Destinos das Exportações dos Agronegócios Brasileiros de Janeiro a Setembro de 2007

            As exportações brasileiras somaram US$116,6 bilhões entre janeiro e setembro de 2007, crescimento de 15,5% em relação ao valor exportado no mesmo período de 2006. Já os produtos dos agronegócios registraram vendas de US$45,2 bilhões e variação positiva de 19,2% no período analisado, que representa 38,8% nas exportações totais do Brasil (Tabela 1). Isso implica que as exportações setoriais representam a principal alavanca da inserção internacional do Brasil, configurando a agricultura como estratégica para o desenvolvimento da economia continental nacional.

            Ao analisar as exportações dos agronegócios, em que os valores ultrapassaram a marca de US$1 bilhão, contabilizam-se 7 destinos: União Européia (EU)1, Estados Unidos, China, Rússia, Argentina, Irã e Japão que somados passam dos US$30,3 bilhões, ou seja, representam juntos 67,1% do total exportado (Tabela 1). Verifica-se aí a presença das principais economias mundiais (União Européia, Estados Unidos e Japão), do principal parceiro do MERCOSUL (Argentina) e de nações emergentes (China e Rússia), além de nação árabe com conflitos abertos com os Estados Unidos (Irã).

            Essa concentração de destinos, entretanto, já foi maior, ocorrendo uma diversificação de parceiros, com maiores crescimentos das vendas para os países como: Índia (81,4%), Indonésia (54,5%), Paraguai (53,6%), Emirados Árabes (44,1%), Venezuela (42,8%), Hong Kong (40,8%), África do Sul (39,0%), Angola e Coréia do Sul (36,2%), outros países que tiveram crescimento acima da média setorial (+19,2%) (Tabela 1).

            Alguns países registraram variações negativas como Egito (-11,1%) e Estados Unidos (-6,2%). Nesses casos, as perdas representam mais de US$300 milhões e, se as exportações para essas nações tivessem seguido a taxa média de crescimento setorial (+19,2%), o valor das exportações aumentaria em pouco mais de US$1 bilhão (Tabela 1).

Tabela 1 - Exportações dos Produtos dos Agronegócios do Brasil, Janeiro a Setembro de 2006 e de 2007

Posição 

nos 

agronegócios

Destino
Exportação dos

agronegócios

(US$ milhão)

Var. (%) 

(b/a) 

Total geral exportado 

(US$ milhão)

( c ) 

Part. 

(%) 

(b/c) 

Agronegócios 

agregação de valor 

(%)

2006

(a) 

2007 

(b) 

Básico 
Semimanufaturado 
Manufa-turado 
1 União Européia
11.747 
15.119 
28,7
28.806 
52,5 
56,8 
14,7 
28,5 
2 Estados Unidos
5.551 
5.204 
-6,2
18.398 
28,3 
18,6 
19,0 
62,4 
3 China
3.179 
3.709 
16,7
8.198 
45,2 
71,3 
26,2 
2,5 
4 Rússia
2.135 
2.393 
12,1
2.628 
91,0 
62,5 
32,0 
5,5 
5 Argentina
1.164 
1.330 
14,3
10.347 
12,9 
11,2 
6,9 
81,9 
6 Irã
1.016 
1.316 
29,5
1.470 
89,5 
62,6 
33,9 
3,5 
7 Japão
1.121 
1.292 
15,2
3.221 
40,1 
57,9 
14,0 
28,1 
8 Hong Kong
634 
892 
40,8
979 
91,1 
74,0 
22,5 
3,5 
9 Venezuela
601 
858 
42,8
3.275 
26,2 
43,2 
5,0 
51,8 
10 Arábia Saudita
613 
727 
18,7
1.077 
67,5 
65,4 
5,9 
28,7 
11 Coréia do Sul
474 
646 
36,2
1.479 
43,7 
71,4 
16,0 
12,6 
12 Emirados Árabes
447 
645 
44,1
937 
68,8 
47,1 
9,5 
43,4 
13 Egito
615 
547 
-11,1
987 
55,5 
67,3 
22,5 
10,2 
14 África do Sul
360 
500 
39,0
1.306 
38,3 
31,9 
9,7 
58,4 
15 Paraguai
312 
479 
53,6
1.153 
41,5 
8,8 
0,9 
90,3 
16 Canadá
399 
387 
-3,0
1.644 
23,5 
24,6 
37,7 
37,7 
17 Tailândia
374 
372 
-0,4
631 
59,0 
89,2 
6,4 
4,5 
18 Chile
326 
341 
4,3
3.127 
10,9 
10,9 
7,1 
82,0 
19 México
278 
340 
22,4
3.082 
11,0 
14,0 
15,9 
70,2 
20 Indonésia
208 
322 
54,5
511 
63,0 
60,6 
32,5 
6,9 
21 Argélia
275 
300 
9,3
354 
84,7 
28,7 
49,9 
21,4 
22 Nigéria
316 
294 
-6,9
1.077 
27,3 
2,2 
51,4 
46,5 
23 Malásia
296 
293 
-1,2
485 
60,3 
9,3 
78,7 
11,9 
24 Angola
213 
290 
36,2
793 
36,5 
30,7 
3,9 
65,4 
25 Suíça
228 
284 
24,9
825 
34,5 
30,6 
39,0 
30,4 
26 Colômbia
214 
282 
31,6
1.730 
16,3 
11,2 
3,4 
85,4 
27 Uruguai
228 
259 
13,5
959 
27,0 
21,6 
11,8 
66,5 
28 Índia
126 
228 
81,4
708 
32,2 
1,4 
86,1 
12,5 
29 Marrocos
223 
225 
0,8
339 
66,3 
21,1 
60,9 
18,0 
30 Cingapura
166 
220 
32,7
1.110 
19,8 
77,7 
4,2 
18,1 
Subtotal  
33.836 
40.092 
18,5
101.641 
39,4 
48,8 
19,2 
32,0 
Demais países  
4.099 
5.132 
25,2
14.958 
34,3 
39,9 
11,8 
48,3 
Total  
37.934 
45.224 
19,2
116.599 
38,8 
47,8 
18,3 
33,9 

Fonte: Elaborada pelo Instituto de Economia Agrícola, a partir de dados básicos da SECEX/MDIC.

            Quanto à participação dos produtos dos agronegócios nas exportações totais brasileiras, dos 30 destinos mais relevantes que somaram US$40,1 bilhões das vendas externas setoriais, no período de janeiro a setembro de 2007, em doze nações as importações representam mais de 50% do total adquirido por elas. Para Hong Kong, Rússia e Irã, esse indicador atinge a casa dos 90%, enquanto na Argélia os agronegócios representam 84,7% das transações (Tabela 1). Verifica-se aí a presença fundamental da agricultura brasileira no abastecimento de países cujas economias concentram-se em indústrias relevantes (Hong Kong e Rússia) ou no petróleo (Rússia, Irã e Argélia).

            Avaliando o perfil de agregação de valor nas exportações dos produtos dos agronegócios, de janeiro a setembro de 2007, verifica-se que os produtos básicos têm 47,8% de participação das exportações, já os semimanufaturados com 18,3% e os manufaturados ou processados representam 33,9%. Também, quando se consideram os 30 principais destinos, nota-se que a maior parte dos países que compra produtos manufaturados dos agronegócios brasileiros estão localizados no continente americano, enquanto os que compram os produtos básicos estão localizados na Ásia (em especial na China, Tailândia, Coréia do Sul e Hong Kong) (Tabela 1).

            A União Européia é o principal mercado de destino dos produtos brasileiros, tanto no geral quanto nos agronegócios. De janeiro a setembro de 2007 foram exportados US$15,1 bilhões de produtos dos agronegócios com crescimento de 28,7% em relação a 2006, e participação de 52,5% no total geral exportado para União Européia. Vale destacar que na agregação de valor do agronegócio, os produtos básicos têm 56,8% de participação, e os produtos manufaturados e semimanufaturados com 28,5% e 14,7%, respectivamente (Tabela 1).

            As exportações por grupos de produtos para a União Européia, de janeiro a setembro de 2007, o principal é o de Cereais, Leguminosas e Oleaginosas com mais de US$4,6 bilhões exportados que representam 30,5% do agronegócio e crescimento de 31,3% em relação a 2006. Destaque para os produtos básicos como soja (US$3,7 bilhões) e milho (US$574 milhões) exportados, com crescimentos de 19,5% e 1.727,6%, respectivamente. Em seguida aparecem os grupos de produtos florestais (US$2,5 bilhões), bovídeos (US$2,1 bilhões), café e frutas com US$1,5 bilhão cada um (Tabela 2 dos anexos).

            Os Estados Unidos da América são o segundo maior importador dos produtos brasileiros; no período de janeiro a setembro de 2007, as vendas totais foram superiores a US$18 bilhões, e para os agronegócios as exportações registraram US$5,2 bilhões, que representam 28,3% de participação nas vendas totais. Os americanos importaram 6,2% a menos nos agronegócios quando comparado com o mesmo período de 2006. Essa queda foi mais acentuada nos grupos de produtos de cana e sacarídeas (-42,5%) principalmente no álcool, e no grupo de produtos florestais (-12,6%) que é o principal item da pauta de exportação com US$1,7 bilhão (Tabela 3 dos anexos).

            Interessante destacar que os americanos vêm desenvolvendo e produzindo em grande escala o etanol do milho (previsão de 25 bilhões de litros em 2007), além do que a exportação do álcool brasileiro sofre com uma forte barreira tarifária praticada. A recente visita do Presidente dos EUA ao Brasil, centrada na discussão dos biocombustíveis, ao invés de promover a abertura do mercado para o etanol brasileiro, teve como decorrência efeito imediato exatamente oposto, qual seja a redução.

            Ainda no tocante às importações norte-americanas, há uma redução expressiva nas compras de madeiras brasileira (-12,8%), que representam o principal produto da pauta dos negócios com aquela nação, o que pode estar refletindo o desaquecimento decorrente da crise imobiliária na economia norte-americana. Nas transações com os Estados Unidos, um segmento que mostrou bom desempenho foi o grupo de frutas com crescimento de 62,0% com destaque ao suco de laranja em que as compras norte-americanas cresceram 108,0% (Tabela 3 dos anexos).

            Nota-se uma diferença entre os Estados Unidos e os países que formam a União Européia no que diz respeito à agregação de valor dos produtos dos agronegócios. Enquanto dos Estados Unidos importam 62,4% de produtos manufaturados e apenas 18,6% de produtos básicos, a União Européia segue no sentido contrário, comprando somente 28,5% dos manufaturados (Tabelas 2 e 3 dos anexos). Esse comportamento decorre das políticas de cada parceiro, sendo que no caso europeu as importações são de produtos básicos para agregar valor internamente gerando emprego e renda na respectiva economia (o caso típico corresponde ao conhecido 'Café de Hamburgo') enquanto no caso norte-americano as possibilidades de entrada de manufaturados (um dos maiores compradores de carne processada e de couros e derivados) permite uma relação mais favorável a produtos agroindustriais.

            No caso da China, que consiste no terceiro maior importador dos agronegócios brasileiros, as compras também se concentram em produtos básicos (71,3%). A particularidade das compras chinesas consiste no fato de que se resumem quase que exclusivamente ao Grupo Cereais/Leguminosas/Oleaginosas com US$2,6 bilhões, o que significa 70,2% do total das exportações dos agronegócios para aquela nação asiática. E como nesse grupo as vendas do complexo soja atingiram US$2,4 bilhões (Tabela 4 dos anexos), pode-se concluir que os negócios da China para a agricultura brasileira ainda se dão com base na prevalência de um único produto, tendo sido infrutíferas em termos de desempenho, as tentativas de diversificação dessa pauta de transações.

            A Rússia representa o quarto maior comprador de produtos da agricultura brasileira, com US$2,4 bilhões também concentrados em produtos básicos (62,5%). Os principais grupos de produtos adquiridos por essa nação do Leste Europeu são Cana e Sacarídeas com US$772,0 milhões - principalmente açúcar com US$771,9 milhões, Suínos e Aves com US$675,2 milhões - sendo US$206,9 milhões de carne avícola e US$459,3 milhões de carne suína, além dos Bovídeos com US$671,2 milhões no que a carne bovina contribui com US$660,7 milhões (Tabela 5 dos anexos). Em linhas gerais, as vendas dos agronegócios brasileiros para a Rússia estão determinadas pelas carnes (US$1,3 bilhão) que representam 56,6% do total.

            A Argentina, parceira do MERCOSUL, consiste no quinto maior destino das exportações dos agronegócios brasileiros com US$1,3 bilhão, sendo que 81,9% consistem em manufaturados, o que revela a superioridade da estrutura agroindustrial nacional frente à da nação portenha. As compras argentinas de produtos da agricultura brasileira têm como principais grupos os Produtos Florestais com US$369,6 milhões, seguidos de Bens de Capital e Insumos com US$322,3 milhões e dos Têxteis com US$238,7 milhões (Tabela 6 dos anexos). Chama a atenção neste caso particular, o fato de que a estrutura de bens de capital e insumos, que configuram a modernidade da agricultura brasileira, também sustentam processo similar nações vizinhas como a Argentina.

            No geral, a análise dos destinos das exportações da agricultura brasileira revela diversificação. Mas com um condicionante de que, se há um aumento do comércio com um número maior de nações, da mesma maneira quando se considera cada nação em particular, nota-se uma elevada dependência de um ou poucos produtos, o que exige uma estratégia similar de diversificar a pauta em cada nação e não apenas apostar na ampliação do rol de destinos. Os negócios internos ao continente americano se mostram mais consistentes em termos de agregação de valor que os realizados com outros destinos.

            Cabe ainda ressaltar que, para uma economia com dificuldades de gerir a política cambial como a brasileira, numa realidade em que a entrada de moeda estrangeira empurra a competitividade para baixo, duas constatações devem ser objetos de reflexão: a) se faz sentido apostar em parceiros que tendem a concentrar suas compras em produtos básicos? e b) se não se constitui numa irracionalidade exatamente a política nacional de sustentação da produção mecanizada em larga escala de produtos básicos, o que tem custado somas expressivas de recursos públicos a cada ano para rolagens e renegociações de uma dívida que está estimada em mais de R$ 130 bilhões (mais US$72,2 bilhões a um câmbio de R$ 1,80/US$)? Veja-se que a dívida acumulada na agricultura se revela muito maior que o total das exportações setoriais de janeiro a setembro de 2007 (US$45,2 bilhões) e mesmo que o total anual das vendas externas dos agronegócios em 2006 (US$52,0 bilhões). Trata-se de um debate relevante para o futuro da economia e da agricultura brasileira, que deve ser travado enquanto se têm as condições de solução.
___________________________________________________________
¹A União Européia é um bloco econômico, com união aduaneira e Política Agrícola Comum (PAC), e formado por 27 países com uma população estimada em 490 milhões de habitantes.

Palavras-chave: agronegócios, balança comercial, exportações, destinos.


Data de Publicação: 18/12/2007

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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