Agricultura na Região Metropolitana de Campinas

            A renda bruta1 gerada pela cultura da cana-de-açúcar em 2005, na Região Metropolitana de Campinas (RMC), chegou a 21,5% do total regional, superada apenas por carnes, leite e ovos, com maior expressividade na carne de frango e ovos. No entanto, a fruticultura (com exceção dos citros) apresenta a maior participação (4,7%), quando analisada em relação aos totais estaduais (tabela 1).

            Em alguns municípios da RMC, a fruticultura tem importância expressiva. Valinhos é o maior produtor brasileiro de figo (variedade roxo de Valinhos). Já Vinhedo, Valinhos e Indaiatuba sobressaem-se como produtores de uva niagara rosada, enquanto Campinas se destaca como produtor de goiaba branca. Nas olerícolas, Monte Mor não apenas produz tomate como também é sede de empresas classificadoras e atacadistas. A floricultura, embora não entre no cálculo do valor da produção, é representada pelo município de Holambra, o maior produtor e exportador brasileiro de flores.
            A RMC2, instituída pela Lei Complementar no 870, de 2000, é constituída por Americana, Artur Nogueira, Campinas, Cosmópolis, Engenheiro Coelho, Holambra, Hortolândia, Indaiatuba, Itatiba, Jaguariúna, Monte Mor, Nova Odessa, Paulínia, Pedreira, Santa Bárbara d´Oeste, Santo Antonio da Posse, Sumaré, Valinhos e Vinhedo. Estes municípios ocupam uma área territorial de 3.673 Km2, com 2.472.436 habitantes, e representam ou participam com 12% do Produto Interno Bruto Paulista (figura 1).

Figura 1 - Mapa da Região Metropolitana de Campinas 

Fonte: www.emplasa.sp.gov.br/metropoles

            A RMC é uma região privilegiada em infra-estrutura, no que diz respeito à logística e ao transporte. É servida pelas rodovias paulistas SP348-Rodovia dos Bandeirantes, SP330-Rodovia Anhanguera e SP065-Rodovia Dom Pedro I, o que permitiu intenso processo de ocupação urbana em algumas cidades da região. O Aeroporto Internacional de Viracopos registra uma de cada três toneladas de mercadorias exportadas e importadas no fluxo anual de cargas do País. São vantagens que não podem ser ignoradas no planejamento da produção agropecuária regional, bem como na comercialização. Nessa região, está localizada a segunda maior central de abastecimento do Estado - CEASA de Campinas -, além de um parque industrial moderno e diversificado e uma estrutura agrícola e agroindustrial (tabela 2).

            A RMC mostra uma produção agropecuária diversificada. As áreas de explorações vegetais mais significativas, com base na atualização do Levantamento Censitário das Unidades Agropecuárias (Projeto LUPA), foram cana-de-açúcar; culturas temporárias e citros (tabela 3).

            As forragens apresentaram área de 73,2 mil hectares. Fruticultura e olericultura representam uma área significativa, de aproximadamente 14,5 mil hectares, com fácil escoamento da produção devido à proximidade dos maiores centros consumidores brasileiros: Região Metropolitana de São Paulo e a própria RMC.

            Em relação à distribuição municipal do valor da produção, os municípios de Sumaré, Campinas, Monte Mor, Holambra e Indaiatuba, pela ordem, apresentaram os maiores valores (figura 2). Nestes municípios, os produtos que mais contribuíram no valor da produção são carne de frango, cana-de-açúcar, ovo, tomate de mesa, goiaba de mesa e uva de mesa.
            Quanto à distribuição espacial, na parte norte, com a proximidade de agroindústrias sucro-alcooleira e citrícola, destacam-se a cana-de-açúcar e os citros. Já no sul, aparecem as frutas para consumo in natura. Na atividade relativa a produtos animais, destacam-se a produção de leite na face norte e a de carne de frango na face sul (figura 3).

                                        Fonte: Elaborada pelas autoras com base em IEA

            A estrutura fundiária da RMC apresentou, de forma geral, imóveis de tamanho médio a pequeno, quando comparada com a área média estadual de 71,6 hectares5, totalizando 52% das UPAs com tamanho até 10 hectares (tabela 4).

            Os municípios que se dedicam à fruticultura (exceção de citros) e à olericultura possuem também imóveis de pequenas extensões. Valinhos (87%), Vinhedo (83%), Indaiaituba (65%), Campinas (54%) e Itatiba (50%) apresentaram mais da metade de seus imóveis com tamanhos até 10 hectares. Essas atividades têm como característica a produção familiar em pequenas propriedades agrícolas devido ao seu alto valor agregado.
            Ao analisar as taxas de crescimento do preço de terra nua6 de primeira e de segunda na RMC, nota-se que as elevações nos últimos onze anos são maiores nas terras nuas de segunda, geralmente terras que se prestam à exploração de plantas perenes (por exemplo a fruticultura) e de pastagens. Ao longo do período, pode-se atribuir a valorização desta categoria, principalmente em Vinhedo, Jaguariúna, Campinas e Cosmópolis, provavelmente à pressão imobiliária (tabela 5).

            No entanto, esse fato deve ser visto com cautela. Ações devem ser promovidas, de modo a evitar instabilidades geradas por essa invasão imobiliária, somada às ocupações irregulares e a expropriações de trabalhadores rurais, assim como à degradação do meio ambiente.
            A RMC tem hoje um crescimento rápido, tanto no setor de serviços quanto na industrialização, o que acarretou aumento da população e dos empreendimentos imobiliários. A região, antes estritamente agrícola, agora tem suas áreas agrícolas invadidas por empreendimentos imobiliários e industriais que muitas vezes causam desconforto para a população rural e impacto ao meio ambiente.
            O planejamento da urbanização da RMC é de grande importância para garantir a sobrevivência da agricultura, que tem relevância tanto na tradição da região quanto na geração de emprego e renda7.

__________________________
1 Para o cálculo são considerados 48 produtos (41 de origem vegetal e sete de origem animal): abacate, abacaxi, abóbora, abobrinha, alface, algodão, amendoim, arroz, banana, batata, batata-doce, beterraba, borracha, café beneficiado, cana-de-açúcar, caqui, carne bovina, carne de frango, carne suína,casulo, cebola, cenoura, feijão, figo para mesa, goiaba para mesa, goiaba para indústria, laranja para mesa, laranja para indústria, leite B, leite C, limão, mandioca para mesa, mandioca para indústria, manga, maracujá, melancia, milho,ovos de galinha, pêssego para mesa, pimentão, repolho, soja, sorgo, tangerina, tomate para mesa,tomate para indústria, trigo e uva para mesa.
2 A partir da Constituição Federal de 1988, os Estados passaram a instituir regiões constituídas por aglomerados de municípios limítrofes, de modo a organizar, planejar e executar funções públicas de interesse comum. No Estado de São Paulo, atualmente, existem três a saber: São Paulo (39 municípios), Baixada Santista (9 municípios) e Campinas (19 municípios), a mais nova. Metrópoles em dados. Disponível em http://www.emplasa.sp.gov.br/metropoles. Acesso em 03 de novembro de 2006.
3 Geralmente, o conceito de UPA aqui utilizado coincide com o conceito de imóvel rural, utilizado no Projeto LUPA, um censo agropecuário realizado pela Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo
4 COORDENADORIA DE ASSISTÊNCIA TÉCNICA INTEGRAL - CATI. Levantamento censitário de unidades de produção agrícola do estado de São Paulo. São Paulo: CATI/SAA, 2003. Não publicado.
5 PINO, et al. Levantamento Censitário de unidades de produção agrícola do estado de São Paulo. São Paulo: SAA/IEA/CATI, 1997. 4v.
6 As categorias de terra pesquisadas pelo Instituto de Economia Agrícola, desde, 1964, são de cultura de primeira, de segunda, pastagem, reflorestamento e campo. Para maiores detalhes ver www.iea.sp.gov.br.
7 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-112/2006.

Data de Publicação: 07/12/2006

Autor(es): Vera Lucia Ferraz dos Santos Francisco Consulte outros textos deste autor
Priscilla Rocha Silva Fagundes (prsfagundes@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor