Mercado de Máquinas Agrícolas Automotrizes: balanço de 2007 e expectativas para 2008

            No período de janeiro a novembro de 2007, o mercado de máquinas agrícolas automotrizes apresentou acentuada recuperação das vendas para o mercado interno, com expansão de 48,4% frente à igual período do ano anterior. Nesse período foram produzidas 60.950 máquinas agrícolas, representando incremento de 17.590 novos equipamentos ofertados ao mercado comparativamente ao total disponibilizado no mesmo período de 2006. Por sua vez, as exportações conseguiram exibir importante recuperação com alta no período de 22,2%, em que pese a trajetória de valorização do real (Tabela 1).

            Em termos relativos, o ramo das colhedoras liderou essa recuperação, ao exibir variação de 138,1%, na quantidade comercializada no mercado interno entre janeiro e novembro 2007. A recuperação das cotações das principais commodities tornou os agricultores mais propensos a aquisição desses equipamentos, mesmo considerando os elevados custos unitários dessas máquinas. Entre janeiro e novembro de 2007, as 1.938 colhedoras comercializadas no mercado interno permitem que se infira que esse mercado voltará a patamares de negócios da ordem das 2.500 máquinas, ou seja, patamar de vendas compatível com as dimensões do agronegócio brasileiro.

            Os tratores de rodas, maior item de vendas internas em unidades de equipamentos, apresentaram crescimento de 43,4% nos onze meses do ano, com comercialização de 29.337 máquinas. Considerando que a sazonalidade de demanda de tratores de rodas concentra suas vendas no segundo semestre, possivelmente, esse mercado feche o ano com a colocação de mais de 34 mil novos tratores no ano. Auspiciosa foi também a recuperação das exportações desse ramo, com aumento de 22,7% dos embarques no período.

            Os demais tipos de equipamentos produzidos e comercializados pelo setor exibiram comportamentos díspares. Enquanto os cultivadores motorizados (vulgo tratores de rabiças) apresentaram declínio tanto na produção como nas vendas (embora com aumento das exportações), os tratores de esteiras e retroescavadeiras apresentaram variação da produção e vendas positiva e de dois dígitos. Esses últimos equipamentos, mais vinculados aos segmentos responsáveis pela construção e manutenção da infra-estrutura do País, beneficiam-se das diretrizes e intenções estabelecidas pelo Plano de Aceleração do Crescimento (PAC).

Tabela 1 - Produção, Vendas e Exportação de Máquinas Agrícolas Automotrizes, Brasil, 2005 e 2006, e Janeiro a Novembro de 2006 e de 2007

Item
Unidade
2005

(a)

2006

(b)

Janeiro a novembro1
(b/a-1)*100

(%)

(c/d-1)*101

(%)

2006 (c)
2007 (d)
Tratores de rodas              
Produção
u.
40.871 
35.586 
33.529 
48.072 
-12,9
43,4
Vendas no mercado interno
u.
17.729 
20.435 
19.148 
29.337 
15,3
53,2
Nacionais
u.
17.543 
20.141 
18.885 
28.846 
14,8
52,7
Importados
u.
186 
294 
263 
491 
58,1
86,7
Exportação
u.
23.968 
16.532 
15.061 
18.480 
-31,0
22,7
Total das vendas
u.
41.697 
36.967 
34.209 
47.817 
-11,3
39,8
Colheitadoras              
Produção
u.
4.229 
2.314 
2.091 
4.411 
-45,3
111,0
Vendas no mercado interno
u.
1.534 
1.030 
814 
1.938 
-32,9
138,1
Nacionais
u.
1.533 
1.030 
814 
1.925 
-32,8
136,5
Importados
u.
13 
-
-
Exportação
u.
3.001 
1.867 
1.748 
2.410 
-37,8
37,9
Total das vendas
u.
4.535 
2.897 
2.562 
4.348 
-36,1
69,7
Cultivadores motorizados              
Produção
u.
2.183 
1.940 
1.940 
1.652 
-11,1
-14,8
Vendas no mercado interno
u.
2.141 
1.857 
1.782 
1.474 
-13,3
-17,3
Nacionais
u.
2.141 
1.857 
1.782 
1.474 
-13,3
-17,3
Importados
u.
Exportação
u.
34 
46 
42 
117 
35,3
178,6
Total das vendas
u.
2.175 
1.903 
1.824 
1.591 
-12,5
-12,8
Tratores de esteiras              
Produção
u.
2.681 
2.781 
2.544 
3.097 
3,7
21,7
Vendas no mercado interno
u.
408 
300 
275 
394 
-26,5
43,3
Nacionais
u.
408 
300 
275 
386 
-26,5
40,4
Importados
u.
Exportação
u.
2.202 
2.593 
2.356 
2.670 
17,8
13,3
Total das vendas
u.
2.610 
2.893 
2.631 
3.064 
10,8
16,5
Retroescavadeiras              
Produção
u.
2.907 
3.444 
3.256 
3.718 
18,5
14,2
Vendas no mercado interno
u.
1.410 
2.050 
1.934 
2.406 
45,4
24,4
Nacionais
u.
1.410 
2.050 
1.934 
2.406 
45,4
24,4
Importados
u.
Exportação
u.
1.473 
1.399 
1.271 
1.354 
-5,0
6,5
Total das vendas
u.
2.883 
3.449 
3.205 
3.760 
19,6
17,3
Máquinas agrícolas (total)              
Produção
u.
52.871 
46.065 
43.360 
60.950 
-12,9
40,6
Vendas no mercado interno
u.
23.222 
25.672 
23.953 
35.549 
10,6
48,4
Nacionais
u.
23.035 
25.378 
23.690 
35.037 
10,2
47,9
Importados
u.
187 
294 
263 
512 
57,2
94,7
Exportação
u.
30.678 
22.437 
20.478 
25.031 
-26,9
22,2
Total das vendas
u.
53.900 
48.109 
44.431 
60.580 
-10,7
36,3
Emprego 
pessoas
13.202 
13.136 
13.036 
15.662 
-0,5
20,1
Receita cambial
US$
2.048.548 
2.106.777 
1.933.259 
2.120.298 
2,8
9,7

¹ Emprego refere-se ao mês de novembro.

Fonte: ANUARIO (2007) e ANFAVEA (dezembro 2007).

            O pessoal ocupado nas montadoras, que vinha se mantendo estável nos últimos dois anos, passa, em novembro de 2007, a apresentar movimento de contratação de novos funcionários expandindo em 20% o número total de postos de trabalhos ativos no setor. Finalmente, o resultado das exportações no ano poderá alcançar os US$2,5 bilhões, muito superior ao resultado contabilizado em 2006. Tal hipótese ganha consistência em razão do maior conteúdo tecnológico das máquinas exportadas e a ampliação da carteira de clientes dos produtos brasileiros, muito centrada ainda nos países pertencentes ao MERCOSUL.

            Desde meados de 2004, as vendas mensais de máquinas agrícolas passaram a exibir tendência de desaceleração desconsiderando-se, obviamente, os desvios sazonais característicos desse setor. Porém a partir do início de 2007, voltaram a crescer acentuadamente, sinalizando que o mercado deverá encontrar novo patamar de suporte para as vendas mensais com a comercialização de aproximadamente 4.000 máquinas ao mês (Figura 1).

Figura 1 - Vendas Mensais de Máquinas Agrícolas Automotrizes no Mercado Interno, Brasil, Janeiro de 2000 a Novembro de 2007.

 

Fonte: ANFAVEA1.

            Cerca de metade das exportações mantém-se atreladas ao mercado sul-americano tendo forte concentração em apenas três Países: Argentina (5.585 unidades), Venezuela (1.904 u.) e Chile (951u.), que juntos perfizeram 77% das exportações para a região. No continente africano, a África do Sul, enquanto maior mercado para as máquinas brasileiras, tem absorvido 38% das exportações totais para a região, que totalizaram 1.236 unidades em 2006. Na América do Norte, as vendas foram concentradas para os Estados Unidos que absorveram 81% dos embarques (Figura 2).

Figura 2 - Exportações de Máquinas Agrícolas Automotrizes por Continente, 2006.

Fonte: Anuário ANFAVEA 20072

            Dentro da federação brasileira, o Estado de São Paulo constitui a maior demanda para o setor de máquinas agrícolas absorvendo 36% das vendas para o mercado interno. Outros três Estados (Rio Grande do Sul, Minas Gerais e Santa Catarina) demandam, conjuntamente, volume similar ao movimentado pelo mercado paulista. Esse fato revela a importância assumida em primeiro lugar pelo setor sucro-alcooleiro e em segundo a citricultura que juntos sem dúvida são o maior mercado para a oferta de tratores de rodas das montadoras brasileiras (Figura 3).

Figura 3 - Vendas Internas de Máquinas Agrícolas, por Unidade da Federação, Brasil, 2006.

Fonte: Anuário ANFAVEA 20072.

            A expansão do cinturão canavieiro para outros estados carrega a demanda por máquinas agrícolas, notadamente, de tratores. O forte endividamento dos produtores de grãos do Centro-Sul limita sua propensão para a aquisição de novas máquinas agrícolas mesmo a despeito da existência do MODERFROTA, representando, portanto, o agronegócio sucroalcooleiro, o mercado mais dinâmico para as montadoras na atualidade.

            A distribuição das vendas por classe de potência indica o avanço da participação das máquinas mais robustas até 2004. Os tratores de rodas com potência entre 100CV e 199CV já exibiram volume de vendas similar às observadas para os tratores de 50CV a 99CV, como nos anos de 2003 e 2004. O ciclo de queda nas cotações das commodities, safras 2004/05 e 2005/06, atuou com maior intensidade sobre os produtores empresariais, demandantes desses equipamentos mais pesados, derrubando suas vendas para patamares similares àqueles observados antes mesmo da existência do programa do MODERFROTA, lançado no segundo semestre de 1999. Todavia, os novos empreendimentos sucroalcooleiros ao lado da expansão dos negócios das áreas florestal e da citricultura imprimiram a retomada na demanda de tratores de rodas com classe de potência entre 100CV a 199CV. Estimativas não oficiais apontam para um crescimento de 70% nas vendas de tratores com maior potência em 2007 (Figura 4).

Figura 4 - Vendas no Mercado Interno de Tratores de Rodas, por Potência, Brasil, 1999-2006.

Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA).

            Diante do quadro apresentado, espera-se para 2008 uma produção de 60 mil máquinas, ou seja, crescimento de 20% sobre a base de 2007. Tanto as vendas para o mercado interno como as exportações manterão ritmo de crescimento acentuado, pois o mercado de commodities agrícolas continua sinalizando cotações favoráveis à decisão de investimento dos produtores rurais. Todavia, tal expansão na demanda por máquinas acarretará necessariamente a ampliação dos investimentos das montadoras em suas linhas de montagem, a exemplo da Valtra que passou a produzir colhedoras.

            A esperada retomada da queda da taxa básica de juros da economia brasileira permitirá que as decisões de investimento agrícola exibam taxas internas de retorno interessantes. Ademais, a continuidade do MODERFROTA facilitará a renovação de equipamentos em final de seu ciclo operacional (de 10 a 15 anos). Por esse conjunto de indicadores é que o segmento de máquinas agrícolas automotrizes inicia 2008 com acentuado otimismo.

            Enquanto possível óbice ao cenário francamente favorável ao segmento, tem que se recordar a escalada das cotações do petróleo que faz subir o preço dos pneumáticos, além de arrastar outras commodities, particularmente as metálicas, como o cobre e o aço, itens de primeira ordem nas linhas de montagem. Ademais, a proximidade da plena capacidade nas montadoras pode gerar atrasos nas entregas das encomendas e até o surgimento de ágios sobre os preços praticados. Em conjunto, tais fatores poderão resultar em preços mais elevados para as máquinas em 2008. 
_____________________________________________________________________________________

1Carta da ANFAVEA. São Paulo, dez. 2007.
2ANUÁRIO DA INDÚSTRIA AUTOMOBILÍSTICA BRASILEIRA. São Paulo: ANFAVEA, 2007.

Palavras-chave: mercado de máquinas agrícolas, tratores.

Data de Publicação: 15/02/2008

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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