Exportação de álcool: perspectiva de crescimento em 2006?

            No período compreendido entre 2001 e 2005, a quantidade de álcool exportado pelo Brasil cresceu 614,3%. Essa aceleração ficou mais evidente a partir de 2004, com um crescimento da parcela do volume total exportado de álcool carburante. Também cresce a demanda externa por álcool voltado para as industrias farmacêutica, cosmética, de bebida e de alimento, conhecido como álcool neutro.
            Para 2006, a expectativa é de que sejam produzidos cerca de 17,8 bilhões de litros de álcool no Brasil e que, deste total, sejam exportados por volta de 3 bilhões de litros, o que corresponderia a um aumento de 15,3% em relação a 2005. Esse crescimento nas exportações já pode ser verificado nos números da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento (SECEX/MDIC)1.
            Os primeiros levantamentos dos embarques de álcool para o exterior mostram um aumento no primeiro trimestre de 2006. No comparativo de janeiro a fevereiro de 2005 em relação ao mesmo período de 2006, houve aumento de 22,6% no volume, 57,6% no valor e 28,5% nos preços do álcool (US$/t) exportado. Quando se compara o primeiro trimestre de 2005 com o de 2006, esses percentuais se alteram para 3% no volume, 30,3% no valor e 26,5% no preço.
            Isto possivelmente seja reflexo da escalada do preço do álcool, que de fevereiro a março de 2006 teve acréscimo de 4,1%, bem como da relação entre estoques feitos para exportação, disponibilidade do produto na entressafra e de novos contratos, levando em conta a oferta na safra que se inicia.
            São Paulo continua sendo o principal Estado de origem deste álcool, seguido por Alagoas e Pernambuco. Despontam ainda os estados do Paraná, em quarto lugar, e do Rio Grande do Norte, em quinto.
            No ano de 2005, as exportações de álcool totalizaram um volume de 2,59 bilhões de litros, superior ao volume registrado em 2004 que foi de 2,32 bilhões de litros, um crescimento de 11,7%, em termos de valores. Também houve crescimento nominal de 52,12%, ou seja, de 517,40 milhões de dólares para 787,25 milhões de dólares.
            O preço médio da tonelada de álcool exportado ficou 40,8% maior em 2005, comparado com 2004. Em 2006, o preço médio da tonelada de álcool teve um acréscimo de 18,15%, em relação ao preço de dezembro de 2005, passando de US$ 374,88 para US$ 442,94 médios.2

Perspectivas

            Países como Estados Unidos (EUA), Japão, Holanda, El Salvador e Coréia do Sul registraram, nos dois primeiros meses de 2006, aumento nas importações de álcool brasileiro em relação ao mesmo período de 2005. Se considerarmos o primeiro trimestre de 2006 comparado com igual período de 2005, as importações japonesas diminuíram 7,9%. Já os demais países relacionados anteriormente mantiveram um aumento nas importações de álcool. Nestes países, há uma demanda crescente advinda de política de adição de álcool na gasolina, com exceção de El Salvador que mantém bases de reexportação de álcool para os EUA.
            Outro país que aparece na lista de importador de álcool brasileiro em 2006 é o Canadá. Este álcool, possivelmente, é para uso carburante devido à meta canadense de que 10% de etanol sejam adicionados em 35% da gasolina do país até 2010. Nos três primeiros meses de 2006, o Canadá importou 5,51 milhões de litros de álcool, enquanto no mesmo período do ano anterior não foi verificada nenhuma importação do produto.
            A sobretaxa imposta ao álcool exportado pelo Brasil aos EUA, de US$ 0,54 por galão, poderá deixar de existir. Esta é a proposta do senador republicano Charles Grassley pelo estado de Iowa. Caso isto ocorra, o álcool brasileiro se tornará possivelmente mais competitivo no mercado norte-americano e, conseqüentemente, haverá um crescimento das exportações brasileiras para os EUA.
            Vários estados americanos vêm se interessando pelo o uso do álcool como combustível alternativo. É utilizado como oxigenante em substituição ao MTBE (Metil tert-Butil Éter), através da adição na gasolina (este percentual é em média de 10%). Atualmente, os EUA consomem 10 bilhões de litros de álcool carburante e produzem cerca de 16,2 bilhões de litros de álcool. Na hipótese de todo o MTBE ser substituído, este consumo poderá ir a 18,5 bilhões de litros, abrindo assim uma boa oportunidade de o Brasil exportar etanol para os EUA.
            Por outro lado, em 2006 é possível que o governo brasileiro crie empecilhos na liberação das exportações, visando pressionar o setor para garantir o abastecimento interno com o combustível renovável.
            Outro fator preponderante nessa questão é o preço do açúcar no mercado externo, que tem registrado aumentos expressivos3. Isto é motivo de pressão altista no preço do álcool, em relação ao preço-referência antes da crise ocorrida no início do ano de 2006 e à mudança no mix4 de produção, que já é de 50:50 e poderá ficar mais favorável para o açúcar e desfavorável para o álcool.

Mercado interno

            Com a recente crise no mercado do álcool verificada nos primeiros meses de 2006, quando houve aumento exorbitante de preços para o consumidor, algumas empresas avaliaram a possibilidade de importar álcool hidratado brasileiro de compradores asiáticos, principalmente Índia e China, que adquiriram o produto do Brasil em 2005.
            Esse fato inusitado foi possibilitado por preços em alta no mercado interno e grande quantidade adquirida do produto com preços bem abaixo do praticado nos meses da crise. Outra hipótese que pode ter contribuído para esta situação foi o atraso na política de adição de álcool na gasolina por parte da Índia, o que resultou em sobras de álcool naquele país.
            A queda de braço entre o governo e o setor sucroalcooleiro, no que se refere a preços, tancagem e abastecimento interno, precisa ser resolvida rapidamente. É necessário que o mercado interno tenha garantia de abastecimento e sem grandes oscilações de preços na entressafra.
            O álcool é produto estratégico para o Brasil, por ser um combustível renovável e pioneiro no País e deter 15% do total do consumo doméstico de combustíveis líquidos. Assim, deve merecer atenção enérgica por parte do governo e não pode ser objeto de especulação por parte das usinas e distribuidoras.
            As exportações de etanol e a vocação natural do Brasil para ser o maior fornecedor deste combustível verde precisam ser mantidas. Cabe ao setor e ao governo encontrar mecanismos de ajuste ou regulação para o atendimento dos mercados interno e externo.
            Portanto, o crescimento das exportações em 2006 e nos anos seguintes vai depender destes ajustes necessários, da demanda externa e interna, do aumento das áreas de plantio com a cana-de-açúcar e da infra-estrutura de transporte. 5

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1 SECEX: www.desenvolvimento.gov.br
2 Para maiores detalhes sobre exportação de álcool brasileiro, países de destinos e portos e Estados de origem, consultar: Evolução das Exportações brasileiras de Álcool, período de 1996 a julho de 2005. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=5006
3 Maiores detalhes no artigo de MARTIN. B. Nelson. Commodities: açúcar foi o campeão de alta em dezembro de 2005. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto=4845
4 Mix de produção (50:50): percentual destinado de cana-de-açúcar para a produção de açúcar e álcool.
5 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-40/2006.

Data de Publicação: 02/05/2006

Autor(es): Sérgio Alves Torquato (storquato@apta.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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