Algodão em pluma: cincos anos de saldo positivo na balança comercial

            O cenário das exportações brasileiras de algodão debulhado mudou a partir de 2001, com aumento de 72%, depois de praticamente inexistirem entre 1998 e 2000. Esse desempenho manteve-se estável em 2002 e, nos anos seguintes, as vendas externas apresentaram crescimento constante em paralelo à consolidação de uma nova configuração regional da produção algodoeira no Brasil (figura 1).

Figura 1 - Balança comercial de algodão debulhado, Brasil, 1997-2005 

Fonte: SECEX

            Sobressai o algodão debulhado, que em 2005 representou 70% das exportações nacionais de algodão em pluma. Estas, por sua vez, registraram aumento de 11% em relação a 2004, somando US$ 449,7 milhões (dólar FOB). Já as importações tiveram queda de cerca de 75%, a maior dos últimos cinco anos. Como resultado, o saldo da balança comercial aumentou 67,5%, o equivalente a US$ 408 milhões, em comparação com US$ 243 milhões alcançados em 2004.
            É o que aponta estudo, baseado em informações coletadas junto à Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento da Indústria e Comércio Exterior (SECEX/MDIC)1, para as três mercadorias que compõem o grupo algodão em pluma2: algodão não debulhado; algodão debulhado e outros tipos de algodão, no período 1996-2005.
            Em termos regionais, o grande destaque fica por conta do Mato Grosso, que em 2001 e 2002 chegou a responder por 79% do total exportado. Em 1999, o Estado era origem de cerca de 65% do total embarcado para o exterior (figura 2).

Figura 2 - Evolução das exportações de algodão debulhado, por Estado brasileiro, 1998-2005 

Fonte: SECEX

            A partir de 2003, a ocupação das terras do cerrado continuou em direção ao oeste da Bahia, estado que vem aumentando sua participação. Tanto que encerrou 2005 como origem de 19% das exportações da mercadoria, embora deva se considerar a existência de estratégias contratuais de comercialização e de abastecimento dos núcleos de fiação mais próximos.
            Essa mudança na balança comercial pode ser explicada pela política cambial adotada a partir de janeiro de 1999, quando passou a vigorar o câmbio flutuante, que a princípio produziu uma desvalorização consistente e elevada da moeda nacional. Isto proporcionou melhores preços internos e estimulou o investimento em tecnologia, bem como a adoção de mecanismos de incentivo, que proporcionaram a expansão da produção de algodão naquelas novas áreas.
            Por outro lado, os estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul vêm registrando queda na participação total das exportações. Em 2005, representaram, juntos, apenas cerca de 4% das exportações de algodão debulhado (figura 2). Isto foi reflexo principalmente do deslocamento da produção de algodão herbáceo dos estados do Paraná, de São Paulo e de Minas Gerais em direção ao centro-oeste e aos cerrados. Considera-se também que, a partir de maio de 2004, a sobrevalorização da moeda nacional tornou o produto importado mais barato, enquanto o nacional perdeu competitividade em preço.
            Do lado das importações, num universo de quase 70 países, a Argentina foi o destaque como um dos principais destinos das exportações brasileiras de algodão debulhado, nos anos de 1998 e 1999, com respectivamente 73% e 82% do total. Em valores monetários, isto equivale a US$ 2,6 milhões, de um total de US$ 3,6 milhões, e a US$ 2,6 milhões, do total US$ 3,8 milhões, considerando os mesmos anos.
            Nos dois anos seguintes, verificou-se queda nas exportações para a Argentina, mas em contrapartida houve expressivo aumento na participação da Indonésia (18% e 10%, respectivamente), da Alemanha (10% e 11%) e de Portugal (9% e 6%). No total, porém, as exportações corresponderam, em valor, a US$ 10,2 milhões em 2000 e a US$ 73 milhões em 2001.
            Os últimos anos são marcados pelo fornecimento constante para países como Indonésia e Itália, além do grande crescimento das exportações para o Paquistão e a China. Estes dois últimos países responderam, em 2005, por 21% e 20%, respectivamente, do total exportado pelo Brasil, que variou entre US$ 132 milhões e US$ 313,6 milhões nos últimos três anos.
            Já as importações por parte do Brasil foram mais expressivas no período 1998-2002. Os principais países fornecedores foram Argentina, Paraguai e Estados Unidos, com valor total no primeiro ano em torno de US$ 236,6 milhões e no último ano de US$ 38,1 milhões. A partir de 2002, estes países continuaram como os principais fornecedores, variando entre US$ 71 milhões e 80,8 milhões, dos quais US$ 20,8 milhões registrados em 2005 (figura 3).

Figura 3 - Participação dos principais países fornecedores de algodão debulhado, Brasil, 1998-2005 

Fonte: SECEX

            Outros tipos de algodão descritos como não cardados nem penteados formam uma mercadoria também classificada como pluma. As exportações dessa mercadoria representaram cerca de 30% do total do algodão em pluma exportado pelo Brasil em 2005. O comportamento da sua balança comercial é semelhante ao do algodão debulhado, ao apresentar saldo negativo no período 1997-2000 e aumento nas vendas externas a partir de 2004 (figura 4).

Figura 4 - Balança comercial de outros tipos de algodão, Brasil, 1997-2005 

Fonte: SECEX

            Os principais estados de origem dessa mercadoria são Bahia, Paraná e Mato Grosso. Este último é a origem de 71% dos valores exportados em 2003, de 52% em 2004 e de 62% em 2005.
            No período 1996-2005, foram mais de 50 os destinos das exportações brasileiras para os outros tipos de algodão. Ao final do surto de importações e do conseqüente aumento das exportações do produto brasileiro, países como China, Coréia do SuI, Itália, Indonésia, Japão e Paquistão estão entre os principais destinos.
            A importações realizadas principalmente no período 1996-1999 são provenientes em grande parte da Argentina, dos Estados Unidos, do Paraguai e do Usbequistão.
            A terceira mercadoria classificada como pluma é o algodão não debulhado que tem uma participação bastante pequena na balança comercial do produto. Porém seu comportamento também é semelhante ao dos demais, ao apresentar períodos de importações e, posteriormente, de recuperação, indicando saldo positivo na balança comercial nos últimos seis anos (figura 5).

Figura 5 - Balança comercial de algodão não debulhado, Brasil, 1997-2005 

Fonte: SECEX

            Para os próximos anos, o Brasil poderá sobressair-se ainda mais no cenário internacional como um dos principais exportadores de pluma de algodão, tendo em vista o potencial de crescimento de consumo do mercado chinês.
            Contudo, no âmbito interno os produtores não parecem estimulados a continuar expandindo suas plantações. No sétimo levantamento realizado pela Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), referente a junho de 2006, há indicações de queda na produção de algodão em caroço no Brasil da ordem de 461,4 milhões de toneladas em relação à safra passada. Além da produção, devem diminuir a área e a produtividade, até mesmo nos estados mais promissores dos cerrados.
            A saída para a atual crise do setor, principalmente no Brasil, dependerá de soluções para os seus principais condicionantes, ou seja: baixos preços internos, em função da sobrevalorização cambial numa economia aberta; o aumento nos custos da mecanização da lavoura e dos transportes em razão da alta nos preços do petróleo; e a dívida contraída pelos cotonicultores.3

____________________________
1 Secretaria de Comércio Exterior, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. (Algodão não debulhado, não cardado nem penteado – 5201.00.10; Algodão simplesmente debulhado, não cardado em penteado – 5201.00.20 e Outros tipos de algodão não cardado nem penteado – 5201.00.90) http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br.
2 Segundo a classificação da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) www.conab.gov.br.
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-62/2006.

Data de Publicação: 13/06/2006

Autor(es): Soraia de Fátima Ramos (sframos@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor