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Mercado e Comercialização de Amora, Mirtilo e Framboesa
O
desconhecimento dos produtores brasileiros quanto às "pequenas frutas" ainda é
limitado, mas existe um enorme esforço de técnicos em pesquisas e difusão para o
desenvolvimento do setor no País.
Neste
artigo serão consideradas como "pequenas frutas", o mirtilo (Vaccinium
myrtillus), a framboesa (Rubus idaeus) e a amora preta (Rubus ulmifolius) que
têm em comum o porte arbustivo, frutos pequenos de coloração intensa e a
necessidade de a produção ocorrer em regiões de clima temperado, pois necessitam
de uma grande quantidade de horas de frio para frutificar
adequadamente.
Por
serem culturas que estão sendo introduzidas recentemente no Brasil não há dados
estatísticos oficiais, portanto os dados e as informações apresentadas foram
coletadas em entrevistas pessoais com atacadistas da CEAGESP, varejistas e
técnicos das regiões produtoras, e revisão da pouca literatura disponível sobre
o assunto.
Constantemente têm sido abordados o potencial nutracêutico, as propriedades
antioxidantes e anti-cancerígenas destas frutas1. Essas propriedades
funcionais estão levando a um aumento de consumo, embora ainda pequeno, deste
grupo de frutas, porém como são continuamente apontadas como alternativa de
cultivo para as regiões mais frias, principalmente para a agricultura familiar,
faz-se necessário um estudo mais aprofundando do mercado ou dos mercados
potenciais para essas frutinhas.
Em
algumas regiões já estão instaladas empresas especializadas no processamento e
comercialização in natura dessas culturas, tornando-as realidade para os
produtores.
Não
existem estatísticas oficiais sobre produção e área cultivada dessas espécies no
Brasil, mas dados de pesquisadores e extensionistas apontam crescimento da área
cultivada, principalmente nas Regiões Sul e Sudeste.
No
Rio Grande do Sul, o mirtilo é produzido por 45 produtores rurais, ocupa uma
área de 65 ha com produção de 150 toneladas; a framboesa é produzida por 2
produtores em uma área de 8 ha e produção de 45 toneladas; e a amora preta é
cultivada por 149 produtores em uma área de 145 ha com produção de 300
toneladas2.
Em
São Paulo o município produtor mais importante é Campos do Jordão, estância
turística da Serra da Mantiqueira, onde as pequenas frutas fazem parte da
política agrícola da prefeitura. A Secretaria de Agricultura Municipal elaborou
um programa que auxilia os produtores interessados no cultivo, disponibilizando
mudas, assistência técnica e ao mesmo tempo incentivando o turismo rural e
ecológico, o que abre a possibilidade da venda direta de pequenas frutas e seus
derivados aos turistas para possibilitar uma maior renda ao produtor. Em
conjunto com os produtores de Campos do Jordão, produtores de outros municípios
da Serra da Mantiqueira, inclusive do sul de Minas Gerais, estão cultivando
pequenas frutas e obtendo sucesso. Hoje a região conta com aproximadamente 60
produtores e uma área total cultivada superior a 30 ha com tendência ao
crescimento. Os produtores da Mantiqueira estão se organizando e investindo
tanto na implantação de pomares como na adoção de técnicas, como irrigação,
plasticultura e câmaras frias, visando, além do processamento industrial, o
mercado in natura exigente na aparência e frescor das
frutas3.
No
Estado do Paraná, a produção ainda é pequena, mas alguns produtores de maçã,
frutas de caroço e morango demonstram interesse pelo cultivo de "pequenas
frutas". No município de Irati, no sul do Estado, foi implantada uma
agroindústria processadora de amoras pretas4.
As
pequenas frutas têm alta rentabilidade por hectare, sendo considerada como
excelente alternativa para pequenos produtores
familiares5.
Na tomada de decisão de se cultivar essas
espécies, o produtor deve ter cuidado e planejamento, são culturas com alto
custo de implantação de pomar e mão-de-obra. É necessário que se decida qual
mercado irá atuar, pois as exigências são diferentes. Caso o objetivo seja o
mercado in natura deve-se investir em estrutura de frio nas etapas da colheita,
armazenagem e transporte, a logística deve ser eficiente, pois o tempo entre a
colheita e a comercialização deve ser o menor possível para evitar
perdas.
Como
os investimentos na cultura são muitas vezes altos, uma opção seria os pequenos
produtores optarem pela organização em cooperativas ou associações para investir
em conjunto; e outra, a integração com empresas, já instaladas em alguns pólos
produtores, que possuem infra-estrutura para a comercialização da fruta
congelada, IQF (Individually Quick Frozen - congelamento rápido individualizado)
ou in natura.
Apesar do grande potencial econômico dessas culturas, a amora-preta, o mirtilo e
a framboesa in natura têm consumo restrito pelo alto preço praticado no mercado
consumidor, em decorrência do alto custo de mão-de-obra, exigências em
transporte e armazenagem a frio, alta perecibilidade da fruta e, principalmente,
pela produção nacional limitada que gera baixa oferta e falta de constância de
entrega do produto6.
Não
há entre os brasileiros o hábito de consumo in natura desses produtos, o mercado
é pequeno, mas em crescimento principalmente pelo apelo nutracêutico dos
produtos7. -
Mercado8
O
principal mercado dessas frutas no Brasil é a agroindústria, o Chile é
responsável por abastecer 90% do volume dessas frutas demandados pelas
indústrias processadoras no Brasil, o preço da fruta chilena é mais competitivo
e a escala de produção maior, o que garante constância e volume ofertado, que
são as principais exigências do mercado. Os produtores brasileiros devem se ater
à qualidade da fruta produzida e investir na escala de produção, assim como se
organizar para ofertar volume e assim tornarem-se competitivos nesse nicho de
mercado.
Quanto às "pequenas frutas" in natura o maior mercado consumidor do País é São
Paulo, e o local onde se encontram o maior número de atacadistas dessas frutas é
o Entreposto Terminal de São Paulo (ETSP), da Companhia de Entrepostos e
Armazéns Gerais de São Paulo (CEAGESP).
O
mercado in natura ainda é pequeno e deve ser trabalhado por produtores,
empresas, atacadistas e varejistas, pois se mostra com maior potencial de
remuneração para o produtor.
As
exportações in natura ainda são incipientes, feitas via aérea devido à alta
perecibilidade dos frutos e exigência de cadeia de frio.
A
logística de armazenamento e transporte é um dos principais pontos que deve ser
trabalhado para viabilizar as exportações brasileiras de "pequenas frutas" in
natura, principalmente quanto à infra-estrutura dos
aeroportos.
Há um
preço mínimo para venda in natura, pois o custo de comercialização é muito alto,
se o mercado da fruta in natura não pagar por esse preço mínimo, a
comercialização torna-se inviável, nesse caso o mercado de congelados é uma
opção interessante aos produtores.
A
oferta dessas frutas no ETSP da CEAGESP se dá durante todo o ano, entre novembro
e abril são comercializadas as frutas nacionais e durante os outros meses do
ano, a importada9.
As
"pequenas frutas" importadas ofertadas no mercado nacional são a maioria,
provenientes de países europeus, principalmente Portugal, Espanha e
Itália10.
Poucos são os importadores dessas frutas no ETSP, pois o preço do produto é
muito alto em média R$90,00/kg comercializado no atacado.
Em
junho de 2007, as cumbucas de 125 gramas de amora-preta, framboesa e mirtilo
importados estavam sendo comercializadas em média por R$15,90 no varejo
especializado da cidade de São Paulo.
A
produção nacional é comercializada por um número maior de atacadistas. As
principais regiões produtoras que abastecem o mercado são os municípios gaúchos
e Campos do Jordão no estado paulista11.
Não
há preferência de compras dessas frutas por origem, diferente do que acontece
com a maioria das frutas, isso provavelmente se dê pelo pequeno número de
municípios produtores.
Durante a safra brasileira, não só os empórios de luxo comercializam o produto,
mas sacolões diferenciados, feirantes de regiões nobres de São Paulo, pequeno
varejo, restaurantes e atacadistas de outros estados e
cidades.
Fato
curioso é que o grande varejo não as comercializa, apenas uma grande rede compra
essas frutas em pequena quantidade para ofertar em suas lojas classe
A.
Hoje
o grande varejo é o local onde a maioria da população faz suas compras de
frutas, verduras e legumes, a oferta dessas frutas nesses canais de
comercialização, assim como campanhas de degustação nesses locais, seria uma
forma de popularizar o consumo.
Os
atacadistas afirmam dar preferência em comprar "pequenas frutas" de empresas que
ofereçam volume e excelente estrutura de pós-colheita. Essa afirmação confirma a
necessidade de organização dos pequenos produtores em cooperativas ou
consolidação de parcerias com empresas que já possuem essa
infra-estrutura.
As
principais exigências de qualidade do mercado quanto a essas frutas são:
firmeza, coloração, doçura e apresentação do produto. Os principais problemas
apontados pelos atacadistas foi podridão e falta de
classificação.
Os
produtores devem se ater à qualidade, principalmente por ser um produto voltado
ao mercado consumidor mais exigente e informado12. O perfil do atual
consumidor de pequenas frutas aponta que ele paga pela qualidade do produto e
quando a fruta não está com sabor ou textura agradável há uma retração do
consumo.
O
alto custo do produto, a alta perecibilidade e principalmente a falta de
divulgação das frutas no mercado nacional são grandes entraves para a
comercialização.
O
aumento da produção brasileira deve ser realizado com planejamento e cautela,
por se tratar de frutas com alto custo de produção e de comercialização, deve se
pensar até que ponto é vantajoso para o produtor aumentar a demanda e diminuir o
preço, pois a popularização dessas frutas pode comprometer a rentabilidade da
produção, por isso o setor produtivo deve aproveitar a oportunidade de estar
iniciando seu crescimento para trabalhar em conjunto com órgãos de pesquisa,
extensão e poder público, deve ser realizada uma ação coletiva para o
crescimento sustentável, para que as pequenas frutas sejam sempre um grande
negócio. 1PEREIRA, B. Frutas Finas. Frutas
e Derivados. Disponível em: <http://www.ibraf.org.br/revista/revista.asp>. Acesso em: 6 abr. 2007. Palavras-chave: pequenas frutas, frutas
vermelhas, frutas finas.
As
vendas também são baixas, concentrando-se nos empórios de luxo, cuja clientela
concentra-se nas classes com grande poder aquisitivo, devido às propriedades
nutracêuticas ou para uso na preparação de pratos
diferenciados.
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2Comunicação pessoal Paulo Lipp João - EMATER -
RS.
3Comunicação pessoal Engenheiro Agrônomo
Rodrigo Veraldi Ismael - Campos do Jordão/SP
4Comunicação pessoal Engenheiro Agrônomo Paulo Andrade
DERAL/SEAB Paraná.
5Comunicação pessoal Engenheiro
Agrônomo Rodrigo Veraldi Ismael - Campos do Jordão /SP.
6 Op. cit. nota 1.
7 Op.
cit. nota 1.
8Comunicação pessoal atacadistas
da CEAGESP e varejistas que comercializam pequenas frutas na cidade de São
Paulo.
9SIM CEAGESP: sistema de informação de
mercado da companhia de entrepostos e armazéns gerais de São Paulo (CEAGESP).
São Paulo: CEAGESP, Seção de Economia e Desenvolvimento, 2006. Não
publicado.
10Op. cit. nota
9.
11Op. cit. nota 9.
12GUTIERREZ, A. S. D. Danos mecânicos pós-colheita em pêssego
fresco. Piracicaba, 2005. 124p. Tese (Doutorado em Produção Vegetal) - Escola
Superior de Agricultura "Luiz de Queiroz", Universidade de São
Paulo.
Data de Publicação: 17/12/2007
Autor(es): Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor