,79
183,95
Uruguaiana (RS) - rod.
9,49
0,93
97,62
 
9,80
0,83
84,75
Natal (RN) - porto
1,43
0,47
325,62
 
1,89
0,60
319,55
Subtotal
189,17
37,54
198,44
 
181,94
43,76
240,52
Outros
5,18
1,02
196,11
 
3,78
0,54
142,96
Total
194,35
38,56
198,38
 
185,72
44,30
238,53
Porto
Variação %
 
Participação % no valor
Quantidade
Valor 
Preço
 
2006
2007
Pecem (CE) - porto 
-7,1
13,0
21,6
 
71,8
70,7
Dionísio Cerqueira (SC)
5,0
18,5
12,8
 
9,9
10,2
Jaguarão (RS) - rod.
-20,7
18,0
48,8
 
5,2
5,4
Santana do Livramento (RS) - rod.
11,8
81,1
62,0
 
3,3
5,2
Chuí (RS)
-9,4
35,6
49,7
 
3,4
4,0
Uruguaiana (RS) - rod.
3,2
-10,4
-13,2
 
2,4
1,9
Natal (RN) - porto
32,1
29,6
-1,9
 
1,2
1,4
Subtotal
-3,8
16,6
21,2
 
97,4
98,8
Outros
-27,2
-46,9
-27,1
 
2,6
1,2
Total
-4,4
14,9
20,2
 
100,0
100,0
Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            A queda na quantidade exportada à União Européia foi sentida pelo Rio Grande do Norte que, em 2007, exportou -8,8% da quantidade, em relação a 2006. Graças às boas cotações alcançadas pela variedade Grand Naine produzida pela Del Monte (no Vale do Açú) o valor exportado por este estado cresceu 14,3% no mesmo período. Sua participação proporcional caiu ligeiramente, pela primeira vez, em função do bom desempenho catarinense, que expandiu ligeiramente a quantidade (0,7%) e acentuadamente o valor exportado em 2007 (27,5%) e recuperou um pouco de sua importância relativa (graças à recuperação dos preços da variedade nanicão enviada aos vizinhos do MERCOSUL) (Tabela 3).

Tabela 3 - Exportações Brasileiras de Banana, por Estado de Origem, 2006 e 2007

Estado
2006
 
2007
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Quantidade

(1.000t)

Valor 

(US$ milhões)

Preço

(US$/t)

 
Rio Grande do Norte
84,11
24,58
292,28
 
76,75
28,10
366,10
Santa Catarina
93,79
9,14
97,46
 
94,44
11,67
123,56
Ceará
12,00
4,12
343,02
 
11,34
3,92
345,40
São Paulo
3,71
0,52
140,78
 
1,43
0,26
184,85
Subtotal
193,60
38,36
198,14
 
183,95
43,95
238,90
Outros
0,75
0,19
259,89
 
1,77
0,35
200,43
Total
194,35
38,56
198,38
 
185,72
44,30
238,53
Estado
Variação %
 
Participação % no valor
Quantidade
Valor 
Preço
 
2006
2007
Rio Grande do Norte
-8,8
14,3
25,3
 
63,8
63,4
Santa Catarina
0,7
27,7
26,8
 
23,7
26,3
Ceará
-5,5
-4,9
0,7
 
10,7
8,8
São Paulo
-61,3
-49,2
31,3
 
1,4
0,6
Subtotal
-5,0
14,6
20,6
 
99,5
99,2
Outros
137,1
82,9
-22,9
 
0,5
0,8
Total
-4,4
14,9
20,2
 
100,0
100,0
Fonte: Elaborada pelo autor com dados básicos da SECEX.

            Assim, o fim das pesadas tarifas extraquotas aplicadas pela União Européia à banana exportada pelo Brasil e a ocorrência de problemas climáticos em países produtores concorrentes do Brasil não foram condições suficientes para ampliar as exportações brasileiras de banana em 2007, que sofreram retração na quantidade, principalmente, em função da redução das compras do Reino Unido e Portugal, em parte devido ao aumento de preços.

__________________________
1PEREZ, L. H. Banana: flexibilização tarifária da União Européia estimula exportações e expansão da produção. Disponível em: <http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=7803>.
²SECRETARIA DE COMÉRCIO EXTERIOR - SECEX/MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO, INDÚSTRIA E COMÉRCIO - MDIC. 2008. Disponível em: <http://www.mdic.gov.br>.
³CEPEA/ESALQ/USP. Banana. Disponível em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/hfbrasil/edicoes/64/banana. pdf>.

Palavras-chave: banana, comércio exterior.

Data de Publicação: 27/03/2008

Autor(es): Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor