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Commodities: o destaque de janeiro foi o café, com forte alta
Em janeiro, os mercados internacionais de commodities continuaram a apresentar forte tendência de alta, com exceção do suco de laranja e da soja. Das nove commodities analisadas neste artigo, café arábica, açúcar e café robusta tiveram aumento de preço acima de 10% nos mercados de futuros. Tabela 1 – Variação dos preços médios mensais das commodities nos diferentes mercados futuros, segunda posição, janeiro de 2006, no acumulado em doze meses O açúcar registrou o segundo melhor desempenho entre as commodities analisadas, mantendo a tendência de alta em janeiro, com as suas cotações atingindo o maior patamar desde 1981. O aumento, que foi de 15,75% em relação ao valor médio do mês anterior, é fruto de uma combinação entre a oferta mundial apertada, em razão da redução da safra em países da Ásia, e o maior uso de cana no Brasil para a produção de álcool. Assim, com a alta de janeiro, o preço médio do açúcar cresceu 75,38% nos últimos doze meses, o maior entre as commodities.
O café arábica começou o ano com alta de 20,76% sobre a cotação média de dezembro de 2005 na Bolsa de Nova Iorque, refletindo as expectativas de menor oferta em 2006 e 2007 a nível mundial. O açúcar continuou em alta, vindo logo depois do café, com cotações que atingiram o maior patamar desde 1981.
Por sua vez, o boi gordo teve em janeiro as menores cotações dos últimos doze meses. Isto ocorreu em função do excesso de oferta, da elevada taxa de abate de matrizes e das restrições às exportações devido ao atraso no controle dos focos de aftosa por parte do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA)1 e do governo paranaense.
Já no acumulado de doze meses, a evolução das cotações das commodities indica alta em geral, com exceção do boi. A tabela 1 mostra os resultados da análise das cotações médias mensais e no acumulado de doze meses das principais commodities agrícolas. Tem como base às cotações médias mensais dos contratos futuros de segunda posição de entrega, realizados em novembro e negociados nas bolsas de Chicago (trigo, soja e milho) e de Nova York (açúcar, café, algodão e suco de laranja), além da borracha na Malásia, do café robusta em Londres e do boi na BM&F.
(em percentagem)
Fonte: Elaborado pelo IEA a partir dos dados das Bolsas Internacionais e da BM&F Commodities Açúcar Algodão Café arábica Café robusta Suco Laranja CC Soja grão Milho Trigo Borracha SM20 Boi Boi – em reais
Entre as commodities negociadas na Bolsa de Nova York, o suco de laranja foi a única que registrou queda em janeiro (-3,31%) pois as cotações foram pressionadas por realizações de lucros e pela expectativa de recuperação da produção da Flórida. Porém, no acumulado de doze meses, apresenta alta de 45,72%, vindo logo depois do açúcar e do café robusta.
Já o café arábica foi o campeão de alta em janeiro, com crescimento de 20,76% na sua cotação média em relação a dezembro de 2005. O mercado de café tem encontrado suporte na redução dos estoques internacionais e na expectativa de menor oferta mundial em 2006 e 2007. No acumulado de doze meses, o produto teve aumento de 17,26%.
Os preços do algodão, na Bolsa de Nova York, também apresentaram alta de 5,85% na média de janeiro em relação a dezembro de 2005. Isto ocorreu devido ao crescimento dos embarques americanos. Quando se considera o acumulado dos últimos doze meses, o algodão apresenta crescimento de 21,17% (tabela 1).
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
O preço médio da soja, no mercado de Chicago, caiu 1,12% em relação à média de dezembro, pressionado pela normalização das precipitações na Argentina. No acumulado de doze meses, a alta foi de 12,71% por causa do aumento de 18,37% nos estoques mundiais.
No caso do milho, o comportamento em Chicago foi de leve recuperação nas cotações. No mês de janeiro, a cotação média subiu 4,68%; no acumulado de doze meses, 7,34%. A alta observada está associada às estimativas iniciais de redução da área plantada nos Estados Unidos
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
A menor oferta de trigo na União Européia e na Argentina tem dado sustentação às cotações da commodity. Assim, as cotações do trigo na Bolsa de Chicago apresentaram alta de 4,93% em janeiro. Nos últimos doze meses, o aumento atingiu 12,58%.
O café robusta na Bolsa de Londres manteve a tendência de alta em função da redução da oferta dos países do Sudeste Asiático, principais produtores. O acréscimo foi de 10,08% em relação à média de dezembro. No acumulado dos últimos doze meses, atingiu um crescimento de 69,26%, vindo logo abaixo do açúcar e se colocando como o segundo em alta no período (tabela 1).
Esses resultados podem ser observados nos gráficos abaixo:
A cotação da borracha natural continuou a subir, atingindo alta de 6,99% em janeiro em relação à média de dezembro, devido à forte demanda da China. No acumulado de doze meses, cresceu 44,12%. Esta alta nas cotações internacionais em janeiro dará suporte a maiores preços para os produtores brasileiros de borracha natural. Isto deverá compensar a queda de 5,33% na cotação do dólar no mês, tendo em vista que o preço interno da borracha natural é referenciado pela cotação da borracha no mercado internacional internalizada no país.
As cotações da borracha natural nos últimos 12 meses, no mercado da Malásia, podem ser observadas no gráfico seguinte:
O mercado de futuros do boi gordo na BM&F continuou em queda em janeiro de 2005, após forte retração em dezembro de 2005, reforçada pela safra de boi gordo e o maior descarte de matrizes. Além disso, houve dificuldades em se concluir o controle dos focos de febre aftosa em regiões do Mato Grosso do Sul e no Paraná, bem como ocorreu o aumento do fechamento das exportações dos estados de Mato Grosso do Sul, Paraná e São Paulo, onde se concentra o principal parque de abate brasileiro. Janeiro também é normalmente de fraca demanda por carnes, devido ao período de férias escolares e das férias coletivas das empresas, o que pressionou mais ainda o mercado superofertado de carne bovina.
A redução de 1,10% na cotação do boi gordo, segunda posição, em dólar, em relação à média de dezembro continua refletindo as condições de superoferta, associadas ao fraco mercado interno e às restrições sanitárias às exportações. Com a valorização do real em janeiro, a queda em Real foi maior: de 1,62% na cotação média do mês.
No acumulado de doze meses, as cotações caíram em Real 15,27% e em dólar subiram 0,53%, mostrando o efeito da taxa de câmbio brasileira na cotação do boi gordo. O comportamento das cotações médias do boi gordo em reais e em dólar pode ser observado nos seguintes gráficos:
Estamos em plena colheita da safra brasileira de grãos de verão do ano agrícola 2005/06. Pelas análises acima, verifica-se que o agronegócio brasileiro tem de enfrentar novamente condições desfavoráveis no mercado internacional de algodão, soja, milho e trigo. Além disso, deve se considerar o crescimento dos custos de logística e das dívidas de 2005 que limitam acesso ao crédito e aos financiamentos dos fornecedores de insumos e exportadores.
Neste contexto, o principal papel das políticas públicas para o agronegócio brasileiro será o de viabilizar liquidez ao mercado, de maneira a organizar o fluxo de comercialização com o objetivo de administrar pressões localizadas e gerais, neste caso especialmente para os produtos que dependem mais do mercado interno, como o milho. Ao mesmo tempo, o governo deverá agir no sentido de formular uma nova renegociação das dívidas do setor, sem o que a produção nacional de grãos poderá vir a sofrer uma estagnação no futuro próximo. É isto que o setor espera da ação do MAPA. 2
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1 MAPA: www.agricultura.gov.br
2 Artigo registrado no CCTC-IEA sob número HP-012/2006
Data de Publicação: 10/02/2006
Autor(es): Nelson Batista Martin (nbmartin@uol.com.br) Consulte outros textos deste autor