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Tangerina: tendências no cultivo no Estado de São Paulo
As
tangerinas ganham, a cada dia, maior preferência entre os consumidores,
especialmente das frutas sem sementes.1 Os produtores estão
aprendendo a superar as barreiras que cerceiam sua produção econômica,
notadamente os problemas relacionados a pragas e doenças.
Tabela 1 - Exportações de tangerinas,
Brasil, 1980-2005
O
Brasil tem importado pequenas quantidades de tangerinas provenientes,
principalmente, do Uruguai e da Espanha para atender consumidores de maior nível
de renda. De 2003 a 2005, as quantidades foram em média de 1,0 mil tonelada, com
pico de 1,9 mil tonelada em 2005 e apenas 382 toneladas em 2004
3. Tabela 2 - Taxa anual de crescimento de
tangerinas e variedades, São Paulo, 1990 a 2006
Os
plantios novos de poncã apresentaram pequena estagnação (embora a taxa seja
negativa de 0,08%), mostrando preocupação dos produtores frente à incidência de
doenças, principalmente da alternaria. Não está havendo erradicação de pomares
adultos, já que estão crescendo a uma taxa anual de 1,35% e a produtividade a
uma taxa de 0,18%. Tabela 3 - Variedades de tangerinas
plantadas no Estado de São Paulo, 1990 a 2006 Em
julho de 2006, no Estado de São Paulo encontravam-se disponíveis 237 mil mudas
de tangerinas, atualmente todas em viveiros telados, segundo o Fundo de Defesa
da Citricultura (FUNDECITRUS)7. Estão assim distribuídas: 44% de
poncã, 35% de murcote, 11% de mexerica e 10% entre cravo e outras variedades não
especificadas (tabela 4).
Tabela 4 - Mudas de tangerinas, Estado de
São Paulo, Outubro de 2002 a Julho de 2006
Regiões como Registro, Sorocaba, Mogi das Cruzes, Piracicaba, Limeira, Marília e
Tupã, em função de diferentes motivos, cederam áreas antes ocupadas por
tangerina principalmente para pastagem, olerícolas, laranja, cana-de-açúcar,
grãos (milho e amendoim) e mandioca. Em contrapartida, houve incorporação,
notadamente de áreas de pastagem, grãos (soja, milho, arroz), café, laranja e
trigo, com plantio de pomares de tangerinas, por conta de terras mais baratas e
locais ainda isentos da incidência de doenças, bem como da diversidade de épocas
de colheita (antecipação ou retardamento em relação ao pico de safra) em regiões
como Araraquara, Barretos, Bauru, Bragança Paulista, Catanduva, Lins, Mogi
Mirim, Ourinhos e São João da Boa Vista (figura 1).8,
9
A
produção mundial de frutos cítricos experimentou forte crescimento nas últimas
décadas, quando os níveis de consumo total e per capita cresceram de
forma espetacular. Uma visão panorâmica do consumo mostra uma gritante
divergência entre os hábitos da população dos países asiáticos, que prefere as
tangerinas, e a do Ocidente, que consome laranjas e suco de laranja
processado.
Todavia, a apreciação das tangerinas também começa a crescer no Ocidente. Elas
já representam 17% de toda a produção mundial de frutas cítricas e a tendência é
continuar em expansão. Os maiores aumentos vieram da Espanha, com suas
bem-sucedidas exportações de Clementina sem sementes dentro da Europa e, mais
recentemente, para os Estados Unidos.
As
tangerinas diferem das laranjas, porque sua produção se destina quase que
exclusivamente ao mercado de frutas frescas. Os maiores produtores são China,
Espanha e Japão, que, em conjunto, perfazem 62% do total mundial de 14 milhões
de toneladas, seguidos por Brasil, Coréia, Paquistão, Itália, Turquia, Egito e
Estados Unidos. A Espanha responde por mais da metade de toda a exportação
mundial de tangerinas. Já a China, com sua produção de 6 milhões de toneladas, é
um exportador potencial2.
As
exportações brasileiras de tangerinas enfrentam ainda muitas barreiras
tarifárias e técnicas que precisam ser superadas localmente, como a armazenagem
e, principalmente, os períodos de maturação e colheita muito estreitos, além da
deficiência de equipamentos especiais para os tratamentos pós-colheita, que
aumentariam a sua vida de prateleira e, conseqüentemente, o seu valor. Ainda
assim, o Brasil registrou um aumento acentuado de 1990 a 2000, quando os volumes
exportados quase triplicaram, e nos últimos anos atingiu média de 17mil
toneladas. Concomitantemente, a fruta vem se valorizando, visto que os preços
médios chegaram a US$501 a tonelada em 2005 quando em 1990 eram de US$307
(tabela 1).
Fonte: SECEX (MDIC)
Ano
1980
1985
1990
1995
2000
2001
2002
2003
2004
2005
São
Paulo, maior estado produtor, apresenta pequena diversidade, reunindo apenas
quatro variedades comerciais: tangerinas Poncã e Cravo, tangor Murcote e
mexerica do Rio. Tal fato tem acarretado, ao longo dos anos, alta
vulnerabilidade, restando poucas chances de escolha para o consumidor
brasileiro. Dentre essas variedades, somente a murcote é exportada e com
restrições devido ao número excessivo de sementes de seus frutos. Entretanto, no
Estado estão sendo implantados, na região sudoeste, pomares comerciais de
tangerinas sem sementes, próprias aos mercados externos, tendo em vista as
excelentes condições edafoclimáticas da região4.
As
tangerinas ocupam 3,2% da área cultivada com citrus no Estado, atingindo a marca
de 20,9 mil hectares, na safra agrícola 2005/06 5. O valor da
produção, em 2005, foi de R$ 197,4 milhões, representando 1,0% do total dentre
os 48 principais produtos da agropecuária paulista, elevando esse percentual
para 5,1% quando considerado apenas um grupo restrito de 14
frutas6.
As
áreas (plantios novos e em produção) com tangerinas em geral têm crescido a uma
taxa anual menor que 1% (0,71%) nos últimos 17 anos, bem como a produtividade
tem se mantido praticamente inalterada (0,48%), ao redor de 2,4 cx./pé
(tabela 2).
Fonte: dados da pesquisa
Variável /
Variedades
Pés novos(mil pés)
Pés em prod.(mil pés)
Total pés (mil pés)
Produção (mil t)
Produtividade (cx/pé)
Os
pomares de tangerina cravo têm despertado pouco interesse dos produtores: os
novos plantios decresceram a uma taxa anual de 1,70%, os pés em produção caíram
4,70% ao ano e, por conta de um crescimento baixo de 0,92% na produtividade, a
produção também tem sido menor (-3,88% ao ano), dado o desinteresse da indústria
de suco em processar tangerina cravo.
Embora a área com mexerica tenha evoluído a uma taxa negativa (-1,39%), a
produtividade tem crescido 1,32% ao ano, a maior dentre as tangerinas. Isto
decorre, principalmente, de resultados de pesquisa (transferência de
conhecimento), do adensamento e do uso de irrigação nos pomares.
Das
variedades de tangerinas, o número de pés com murcote tem crescido a uma taxa
anual de 3,51% e a produção a 3,82% por conta de uma produtividade média e
estável de 2,4cx./pé (0,19%).
No
Estado de São Paulo, poncã e murcote são ainda as variedades mais plantadas. Nos
últimos anos, está aumentando o percentual de plantio da murcote como exigência
do mercado, além do que a poncã paulista compete com a fruta do sul de Minas
Gerais (tabela 3).
(em %)
Fonte: Boletim Laranja (IAC, no.11, 1990),
Citricultura Brasileira (Fundação Cargill, 2a edição) e Instituto de
Economia Agrícola
Variedade
Mexerica
Murcote
Poncã
T. Cravo e n.e.
Fonte: a partir de dados do FUNDECITRUS
(SP)
Copa
Out./2002
%
Set./2003
%
Set./2004
%
Set./2005
%
Dez./2005
%
Mar./2006
%
Jul./2006
%
Poncã
Murcote
Mexerica Rio
Cravo
Outras n.e.
Total
Figura 1 - Deslocamento geográfico da área com tangerinas, São Paulo, 1990/2001
Verde – áreas de pomares de tangerinas
cedidas a culturas
Marrom –
áreas incorporadas pelos pomares de tangerinas
_______________________________
1 O Brasil é o 4o. produtor mundial do grupo de tangerinas e seus
híbridos, originários, provavelmente, no nordeste da Índia ou sudeste da
China.
2
Informativo Centro de
Citricultura Cordeirópolis, Maio de 2004, Número 108
3 Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do
Desenvolvimento (SECEX/DECEX). Disponibilizado em http://aliceweb.mdic.gov.br
4 PIO, Rose M. A qualidade e as
exigências do mercado de tangerinas. Revista Brasileira de Fruticultura, v.25,
n.3, Jaboticabal dez. 2003
5 CASER, D. V. et al. Previsões e estimativas das safras
agrícolas do estado de São Paulo, ano agrícola 2005/06, junho de 2006.
Informações Econômicas, SP, v.36, n.8, ago.2006
6 TSUNECHIRO, A et al. Valor da produção
agropecuária do estado de São Paulo em 2005. Informações Econômicas, SP, v.33,
n.10, out.2006
7
Fundecitrus: www.fundecitrus.com.br
8 OLIVETTE, M. P. de A et al.
Uso do solo agrícola e sua distribuição regional, 1990-2001. Informrações
Econômicas, SP, v.33, n.10, out.2003
9 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número
HP-119/2006.
Data de Publicação: 14/12/2006
Autor(es):
Denise Viani Caser (dcaser@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Antonio Ambrósio Amaro (amaro.pingo@gmail.com) Consulte outros textos deste autor