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Impactos da aftosa nas vendas externas de carne bovina não-processada
A detecção da ocorrência de focos de febre aftosa no Mato Grosso do Sul, e posteriormente no Paraná, afetou a tendência das exportações brasileiras de carne bovina não-processada, que corresponde à carne bovina resfriada e congelada. Muitos países importadores suspenderam as compras de carne brasileira com diversos níveis de abrangência e de exigência, afetando de forma decisiva os totais comercializados.
As exportações brasileiras de carnes bovinas fresca e congelada totalizaram em 2005 US$ 2,49 bilhões, com crescimento de 22% em relação a 2004 (US$ 2,04 bilhões). Para o volume em toneladas, as exportações cresceram 16% no mesmo período, passando de 992 mil toneladas para 1,15 milhão de toneladas. Já as importações de produtos de carne bovina chegaram a US$ 84,7 milhões em 2005, ou 11,7% a mais comparadas com as de 2004. Porém, a quantidade importada foi de 42 mil toneladas em 2005, com queda de 4,38% em relação ao ano anterior, devido à boa oferta de carnes no mercado interno. Portanto, o saldo da balança comercial em 2005 registrou o valor de US$ 2,40 bilhões, um crescimento de 22,4% em comparação com o de 2004 (tabela 1).
Desde 1997, o aumento nas exportações apresentou taxas expressivas, à exceção do ano de 2002 (+4,9%). O bom desempenho nos últimos dois anos, quando as exportações apresentaram os melhores resultados da história brasileira, é refletido no crescimento expressivo de 69% em 2004 e de 22% em 2005. Em dólares, o valor exportado passou de US$ 1,2 bilhão em 2003 para US$ 2,49 bilhões em 2005 (tabela 1 e figura 1).
Tabela 1 - Comércio exterior do Brasil de carne bovina resfriada e congelada, em US$ (FOB), de 1997 a 2005
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| 203.692.877 | 213.807.787 | -10.114.910 | |||
| 291.133.692 | 42,93 | 172.635.600 | -19,26 | 118.498.092 | 1.271,52 |
| 465.611.499 | 59,93 | 81.179.382 | -52,98 | 384.432.117 | 224,42 |
| 534.161.187 | 14,72 | 110.932.802 | 36,65 | 423.228.385 | 10,09 |
| 770.237.666 | 44,20 | 60.197.922 | -45,73 | 710.039.744 | 67,77 |
| 808.076.058 | 4,91 | 72.220.621 | 19,97 | 735.855.437 | 3,64 |
| 1.206.963.450 | 49,36 | 64.617.124 | -10,53 | 1.142.346.326 | 55,24 |
| 2.040.491.942 | 69,06 | 75.844.313 | 17,37 | 1.964.647.629 | 71,98 |
| 2.489.672.289 | 22,01 | 84.718.383 | 11,70 | 2.404.953.906 | 22,41 |
Fonte: elaborado pelo IEA a partir de dados básicos do SECEX/MDIC
Essa performance também pode ser verificada no volume exportado, cujas vendas ultrapassaram a marca de 1,15 milhão de toneladas em 2005. Já as importações vêm registrando quedas consecutivas, exceto em 2002, mesmo com a valorização do real nos últimos dois anos (tabela 2).
Tabela 2 - Comércio exterior do Brasil de carne bovina resfriada e congelada, em toneladas, de 1997 a 2005
59.418 | 125.419 | -66.001 | ||||
93.277 | 56,98 | 92.029 | -26,62 | 1.248 | 101,89 | |
169.310 | 81,51 | 56.626 | -38,47 | 112.684 | 8.930,13 | |
215.651 | 27,37 | 70.293 | 24,14 | 145.358 | 29,00 | |
400.832 | 85,87 | 34.613 | -50,76 | 366.220 | 151,94 | |
466.377 | 16,35 | 63.266 | 82,78 | 403.111 | 10,07 | |
671.424 | 43,97 | 52.205 | -17,48 | 619.220 | 53,61 | |
992.623 | 47,84 | 44.263 | -15,21 | 948.360 | 53,15 | |
1.151.419 | 16,00 | 42.324 | -4,38 | 1.109.095 | 16,95 |
Fonte: elaborado pelo IEA a partir de dados básicos do SECEX/MDIC
Assim, a detecção da febre aftosa, por ter ocorrido no final do ano, não teve efeito suficiente em 2005 para afetar as quantidades e os valores recordes das exportações brasileiras de carne bovina concretizados nesse ano.
A análise do destino das exportações de carne bovina mostra que os países da União Européia responderam por 32,7% das vendas brasileiras em 2005, que somaram US$ 813 milhões (crescimento de 5% em relação ao ano anterior). Em volume, foram 229,7 mil toneladas em 2005 (+10,2%), que corresponderam a 20% das exportações brasileiras de carnes. Em função da relevância do mercado da União Européia para a carne bovina brasileira, as restrições abrangentes aplicadas por esse bloco econômico afetaram de forma decisiva os resultados de 2005, promovendo crescimento inferior à média. Para os países do Oriente Médio, as vendas em 2005 atingiram US$ 174 milhões (7,0% do total), mas apresentaram variação negativa (-35,9%) em comparação com 2004. O mesmo ocorreu com a quantidade vendida, que registrou queda de 44,6% em relação a 2004 (tabelas 3 e 4).
As exportações para o North America Free Trade Agreement (NAFTA) mostraram que o volume comercializado de carnes fresca e congelada tem pouca representatividade (participação de 0,02% do mercado). Foram apenas US$ 420,8 mil em 2005 contra US$ 648,5 mil de 2004, uma variação negativa de 35,1%. Houve queda também em termos de quantidade (26%). Deve se registrar que os Estados Unidos importam do Brasil apenas produtos industrializados de carnes bovinas. Para os demais países não estão incluídos nos blocos citados, que respondem por 60,3% das vendas brasileiras, as exportações alcançaram a marca de US$ 1,5 bilhão em 2005, um significativo crescimento de 51%. A quantidade também aumentou (33%) no último ano, para 834 mil toneladas em relação às 627 mil toneladas de 2004 (tabelas 3 e 4). Isso revela a enorme diversificação quanto ao destino da carne bovina, que foi aprofundada em 2005.
Tabela 3 - Destino das exportações brasileiras de carnes bovinas fresca e congelada, em US$, 2004 e 2005
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UNIAO EUROPÉIA - UE | 773.741.021 | 37,92 | 813.348.928 | 32,67 | 5,12 |
ORIENTE MÉDIO | 272.546.285 | 13,36 | 174.764.213 | 7,02 | -35,88 |
NAFTA | 648.507 | 0,03 | 420.889 | 0,02 | -35,10 |
DEMAIS PAÍSES | 993.556.129 | 48,69 | 1.501.138.259 | 60,29 | 51,09 |
TOTAL | 2.040.491.942 | 100,00 | 2.489.672.289 | 100,00 | 22,01 |
UNIAO EUROPÉIA - UE | 208.591 | 21,01 | 229.796 | 19,96 | 10,17 |
ORIENTE MÉDIO | 156.084 | 15,72 | 86.456 | 7,51 | -44,61 |
NAFTA | 335 | 0,03 | 247 | 0,02 | -26,17 |
DEMAIS PAÍSES | 627.613 | 63,23 | 834.919 | 72,51 | 33,03 |
TOTAL | 992.623 | 100,00 | 1.151.419 | 100,00 | 16,00 |
O detalhamento por país mostra que a Rússia é o principal comprador da carne bovina brasileira, com 22,7% de participação nas vendas nacionais. Os russos ultrapassaram os US$ 564 milhões em 2005, com o magnífico crescimento de 133,0% em relação a 2004, a preços superiores face ao incremento de 91,1% na quantidade exportada no mesmo período. O Egito passou da quarta posição em 2004 para o segundo lugar em 2005, ao atingir US$ 192 milhões (10,3% do mercado) com um crescimento de 50,0%. Em volume, também registrou números positivos, com variação de 24,3% e participação de 17,9% do embarque de carnes. Já o Reino Unido aumentou as importações da carne brasileira em 47,3%, de US$ 123,6 milhões em 2004 para US$ 181,9 milhões em 2005 (tabelas 5 e 6).
Tabela 5 - Países de destino das exportações brasileiras de carnes bovinas fresca e congelada, em US$, 2004 e 2005
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Rússia | 242.474.190 | 11,9 | 1 | 564.861.012 | 22,7 | 1 | 132,96 |
Egito | 170.886.298 | 8,4 | 4 | 256.452.954 | 10,3 | 2 | 50,07 |
Holanda | 215.680.331 | 10,6 | 2 | 192.316.897 | 7,7 | 3 | -10,83 |
Reino Unido | 123.516.828 | 6,1 | 6 | 181.881.427 | 7,3 | 4 | 47,25 |
Itália | 135.563.349 | 6,6 | 5 | 152.807.841 | 6,1 | 5 | 12,72 |
Chile | 199.067.657 | 9,8 | 3 | 140.023.507 | 5,6 | 6 | -29,66 |
Alemanha | 84.481.051 | 4,1 | 8 | 79.827.510 | 3,2 | 7 | -5,51 |
Argélia | 61.433.924 | 3,0 | 12 | 75.696.597 | 3,0 | 8 | 23,22 |
Hong Kong | 77.986.845 | 3,8 | 9 | 74.025.527 | 3,0 | 9 | -5,08 |
Bulgária | 27.341.180 | 1,3 | 17 | 69.423.974 | 2,8 | 10 | 153,92 |
Espanha | 76.984.127 | 3,8 | 10 | 56.700.084 | 2,3 | 12 | -26,35 |
Irã | 102.073.304 | 5,0 | 7 | 11.836.658 | 0,5 | 31 | -88,40 |
Demais Países | 523.002.858 | 25,6 | . | 633.818.301 | 25,5 | 21,19 | |
Total | 2.040.491.942 | 100,0 | . | 2.489.672.289 | 100,0 | 22,01 |
Fonte: elaborado pelo IEA a partir de dados básicos do SECEX/MDIC
Tabela 6 - Países de destino das exportações brasileiras de carnes bovinas fresca e congelada, em toneladas, 2004 e 2005
Fonte: elaborado pelo IEA a partir de dados básicos do SECEX/MDIC
A evolução recente das exportações brasileiras de carne bovina não-processada revela que, desde janeiro de 2000, se tem um avanço persistente das vendas mensais. Mas os embarques se concentram nos meses de julho a novembro, com redução no final de cada ano que continua nos primeiros meses do ano seguinte. No tocante aos efeitos da detecção do foco de aftosa, as exportações dos meses seguintes tiveram quedas consideráveis, de 25,4% (setembro), 44,5% (outubro), 39,3% (novembro) e 42,2% (dezembro) (figura 2). Isto tomando por base as exportações de carnes fresca e congelada no mês de agosto de 2005, quando se registrou a maior marca da história com US$ 289 milhões.
Numa avaliação dos efeitos do surgimento do foco da febre aftosa no Mato Grosso do Sul, em setembro último, e em seguida no Paraná, as quedas verificadas são mais expressivas que as reduções sazonais de final de cada ano. Também essa redução começou muito antes do normal, ou seja em setembro.
Dado que em janeiro e fevereiro de cada ano as vendas de carnes são menores que nos demais meses, apenas a partir do final do primeiro semestre de 2006 é que será possível definir um quadro tendencial consistente para os impactos da aftosa nas exportações. Além do que a gripe aviária na Europa impacta negativamente o consumo de carne de frango que redunda na sua substituição por outras carnes, nas vendas externas da carne bovina brasileira. Tendo sido 2005 um ano excepcional até essa ocorrência e a coincidência desse fato com o ciclo sazonal de baixa , o tamanho do ajuste para baixo ainda não se manifestou na sua plenitude e depende, naturalmente, do sucesso das ações da diplomacia comercial em atenuar ou suspender os embargos adotados por mais de 40 países.1
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1 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-016/2006.
Data de Publicação: 24/02/2006
Autor(es):
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Sidnei Gonçalves (sydy@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor