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Selo Paulista: uma saída para a fraude do leite
A fraude do leite e seus derivados tem sido preocupação do setor há alguns anos. O excesso de importações de soro de leite por muitos anos parecia estar relacionado à fraude, mas a falta de informações e de testes mais conclusivos acabou por impossibilitar ações mais contundentes do setor. _______________________ Palavras-chave: leite, fraude, selo de qualidade.
A divulgação de fraude no leite longa vida (UHT), em Minas Gerais, pela Polícia Federal, trouxe à tona o tema. Este fato com certeza causou impacto no consumo de leite em geral e mesmo que a queda afete temporariamente o setor, com corte do produto do cardápio, o impacto não deve ser tão agressivo dado que o leite é um alimento relacionado à saúde. Mas com certeza há riscos de perda de parte do mercado, pois o consumidor passou a dar mais atenção à questão da qualidade do leite.
O consumidor do leite longa vida, com medo de estar tomando um produto perigoso à saúde, está indeciso na hora de comprar e num primeiro momento vem optando pelo tipo pasteurizado, o que pode ser sentido nos primeiros dias após a divulgação da notícia, quando houve um incremento de 10% nos pedidos de compra do varejo. Até o leite tipo A, que tem preço mais elevado, sentiu o aquecimento da demanda.
No entanto, a capacidade das indústrias em atender o mercado com leite pasteurizado limita o crescimento para este tipo de produto, pois nem todo laticínio ou cooperativa tem condições de transformar o leite UHT em pasteurizado, por haver diferenças no processamento.
Outra possibilidade para o consumidor tem sido procurar marcas que não estão envolvidas em denúncias de fraude, mas como a fiscalização sobre todas as marcas ainda está no início, há muita insegurança na hora da compra.
O longa vida é o leite mais consumido no país (75,8% em 2006) 1, principalmente pela sua praticidade. O consumidor habituado a levar para casa o leite para o mês todo tem agora como opção comprar o leite pasteurizado ou o leite em pó. No entanto, o fato de ele não estar mais habituado a ir à padaria e o receio de tomar um produto nocivo à saúde, pode levá-lo a substituir por outro produto como o leite de soja ou sucos, que têm tido um crescimento relevante no consumo de bebidas, há alguns anos.
Tais fatos levam à possibilidade de um distanciamento irreversível do consumidor se não houver uma forte reação por parte da cadeia de produção, informando melhor o seu público e tomando ações urgentes para evitar o risco. Ou seja, é preciso fazer uso de uma estratégia de marketing que informe ao consumidor sobre o seu produto.
Nesse momento faz-se necessária a coordenação do processo por um dos elos da cadeia de produção para que, em conjunto com os demais, atuem no sentido de reverter rapidamente o quadro negativo.
O tema qualidade é cada vez mais fundamental no mercado, o que reflete a preocupação da população e do mercado com a segurança do alimento.
Qualidade é antes de tudo 'fazer as coisas de maneira certa'. É algo que o consumidor pode julgar com certa facilidade, constatado na comparação com que é oferecido e o que é obtido e tem grande influência na satisfação ou não do consumidor2. O controle da qualidade do produto é fundamental para garantir a segurança do alimento e viabilizar a conquista e manutenção de mercados internos e externos. No momento em que ela está sendo questionada e o consumidor se sente inseguro, este aspecto ganha um valor maior.
No caso do leite, a qualidade e as diferenças entre os produtos oferecidos no mercado são desconhecidos para o público em geral. O consumidor dificilmente compra um tipo de leite (UHT, pasteurizado e em pó) e/ou marca porque é melhor ou seu sabor é especial, mas sim porque é mais barato e/ou mais prático. O mesmo ocorre com as marcas dos seus derivados. Algumas são reconhecidas como sinônimo de qualidade, mas o grande número e variedades leva, na maior parte das vezes, o consumidor a escolher produtos com preços mais baixos.
As mudanças estruturais por que passaram o mercado geraram a necessidade cada vez maior de a agricultura fazer uso de certificações para garantir a qualidade de um produto e agregar valor ao mesmo. Foram as novas necessidades e exigências do comércio internacional, com a introdução de barreiras sanitárias, a maior interação dos agentes, a maior dinamização das informações e as novas exigências dos consumidores que levaram a isso.
Assim, a certificação ganhou destaque por ter o papel de garantir que determinado produto possui atributos relacionados à qualidade.
No caso do leite e derivados, o uso de um selo que tenha como meta principal a qualidade do leite poderá ter um efeito positivo se o consumidor estiver esclarecido sobre seus atributos e as diferenças em relação aos outros produtos encontrados no mercado.
Os produtos alimentícios em geral têm como fabricantes diversas empresas com diferentes níveis de grandeza, ou seja, desde menores até grandes organizações. Dentre elas, existem as que são líderes de mercado ou referência de um tipo de produto.
No mercado encontram-se várias marcas do produto longa vida, oriundas de centenas de laticínios e cooperativas do país. Como no setor de alimentos, no de lácteos também há diversas empresas com diferentes níveis de grandeza e entre elas as que são líderes de mercado ou referência de um tipo de produto.
Regionalmente a população consegue conhecer uma marca que seja referência de qualidade, mas normalmente o preço deste produto está acima dos demais, justamente pela sua qualidade.
Isso significa que o preço representa uma abertura para a entrada de diversas outras marcas de leite no mercado, principalmente porque o leite longa vida, como o próprio nome diz, tem vida de prateleira de vários meses e o consumidor está a procura de produtos com preços mais competitivos. Como não há forma de o consumidor distinguir a qualidade ao verificar o que diz a embalagem e nem tem esse hábito, o preço passa a ser um fator importante na eleição do produto a ser adquirido, já que oproduto é tido como sinônimo de saúde e qualidade, independente do tipo de leite que se está tomando.
No Estado de São Paulo, a criação do Selo de Qualidade 'Produto de São Paulo', dentro do Sistema de Qualidade de Produtos Agrícolas, Pecuários e Agroindustriais do Estado de São Paulo São Paulo (Lei 10.481, de 29 de dezembro de 1999), trouxe a possibilidade de se ter um leite certificado que garanta a sua qualidade, indicando que o produto adquirido é oriundo de uma produção onde é feita uma ordenha correta, há um tratamento térmico adequado, não há adição de produtos estranhos ao leite que não seja os devidamente autorizados pela legislação em vigor, etc.
Este selo é de responsabilidade da Secretaria de Agricultura e Abastecimento e é de adesão voluntária, dirigido 'aos produtores rurais e agroindustriais, cujo produto tenha sido produzido no âmbito geográfico do Estado de São Paulo'3.
Assim, a obtenção do selo depende da criação de normas técnicas para certificação do produto, que devem ser definidas com auxílio de especialistas. É feita através de auditoria na empresa por Organismo Certificador habilitado pelo INMETRO.
A vantagem de uma certificação é que ela atende não só ao consumidor, que pode ter maior confiança nos produtos com a garantia de uma relação favorável entre qualidade e preço, mas é benéfica para o fabricante que terá assegurada a implantação eficaz de sistema de controle e garantia da qualidade nas organizações, diminuindo a perda de produtos e os custos de produção, ganhando competitividade com o aumento da satisfação do cliente, com facilidade na venda de seus produtos e a entrada em novos mercados4.
No momento em que o setor passa por problemas de fraude, o selo é um instrumento viável e oportuno para dar credibilidade ao produto, tanto no mercado interno como no externo, pois o leite terá uma qualidade superior auditada por certificadoras e laboratórios independentes credenciados pelo INMETRO. Com isso o consumidor que optar pelo leite paulista poderá se sentir mais seguro.
1ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE LONGA VIDA. Estatísticas. Disponível em: <http://www.ablv.org.br/Index.cfm? fuseaction=longavida>. Acesso em: 1 nov. 2007.
2SLACK, N. et al. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 2002. 747 p.
3SECRETARIA DE AGRICULTURA E ABASTECIMENTO DO ESTADO DE SÃO PAULO. Resolução SAA - 32, de 09 jun. 2001. Disponível em: <http://www.codeagro.sp.gov.br/qualidade_sp/selo_sp.php>. Acesso em: 4 ago. 2007.
4ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE NORMAS TÉCNICAS. Certificação. Disponível em: <http://www.abnt.org.br/ certif_body.htm>. Acesso em: 6 mar. 2006.
Data de Publicação: 30/11/2007
Autor(es):
Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Nelson Pedro Staudt (nelson@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor