Amendoim: evolução da balança comercial paulista

            O saldo da balança comercial paulista para grãos e produtos de amendoim foi positivo em US$ 54,4 milhões em 2005, um aumento de 49% em relação a 2004. Os últimos cinco anos vêm registrando variações positivas: 2003 foi o ano de maior expansão das exportações, com acréscimo de 230% sobre 2002. Os anos seguintes não atingem o mesmo desempenho, provavelmente em função de certa acomodação do mercado de exportações e da valorização cambial que ocorre desde maio de 2004.
            Os piores desempenhos das exportações e importações de cinco produtos de amendoim foram registrados nos anos de 1997 e 2000, segundo dados da Secretaria de Comércio Exterior (SECEX)1 para o Estado de São Paulo, o maior produtor brasileiro de amendoim2, no período de 1996 a 2005.
            O grande destaque das exportações é o amendoim descascado, que em 2005 representou 58% do total das vendas externas dos produtos considerados. A partir de 2001, essa mercadoria passou a contribuir positivamente para o saldo da balança e sua importação praticamente deixou de existir. Em 2003, registrou variação de +146%, que em 2004 chegou a +251%, mas, no último ano série, ficou em +25% (figura 1).

Figura 1 - Balança comercial paulista de amendoim descascado, 1996-2005

                      Fonte: Instituto de Economia Agrícola (IEA), a partir de dados da SECEX (2006)

            As importações registraram os maiores valores nos anos de 1996 e 1997. Entre os principais países fornecedores de amendoim descascado, está a Argentina que responde por 97% das aquisições brasileiras do período analisado.
            Os anos de 2004 e 2005 registraram os maiores valores em exportações de amendoim descascado, de respectivamente US$ 23 milhões e US$ 32 milhões, contra cerca de US$ 7 milhões em 2003. As exportações dessa mercadoria deram um salto a partir de 2000, dobrando de valor em 2003 quando o ano de comparação é 2002. A Europa é o principal destino do produto brasileiro: a Holanda aparece com 41%, seguida do Reino Unido (19%), da Itália (cerca de 10%), Polônia (6%) e Espanha (em torno de 10%). Outros países como Alemanha, Rússia e Argélia também se destacam.
            Para o amendoim com casca, a evolução da balança comercial apresenta valores bem inferiores aos do amendoim descascado, indicando uma tendência do mercado externo (figura 2). O último ano da série apresenta queda de 19% em relação a 2004. Porém, apenas em 1997 observa-se saldo comercial negativo, em virtude do aumento das importações, principalmente do Paraguai (89%), da Argentina (8%) e da China (cerca de 2%). Outros países como o Líbano e a Tailândia também aparecem como fornecedores.

Figura 2 - Balança comercial paulista do amendoim com casca, 1996-2005

                     Fonte: IEA, a partir de dados da SECEX (2006)

            Em 1997, as exportações de amendoim com casca registraram o seu pior desempenho. Mas nos demais anos da série verificou-se um comportamento bastante homogêneo, com exceção de 2004 e 2005 quando ocorreu elevação acentuada. Os principais destinos são os países europeus, com destaque para a Espanha que representa 43% dos valores exportados. A Holanda aparece com 24%, seguida da Itália (22%), além de Portugal e Polônia. Na América do Sul, os destinos são o Uruguai, Chile e o Peru.
            O item amendoins preparados ou conservados apresenta um comportamento diferente do dos demais analisados, isto porque o saldo comercial foi negativo até 2003 (figura 3). A partir de então, passou a registrar um aumento nas exportações ao mesmo tempo em que as importações diminuíram, indicando variação positiva de 17% em 2005, comparado com 2004.
            Nos últimos cinco anos, houve redução de 50% no volume importado de amendoins preparados. Contudo, os principais fornecedores são os mesmos ao longo de toda a série, com 70% provenientes da Argentina e 15% dos Estados Unidos, além de outros países como Espanha, Líbano, Holanda, Bélgica e Suíça.

Figura 3 - Balança comercial paulista dos amendoins preparados ou conservados, 1996-2005

                      Fonte: IEA, a partir de dados da SECEX (2006)

            São vários os destinos para os amendoins preparados ou conservados. No período de 1996 a 2005, foram registradas exportações para 61 países, dos quais os mais representativos são Venezuela, Peru, Japão, Estados Unidos, Canadá, Chile, Uruguai, África do Sul e Panamá. Os anos de 2004 e 2005 indicam os maiores valores exportados, em torno de US$ 2,6 milhões por ano. No período de 1999 a 2003, a média em valor exportado era de US$ 587 mil por ano.
            O Estado São Paulo já foi um dos maiores produtores mundiais de óleo de amendoim. Atualmente, a cadeia de produção do amendoim apresenta uma nova dinâmica, mas o óleo em bruto continua tendo espaço. É o que mostra a evolução na sua balança comercial, cujas exportações apresentam variação anual positiva de cerca de 140% nos anos de 2004 e 2005, apesar de terem enfrentado períodos difíceis como o de 2000 a 2002 (em 2000 não há registros na SECEX) (figura 4).

Figura 4 - Balança comercial paulista do óleo de amendoim em bruto, 1996-2005

                       Fonte: IEA, a partir de dados da SECEX (2006)

            O período de 1996 a 1999 responde pelas maiores importações de óleo de amendoim em bruto, principalmente da França, com 43% do total (em valores). Em seguida, aparecem como fornecedores a Argentina (20%) e o Paraguai (12%). Os anos seguintes (2000 a 2003) não registraram importações paulistas para aquele produto. Porém, em 2004 e 2005 as importações foram retomadas, em volume menor, surgindo a Austrália como principal fornecedor.
            O período 1996-99 foi marcado por algumas alterações nos volumes de exportações de óleo de amendoim em bruto. Já no período 2000-2002 os valores caíram, sendo que em 2000 não foram registradas exportações para esse produto. Porém, a partir de 2003 as exportações se recuperaram e, em 2005, atingiram US$ 15,7 milhões contra US$ 5,3 milhões em 1998. Os principais destinos foram Itália e Holanda que juntos representaram 76% do total.
            Para os outros óleos de amendoim (refinados), a evolução da balança comercial apresentou um período em que prevaleciam importações. Mais recentemente, verificou-se inversão no saldo comercial com um salto no ano de 2003. A balança comercial do produto apresentou variação positiva de 8% em 2004 e de cerca 40% em 2005 (figura 5). Por outro lado, as importações diminuíram, mas não deixaram de acontecer, com média de US$ 118 mil (FOB) por ano. Os maiores fornecedores foram a Holanda com 34%, Alemanha (21%) e Estados Unidos e Canadá com cerca de 10% das importações cada um.

Figura 5 - Balança comercial paulista dos outros óleos de amendoim, 1996-2005

                    Fonte: IEA, a partir de dados da SECEX (2006)

            A Holanda também é o principal destino para o óleo refinado de amendoim, com praticamente 90% das exportações. Outros países importadores são a Argentina, Portugal e, apenas em 2005, Itália e Bélgica. As exportações desse produto são mais constantes a partir de 2003, registrando uma variação positiva de 6% de 2003 para 2004 e de 33% de 2004 para 2005.
            Na maioria dos produtos analisados, os anos 1997 e 2000 foram os de pior desempenho, com as importações superando as exportações. Isto pode ser resultado da falta de perspectivas que contextualizava a produção agrícola paulista do amendoim no período de 1996 a 2000.
            A partir de 2001, as exportações passaram por grande expansão e encerraram 2005 como o ano de melhor desempenho, principalmente para os produtos de maior valor agregado como o amendoim descascado, os amendoins preparados e os óleos de amendoim. Por outro lado, as importações foram reduzidas, num reflexo de que a indústria processadora paulista está sendo suprida por matéria-prima em grande parte proveniente da produção agrícola do próprio Estado.
            Essa inversão de cenários na balança comercial pode ser explicada pela política cambial adotada a partir de janeiro de 1999, quando passou a vigorar o câmbio flutuante, e que produziu no momento uma desvalorização consistente e elevada da moeda nacional. Isto proporcionou melhores preços internos e estimulou o investimento em tecnologia na produção do amendoim, tornando o produto paulista mais competitivo no mercado externo.
            Essa nova dinâmica é notada a partir do ano 2000, com a adoção de variedades mais produtivas, colheita mecanizada, secagem artificial, cuidados na armazenagem, além da maior articulação entre os agentes da cadeia de produção.
            A partir de maio de 2004, a sobrevalorização da moeda nacional torna o produto importado mais barato, enquanto o nacional perde competitividade em preço. Os reflexos da política cambial já estão presentes no comportamento do produtor. Segundo a previsão de safras 2005/06 do Instituto de Economia Agrícola (IEA)3, a safra paulista para o amendoim das águas apresenta queda de 22,7% na área plantada e de 17,6% na produção, em relação à safra anterior, embora o rendimento indique aumento de 29,3%.
            Assim, o desempenho das exportações paulistas do amendoim este ano, como de qualquer outro produto exportável, dependerá muito do patamar do câmbio. Por outro lado, o aumento da demanda interna por matéria-prima para as indústrias de confeitos e de óleos só será impulsionado na proporção do aumento da renda e do consumo que têm apresentado níveis positivos, mas reduzidos.
            Outro fator a ser considerado é a qualidade do produto proveniente das próximas safras: a das águas, cuja colheita será concluída no mês de março, e da seca que tem seu ciclo entre os meses de fevereiro e julho.4
 

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1 SECEX/MDIC Secretaria de Comércio Exterior, Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior, segundo a NCM: amendoim com casca (12021000); amendoim descascados (12022090); amendoins preparados ou conservados (20081100); óleo de amendoim em bruto (15081000) e outros óleos de amendoim (15089000). <www.aliceweb.desenvolvimento.gov.br>.
2 CONAB. <www.conab.gov.br>.
3 Previsões e Estimativas das safras para 2005/06 <www.iea.sp.gov.br>.
4 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-19/2006.

Data de Publicação: 16/03/2006

Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor