Commodities: cotação do açúcar dobra em doze meses

 

            Em fevereiro, os mercados internacionais de commodities continuaram a apresentar forte tendência de alta, com exceção do café e do cacau. Das onze commodities analisadas neste artigo, o preço do açúcar aumentou acima de 10% nos mercados de futuros, enquanto o suco de laranja, o trigo e a borracha natural tiveram aumento entre 5% e 10%. 


            O açúcar acumulou alta no ano de 29,39% na Bolsa de Nova Iorque, refletindo as expectativas de menor oferta em 2006 e 2007 em nível mundial, além da concorrência do álcool pela matéria prima cana-de-açúcar.
            Por sua vez, as cotações do boi gordo apresentaram recuperação em fevereiro. No caso da cotação em real, observou-se leve alta, enquanto a cotação em dólar foi mais expressiva, uma vez que a moeda norte-americana caiu 3,63% no mês. Mas as cotações em real estão no menor nível dos últimos doze meses em função do excesso de oferta, da elevada taxa de abate de matrizes e das restrições às exportações, que se mantêm devido à lentidão do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 em resolver a questão dos focos do Paraná. 


            Já no acumulado de 2006, apenas a soja apresenta leve queda, enquanto, no acumulado de doze meses, a evolução das cotações das commodities indica alta em geral, com exceção do café, cacau e do boi gordo (em real). 


            A tabela 1 mostra os resultados da análise das cotações médias mensais em fevereiro, no acumulado de 2006 e de doze meses das principais commodities agrícolas. Tem como base as cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em novembro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, cacau, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.

Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, em fevereiro, no acumulado de 2006 e em doze meses
(em percentagem)

Commodities
Mercado
Fevereiro 
Acumulado 
Acumulado 
 
 
 2006
em 2006
em doze meses
Açúcar
NY
11,69
29,29
93,62
Algodão
NY
0,55
6,43
22,19
Café arábica
NY
-5,97
13,56
-1,50
Café robusta
Lo
-2,72
7,09
43,95
Cacau
NY
-3,01
1,42
-6,86
Suco Laranja CC
NY
5,77
2,26
47,42
Soja grão
CHT
0,62
-0,50
10,42
Milho 
CHT
4,74
9,65
12,10
Trigo
CHT
7,16
12,44
19,85
Borracha SM20
Malásia
8,74
16,35
49,36
Boi
BM&F
7,58
6,40
4,99
Boi – em reais
BM&F
2,47
0,81
-12,59
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F

            O açúcar registrou o melhor desempenho entre as commodities analisadas, mantendo a tendência de alta em fevereiro, com as cotações do produto atingindo o maior patamar desde 1981. O aumento, quefoi de 11,69% em relação ao valor médio do mês anterior, é fruto de uma combinação entre a oferta mundial apertada, em razão da redução da safra em países da Ásia, e o maior uso de cana no Brasil para a produção de álcool. Assim, com a alta de fevereiro, o preço médio do açúcar cresceu 29,29% em 2006 e 93,62% nos últimos doze meses, o maior entre as commodities. 


            Entre as commodities negociadas na Bolsa de Nova York, o suco de laranja voltou a registrar alta em fevereiro (5,77%), pois as cotações continuam pressionadas por um mercado crescente e pela menor oferta, especialmente devido ao desempenho da Flórida. Assim, no acumulado de 2006, a alta foi de 2,26% e, em doze meses, de 47,42%, vindo logo depois do açúcar e da borracha natural. 


            Já o café arábica perdeu fôlego em fevereiro e reverteu a tendência, com a cotação média apresentando baixa de 5,97% em relação a janeiro de 2006. O mercado de café tem encontrado suporte na redução dos estoques internacionais e na expectativa de menor oferta mundial em 2006 e 2007. Mas, dadas as fortes especulações dos fundos de investimento, os bons fundamentos do mercado não têm sustentado as cotações. No acumulado de 2006, houve alta de 12,56%, enquanto no acumulado de doze meses o produto teve queda de 1,50%. 


            A forte tendência de alta dos preços do cacau reverteu-se com a normalização das condições do clima na Costa do Marfim, o maior produtor mundial, e a queda foi de 3,01%. No ano de 2006, houve alta acumulada de 1,42%, enquanto que em doze meses a queda foi de 6,86%. 


            Os preços do algodão, na Bolsa de Nova York, apresentaram leve alta de 0,55% na média de fevereiro em relação a janeiro de 2006. Isto ocorreu devido ao crescimento dos embarques americanos e ao aumento no consumo mundial. Quando se considera o acumulado de 2006, a alta foi de 6,43%, enquanto nos últimos doze meses o algodão apresentou crescimento de 22,19% (tabela 1). 


            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

 

            A soja teve em fevereiro leve valorização (0,62%) no mercado de Chicago, em relação à média de janeiro de 2006, pressionada pelo mercado de clima devido à estiagem na Argentina e no Sul do Brasil. As expectativas são de menores preços em março em função da forte especulação dos fundos com posições de investimento em soja. Também nesse mês ocorrerá colheita expressiva de safra no Hemisfério Sul, próxima de 100 milhões de toneladas. No acumulado de 2006, a queda foi de 0,50%, enquanto em doze meses houve alta de 10,42%. 


            No caso do milho, o comportamento em Chicago foi o de manter leve recuperação nas cotações. No mês de fevereiro, a cotação média subiu 4,74%; no acumulado de 2006, a alta foi de 9,65% e em de doze meses foi 12,10%. O aumento observado está associado às estimativas iniciais de redução da área plantada nos Estados Unidos e à pressão da demanda por milho para produção de etanol. 


            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            O trigo foi a outra commodity que se valorizou em fevereiro, com alta de 7,16% sobre a cotação média de janeiro de 2006. Os preços do cereal foram sustentados pelo aumento da demanda e pela menor oferta mundial no ano safra de 2005/06. Assim, as cotações do trigo na Bolsa de Chicago apresentaram alta acumulada de 12,44% em 2006. Nos últimos doze meses, o aumento atingiu 19,85%. 


            As cotações do café robusta na Bolsa de Londres não conseguiram sustentar-se em função de maior oferta de origem e das ações especulativas dos fundos de investimento. A queda foi de 2,72% em relação à média de janeiro. Mas, no acumulado de 2006, verificou-se alta de 7,09% e no acumulado dos últimos doze meses atingiu um crescimento de 43,95% (tabela 1). 


            Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:

            A cotação da borracha natural continuou em alta (8,74%), o que tornou o produto o segundo destaque de fevereiro, devido à forte demanda da China e dos demais países asiáticos. No acumulado de 2006, a alta foi de 16,25%, enquanto em doze meses o preço cresceu 49,36%, a segunda maior alta acumulada. Esta alta nas cotações internacionais em fevereiro deverá refletir em maiores preços para os produtores brasileiros de borracha natural. Isto deverá compensar a queda de 3,63% na cotação do dólar no mês, tendo em vista que o preço interno da borracha natural é referenciado pela cotação da borracha no mercado internacional internalizada no país. 


            As cotações da borracha natural nos últimos 12 meses, no mercado da Malásia, podem ser observadas no gráfico seguinte:

            O mercado de futuros do boi gordo na BM&F mudou a tendência em fevereiro devido à leve alta em reais (2,47%). No caso das cotações em dólar, o aumento foi de 7,58% devido à queda de 3,53% na cotação do dólar no mês. Além disso, continuam as dificuldades de controle da aftosa no Paraná, o que, em conjunto com as restrições às exportações e a elevada oferta, tem impedido uma recuperação das cotações do produto.
            No acumulado de 2006, a alta foi de 0,81% em real e de 6,40% em dólar, mas no acumulado de doze meses as cotações caíram em real (12,59%) e subiram em dólar (4,99%), mostrando o efeito da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo.
            O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:

            A safra brasileira de grãos de verão do ano agrícola 2005/06 já se encontra em plena colheita. Pelas análises acima, verifica-se que o agronegócio brasileiro tem de enfrentar novamente condições desfavoráveis no mercado internacional de algodão, soja, milho e trigo. Além disso, deve se considerar que as cotações de soja e milho no mercado de Chicago estão entre 5% e 10% acima do estimado pelos diferentes agentes do mercado, em função da ação dos fundos de investimento que estão fortemente carregados com contratos desses dois produtos.

           Tem-se ainda o crescimento dos custos de logística e as dívidas de 2005 que limitam acesso ao crédito e aos financiamentos dos fornecedores de insumos e exportadores.


            Nesse contexto, o principal papel das políticas públicas para o agronegócio brasileiro será o de viabilizar liquidez ao mercado, de forma a regular o fluxo de comercialização com o objetivo de administrar pressões localizadas e gerais, neste caso especialmente para os produtos que dependem mais do mercado interno, como o milho. Isto se torna mais importante quando os preços de milho, soja e algodão apresentaram expressiva queda em fevereiro, o que se deverá intensificar à medida que parcelas crescentes dos produtos forem colhidas, além da baixa liquidez do mercado.


            O Governo Federal, por intermédio do MAPA, vem articulando uma 'MP do Bem'. Mas o receio é de que as medidas como sempre cheguem tarde demais e os agricultores tenham de intensificar as vendas, reduzindo ainda mais suas rendas e aprofundando a crise do setor de grãos e fibras do país. 2

 

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1 MAPA: www.agricultura.gov.br 


2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-21/2006

Data de Publicação: 08/03/2006

Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor