Agronegócio florestal de São Paulo e o mercado de seqüestro de Carbono

            O mercado mundial para madeira e outros produtos florestais apresenta uma demanda potencial de aproximadamente 50 milhões de metros cúbicos por ano para cavacos, além de crescente procura por produtos florestais certificados. O mercado derivado dos Mecanismos de Desenvolvimento Limpo (MDL), previsto pelo Protocolo de Kyoto, como o de seqüestro de Carbono tem um potencial calculado em US$ 10 bilhões numa primeira fase.
            Para se beneficiar dessas condições, o Estado de São Paulo tem perto de quatro milhões de hectares de terras com aptidão florestal. Os melhores rendimentos estão na silvicultura, quando comparada com as atividades que estão sendo atualmente desenvolvidas nessas áreas, distribuídas entre 277 mil Unidades de Produção Agrícolas receptivas a novas alternativas produtivas.
            Advém daí a relevância do Agronegócio Florestal (AgF) de São Paulo, que pode ser aferida pela dimensão econômica e social dos componentes da sua estrutura. Em resumo, 'a floresta que vai da semente à moradia ou ao papel' apresenta três tipos básicos de produção: madeireira; não-madeireira e ambiental.
            A peculiaridade do AgF é não ter como objetivo apenas a produção de fibras, energia, resinas, óleos, sementes, remédios, alimentos e infra-estrutura rural, mas também outros bens e serviços de difícil quantificação, quando não impossíveis de serem valorados. Toda a cadeia do agronegócio se estrutura nos seguintes setores ou fases produtivas (gráfico 1).

Gráfico 1 - Estrutura do Agro negócio Florestal

Fonte: Sistema Estadual de Informações Florestais (SISFLOR)

Principais setores do AgF

            Suprimento - Engloba os fabricantes de máquinas e equipamentos destinados ao plantio, ao manejo e à exploração florestal. Abarca também os produtores de fertilizantes, condicionadores, corretivos e defensivos, além dos de embalagens, materiais para viveiros, coleta e tratamento de sementes e produção de mudas de espécies florestais.
            Produção - Ocupa 16,7% do território estadual com seus 4,14 milhões de hectares (tabela1). Desse total 77,5% são de florestas nativas (3,15 milhões de hectares ou 12,9% da área estadual) das quais 2,23 milhões hectares são de propriedade privada e quase um milhão pertence ao Estado nas Unidades de Conservação.
         Se todas as matas ciliares do Estado estivessem conservadas, elas representariam 1,95 milhão de hectares. Estima-se que, numa hipótese otimista, a metade esteja preservada, ou seja, quase um milhão de hectares. A área de florestas plantadas é de 933 mil hectares (3,8% do território estadual), dos quais 80% são eucaliptos, 15 % pinus e 5% seringueira (tabela 1).

Tabela 1 - Distribuição das florestas paulistas (2005)
 

URGH
EUCALIP.
PINUS
SERING.
PLANTAD
VEG.NAT.
TOTAL
ALTO PARANAPANEMA
174067
74801
240
249108
266228
515336
RIBEIRA DE IGUAPE/LITORAL SUL
6531
19104
606
26241
478568
504809
TIETÊ/JACARÉ
112416
18854
504
131774
137387
269161
PARAÍBA DO SUL
81433
1643
20
83096
166762
249858
TIETÊ/SOROCABA
64663
2697
97
67457
134515
201972
PIRACICABA/CAPIVARI/JUNDIAÍ
70118
3547
228
73893
102763
176656
MÉDIO PARANAPANEMA
54314
11321
858
66493
105988
172481
PARDO
45702
1505
685
47892
90112
138004
TURVO/GRANDE
20444
85
12449
32978
92531
125509
MOGI GUAÇU
40396
522
273
41191
79998
121189
PONTAL DO PARANAPANEMA
5342
1329
866
7537
101570
109107
BAIXO TIETÊ
5506
20
7749
13275
77720
90995
TIETÊ/BATALHA
11050
1683
5279
18012
70650
88662
SAPUCAÍ/GRANDE
6632
963
459
8054
70146
78200
AGUAPEÍ
10615
739
4251
15605
50101
65706
ALTO TIETÊ
28305
663
 
28968
27589
56557
BAIXO PARDO/GRANDE
1732
8
4533
6273
39458
45731
PEIXE
4500
130
1912
6542
32366
38908
BAIXADA SANTISTA
7
12
 
19
37861
37880
SÃO JOSÉ DOS DOURADOS
1245
 
3952
5197
25942
31139
LITORAL NORTE
1184
 
 
1184
26332
27516
MANTIQUEIRA
1139
1026
 
2165
6416
8581
TOTAL
747341
140652
44961
932954
2221003
3153957
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO  
 
 
 
990000
990000
FLORESTAS  
 
 
932954
3211003
4143957

Fonte: CATI/LUPA e Fundação Florestal/Florestar Estatístico

          A produção desse setor é de 29 milhões de m3 estéreos por ano, que vão para o setor de primeira transformação, além de látex, resinas, óleos, sementes e toda uma gama de serviços ambientais que geram mais de 90 mil empregos diretos. O faturamento relativo aos produtos cujos valores são tangíveis é de mais de R$ 1 bilhão, constituindo-se no 7º produto, em valor, da agropecuária paulista.
             Transformação/processamento - Os segmentos de celulose/papel e de chapas são altamente especializados e verticalizados, com uma capacidade de processamento de cerca de 18 milhões de ésteres/ano, que gera em torno de 35 mil empregos diretos. O setor é também composto de vários outros segmentos que transformam matéria-prima de origem florestal (lenhosa ou não), cuja quantificação de empregos e renda gerados ainda é bastante complexa, dadas sua heterogeneidade e grande dispersão.
         O maior componente desse agregado é o setor de energia, que depois de perder importância entre 1990 e 2000 vem readquirindo expressão. Tanto que, atualmente, demanda perto de 16 milhões de estéreos por ano com boa parte da matéria-prima sendo importada de outros estados.
         Estima-se o faturamento anual desse setor de transformação em cerca de R$ 5 bilhões. 
            Logística - Basicamente, o setor é constituído pela exploração de produtos florestais, transporte, distribuição, armazenamento. Trata-se de outro setor com dificuldades de quantificação por ser pulverizado e pouco organizado. Calcula-se que apenas o transporte gere mais de 20 mil empregos e tenha um faturamento estimado em R$ 500 milhões por ano.

            Consumo - O aumento do padrão de consumo das populações urbanas tem pressionado a demanda por produtos derivados das florestas, nas suas mais variadas formas, notadamente a de papel que continua crescendo. A crise energética continua ameaçando os setores dependentes de combustíveis fósseis e a biomassa tem papel crescente na matriz energética paulista (gráfico 2).

Gráfico 2 - Consumo global de madeira estimado do Estado de São Paulo, em milhões de m3 estéreos - 1991/2005

Fonte: Florestar Estatístico, vol. 8, no 17, julho/2005

            É importante ressaltar, ainda, que se verifica um déficit na produção madeireira estadual de cerca de 500 mil hectares, dado que o consumo tem superado os incrementos dos plantios efetuados, ainda que tenham ocorrido mudanças significativas na estrutura de consumo de produtos florestais no Estado.
               Institucional - O AgF de São Paulo possui uma estrutura institucional bastante desenvolvida. Universidades, organismos ligados à pesquisa, conservação, fiscalização e fomento, ONGs e empresas atuam nos vários setores da cadeia, gerando perto de 7 mil empregos a um valor estimado de R$ 200 milhões por ano.

Diversificação e políticas públicas

            O AgF de São Paulo pode, portanto, englobar as produções de:

  • madeira serrada, celulose, papel, chapas, construção civil urbana e rural, látex, resinas, óleos, sementes, plantas medicinais, ornamentais e aromáticas, alimentos;
  • exportação de madeira, cavacos, produtos acabados;
  • serviços ambientais (como produção de água, proteção de biodiversidade, lazer e turismo temático), certificados de seqüestro de carbono.

            Pode diversificar os seus produtos aproveitando-se de um potencial que permite seu fortalecimento frente a outras cadeias do agronegócio. Esse diferencial está centrado basicamente em:

  • geração de um emprego a cada quatro hectares na fase de implantação das florestas e um emprego permanente a cada 10 hectares nas fases de manutenção e exploração;
  • altas produtividades florestais derivadas de condições ecológicas e tecnológicas muito favoráveis: 27 t/ha/ano (45 st/ha/ano) de madeira; 12 t/ha/ano de seqüestro de Carbono; 5 kg/árvore/ano de resina; 8 kg/árvore/ano de látex.

            Assim, políticas públicas voltadas para o setor do AgF poderiam aproveitar esse conjunto de situações, de maneira a expandir e sedimentar mais ainda uma atividade geradora de renda e empregos, além de adequada no aspecto ambiental.1

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1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-92/2006.

Data de Publicação: 13/09/2006

Autor(es): Eduardo Pires Castanho Filho (castanho@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor