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Impactos da sazonalidade na safra de soja
Um dos maiores desafios dos executivos da cadeia de produção da soja, além de elaborar estratégias comerciais, é o de administrar a sazonalidade, característica predominante na maioria dos produtos agrícolas. Essa situação ocorre geralmente entre os meses de março-maio e, em alguns anos, se estende até os meses de junho e/ou julho. Nesse período, a pressão da demanda de soja grão e farelo por transporte até os portos força uma elevação nos fretes rodoviários (figura 1), criando espaço para que as empresas ferroviárias e hidroviárias também aumentem seus preços. De certa forma, os fretes ferroviários e hidroviários estão fortemente indexados ao rodoviário neste período.
Figura 1 - Evolução do frete rodoviário da soja grão, Campo Verde (MT) – Santos (SP), 2004 (R$/ton.)
Fonte: Companhia Vale do Rio Doce (2005)
As exportações de soja e farelo do Brasil, sobretudo do Estado Mato Grosso, são os melhores indicadores da sazonalidade da demanda por transporte. Esse fator contribui para a formação dos preços da logística até o porto, incluindo os fretes rodoviários, ferroviários e a elevação no porto.
Em 2005, a movimentação de soja e farelo nos portos alcançou 36,9 milhões de toneladas, 9.3% superior à do ano anterior.
Os picos de exportação ocorrem no período da colheita (figura 2), que acontece no primeiro semestre. Somado a isso, o comportamento das cotações da soja em Chicago (figura 3), com a entrada da safra dos Estados Unidos, promove a queda dos preços no mercado internacional.
Figura 2- Sazonalidade das exportações brasileiras de soja + farelo, 2003-2005 (milhões de toneladas)
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do SECEX1 (2006).
Vale destacar que em 2005 o pico das exportações da soja+farelo no primeiro semestre foi atenuado pelo comportamento mais regular das saídas do farelo de soja e, ainda, pela constância dos preços de Chicago nos meses de junho e julho do mesmo ano.
Figura 3 - Evolução das cotações de soja em Chicago, 1o Vencimento, 2003-2005 (US$/ton.)
O armazenamento da soja para diluir o escoamento ao longo de todo o ano nem sempre é um bom negócio. A concentração então acaba gerando picos de necessidade na estrutura logística do país, que devem ser comportados pelos portos, rodovias e ferrovias.
No período de janeiro a julho de 2005, aproximadamente 59% da soja e do farelo já haviam sido exportados. E em setembro o escoamento chegou a 82%. As exportações concentraram-se entre os meses de março e julho, com 52% do volume total, representando 19,1 milhões de toneladas (tabela 1).
Tabela 1 - Sazonalidade das exportações de soja + farelo, Brasil e Mato Grosso 2004-2005 (%)
Fonte: Elaborado pelo autor com base nos dados do SECEX (2006)1
O Estado do Mato Grosso, principal exportador brasileiro e responsável por 34,7% das exportações de soja e farelo em 2005, também apresentou pico de exportações que ocorreu nos meses de março a julho.
A partir das curvas de exportação da soja + farelo, verificam-se os períodos mais demandados por transporte e seus impactos nos preços. Conforme mencionado, a concentração nos períodos de safra exige maior capacidade dos portos, principalmente de Santos e Paranaguá, por onde passam as maiores quantidades de soja e farelo para exportação.
Esse cenário, somado a uma relativa escassez de armazéns nos portos e no interior, faz com que os operadores do mercado de soja tenham de planejar sua logística com cuidado, de maneira a reduzir os custos, aumentando assim sua competitividade.
Uma alternativa para o setor, na tentativa de equacionar a sazonalidade do mercado, é o planejamento e a contratação antecipada dos operadores logísticos. Por outro lado, planos de melhorias para a logística brasileira já existem no Governo Federal, dentre eles o Plano de Revitalização das Ferrovias, estimado para ser realizado em três etapas, conforme estabelecimento de prioridades. No Plano Plurianual 2004-2007, também estão incluídas obras que buscarão melhorar a infra-estrutura de portos considerados críticos. O governo prevê a realização dessas melhorias no sistema logístico principalmente através da obtenção de recursos com as PPP´s (Parcerias Público-Privadas). 2, 3
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1 Informações com base nos dados da Secretária do Comércio Exterior (SECEX) do Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior. Disponível em: http://aliceweb.desenvolvimento.gov.br/.
2 HIJJAR, M. A. Logística, Soja e Comércio Internacional. 2004. Disponível em: <http://www.cel.coppead.ufrj.br/fs-public.htm>.
3 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-014/2006.
Data de Publicação: 24/02/2006
Autor(es): Andréa Leda Ramos De Oliveira (andrea@iea.sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor