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Exportações de Produtos Lácteos:um negócio de futuro
Nos
últimos 25 anos a produção de leite no Brasil apresentou crescimento de 3,07% ao
ano. A estabilização da moeda nacional em 1994, com o Plano Real, ao acabar com
o confisco inflacionário sobre a renda dos consumidores, parece ter estimulado a
evolução da produção: a taxa de crescimento anual foi de 2,52% a.a. no período
1980-1994 para 3,70% a.a. no período 1994-2005. Em termos absolutos a produção
brasileira de leite evoluiu de 12,0 bilhões de litros em 1980 para 15,8 bilhões
em 1994 e 24,8 bilhões em 2005¹ (Figura 1).
Figura 1 - Produção Brasileira de Leite,
1980 a 2005.
Fonte: Elaborada pelos autores com dados
do IBGE - Produção Pecuária Municipal.
O controle da inflação representou um ganho na renda real que o consumidor transformou em maior demanda por produtos com maior elasticidade-renda, entre eles os lácteos. Assim, em 1996 o consumo per capita de leite no Brasil atingiu 131,73 litros por ano, passando a variar próximo desse valor nos anos seguintes. A demanda pelos produtos lácteos ultrapassou em muito a produção, forçando o aumento das importações, que atingiram 2,2 bilhões de litros em 1996². A abertura comercial do início dos anos 1990 levou a mudanças mais profundas com o crescimento da desnacionalização da atividade através de fusões e aquisições de empresas. O câmbio também teve papel importante no favorecimento das importações, principalmente no âmbito do MERCOSUL, com destaque para compras da Argentina e Uruguai. O saldo comercial deficitário dos produtos lácteos brasileiros (que atingiu o valor máximo de US$506,9 milhões em 1998) persistiu até 2004, quando o valor exportado ultrapassou o importado pela primeira vez no período.
A rápida expansão da produção substituiu importações, equilibrou a balança comercial em 2004 e introduziu o país no mercado internacional nos anos seguintes. Entre 1998 e 2004 as importações brasileiras de produtos lácteos caíram de US$515,5 milhões para US$84,1 milhões, enquanto as exportações cresceram de US$8,6 milhões para US$113,5 milhões resultando na mudança do saldo de -US$506,9 milhões para +US$29,4 milhões. Nos últimos anos as exportações continuaram a crescer, mas as importações, impulsionadas pela desvalorização do dólar, ganharam maiores dimensões. Em 2006 as exportações atingiram US$168,6 milhões, as importações, US$155,1 milhões, gerando um saldo de US$13 milhões (Figura 2).
Figura 2 - Saldo Comercial Brasileiro,
Produtos Lácteos, 1997 a Setembro de 2007.
Fonte: Elaborada pelos autores
com dados da SECEX.
No final da década de 1990 (1997), o produto lácteo responsável por 32,5% do valor exportado foi a manteiga e demais gorduras lácteas (US$3,5 milhões em US$10,6 milhões), já em 2006 a liderança passou para o leite condensado e creme de leite, com 41,1% do valor total (US$69,2 milhões em US$168,6 milhões). Leite UHT e leite em pó mantiveram sua participação relativa (mais de 26%), mas suas vendas evoluíram de US$2,86 milhões para US$44,2 milhões, no período. Demais produtos lácteos (17,9%) e queijos (12,4%) completaram a pauta dos quatro grupos mais importantes de derivados do leite exportados pelo Brasil em 2006, de acordo com a SECEX/MDIC³.
As importações brasileiras de produtos lácteos são predominantemente de leite UHT e leite em pó, mas sua participação no valor total caiu de 80,5% em 1997 para 60,1% em 2006. Os produtos que expandiram sua participação no período foram: soro de leite (de 3,0% para 18,0%), queijos (de 8,9% para 14,0%) e demais produtos lácteos (de 1,6% para 5,2%)4.
A recente expansão da integração agroindustrial latino-americana, que permite que empresas brasileiras comprem sardinhas frescas da Venezuela e exportem sardinhas em conservas para Uruguai e Argentina, também permite que o Brasil compre matéria-prima láctea destes países, a beneficie e exporte para a Venezuela, por exemplo. Assim o volume do comércio externo cresce pelas duas vias.
A unidade federativa líder nas exportações brasileiras de produtos lácteos é Minas Gerais, que respondeu por 39,3% do valor total em 2006 graças à incrível expansão de suas vendas externas de apenas US$1,1 milhão em 1997 (10,5% do total) para US$66,4 milhões em 2006. São Paulo manteve-se como líder das quantidades físicas exportadas (40,7% em 2006), mas caiu para segundo lugar com 32,8% do valor (expansão de US$3,7 milhões para US$55,3 milhões no mesmo período). Empresas sediadas no Rio de Janeiro, ao ampliarem suas exportações de apenas US$48 mil (1997) para US$15,3 milhões, obtiveram um salto em sua representatividade de 04% para 9,1%. Em contrapartida Goiás (de 20,3% para 4,2% do valor) e Rio Grande do Sul (de 21,4% para 6,0%) tiveram grande redução em seus pesos nas exportações brasileiras de produtos lácteos, entre 1997 e 2006 (Tabela 1).
Em
relação ao destino das exportações, constata-se grande diversificação da pauta
durante o período: no quadriênio 1996-99 apenas quatro países compravam 2% ou
mais do valor total dos produtos lácteos comercializados pelo Brasil no
exterior: Venezuela (36,2%), Argentina (10,8%), Angola (5,0%) e Estados Unidos
(4,0%) (totalizando 56,0%), enquanto no quadriênio 2004-07, nove países
preencheram este quesito, liderados por Venezuela (11,5%), Argélia (9,9%),
Angola (7,7%), África do Sul (6,1%) e Estados Unidos (5,8%) (Tabela
2).
Tabela 1 - Exportações Brasileiras de Produtos Lácteos, por Estado, 1996 a 2007
Descrição da UF |
| ||||||||||||||||||
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 | |||||||||||||
Espírito Santo |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 | ||||||||||||
Goiás |
1.520 |
843 |
858 |
5 |
26 |
733 |
462 | ||||||||||||
Minas Gerais |
63 |
540 |
21 |
1.540 |
3.856 |
5.467 |
7.708 | ||||||||||||
Paraná |
13 |
528 |
106 |
62 |
1.282 |
1.625 |
1.154 | ||||||||||||
Rio de Janeiro |
17 |
18 |
9 |
39 |
143 |
157 |
1.490 | ||||||||||||
Rio Grande do Sul |
1.022 |
994 |
77 |
46 |
119 |
1.515 |
3.039 | ||||||||||||
São Paulo |
1.380 |
1.354 |
1.779 |
2.667 |
3.858 |
10.124 |
25.881 | ||||||||||||
Subtotal |
4.014 |
4.278 |
2.850 |
4.358 |
9.284 |
19.621 |
39.735 | ||||||||||||
Outros |
3.868 |
165 |
248 |
298 |
308 |
458 |
1.275 | ||||||||||||
Total |
7.882 |
4.443 |
3.099 |
4.656 |
9.593 |
20.079 |
41.010 | ||||||||||||
Descrição da UF |
|
| |||||||||||||||||
2003 |
2004 |
2005 |
2006 |
2007¹ |
1997 |
2006 | |||||||||||||
Espírito Santo |
2 |
575 |
4.421 |
3.505 |
2.030 |
0,0 |
3,5 | ||||||||||||
Goiás |
3.311 |
8.767 |
7.735 |
3.162 |
4.607 |
19,0 |
3,2 | ||||||||||||
Minas Gerais |
7.314 |
21.901 |
19.746 |
33.489 |
25.275 |
12,2 |
33,9 | ||||||||||||
Paraná |
1.772 |
4.222 |
9.053 |
2.299 |
3.122 |
11,9 |
2,3 | ||||||||||||
Rio de Janeiro |
4.056 |
151 |
1.770 |
10.171 |
1.783 |
0,4 |
10,3 | ||||||||||||
Rio Grande do Sul |
2.389 |
3.676 |
9.717 |
5.053 |
5.606 |
22,4 |
5,1 | ||||||||||||
São Paulo |
29.233 |
37.863 |
32.897 |
40.222 |
19.019 |
30,5 |
40,7 | ||||||||||||
Subtotal |
48.077 |
77.155 |
85.340 |
97.901 |
61.441 |
96,3 |
99,0 | ||||||||||||
Outros |
1.425 |
371 |
683 |
950 |
256 |
3,7 |
1,0 | ||||||||||||
Total |
49.502 |
77.526 |
86.024 |
98.851 |
61.697 |
100,0 |
100,0 | ||||||||||||
Descrição da UF |
| ||||||||||||||||||
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 | |||||||||||||
Espírito Santo |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 | ||||||||||||
Goiás |
3.965 |
2.166 |
2.156 |
12 |
79 |
1.241 |
1.092 | ||||||||||||
Minas Gerais |
209 |
1.116 |
100 |
1.433 |
3.815 |
6.789 |
9.768 | ||||||||||||
Paraná |
30 |
915 |
201 |
137 |
3.318 |
3.895 |
2.589 | ||||||||||||
Rio de Janeiro |
19 |
48 |
30 |
65 |
335 |
383 |
1.615 | ||||||||||||
Rio Grande do Sul |
3.188 |
2.286 |
91 |
93 |
130 |
1.575 |
2.731 | ||||||||||||
São Paulo |
3.755 |
3.721 |
5.339 |
5.667 |
7.301 |
12.641 |
23.304 | ||||||||||||
Subtotal |
11.166 |
10.252 |
7.917 |
7.408 |
14.978 |
26.523 |
41.100 | ||||||||||||
Outros |
9.937 |
405 |
665 |
753 |
601 |
850 |
1.026 | ||||||||||||
Total |
21.103 |
10.656 |
8.583 |
8.162 |
15.579 |
27.373 |
42.126 | ||||||||||||
Descrição da UF |
|
| |||||||||||||||||
2003 |
2004 |
2005 |
2006 |
2007¹ |
1997 |
2006 | |||||||||||||
Espírito Santo |
3 |
1.061 |
8.481 |
6.266 |
6.460 |
0,0 |
3,7 | ||||||||||||
Goiás |
6.022 |
17.337 |
16.256 |
7.008 |
15.128 |
20,3 |
4,2 | ||||||||||||
Minas Gerais |
12.599 |
41.811 |
38.236 |
66.372 |
67.208 |
10,5 |
39,3 | ||||||||||||
Paraná |
3.297 |
8.984 |
21.401 |
6.100 |
9.530 |
8,6 |
3,6 | ||||||||||||
Rio de Janeiro |
4.220 |
321 |
3.073 |
15.349 |
5.606 |
0,4 |
9,1 | ||||||||||||
Rio Grande do Sul |
2.427 |
7.109 |
19.983 |
10.088 |
17.350 |
21,4 |
6,0 | ||||||||||||
São Paulo |
26.006 |
36.245 |
41.667 |
55.333 |
30.844 |
34,9 |
32,8 | ||||||||||||
Subtotal |
54.573 |
112.868 |
149.097 |
166.515 |
152.126 |
96,2 |
98,7 | ||||||||||||
Outros |
2.415 |
726 |
1.614 |
2.195 |
656 |
3,8 |
1,3 | ||||||||||||
Total |
56.989 |
113.594 |
150.711 |
168.710 |
152.782 |
100,0 |
100,0 |
¹Dados de janeiro a
setembro.
Fonte:
Elaborada pelos autores com dados da SECEX.
Tabela 2 - Exportações Brasileiras de Produtos Lácteos, por País, 1996 a 2007
País |
| ||||||||||||||
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 | |||||||||
África do Sul |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
17 |
1 | ||||||||
Angola |
6 |
142 |
157 |
1.546 |
3.373 |
4.886 |
10.026 | ||||||||
Argélia |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
405 |
2.500 | ||||||||
Argentina |
273 |
346 |
606 |
870 |
2.741 |
5.555 |
6.529 | ||||||||
Chile |
2 |
2 |
100 |
62 |
172 |
171 |
493 | ||||||||
Coréia do Sul |
0 |
17 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 | ||||||||
Cuba |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
134 | ||||||||
Equador |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 | ||||||||
Estados Unidos |
39 |
8 |
7 |
186 |
220 |
325 |
5.562 | ||||||||
República Dominicana |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
236 | ||||||||
Trinidad e Tobago |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
895 |
3.646 | ||||||||
Venezuela |
5.235 |
802 |
813 |
1 |
49 |
41 |
985 | ||||||||
Subtotal |
5.555 |
1.316 |
1.683 |
2.666 |
6.555 |
12.294 |
30.112 | ||||||||
Outros |
2.327 |
3.127 |
1.416 |
1.990 |
3.038 |
7.785 |
10.897 | ||||||||
Total |
7.882 |
4.443 |
3.099 |
4.656 |
9.593 |
20.079 |
41.010 | ||||||||
País |
|
| |||||||||||||
2003 |
2004 |
2005 |
2006 |
2007¹ |
1996-99 |
2004-07 | |||||||||
África do Sul |
215 |
220 |
3.529 |
4.883 |
3.185 |
0,0 |
3,6 | ||||||||
Angola |
14.040 |
10.184 |
11.417 |
15.515 |
2.818 |
9,2 |
12,3 | ||||||||
Argélia |
940 |
6.006 |
9.004 |
2.809 |
7.044 |
0,0 |
7,7 | ||||||||
Argentina |
3.197 |
4.196 |
4.964 |
4.456 |
3.462 |
10,4 |
5,3 | ||||||||
Chile |
2.265 |
2.899 |
3.842 |
2.983 |
1.690 |
0,8 |
3,5 | ||||||||
Coréia do Sul |
0 |
1.696 |
3.706 |
1.258 |
650 |
0,1 |
2,3 | ||||||||
Cuba |
316 |
237 |
4.106 |
5.890 |
1.944 |
0,0 |
3,8 | ||||||||
Equador |
1.067 |
1.635 |
992 |
1.251 |
911 |
0,0 |
1,5 | ||||||||
Estados Unidos |
6.126 |
6.220 |
7.108 |
5.222 |
1.138 |
1,2 |
6,1 | ||||||||
República Dominicana |
782 |
2.118 |
1.467 |
1.188 |
1.301 |
0,0 |
1,9 | ||||||||
Trinidad e Tobago |
2.661 |
5.006 |
2.933 |
2.255 |
2.067 |
0,0 |
3,8 | ||||||||
Venezuela |
1.938 |
6.014 |
7.280 |
21.998 |
6.159 |
34,1 |
12,8 | ||||||||
Subtotal |
33.549 |
46.431 |
60.347 |
69.706 |
32.369 |
55,9 |
64,4 | ||||||||
Outros |
15.953 |
31.095 |
25.677 |
29.145 |
29.328 |
44,1 |
35,6 | ||||||||
Total |
49.502 |
77.526 |
86.024 |
98.851 |
61.697 |
100,0 |
100,0 | ||||||||
País |
| ||||||||||||||
1996 |
1997 |
1998 |
1999 |
2000 |
2001 |
2002 | |||||||||
África do Sul |
0 |
2 |
0 |
0 |
0 |
6 |
1 | ||||||||
Angola |
23 |
481 |
477 |
1.447 |
3.209 |
4.531 |
8.428 | ||||||||
Argélia |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
590 |
3.950 | ||||||||
Argentina |
1.002 |
522 |
1.471 |
2.221 |
6.325 |
10.474 |
7.827 | ||||||||
Chile |
30 |
41 |
433 |
184 |
472 |
481 |
918 | ||||||||
Coréia do Sul |
0 |
40 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 | ||||||||
Cuba |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
140 | ||||||||
Equador |
0 |
0 |
0 |
0 |
2 |
0 |
0 | ||||||||
Estados Unidos |
1.354 |
25 |
25 |
543 |
599 |
755 |
5.825 | ||||||||
República Dominicana |
0 |
8 |
0 |
0 |
0 |
0 |
206 | ||||||||
Trinidad e Tobago |
0 |
0 |
0 |
0 |
0 |
690 |
2.767 | ||||||||
Venezuela |
13.368 |
2.136 |
1.999 |
66 |
201 |
254 |
986 | ||||||||
Subtotal |
15.776 |
3.255 |
4.405 |
4.461 |
10.808 |
17.782 |
31.050 | ||||||||
Outros |
5.327 |
7.401 |
4.177 |
3.700 |
4.770 |
9.591 |
11.077 | ||||||||
Total |
21.103 |
10.656 |
8.583 |
8.162 |
15.579 |
27.373 |
42.126 | ||||||||
País |
|
| |||||||||||||
2003 |
2004 |
2005 |
2006 |
2007¹ |
1996-99 |
2004-07 | |||||||||
África do Sul |
255 |
400 |
8.744 |
15.427 |
10.909 |
0,0 |
6,1 | ||||||||
Angola |
12.732 |
9.164 |
12.036 |
19.018 |
4.850 |
5,0 |
7,7 | ||||||||
Argélia |
1.532 |
11.575 |
18.195 |
5.053 |
23.313 |
0,0 |
9,9 | ||||||||
Argentina |
4.214 |
6.061 |
8.568 |
8.715 |
7.203 |
10,8 |
5,2 | ||||||||
Chile |
3.643 |
5.080 |
8.265 |
5.781 |
4.611 |
1,4 |
4,1 | ||||||||
Coréia do Sul |
1 |
3.822 |
9.232 |
3.158 |
1.908 |
0,1 |
3,1 | ||||||||
Cuba |
358 |
355 |
8.326 |
11.954 |
5.137 |
0,0 |
4,4 | ||||||||
Equador |
1.701 |
3.120 |
2.568 |
3.525 |
3.020 |
0,0 |
2,1 | ||||||||
Estados Unidos |
7.530 |
8.168 |
13.075 |
10.051 |
2.516 |
4,0 |
5,8 | ||||||||
República Dominicana |
1.091 |
3.962 |
3.310 |
3.099 |
3.620 |
0,0 |
2,4 | ||||||||
Trinidad e Tobago |
2.081 |
4.689 |
3.457 |
2.979 |
2.794 |
0,0 |
2,4 | ||||||||
Venezuela |
1.691 |
8.030 |
11.414 |
34.553 |
13.292 |
36,2 |
11,5 | ||||||||
Subtotal |
36.829 |
64.426 |
107.189 |
123.312 |
83.172 |
57,5 |
64,5 | ||||||||
Outros |
20.160 |
49.168 |
43.521 |
45.398 |
69.610 |
42,5 |
35,5 | ||||||||
Total |
56.989 |
113.594 |
150.711 |
168.710 |
152.782 |
100,0 |
100,0 |
¹Dados de janeiro a
setembro.
Fonte:
Elaborada pelos autores com dados da SECEX.
Enquanto a produção cresceu a 3,7% a.a. de 1994 a 2005 (graças a ganhos de produtividade) os preços recebidos pelos produtores paulistas (corrigidos pelo IPCA base 100 = agosto de 2007) caíram à taxa de 0,01% a.a. e os preços no varejo de São Paulo permaneceram constantes (taxa de crescimento geométrico anual igual a zero) (Figura 3). Dessa forma, as importações (em um primeiro momento) e o crescimento da produção (segundo momento) garantiram o atendimento à demanda brasileira por produtos lácteos (que deu um salto após o Plano Real e acompanhou o crescimento demográfico em seguida) sem pressão sobre os preços até 2006.
Figura 3 - Preços Reais do Leite C,
Médias Anuais de 1990-2006.
Fonte: Elaborada com dados básicos do
Instituto de Economia Agrícola.
Em 2007 o quadro muda, pois estimulado pelo aumento das cotações internacionais e pela entressafra, o preço do leite aumenta significativamente ao produtor e no varejo brasileiro. No mês de agosto, o preço ao produtor paulista de leite C atingiu R$0,69 (contra R$0,49 em agosto de 2006) e no varejo R$1,71 (contra R$1,33 no mesmo mês do ano anterior).
O valor das exportações brasileiras de produtos lácteos por kg aumentou de US$1,71 em 2006 para US$2,48 nos primeiros nove meses de 2007 (mais 45,1%). Graças a essa elevação de preços pode-se prever que, embora a quantidade de produtos lácteos exportados pelo Brasil em 2007 não deva ultrapassar a de 2006, o valor total poderá vencer a barreira dos US$200 milhões pela primeira vez (Tabela 1).
O aumento das cotações internacionais do leite (de US$2.000 para até US$5.500 ou de US$2.200 para US$4.700, segundo fontes diversas) foi atribuído por alguns5 ao longo do período de seca que afetou (ainda afeta?) Austrália e Nova Zelândia. Outras fontes6 indicam que o crescimento da demanda asiática (principalmente da China, cujo consumo de leite aumentou 3,5 vezes de 2001 para cá) é o responsável pelo aumento e deverá manter a pressão sobre a produção mundial nos anos futuros. Artigo no International Herald Tribune chega a afirmar no próprio título: "No mundo em crescimento, leite é o novo petróleo"7.
O aumento da renda, da China à Índia, América Latina e Oriente Médio, está fazendo milhões de pessoas saírem da pobreza para a classe média. A Austrália, um grande exportador, sofre há vários anos uma seca que devastou sua produção de leite, matando os pastos. Muitos australianos temem que, longe de ser um problema temporário, a seca seja conseqüência do aquecimento global e que os laticínios nunca mais se recuperem. Ao mesmo tempo, a crescente demanda de biocombustíveis está fazendo subir o preço do milho e outros cereais, que são usados pelos fazendeiros dos EUA, Europa, Canadá e Japão para alimentar suas vacas, em vez de capim. Os crescentes custos da alimentação, portanto, ajudam a elevar ainda mais os preços do leite. A produção está crescendo em mercados emergentes como a China, mas a demanda cresce ainda mais depressa. A pessoa média na China hoje consome mais de 25 litros de leite por ano, contra 9 litros em 2000, segundo a International Farm Comparison Network (IFCN). Por isso, embora a China hoje seja um dos maiores produtores de leite do mundo, também é o maior importador do produto.
As análises confirmam a boa perspectiva de mercado para os produtos lácteos brasileiros. Pelo lado da oferta, mantidas as condições brasileiras dos anos recentes, pode-se prever um excedente em 2015 de aproximadamente 5 bilhões de litros. Isto é, em 2015 a produção nacional de leite estimada será de 32 bilhões de litros, sendo 27 bilhões consumidos no mercado interno por 207 milhões de habitantes. Restará, portanto, cinco bilhões de litros passíveis de exportação8.
A
exportação de produtos lácteos brasileiros realmente é um negócio de
futuro.
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1INSTITUTO BRASILEIRO DE
GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA - IBGE. Produção da Pecuária Municipal. Disponível em:
<http://www.ibge.gov.br/home/default.php>.
Acesso em: 2007.
2PONCHIO, L. A.; GOMES, A. L.; PAZ, E. da. Perspectivas de
consumo de leite no Brasil. Piracicaba: CEPEA/ESALQ/USP, jul. 2005. Disponível
em: <http://www.cepea.esalq.usp.br/pdf/artigo_leite_04.pdf.>.
3SECRETARIA DO COMÉRCIO EXTERIOR
– SECEX/MDIC. Disponível em: <http://www.aliceweb.desenvolvimento.
gov.br.>. Acesso em: set. 2007.
4Op cit. nota 3.
5APÓS recuperação, preço do leite deve ter nova alta.
Disponível em: <http://portalexame.abril.uol.com.breconomia/m0133241.html>.
Acesso em: set. 2007.
6A REDESCOBERTA da Ásia. Disponível em: <http://www.iconebrasil.org.br/pt?actA=7&areaID=7&secaoID=23&
artigoID=1473>. Acesso em: 16 ago. 2007.
7INTERNATIONAL HERALD TRIBUNE. No mundo em
crescimento, leite é o novo petróleo. Disponível em: <http://www.noticias.uol.com.br/midiaglobal/herald/2007/09/01/ult2680u557.jhtm>.
Acesso em: 2007.
8Op cit. nota 2.
Palavras-chave: leite, balança comercial, exportações.
Data de Publicação: 06/11/2007
Autor(es):
Luis Henrique Perez Consulte outros textos deste autor
Rosana de Oliveira Pithan e Silva (rosana.pithan@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor