Máquinas agrícolas automotrizes: retomada moderada

            O mercado de máquinas agrícolas automotrizes apresentou ligeira recuperação nas vendas para o mercado interno, com expansão de 6,2% no período janeiro a outubro de 2006 frente a igual período do ano anterior, porém ainda muito distante dos bons momentos da trajetória dessa indústria no passado recente. Em 2004, por exemplo, foram produzidas no País 69 mil máquinas, declinando para 52 mil em 2005. Em 2006, não se deve esperar mais que 45 mil máquinas (tabela 1).

Tabela 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes, Brasil, 2004 e 2005, e Janeiro a Outubro de 2005 e de 2006

Item
Unidade
2004
2005
Janeiro a outubro1
(b/a-1)
(c/d-1)
(a)
(b)
2005 (c)
2006 (d)
*100
*100
Trator de roda
Produção
u.
52.768  40.871  37.468  30.518 
-22,5
-18,5
Vendas no mercado interno
u.
28.803  17.729  15.865  17.333 
-38,4
9,3
Nacionais
u.
28.636  17.543  15.732  17.101 
-38,7
8,7
Importados
u.
167  186  133  232 
11,4
74,4
Exportação
u.
23.553  23.968  21.547  13.977 
1,8
-35,1
Total das vendas
u.
52.356  41.697  37.412  31.310 
-20,4
-16,3
Colheitadeiras
Produção
u.
10.443 
4.229 
3.446 
1.908 
-59,5
-44,6
Vendas no mercado interno
u.
5.605 
1.534 
1.301 
725 
-72,6
-44,3
Nacionais
u.
5.598 
1.533 
1.300 
725 
-72,6
-44,2
Importados
u.
-85,7
0,0
Exportação
u.
4.533 
3.001 
2.644 
1.665 
-33,8
-37,0
Total das vendas
u.
10.138 
4.535 
3.945 
2.390 
-55,3
-39,4
Cultivadores Motorizados
Produção
u.
1.703  2.183 
1.867 
1.840 
28,2
-1,4
Vendas no mercado interno
u.
1.682 
2.141 
1.790 
1.648 
27,3
-7,9
Nacionais
u.
1.682 
2.141 
1.790  1.648 
27,3
-7,9
. Importados
u.
Exportação
u.
23 
34 
30 
36 
47,8
20,0
Total das vendas
u.
1.705  2.175  1.820  1.684 
27,6
-7,5
Tratores de esteiras
Produção
u.
2.229  2.681  2.217  2.359 
20,3
6,4
Vendas no mercado interno
u.
526 
408 
361 
262 
-22,4
-27,4
Nacionais
u.
526  408  361  262 
-22,4
-27,4
Importados
u.
Exportação
u.
1.718 
2.202 
1.766 
2.145 
28,2
21,5
Total das vendas
u.
2.244 
2.610 
2.127 
2.407 
16,3
13,2
Retroescavadeiras
Produção
u.
2.275  2.907  2.506  3.028 
27,8
20,8
Vendas no mercado interno
u.
1.174 
1.410 
1.192 
1.820 
20,1
52,7
Nacionais
u.
1.174  1.410  1.192  1.820 
20,1
52,7
Importados
u.
Exportação
u.
1.195  1.473  1.228  1.177 
23,3
-4,2
Total das vendas
u.
2.369  2.883  2.420  2.997 
21,7
23,8
Máquinas agrícolas (total)
Produção
u.
69.418  52.871  47.504  39.653 
-23,8
-16,5
Vendas no mercado interno
u.
37.790  23.222  20.509  21.788 
-38,5
6,2
.
u.
37.616  23.035  20.375  21.556 
-38,8
5,8
Importados
u.
174  187  134  232 
7,5
73,1
Exportação
u.
31.022  30.678  27.215  19.000 
-1,1
-30,2
Total das vendas
u.
68.812  53.900  47.724  40.788 
-21,7
-14,5
Emprego 
pessoas
13.299  13.202  13.184  13.054 
-0,7
-1,0
Receita Cambial
US$
1.727.445  2.027.527  1.735.216  1.784.988 
17,4
2,9
1 Emprego refere-se ao mês de outubro
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA) 1

            O mercado de tratores de rodas, principal item da pauta de produção e vendas do segmento, apresentou dois cenários distintos no período de janeiro a outubro. Enquanto as vendas para o mercado interno cresceram 9,3% (nacionais e importados com 8,7% e 74,4%, respectivamente), as exportações ressentem-se da pronunciada queda com diminuição de 74,4% nas transações observadas (a valorização cambial foi responsável por parcela considerável desse declínio). A expectativa do segmento é para uma paulatina recuperação das vendas de tratores de rodas, notadamente, aqueles com menor potência, geralmente utilizados na cafeicultura e na fruticultura, enquanto os de maiores potências ficam restritos as áreas ocupadas com cana-de-açúcar.
            No segmento de colheitadeiras, o quadro é mais depressivo, com produção, vendas e exportações apresentando substanciais quedas. A queda do mercado é tão pronunciada que a produção em 2006 sequer representará 30% da ocorrida em 2004. A vinculação desses equipamentos com as lavouras de grãos e a concomitante valorização cambial do real impuseram esse tremendo declínio na produção e nos negócios envolvendo as colheitadeiras.
            Os tratores de esteiras e as retroescavadeiras, equipamentos mais utilizados em obras de infra-estrutura, apresentaram comportamento contra-cíclico, com crescimento da produção e das vendas totais (incluindo as exportações). Tal fenômeno é mais acentuado no caso das retroescavadeiras.
            O resultado das exportações no ano manter-se-á próximo dos US$ 2 bilhões, ou seja, similar ao melhor resultado apurado pelo setor (ocorrido em 2005). O incremento das exportações dos tratores de esteiras, das retroescavadeiras e, embora discreto, dos cultivadores motorizados compensa as quedas nos negócios internacionais dos tratores de rodas e das colheitadeiras.
            As vendas mensais de máquinas agrícolas automotrizes exibem tendência de desaceleração desde meados de 2004, desconsiderando-se, obviamente, os desvios sazonais característicos desse setor. Desde o início de 2006, as vendas exibem ligeira recuperação, sinalizando que o mercado deverá encontrar novo patamar de suporte para as vendas mensais, computando comercialização de 2.500 máquinas ao mês (figura 1).

Figura 1 – Vendas mensais de máquinas agrícolas automotrizes no mercado interno, Brasil, Janeiro de 2001 a outubro de 2006


Fonte: ANFAVEA (nov. 2006)

            Resolução do Banco Central do Brasil (no 3.370, de junho de 2006) alterou as regras do MODERFROTA. Pela resolução, os tratores e as colheitadeiras com até 8 e 10 anos de utilização respectivamente, revisadas e com certificado de garantia emitido por concessionário autorizado, estão credenciadas para contratação do financiamento. Ademais, pela mesma resolução foi elevado o teto da renda agropecuária bruta anual do contratante de R$ 150 mil para R$ 250 mil, ampliando substancialmente a população a ser abrangida por essa modalidade de crédito de investimento.
            Contudo, a medida de maior impacto é a redução das taxas de juros, de 9,75%aa para 8,75%aa para os beneficiários com até R$ 250 mil de renda bruta, e de 12,75%aa para 10,75%aa para os demais beneficiários. O abaixamento da taxa praticada pelo MODERFROTA converge com a realidade da TJLP (Taxa de Juros de Longo Prazo), que foi reduzida de 8,25% para 7,5% no primeiro semestre do ano.
            O financiamento de máquinas agrícolas usadas é também medida relevante, pois muitos bancos de montadoras estão apreendendo equipamentos de produtores que se tornaram inadimplentes, gerando estoque de máquinas em bom estado aptas a serem repassadas para outros produtores nelas interessados. Com a abertura para o financiamento de máquinas usadas, finalmente pode estruturar um mercado para os equipamentos similar ao que se observa no mercado de veículos leves, cujos usados são moeda de troca corrente.
            O volume de vendas efetuado desde o surgimento do MODERFROTA conferiu ao agronegócio brasileiro a geração de ociosidade na capacidade operacional de uso dessas máquinas, segundo alerta de alguns técnicos que acompanham o mercado. Certamente, nas duas últimas safras de grãos, o contexto de rentabilidade negativa dos produtores pôde ter conduzido a uma tentativa de redução de utilização da frota de máquinas, com conseqüente aumento da ociosidade.
            Todavia, sinalização contrária já começa a vigorar. As cotações das principais commodities atingem valores superiores às médias históricas, o que permitirá a reativação instantânea do parque de máquinas com repercussões positivas sobre a eficiência e a competitividade do agronegócio.
            O crescimento da proporção do endividamento rural no valor da produção agropecuária é um assunto preocupante. As fontes do financiamento do MODERFROTA são o Fundo de Amparo do Trabalhador (FAT) e o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS). A geração de passivos nesses fundos, em decorrência do não-pagamento das parcelas de amortização por parte dos produtores endividados, mina a vitalidade financeira dessas fontes, o que pode gerar contestação por parte da sociedade civil que monitora a utilização desses recursos.
            Compete lembrar que tanto o FAT quanto o FGTS são geridos pelo governo federal, mas pertencentes à massa trabalhadora. A recuperação desses créditos é medida essencial para que não se acenda uma luz amarela para toda a estrutura de financiamento criada em torno desse exemplar programa que é o MODERFROTA.2

____________________
1 ANFAVEA: www.anfavea.org.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-118/2006.

Data de Publicação: 08/12/2006

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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