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Café: clima favorável derruba as cotações
As
condições favoráveis de clima, prevalecentes durante o mês de junho e meados de
julho no Brasil, atuaram no sentido de derrubar as cotações internacionais do
café, em função do baixo risco de geada e, concomitantemente, da aceleração da
colheita. Essas condições estimularam a saída dos fundos de investimentos de
suas posições no mercado do café, que, associado às maiores vendas de origem,
induziram a queda das cotações do produto nos diferentes mercados. Isto, a
despeito dos fundamentos de mercado, indica condições de alta, reflexo da
expectativa de contínua redução dos estoques internacionais nos próximos três
anos. Gráfico 1 - Cotações médias mensais do
café em diferentes mercados de futuros (segunda posição) e do OIC-Composto
diário, 2004 a 2006
Na
Bolsa de Nova Iorque, as cotações médias do arábica caíram 6,05%, em relação à
cotação média de maio de 2006 (Contrato C, segunda posição). Na Bolsa de
Londres, o robusta registrou leve alta de 0,33% (igualmente para a segunda
posição). No mercado de futuros da BM&F, o preço do arábica teve baixa de
7,81% (segunda posição). O indicador OIC-Composto diário apresentou baixa de
4,40% em relação à média do índice de maio (gráfico 1).
Fonte: Gazeta Mercantil
O diferencial entre as cotações observadas na BM&F e em Nova Iorque cresceu para US$ 15,76 a saca, superior em 9,14% à média do mês anterior, devido à maior oferta de origem no mercado de Nova Iorque. Esse diferencial nos últimos doze meses pode ser verificado no gráfico 2.
Gráfico 2 – Cotações médias mensais do café arábica, segunda posição, nos mercados de Nova Iorque e BM&F (São Paulo), 2005-06
Fonte: Gazeta Mercantil
As cotações do arábica, contrato C, segunda posição, na Bolsa de Nova Iorque, exibiram tendência contínua de queda durante todo o mês de junho, apresentando alguma recuperação apenas na última semana do mês (gráfico 3).
Gráfico 3 - Cotações diárias em junho de 2006 na Bolsa de Nova Iorque, para café arábica, Contrato C, segunda posição
Fonte: Gazeta Mercantil
Na Bolsa de Londres, o mercado de robusta apresentou comportamento diferenciado ao observado em Nova Iorque, ao mostrar forte flutuação sem tendência definida e forte alta na última semana do mês, devido a informações de menor oferta do produto do Vietnã (gráfico 4).
Gráfico 4 - Cotações diárias para o café robusta, segunda posição, na Bolsa de Londres, no mês de junho de 2006
Fonte: Gazeta Mercantil
Na
BM&F, a evolução dos preços do arábica, segunda posição, cotados em dólar
por saca em junho, indica variação negativa acumulada de 8,29% no ano de 2006 e
de 17,57% nos últimos doze meses. No mercado de Nova
Iorque, os preços do arábica, contrato C, segunda posição, tiveram queda de
2,04% no ano de 2006 e de 14,55% no acumulado dos últimos doze
meses.
Por
sua vez, as cotações do robusta no mercado de Londres, segunda posição, tiveram
variação acumulada de baixa de 5,69%, nos últimos doze meses, e de alta de 2,04%
em 2006. Já a estimativa do OIC-Composto apresentou perda acumulada de 0,62%, em
2006, e de 10,65% nos últimos doze meses.
Quanto às cotações médias do café no primeiro semestre de 2006, comparadas às
cotações médias anuais de 2000 a 2005, verifica-se que no caso de Nova Iorque,
para o arábica, a média do primeiro semestre de 2006 é apenas 0,30% inferior à
média do ano de 2005. Isto indica que as cotações, apesar de fortes flutuações,
têm se mantido estáveis nos últimos 18 meses, ao contrário do robusta na Bolsa
de Londres cuja média de 2006 é 16,30% superior à média de 2005 (gráfico
5).
Gráfico 5 - Cotações médias anuais de Café, nos diferentes mercados, no período de 2000 a 2006
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Na cafeicultura paulista, as cotações médias em junho do café arábica caíram 3,84% em relação à média de maio de 2006, em função das cotações em baixa do produto no mercado internacional e da maior oferta interna, reflexo das boas condições climáticas para o desenvolvimento da colheita. Houve, portanto, quedas acumuladas de21,85% nos últimos doze meses e de 6,02% em 2006 (gráfico 6).
Gráfico 6 - Preços médios mensais recebidos pelos produtores de café arábica, Estado de São Paulo, 2002 a 2006
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Ao comparar os preços médios recebidos pelos cafeicultores paulistas no primeiro semestre de 2006, em relação aos preços médios recebidos em 2005, verifica-se que caíram 8,57% em termos nominais e 12,60% em valores deflacionados. Isto indica o efeito da maior oferta e da valorização do real na cotação do café (gráfico 6).
Gráfico 6 - Preços médios anuais recebidos pelos cafeicultores paulistas, no período de 2000 a 2006
Fonte: Instituto de Economia Agrícola
Afinal, cadê todo esse café?
Os
agentes de mercado formaram uma errônea impressão de que os estoques somados às
safras pendentes são suficientes para o pleno abastecimento do mercado. Por mais
otimistas que sejam os números utilizados nas previsões elaboradas, o cenário
futuro é de grandes limitações na oferta com rápido enxugamento dos estoques. No
Brasil, por exemplo, os estoques já se situam em nível próximo ao de 1996/97
quando a geada e a seca da safra 1994/95 reduziram de maneira acentuada a
colheita da safra seguinte. No resto do mundo, também, não há existência de
estoques capaz de fazer frente a qualquer distúrbio climático que venha a
comprometer o abastecimento no médio prazo como secas, geadas, inundações e
furacões.
A
aposta dos agentes de mercado é a de que, com leve sinalização nas cotações,
surja café das diferentes origens, recuperando os estoques existentes, fenômeno
que realmente ocorreu entre dezembro de 2004 e março de 2005. Todavia, o
contexto atual é muito mais restritivo em termos de oferta, pois muitas zonas
ainda não se recuperaram do ciclo de crise e os investimentos realizados são
escassos e insuficientes diante da necessidade mundial do produto.
Apenas no Brasil ainda ocorrem algumas inversões na atividade como a ampliação
das áreas sob irrigação e o permanente empenho na melhoria da qualidade
(introdução de descascadores, por exemplo). No restante do mundo, são totalmente
inexpressivos tanto a ampliação das áreas cultivadas quanto o surgimento de
novas fronteiras para a cultura. Em algum momento o blefe praticado pelos
agentes do mercado será desnudado e as cotações poderão saltar para patamares
muito elevados.
Desinteligência e covardia: razões da atual crise
Surpreende a inusitada apatia das lideranças do segmento. O resultado é
oacentuado desinteresse das autoridades governamentais em implementar,
urgentemente, um programa de ordenamento da oferta via lançamento de venda de
contratos de opções para café arábica da safra 2005/06, com prazos de resgate de
6, 12 e 18 meses associados a pequeno subsídio ao prêmio pago para cada título
comercializado (com finalidade de exercício de função educativa do mercado). A
venda de volume de contratos equivalentes a 4 a 5 milhões de sacas sinalizaria a
todo o mercado que o governo brasileiro tem real compromisso com a defesa da
renda de seus cafeicultores e, em conseqüência, de todo o agronegócio café.
Devido à desinteligência e à covardia, a renda do cafeicultor novamente será
transferida para os segmentos a jusante dessa cadeia, em particular as traders e
as torrefadores internacionais.
O
mais impressionante é a existência de experiência anterior de lançamento de
contratos de opções que, além de coberta de êxito, forçou uma recuperação das
cotações e rendeu excepcionais resultados para os cofres públicos, em particular
ao Fundo de Defesa da Cafeicultura (FUNCAFE). Ademais, o momento atual é muito
oportuno para a aposta em títulos financeiros, como é o caso das opções. Não
existe analista do mercado de café que deixe de apontar para os fundamentos
favoráveis ao incremento das cotações no médio prazo, com possibilidade de
perdurarem durante os próximos três anos.Isto, mesmo
considerando números inflados como a previsão estadunidense e sendo bastante
conservador nas indicações sobre a evolução do consumo mundial.
A
colheita ainda está em andamento, havendo espaço para que seja desenhada
política pública capaz de trazer mais realidade às cotações vigentes nos
mercados. Celebrar nossa liderança na produção, exportação e em breve no consumo
não passa de panacéia se as ações estratégicas não se mostrarem arrojadas e
eficazes. 1
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1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número
HP-71/2006.
Data de Publicação: 21/07/2006
Autor(es):
Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor