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Trigo: área plantada deve diminuir em São Paulo
O plantio de trigo no Brasil é efetuado mais cedo nos Estados de São Paulo, Mato Grosso do Sul e na região mais ao norte do Estado do Paraná. Em São Paulo, de acordo com recomendação técnica do Instituto Agronômico (IAC)1 , a semeadura deve ser feita a partir de 20 de março até 31 de maio, conforme a região tritícola. Portanto, a partir daí a melhor alternativa seria a cultura do trigo, cujo principal risco é a manutenção dos atuais baixos níveis de preço. Os produtores têm um mês e meio para se decidir, pois de acordo com o zoneamento agrícola o período recomendado para o plantio do trigo nessa região é de 20 de março a 30 de abril, com tolerância até 10 de maio. Plantio fora desse período não tem financiamento nem seguro.
Em 2005, a produção brasileira de trigo atingiu 4,7 milhões de toneladas, 17,7% inferior ao resultado do ano anterior. Isto basicamente em função de redução de 15,5% na área colhida e de 2,6% na produtividade média, segundo os dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE)2.
Os diversos parâmetros normalmente considerados pelos agricultores para subsidiar a tomada de decisão sobre o que plantar, e quanto plantar, não estão favorecendo a opção pelo trigo em 2006. A comercialização da safra de 2005 foi desalentadora, a começar pelos preços.
A redução da área de cultivo em 2005 refletiu o menor preço médio em 2004. Em 2005, a queda continuou e o preço médio recebido pelo triticultor foi 20% menor que o do ano anterior. De 2002 a 2005, o preço médio anual recebido pelo triticultor caiu 34%. A redução da taxa de câmbio é a principal causa dessa situação, agravada pela menor qualidade, em função da ocorrência de chuvas na época da colheita. Ambos os fatores concorrem para a importação do produto, apesar dos estoques relativamente elevados (figura 1).
Os dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB)3 mostram que, no período iniciado em 2000, só em 2005 aparece estoque de trigo originado de Aquisições do Governo Federal (AGF). Foram 211,2 mil toneladas em fevereiro, que aumentaram para 491,8 mil toneladas no término do ano, em dezembro.
Além disso, o produto estocado referente a Contratos de Opção saltou de 21,3 mil toneladas em 2000 para 576,8 mil em 2005. Também o preço médio pago pelo trigo importado da Argentina em 2005 (de US$ 131,7 FOB) foi US$ 20,0 menor que o referente às importações do ano anterior. Em 2004, o Brasil conseguiu pela primeira vez exportar um volume expressivo de trigo (1,3 milhão de toneladas), o que se constituiu em importante suporte aos preços internos, mas em 2005 o volume foi de apenas 156,2 mil toneladas.
Para amenizar essa situação negativa, o triticultor brasileiro espera que as cotações se elevem na Argentina devido à expectativa de menor produção. Principal fornecedor do Brasil, o país responde por cerca de 90% das importações brasileiras de trigo, correspondente a aproximadamente 50% do abastecimento nacional.
Contudo, o preço do produto, que estava cotado a US$ 143,33 por tonelada FOB portos argentinos na segunda semana de fevereiro, recuou para US$ 140,00 na segunda semana de março, ainda superior à cotação média dos últimos cinco anos, de US$ 139,54. Mas, mesmo assim, nesse nível o preço de paridade ainda não traz competitividade para o produto nacional dada a persistente baixa taxa de câmbio.
No mercado internacional, as cotações poderão apresentar elevações conforme o desenvolvimento da cultura, tanto nos principais países produtores quanto nos maiores importadores. Mas isto deve ocorrer mais em função de eventuais adversidades climáticas, como é o caso das temperaturas extremamente baixas que se estão verificando na Rússia.
De acordo com as projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA)4, a produção mundial em 2005/06 está projetada em 616,17 milhões de toneladas, apenas 2,0% menor que a do período anterior. Já o estoque final deve cair 5,0%.
Em São Paulo, nas regiões onde a cultura do trigo assume importância econômica, neste momento não há perspectiva de reversão da conjuntura atual do mercado de trigo. Na região sul do Estado, mais especificamente nos municípios pertencentes à área abrangida pelo Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) de Itapeva, os agricultores estão plantando milho safrinha e soja safrinha, evidenciando a intenção de reduzir a área destinada ao trigo.
Pode haver expansão da área de triticale nessa região, por ser cultura mais rústica e, portanto, com menor risco de frustração, face a eventuais problemas de natureza climática, notadamente em situação de redução do uso de tecnologia, prática normalmente adotada pelos agricultores quando em dificuldades financeiras. Também na comercialização, apesar do preço inferior ao do trigo, os riscos são menores uma vez que tem a indústria de ração como possibilidade de diversificação de mercado.
No área do EDR de Assis, segunda região produtora do Estado, segue a colheita das lavouras de verão e alguns produtores optaram pelo plantio de milho safrinha, alternativa para a cultura de inverno, mesmo que o mercado de milho também não esteja promissor. Entretanto, o plantio do milho depois do mês de março aumenta muito o risco de o desenvolvimento da lavoura ser afetado por adversidades climáticas.
Conforme informações de técnicos de cooperativas e do Governo que atuam na região, a tendência é de que haja redução significativa na área plantada. A situação é semelhante na área do EDR de Avaré, onde segundo informações de técnicos da região o desinteresse é grande. Depois de dois anos consecutivos de frustração na comercialização, os produtores não querem arriscar a instalação de uma cultura de alto custo sem a perspectiva de preços remuneradores.
No momento, a situação dos moinhos pode estar mais favorável, mas a possibilidade de os preços subirem na Argentina é forte, quanto mais se a queda da área plantada no Brasil for expressiva. Além do mais, os clamores para elevação da taxa de câmbio estão ocorrendo em diversos setores da economia. O momento é oportuno para o estabelecimento de parcerias entre moageiros e cooperativas de produtores, viabilizando contratos de compra antecipada, o que daria maior sustentabilidade à produção de trigo.5
Fonte do dados: IEA, Suma Econômica e Banco Central
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1 IAC: vinculado à Agência Paulista de Tecnologia dos Agronegócios da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (APTA/SAA). O endereço na internet é www.iac.sp.gov.br.
2 IBGE: www.ibge.gov.br
3 CONAB: www.conab.gov.br
4 USDA: http://www.usda.gov
5 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-22/2006.
Data de Publicação: 22/03/2006
Autor(es):
José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Roberto de Assumpçao (rassumpçao@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor