Artigos
Amendoim: monitoramento da cadeia de produção
Nos meses que antecederam o plantio da safra de amendoim 2005/2006, as cooperativas de produtores enfatizaram, por meio de reuniões e comunicados, a necessidade de participação e acompanhamento dos produtores-cooperados nas decisões relativas à safra. Foram destaque as questões relacionadas à capacidade de armazenamento e manutenção da qualidade do produto, apontando para a necessidade de substituição do sistema atual, que estoca amendoim em casca, pelo de armazenagem do produto descascado1. Técnica de monitoramento A técnica de monitoramento4 considera que a evolução tecnológica deriva das mudanças ocorridas em aspectos sócio-econômicos. Estes, por sua vez, influenciam diretamente no desenvolvimento tecnológico, a exemplo da discussão sobre a necessidade da adoção por parte das cooperativas de novo sistema de armazenagem, uma vez que a cultura do amendoim está passando por uma fase de expansão e transformação tecnológica. Figura 1- Diagrama de inovações tecnológicas na cadeia produtiva de amendoim
Essa mudança atenderia aos mercados interno e externo, aumentando a capacidade de armazenagem. Isto evitaria perda de qualidade e a venda de grãos para a indústria de óleo, que podem deprimir os preços médios do produto. A comercialização do amendoim sem casca implica em agregar valor ao produto, favorecendo às cooperativas e conseqüentemente aos cooperados. A armazenagem nesse sistema também pode amenizar as variações de preços decorrentes de fatores sazonais.
Outra preocupação dos produtores é com relação aos preços do produto na comercialização da safra 2005/06, já que alguns especialistas indicam que o mercado externo poderá ser mais atraente. Porém, as cotações podem variar em razão da oferta e demanda internacionais do produto e também estão sujeitas aos resultados da próxima colheita. Isso porque grande parte da produção paulista de amendoim é realizada em áreas de renovação de pastagens e de canaviais, que ocorre, em média, a cada cinco cortes da cana. A rotação faz-se necessária para a reposição dos nutrientes no solo, mas, com o preço da tonelada da cana em alta, alguns produtores optaram por manter a gramínea por mais um corte2. Além disso, a crise decorrente da quebra da safra passada de soja e de amendoim pode ter desestimulado os produtores.
Segundo o levantamento IEA/CATI, nos últimos cinco anos a área destinada ao plantio de amendoim em São Paulo vem sendo reduzida (cerca de 5,8% ao ano), principalmente devido ao declínio da safra da seca. Mas a produção tem crescido 1,6% ao ano, resultado do incremento anual da produtividade (3,7%). Na safra das águas 2004/05, a área plantada e a produção aumentaram, respectivamente, 26% e 30%, em relação à safra anterior. No entanto, apesar do acréscimo de rendimento, grande parte da safra passada sofreu intempéries climáticas, o que prejudicou a qualidade do produto e por conseqüência resultou em queda nos preços3.
Atualmente, a busca por novas oportunidades de mercado, pela manutenção da 'fatia de consumidores' já conquistada e por informações adequadas, que auxiliem na tomada de decisão, demanda e concentra esforços cada vez maiores por parte das organizações com o objetivo de ocupar uma posição competitiva no seu ramo de atividade. Nesse sentido, a técnica de monitoramento, uma das mais utilizadas em estudos de previsão tecnológica e construção de cenários futuros, pode ser um bom instrumento para mapear as oportunidades e ameaças.
O diagrama abaixo apresenta os elementos foco de pesquisa e inovação nos três principais elos que compõem essa cadeia de produção. Dependendo da mudança tecnológica e da etapa em que ela ocorra, os demais elos da cadeia poderão sofrer (ou não) influências, assim como o atendimento de uma demanda de outra etapa da produção poderá depender de mudanças tecnológicas em etapas anteriores ou posteriores.
Fonte: elaborado pela autora
Algumas tendências tecnológicas, que influenciam na rentabilidade do produtor, podem ser apontadas na primeira etapa de produção do amendoim. São exemplos as pesquisas de melhoramento genético e cruzamento entre variedades de porte rasteiro e ereto, visando à maior produtividade; grãos de película vermelha com sabor adocicado, que diferenciam o produto; expansão de variedades de porte rasteiro ou intermediário que favorecem a colheita mecanizada, etc..
As técnicas de manejo da produção, como plantio direto na palha ou no semi-convencional, controle biológico de pragas e doenças (principalmente trips, lagarta do pescoço vermelho e a mancha preta) e manejo de plantas daninhas5, são outras necessidades do primeiro elo da cadeia, visando tanto ao aperfeiçoamento das tecnologias já incorporadas quanto à busca por inovações.
Na etapa intermediária, o beneficiamento tem conquistado novas tecnologias de armazenamento. Outra tendência é a incorporação de mecanismos de rastreabilidade, visando à certificação de origem e qualidade do produto, cada vez mais exigida no comércio internacional e evidente no mercado interno. Novas técnicas de coleta e processamento de amostras também estão sendo estudadas. Isto porque a detecção de lotes com a presença dos fungos causadores da aflatoxina é primordial antes das etapas de seleção e armazenagem e, por outro lado, poderão auxiliar na elaboração do plano de amostragem6.
A indústria de confeitos vêm sendo beneficiada pela introdução de novas tecnologias, nas etapas anteriores da cadeia de produção, tais como variedades mais produtivas; colheita mecanizada; secagem artificial e atualmente armazenagem em big-bags. Todas essas mudanças estão contribuindo para a melhoria do produto final, reduzindo as importações e aumentando as exportações de grãos e de produtos processados de amendoim. Este último é impulsionado pela introdução do produto seguro, através do fortalecimento do Selo Amendoim de Qualidade ABICAB, parte do programa pró-amendoim.
A seleção de variedades que apresentam melhor relação na composição de ácidos graxos e maior resistência na película, para evitar a separação do grão em duas partes7, também está sendo trabalhada e terá influência direta na vida de prateleira e na qualidade do grão industrializado, a última etapa da cadeia de produção.
A indústria de confeitos, além da necessidade de matéria-prima dentro dos padrões de qualidade e características físicas adequadas, busca por embalagens que garantam a qualidade do produto ao consumidor final por um período maior de tempo. E também procura atrair o consumidor por meio da oferta de novos produtos à base de amendoim nos segmentos de salgados e aperitivos e de doces e confeitos.8
Como resultado destas tecnologias nos diversos segmentos, segundo a indústria confeiteira, a cadeia de produção do amendoim cresceu 84% no período de quatro anos. E para a safra 2005/06 a previsão é de incremento de 15% na produção, ultrapassando 400 mil toneladas.9,10
_____________________________
1 Revista Coplana, setembro/2005, online (www.coplana.com)
2 Cana: preço e crise nos grãos fazem produtores adiar rotação, online (www.estadao.com.br)
3 Prognóstico IEA para culturas anuais, online (www.iea.sp.gov.br)
4 Porter, Alan L., et al., Chapter 8 – Monitoring in: Forecasting and Management of Techonology, Wiley Interscience, New York, 1991.
5 II Encontro sobre a Cultura do Amendoim, Jaboticabal – SP, agosto de 2005
6 Resolução ANVISA RDC 172/03 para processadores de amendoim.
7 Godoy, Moraes, Zanotto e Santos; Melhoramento do Amendoim in: Melhoramento de Plantas: Culturas Agronômicas, Viçosa - MG, 1999
8 Doce Revista, online (www.docerevista.com.br)
9 Pró-Amendoim: um drible no inimigo invisível; Revista CREASP, set/out 2005 – Ano V.
10 Artigo registrado n CCTC-IEA sob número HP-130/2005.
Data de Publicação: 09/01/2006
Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor