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Máquinas agrícolas automotrizes: um 2006 sem esperanças
No primeiro semestre, as montadoras de máquinas agrícolas automotrizes apresentaram redução tanto no volume de produção (-18,4%) quanto nas vendas (-19%). A produção global, que havia caído 23,8% no confronto entre 2004 e 2005, registrou impacto ainda mais severo sobre as vendas no mercado interno, com queda de 38,5%. Figura 1 – Exportações de máquinas agrícolas, em percentagem, por continente de destino, Brasil, 2005
O desempenho de vendas no mercado interno evidencia, portanto, conjuntura desfavorável para o segmento em 2006, ainda que as importações tenham ganhado alguma pequena relevância. Nesse primeiro semestre, houve importação de 126 máquinas no período contra apenas 57 unidades no primeiro semestre de 2005 (tabela 1).
Fonte: ANUÁRIO (2005)
A concentração do destino das exportações de máquinas agrícolas para mercados com perfil assemelhado ao do agronegócio brasileiro (51% para países da América do Sul) refletiu-se negativamente sobre as transações internacionais, fato similar àquele já destacado para o mercado doméstico.
A queda nas exportações contabilizou 33,4% no primeiro semestre do ano, quando entre 2004 e 2005 esse percentual se manteve praticamente estável (-1,1%). Certamente, esse fenômeno foi amplificado pela trajetória de valorização do real, que em muito contribuiu para retirar competitividade das exportações das montadoras instaladas no Brasil, assim como do agronegócio nacional que é seu principal cliente (figura 1).
Tabela 1 - Produção, vendas e exportação de máquinas agrícolas automotrizes, Brasil, 2004 e 2005, e janeiro a junho de 2005 e 2006
Item
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| 2004 | 2005 | | (b/a-1)*100
| (c/d-1)*101
| |
(a) | (b) | | | ||||
Trator de roda | |||||||
Produção | | 52.768 | 40.871 | 23.237 | 17.829 | -22,5 | -23,3 |
Vendas no mercado interno | | 28.803 | 17.729 | 9.506 | 9.522 | -38,4 | 0,2 |
Nacionais | | 28.636 | 17.543 | 9.450 | 9.396 | -38,7 | -0,6 |
Importados | | 167 | 186 | 56 | 126 | 11,4 | 125,0 |
Exportação | | 23.553 | 23.968 | 13.411 | 8.150 | 1,8 | -39,2 |
Total das vendas | | 52.356 | 41.697 | 22.917 | 17.672 | -20,4 | -22,9 |
Colheitadeiras | |||||||
Produção | | 10.443 | 4.229 | 2.038 | 1.498 | -59,5 | -26,5 |
Vendas no mercado interno | | 5.605 | 1.534 | 910 | 478 | -72,6 | -47,5 |
Nacionais | | 5.598 | 1.533 | 909 | 478 | -72,6 | -47,4 |
Importados | | 7 | 1 | 1 | - | -85,7 | 0,0 |
Exportação | | 4.533 | 3.001 | 1.749 | 1.276 | -33,8 | -27,0 |
Total das vendas | | 10.138 | 4.535 | 2.659 | 1.754 | -55,3 | -34,0 |
Cultivadores Motorizados | |||||||
Produção | | 1.703 | 2.183 | 1.042 | 1.180 | 28,2 | 13,2 |
Vendas no mercado interno | | 1.682 | 2.141 | 1.012 | 1.117 | 27,3 | 10,4 |
Nacionais | | 1.682 | 2.141 | 1.012 | 1.117 | 27,3 | 10,4 |
Importados | | - | - | - | - | - | - |
Exportação | | 23 | 34 | 22 | 28 | 47,8 | 27,3 |
Total das vendas | | 1.705 | 2.175 | 1.034 | 1.145 | 27,6 | 10,7 |
Tratores de esteiras | |||||||
Produção | | 2.229 | 2.681 | 1.290 | 1.392 | 20,3 | 7,9 |
Vendas no mercado interno | | 526 | 408 | 219 | 132 | -22,4 | -39,7 |
Nacionais | | 526 | 408 | 219 | 132 | -22,4 | -39,7 |
Importados | | - | - | - | - | - | - |
Exportação | | 1.718 | 2.202 | 1.018 | 1.220 | 28,2 | 19,8 |
Total das vendas | | 2.244 | 2.610 | 1.237 | 1.352 | 16,3 | 9,3 |
Retroescavadeiras | |||||||
Produção | | 2.275 | 2.907 | 1.630 | 1.947 | 27,8 | 19,4 |
Vendas no mercado interno | | 1.174 | 1.410 | 665 | 1.198 | 20,1 | 80,2 |
Nacionais | | 1.174 | 1.410 | 665 | 1.198 | 20,1 | 80,2 |
Importados | | - | - | - | - | - | - |
Exportação | | 1.195 | 1.473 | 878 | 692 | 23,3 | -21,2 |
Total das vendas | | 2.369 | 2.883 | 1.543 | 1.890 | 21,7 | 22,5 |
Máquinas agrícolas (total) | |||||||
Produção | | 69.418 | 52.871 | 29.237 | 23.846 | -23,8 | -18,4 |
Vendas no mercado interno | | 37.790 | 23.222 | 12.312 | 12.447 | -38,5 | 1,1 |
Nacionais | | 37.616 | 23.035 | 12.255 | 12.321 | -38,8 | 0,5 |
Importados | | 174 | 187 | 57 | 126 | 7,5 | 121,1 |
Exportação | | 31.022 | 30.678 | 17.078 | 11.366 | -1,1 | -33,4 |
Total das vendas | | 68.812 | 53.900 | 29.390 | 23.813 | -21,7 | -19,0 |
Emprego1 | | 13.299 | 13.202 | 13.365 | 13.153 | -0,7 | -1,6 |
Receita Cambial | | 1.727.445 | 2.027.527 | 1.005.459 | 1.065.959 | 17,4 | 6,0 |
Fonte: Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (ANFAVEA)
Com exceção de tratores e colheitadeiras, outros tipos de máquinas registram movimentos contra-cíclicos que merecem destaque, tais como cultivadores motorizados, tratores de esteiras e retroescavadeiras, com incremento de 10,7%, 9,3% e 22,5%, respectivamente. No caso de tratores de rodas, o resultado de vendas no mercado interno manteve o desempenho observado no período anterior, com queda de apenas 0,6%.
O bom desempenho de ramos agroindustriais, como o sucroalcooleiro1 e a citricultura (segmentos clientes exclusivos de tratores), contribuiu para que as vendas pelo menos permaneçam no mesmo patamar do primeiro semestre de 2005. O resultado poderia ser melhor caso as exportações de tratores de rodas não tivessem caído 39,2% nos primeiros seis meses do ano.
Essa hipótese é consistente com a realidade do mercado, pois, ao contrário dos tratores de rodas, as colhedoras de cereais tiveram queda de 26,5% e de 47,5%, respectivamente, na produção e nas vendas. Para o caso das colheitadeiras, a estimativa é que sejam vendidas menos de 1.000 novas máquinas em 2006 frente às 5.598 vendidas em 2004 (tabela 1).
O mercado de máquinas agrícolas automotrizes exibe padrão sazonal de vendas bastante característico, com pico entre julho e setembro (comercialização de tratores) e vale entre janeiro e março (vendas de colheitadeiras). Entretanto, de 2000 a meados de 2004, a tendência prevalecente era de crescimento nas vendas, amparado pelo exuberante desempenho do agronegócio de grãos. Este, porém, não resistiu à atual crise do segmento, exibindo a partir de então ajuste de tendência em declínio (figura 2).
Figura 2 – Vendas de máquinas agrícolas automotrizes no mercado interno, Brasil, Janeiro de 2000 a Junho de 2006
Fonte: ANFAVEA (julho de 2006)
As montadoras de máquinas agrícolas procuram inovações comerciais para enfrentar a queda nas vendas. O arrendamento mercantil (leasing) é forma alternativa de aquisição de máquinas que pode contribuir para as vendas do segmento. Um reaquecimento dos negócios é vital para que estratégias de paralisação de plantas e de linhas de montagem sejam reavaliadas.
Outros indicadores relacionados ao segmento, como emprego e receita cambial, também apresentaram reflexos desse momento pouco favorável vivenciado pelo agronegócio. O emprego, que já havia caído 0,7% no comparativo 2004 e 2005, acumula declínio de 1,6% no primeiro semestre de 2006.
Quanto à evolução da receita cambial auferida pelo segmento em suas transações com o exterior, o resultado ainda permanece positivo, refletindo tanto um esforço pela diversificação dos clientes internacionais quanto uma mudança parcial de composição dos produtos exportados. O incremento da participação dos negócios envolve máquinas de maior potência e com melhor tecnologia e, por isso, mais caras.
A atual crise econômica dos agronegócios (exceção dos sucroalcooleiro e citrícola), evidenciada pela perda de poder de compra dos agricultores, pode conduzir a uma desestruturação, caracterizada por aumento da inadimplência e quebra de contratos. Por ser o endividamento dos produtores com máquinas agrícolas majoritariamente privado, as montadoras e seus respectivos bancos poderão exibir resultados econômicos menos robustos no fechamento dos respectivos balanços.
Diante do atual contexto macroeconômico (taxa de juros elevada, taxa de câmbio apreciada e gastos públicos em contínuo crescimento), poucas são as possibilidades capazes de reverter essa conjuntura ainda nesse ano. A securitização das dívidas foi o que suportou o novo ciclo de crescimento/endividamento dos agronegócios. Porém, naquela situação anterior, o passivo estava concentrado nos bancos públicos, dívidas estas, naquela época, absorvidas pelo Tesouro Nacional. Atualmente, por se tratar de endividamento majoritariamente privado, o ajuste terá de ocorrer em âmbito do próprio setor e, por isso, será mais longo e penoso. 2
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1 O segmento sucroalcooleiro já representa 25% das vendas de tratores de rodas.
EMÍLIO, Paulo. Massey Ferguson deverá faturar US$ 100 milhões a menos no país. Valor Econômico, 26/07/2006
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-74/2006.
Data de Publicação: 02/08/2006
Autor(es):
Célia Regina Roncato Penteado Tavares Ferreira Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor