Artigos
Café: alta nas cotações por baixa oferta do robusta e riscos climáticos
O
café foi o destaque nos mercados de futuros em agosto, com a expressiva
recuperação de sua cotação, devido às especulações sobre o clima seco no Brasil,
reforçadas por menor oferta de robusta no mercado internacional. Essa
recuperação está consistente com os fundamentos de mercado, que indicam menor
oferta do produto nos próximos dois anos, e com a demanda
crescente.
Na
Bolsa de Nova Iorque, as cotações médias do arábica subiram 8,53%, em relação à
cotação média de julho de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de
Londres, o robusta continuou com forte alta de 13,78% (igualmente para a segunda
posição). No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve alta de
9,67% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou elevação de
8,14% em relação à média do índice de julho (gráfico
1).
Gráfico 1 - Cotações médias mensais do
café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto
diário, 2004 a 2006
Fonte: Gazeta
Mercantil1
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F em Nova Iorque caiu para US$ 15,49 a saca, cerca de 0,13% inferior à média do mês anterior, devido à maior oferta de origem do Brasil no mercado nova-iorquino. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.
Gráfico 2 – Cotações médias mensais do
café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F (São
Paulo), 2005-06
Fonte: Gazeta
Mercantil
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram forte alta na primeira semana de agosto e ficaram oscilando nesta nova posição até o final do mês, Porém, os riscos da seca no Brasil e seus efeitos na safra futura geraram contínuas flutuações nas cotações do café (gráfico 3).
Gráfico 3 - Cotações diárias em agosto de
2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda
posição
Fonte: Gazeta
Mercantil
No mercado de robusta na Bolsa de Londres, o comportamento das cotações continuou diferenciado do observado em Nova Iorque, pois apresentou tendência de crescimento contínuo e elevado. O crescimento da cotação média em agosto ocorreu devido à menor oferta do produto no mercado internacional no mês (gráfico 4).
Gráfico 4 - Cotações diárias para o café
robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de agosto de
2006
Fonte: Gazeta
Mercantil
Na
BM&F, tendo como referência o mês de agosto, a evolução dos preços do
arábica, segunda posição, cotados em dólar por saca, indica variações positivas
acumuladas de 2,54% no ano de 2006 e de 1,87% nos últimos doze meses. No mercado
de Nova Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição tiveram alta
de 7,94 no ano e 4,68% no acumulado de doze meses. Por sua vez, as cotações do
robusta no mercado de Londres, segunda posição, apresentaram alta acumulada de
34,59% nos últimos doze meses, e de 25,40% em 2006. Já a estimativa do
OIC-Composto apontou alta acumulada de 10,63%, em 2006 e de 12,25% no período de
um ano.
Na
cafeicultura paulista, a cotação média em agosto do café arábica subiu 3,21% em
relação à média de julho de 2006, em função de os riscos do clima seco afetarem
a safra futura. Houve, portanto, queda acumulada de 9,84% nos últimos doze meses
e de 5,60% em 2006, em função da contínua valorização da moeda brasileira
(gráfico 5).
Gráfico 5 - Preços médios mensais
recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a
2006
Fonte: Instituto de Economia
Agrícola
Dados
do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (CECAFE)² para o período de
janeiro a agosto de 2006 indicam quedas acentuadas nos volumes embarcados de
todos os tipos de produto, comparado com o mesmo período do ano anterior. No
caso do robusta, observou-se declínio mais substancial, com diminuição de 27% no
movimento de exportação. Em seguida, aparece o solúvel com queda de 17,9% nos
embarques.
Ao
computar todos os tipos de produto exportados, verifica-se variação negativa de
7,9% no volume total. Graças à elevação das cotações médias, o resultado cambial
das transações internacionais não acompanhou as quedas nos volumes, restando
ainda uma ligeira variação de 0,4% frente ao mesmo período de 2005
(tabela1).
Tabela 1 – Volume e valor das exportações brasileiras de café, janeiro a agosto de 2005 e 2006
Item |
|
Total (US$ 1.000) | ||||
|
|
|
|
| ||
Jan.-Ago/06 |
578.474 |
13.690.230 |
14.268.704 |
1.915.768 |
16.184.472 |
1.934.168 |
Jan.-Ago./05 |
797.663 |
14.446.814 |
15.244.477 |
2.333.674 |
17.578.151 |
1.927.329 |
Var. (vol) |
-219.189 |
-756.584 |
-975.773 |
-417.905 |
-1.393.678 |
6.839 |
Var. (%) |
-27,5 |
-5,2 |
-6,4 |
-17,9 |
-7,9 |
0,4 |
Surpreenderam os embarques ocorridos no mês de agosto, especialmente os do tipo arábica que atingiram 2,28 milhões de sacas; ou seja, 410 mil sacas acima do volume exportado em agosto de 2005. Também o solúvel, que ao longo do ano vinha amargando queda nas exportações, apresentou crescimento de 6,3% em agosto de 2006, frente ao mesmo mês do ano anterior. Em termos de receitas totais, o aumento foi 19,1%; ou seja, incremento de US$ 51,37 milhões (tabela 2).
Tabela 2 – Volume e valor das exportações brasileiras de café, agosto de 2005 e 2006
Item |
|
Total (US$ 1.000) | ||||
|
|
|
|
| ||
Jan.-Ago/06 |
177.282 |
2.281.242 |
2.458.524 |
296.136 |
2.754.660 |
320.868 |
Jan.-Ago./05 |
188.763 |
1.871.257 |
2.060.020 |
278.567 |
2.338.587 |
269.489 |
Var. (vol) |
-11,481 |
409.985 |
398.504 |
17.569 |
416.073 |
51.379 |
Var. (%) |
-6,11 |
21,9 |
19,3 |
6,3 |
17,8 |
19,1 |
Esse aumento dos embarques, registrado em agosto, reflete posição de desmobilização de estoques nas mãos dos produtores diante da necessidade de caixa para cumprir compromissos resultantes da etapa de colheita da atual safra. Tal movimento de vendas deve arrefecer nos próximos meses, pois os cafeicultores apostam na expectativa de expressiva elevação nas cotações no último trimestre do ano.
Exportações: menor variação nos preços do café
Trabalho desenvolvido por equipe do IEA apresenta resultados interessantes para a exportação do café, ao analisar o desempenho das transações para 53 itens da pauta dos agronegócios. No período de janeiro a junho de 2006, percebe-se que o café teve variação mais acentuada nos volumes embarcados e menor variação nos preços recebidos, comparado com a média dos agronegócios calculada por meio da fórmula de Ficher (tabela 3).
Tabela 3 – Variações de quantidade e preço de exportações de produtos dos agronegócios, Brasil e Estado de São Paulo, janeiro a junho de 2006
Item |
|
| ||
|
|
|
| |
Café |
-10,9 |
11,4 |
-19,9 |
21,5 |
Total dos Agronegócios |
-4,7 |
9,9 |
-12,2 |
24,4 |
A metodologia inclui itens semi-elaborados no cálculo dessa variação, como açúcar, suco de laranja e óleos vegetais. Ainda assim, constata-se efetivamente que o café apresentou maior queda nas quantidades exportadas, com variação média de preços aquém da média do agronegócio, especialmente o paulista. Embora a valorização do açúcar tenha ocasionado relativa distorção dos dados para o Estado de São Paulo, o resultado mostra que a valorização do café segue a tendência geral do agronegócio.
Exportações dos países-membros da OIC
Em julho, houve crescimento na exportação dos países-membros da Organização Internacional do Café (OIC)3, frente ao mesmo mês do ano anterior. Mesmo assim, o resultado dos doze últimos meses (agosto de 2005 a julho de 2006) evidencia forte diminuição nas transações, com queda no período de mais de cinco milhões de sacas embarcadas, das quais aproximadamente 2,7 milhões somente nos naturais brasileiros (tabela 4)
Tabela 4 – Exportações de café, países membros, julho de 2005 e 2006 e agosto de 2004 a julho de 2006
Tipo |
|
|
|
|
Colombianos |
831.031 |
1.005.278 |
11.928.255 |
11.380.928 |
Outros suaves |
1.524.335 |
2.083.341 |
20.732.578 |
19.932.621 |
Naturais brasileiros |
1.896.051 |
1.864.496 |
27.490.764 |
24.821.911 |
Robustas |
2.584.842 |
2.425.371 |
29.639.557 |
28.594.870 |
Total |
6.836.248 |
7.378.486 |
89.791.154 |
84.730.330 |
A
diminuição nas exportações totais dos países-membros pode ensejar estratégias
que tenham como escopo a mobilização de estoques em mãos de importadores. Na
maior parte dos cinturões cafeeiros, entra-se em período de entressafra, o que
propicia quedas ainda maiores nas exportações dos países-membros.
Com o
encerramento da colheita no Brasil, provavelmente possa haver um avanço nos
embarques de café, com volumes incapazes de reverter a queda global na
exportação dos membros. Como já foi comentado, os cafeicultores devem
posicionar-se especulativamente com seu produto no aguardo de maiores cotações
para o último trimestre do ano.
Previsão de safra, sem surpresas
Os
dados divulgados pela CONAB4, com ligeira elevação na produção
brasileira (41,56 milhões de sacas), não causaram impacto nas cotações do
mercado, em parte devido ao fato de os investidores estarem em processo de
precificação da próxima safra. O incremento de um milhão de sacas não teve
qualquer papel desestabilizador na tendência de fortalecimento das cotações,
ainda que a forte volatilidade deva contribuir para manter a trajetória de
ascensão principalmente no último trimestre do ano.
O
valor computado para o Estado de São Paulo, segundo esse levantamento, é de 4,47
milhões de sacas. Trata-se de montante muito próximo daquele contabilizado pelo
IEA, valendo-se de metodologia distinta, que prevê colheita de 4,66 milhões de
sacas no Estado. Ou seja, a módica divergência de apenas 190 mil sacas denota
que a convergência das informações torna ambos resultados bastante tenazes às
críticas dos agentes do mercado, que preferem trabalhar com números variando
entre 43 milhões e 47 milhões de sacas para a colheita
brasileira.5
__________________________
1 Dados básicos da Gazeta
Mercantil
2
CECAFE: www.cecafe.com.br
3 OIC: www.ico.org
4 CONAB:
www.conab.gov.br
5
Artigo registrado no CCTC-IEA sob o número HP-95/2006.
Data de Publicação: 14/09/2006
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor