Algodão: presença chinesa no mercado mundial

             A oferta mundial de algodão em pluma deve alcançar 36,6 milhões de toneladas em 2005/06, com acréscimo de 2,5% em comparação com a anterior. Embora seja a maior quantidade das últimas temporadas, a redução de 5,9% na produção, prevista em 24,7 milhões de toneladas, impede crescimento mais acentuado na disponibilidade do produto, em virtude do estoque inicial relativamente elevado de 11,8 milhões de toneladas (tabela 1).


            O consumo é estimado 25,5 milhões de toneladas, superior em 7,6%, o que vem reforçar a crescente demanda iniciada em 2004/05. Apesar da intensificação do uso de algodão no mundo, a temporada atual deve ser encerrada com estoque de 11,4 milhões de toneladas (-3,4%), conforme o Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)1.
            As importações são o destaque no suprimento mundial de algodão em 2005/06 por estarem previstas em 9,6 milhões de toneladas, com crescimento de 32,4%, e por constituírem a maior quantidade transacionada desde a década de 1960. Assim, pode se dizer que é um recorde em aquisições de algodão que, a exemplo de outros produtos agrícolas como a soja, tem como principal destino o gigantesco mercado chinês.
            A China é a maior produtora de algodão, com o equivalente a 23% do total em 2005/06, e também a maior importadora, em virtude da insuficiência de sua produção frente a crescente demanda pela fibra. Essa característica é intensificada neste ano dada a redução de 9,7% na quantidade produzida, estimada em 5,7 milhões de toneladas (figura 1).

Figura 1 – Produção mundial de algodão, China e outros países, 2003/04 a 2005/06 

Fonte: Elaborada a partir de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)

            Por sua vez, o consumo de algodão na China cresceu ininterruptamente nos três últimos anos até culminar em 10,1 milhões de toneladas nesta safra, um acréscimo de 20,8% em comparação com a safra passada. Este resultado elevou a participação do país de 33% para 40% do consumo mundial no período (figura 2).

Figura 2 – Consumo Mundial de Algodão, China e Outros Países, 2003/04 a 2005/06 

Fonte: Elaborada a partir de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA).

            Mesmo ao considerar, inclusive, o estoque inicial que perfaz oferta de 8,5 milhões de toneladas, ainda é acentuado o déficit do produto naquele país. Cabe destacar que no resto do mundo o consumo da fibra se mostra relativamente estável, ao passar de 15,3 milhões para 15,4 milhões de toneladas, entre os dois últimos anos. Isto demonstra que o comportamento desse item no âmbito global se deve, basicamente, à demanda chinesa
            Nessas circunstâncias, as aquisições da China alcançam 4,1 milhões de toneladas em 2005/06, volume 197,6% superior ao do ano anterior. Isto reforça a condição importadora do país que deve responder por 43% de todo o algodão transacionado no mercado mundial. Já, em relação às importações dos demais países, é esperado decréscimo de 5,9 milhões para 5,5 milhões de toneladas (figura 3).

Figura 3 – Importações mundiais de algodão, China e outros países, 2003/04 a 2005/06 

Fonte: Elaborada a partir de dados do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)

            Para a temporada 2006/07, o Comitê Consultivo Internacional do Algodão (ICAC)2 prevê que as importações chinesas se devam situar em patamar próximo do atual, estimado em 4,1 milhões de toneladas, dada a expectativa de manutenção da defasagem entre a oferta e o consumo no país.
            Para as exportações brasileiras de algodão, os reflexos são notórios. As vendas para a China evoluíram de US$18,8 milhões em 2003 para US$90,15 milhões em 2005, com o equivalente em relação ao total exportado alcançando 20% - o dobro do verificado em 2003. Isto tornou o mercado chinês o principal destino das exportações da fibra do Brasil no último ano. De janeiro a março/2006, as aquisições chinesas já totalizaram US$15,55 milhões, ou 550% a mais que as do mesmo trimestre de 2005, segundo a Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)3.
            Por outro lado, no âmbito da cadeia de têxteis e confecções, o comércio entre os dois países é caracterizado pelo saldo comercial brasileiro deficitário. As exportações para a China totalizaram US$110,48 milhões em 2005, enquanto as importações brasileiras de artigos chineses alcançaram US$359,51 milhões.
            Acrescenta-se que, do total adquirido pelo Brasil, o correspondente a 23,6% foi proveniente daquele país. Na comparação entre o acumulado de janeiro/fevereiro de 2006 com o do mesmo período do ano passado, o crescimento de US$2,81 milhões para US$19,38 milhões nas exportações brasileiras para aquela nação mostrou-se insuficiente para compensar o montante importado de US$91,02 milhões. O resultado foi o déficit da ordem US$71,62 milhões, conforme a SECEX4 (figura 4).

Figura 4 – Exportações, importações e saldo comercial de têxteis e confecções do Brasil em relação à China, 2005, Janeiro-Fevereiro de 2005 e 2006 

Fonte: Elaborada a partir de dados do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior (MDIC), divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT)

            A China é a maior exportadora de têxteis e de vestuário, responsável por 17% e por 24%, respectivamente, dos valores das exportações globais, em 2004, conforme a Organização Mundial do Comércio (OMC)5. No ano de 2000, as exportações chinesas correspondiam a 10% do total transacionado de têxteis e a 18% do de vestuário. Assim, depreende-se que o país ampliou suas parcelas de mercado nesses produtos.
            Esse comportamento é justificado pelo fato de o setor têxtil apresentar baixa relação capital/trabalho nos países em desenvolvimento, que são também os principais exportadores. Como nessas nações há profusão de mão-de-obra, beneficiam-se do trabalho intensivo relativamente mais barato e tornam-se mais eficientes que os países desenvolvidos, particularmente na produção de vestuário, sob a ótica da especialização da produção e da exportação de produtos cujos fatores de produção são mais abundantes6.
            Recentemente, em fevereiro de 2006, os Governos do Brasil e da China celebraram o Acordo de Restrições Voluntárias para as exportações chinesas de produtos têxteis e de confecções, no qual foram estabelecidas as quantidades de artigos a serem importados pelo Brasil até dezembro 2008. Em ação conjunta com a iniciativa privada, representada pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT) e pelo Sinditêxtil-SP, foram acordadas oito categorias de produtos, cujas importações apresentaram crescimento acentuado nos três últimos anos7.
            Vale ressaltar que o Acordo não se restringe a manufaturados de algodão. Mas pressupõe-se que toda ação de apoio seja bem-vinda pela cadeia de produção de têxteis e confecções do Brasil, diante da fase de estagnação porque atravessa o consumo brasileiro da fibra, estimado em 900 mil toneladas em 2005/06, o menor dos últimos três anos8.9

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1 USDA, www.fas.usda.gov.
2 ICAC, www.icac.org.br.
3Divulgados por CONAB, www.conab.gov.br.
4 Divulgados pela Associação Brasileira da Indústria Têxtil (ABIT), www.abit.org.br.
5OMC, www.wto.org.br.
6HEIJBROEK, A.M.A.; HUSKEN, H.P. The international cotton complex – Changing competitiveness between seed and consumer. Amsterdam: Rabobank International, 104p. 1996.
7ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DA INDÚSTRIA TÊXTIL – ABIT; SINDITÊXTIL-SP. Acordos internacionais, Brasil-China e Brasil-Argentina. Disponível em: www.abit.org.br. Os produtos acordados são: tecido de seda, filamento de poliéster texturizado, tecidos sintéticos, veludo, camisas de malha, suéteres, jaquetas e bordados.
8Op.cit. nota 3.
9 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-44/2006.

Data de Publicação: 17/05/2006

Autor(es): Marisa Zeferino (marisa.zeferino@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor