Comércio Exterior do Agro Paulista com os Estados Unidos



Os Estados Unidos (EUA) foi o terceiro maior destino das exportações do agro paulista. Em 2024, as vendas totalizaram US$3,45 bilhões, representando crescimento 21,5% em relação a 2023 e participação de 11,3% do total do setor, posicionando-se atrás da China (19,3%) e União Europeia (12,7%).

Os principais grupos de produtos na pauta da importação americana são os grupos de sucos (30,5%), das carnes (13,6%), sucroalcooleiro (12,6%), dos demais produtos de origem vegetal (9,2%) e de origem animal (9,1%), produtos florestais (8,6%) e café (6,1%).

No primeiro semestre de 2025, as exportações alcançaram US$1,91 bilhão, aumento de 27,3% em relação a igual período de 2024, porém em volume total embarcado houve redução de 12,2%, que demonstra acentuada valorização dos produtos, principalmente suco de laranja e café. Em participação, os americanos representam atualmente 14,3%, mantendo-se atrás da China (23,8%) e da União Europeia (14,9%). Os principais grupos na pauta das exportações no 1º semestre de 2025 foram os grupos de sucos (33,4%, principalmente suco de laranja 98%), carnes (15,8%, em que a carne bovina representa 99,9%), dos demais produtos de origem animal (11,4%, sendo 85% proveniente dos produtos de albumina, gelatina e gorduras e óleos), café (9,4%, sendo 78% café verde e 22% solúvel), produtos florestais (9,3%, com papel 57,7% e madeira 38,8%) e do setor sucroalcooleiro (6,8%, composto por 75,5% de álcool e 24,5% de açúcar).

O saldo da balança comercial do agro paulista com os Estados foi favorável para o estado de São Paulo, devido principalmente as exportações em grandes quantidades de sucos de laranja, carne bovina e café verde. A relação entre o saldo comercial e as exportações está acima de 85% desde 2022, que mostra a importância das vendas paulistas para os norte-americanos (Tabela 2).

 

De 2020 a 2024, as exportações cresceram continuamente passando de US$?1,66 bilhões (2020) para US$?3,45 bilhões (2024), representando crescimento de 108% no quinquênio. Por outro lado, houve redução de US$?563 milhões (2020) para US$?340 milhões (2023) nos valores das importações, com aumento em 2024 (US$?408 milhões).

No primeiro semestre de 2025, contabilizou-se exportações de US$?1,91 bilhão, o que representa 55% do total de 2024 se mantido o ritmo, o ano poderia fechar próximo ou um pouco acima do recorde anterior, já as importações de US$?261 milhões estão acima da média semestral dos anos anteriores.

A análise aqui colocada constrói cenário projetado baseado na hipótese de que a tarifa de 50% de fato entre em vigor. Quanto aos impactos quantitativos dessa medida poderão ser calculados posteriormente a partir de sua efetividade.

PRINCIPAIS PRODUTOS EXPORTADOS PARA OS EUA

O suco de laranja foi o principal produto do agro paulista exportado para os EUA no primeiro semestre de 2025, totalizando US$ 638,8 milhões (32,6% de participação nas compras americanas do agro SP), seguido pela carne bovina US$ 301,7 milhões (15,8%) e café com US$ 179,5 milhões (7,3%) (Tabela 1).

Os produtos papel, álcool, proteínas animais (albumina, gelatinas), gorduras animais, madeira e óleos essenciais aparecem com valores entre US$ 65 e 102 milhões. Os demais produtos representam valor significativo de US$ 283 milhões, sugerindo que há uma ampla gama de outros produtos exportados em menores quantidades (Figuras 1 e 2).


O suco de laranja representa 1/3 das exportações do agro SP para os Estados Unidos, somando-se a carne bovina 15,8% e café verde 7,3%, ultrapassam 55% de representatividade (Figura 3).

 

CARNE BOVINA

O Brasil exportou para os EUA, em 2024, a quantidade de 230 mil t (contabilizando US$1,35 bilhão), tendo o estado de São Paulo participado com quase 60 mil t, ou seja, 26% desse volume (US$ 470 milhões).

No primeiro semestre de 2025, o volume embarcado para os EUA ultrapassou 181 mil t, totalizando US$ 1,04 bilhão, sendo a origem paulista totalizando 39,5 mil t, quase 22% do volume total brasileiro. Expresso em valores, somou US$ 301,67 milhões, 29% de participação nacional.

Quanto a composição, a carne bovina industrializada é o principal produto do grupo com vendas de US$ 209,50 milhões e 21 mil t, a carne bovina in-natura somou US$ 91,79 milhões com 18,4 mil t, em 2025.

O ranking dos principais destinos das carnes bovina de São Paulo no primeiro semestre de 2025 foram: China (41%), EUA (15,9%), União Europeia (7,2%), Filipinas (3,8%) e Hong Kong (3,5%). Esses cinco mercados representam 71% das exportações paulistas do produto.

Em relação as vendas da carne bovina do estado de São Paulo, no primeiro semestre de 2025, observa-se que as transações cresceram 51,4% em valores e 69,3% em quantidade. Se considerar um crescimento na casa de 50% até o final do ano, os valores das exportações poderiam alcançar US$ 700 milhões em 2025.

Sob o choque tarifário haverá encarecimento das exportações para os EUA. Ainda é cedo para mensurar os efetivos impactos sobre as transações de carne bovina. Provavelmente haverá reorganização dos destinos das vendas brasileiras para outros mercados na qual despontam as compras asiáticas.

 

 

CAFÉ VERDE

No primeiro semestre de 2025, as exportações paulistas de café verde e torrado para o mercado estadunidense somaram US$139,83 milhões, equivalendo a 21,24 mil t. Frente a 2024, no mesmo período considerado, houve valorização dos embarques com incremento de 50,3% quando foram contabilizados US$93,02 milhões (24,55 mil t) (Tabela 4). Tal elevação na receita cambial é reflexo direto do crescimento exponencial das cotações ocorridas especialmente a partir do quarto trimestre de 2024 e o primeiro semestre de 2025.

Constitui o café solúvel em outro importante produto paulista exportado para os EUA. No primeiro semestre de 2025, os embarques do produto somaram US39,66 milhões, representando expansão de 182% frente ao mesmo período de 2024.

Sob o choque tarifário anunciado pelo mandatário estadunidense de 50% a ser aplicado às mercadorias brasileiras destinadas aquele mercado a partir de 01/08/2025, prevê-se alguma redução nos embarques para os EUA de todos os tipos de café, podendo ser parcialmente mitigada pela valorização do dólar. Todavia, a elevada inelasticidade-preço da demanda do café constitui um fator de proteção a quedas significativas na procura pelo produto.

Cerca de 99% do suprimento de café para os EUA tem origem no exterior, sendo o Brasil o principal parceiro comercial de oferta do produto (36,5%). Segundo informações da Nacional Coffee Association (NCA), para cada US$1,00 de aquisições em café verde representa efeito multiplicador da ordem de US$43,00 a US$47,00, com mobilização de 2 milhões de trabalhadores. Estima-se em aproximadamente 1,2% a participação do café na formação do PIB estadunidense3. Diante desses quantitativos, evidencia-se o a importância ímpar do café nessa economia. Portanto, é bastante plausível imaginar que o segmento fará muita pressão sobre as instâncias governamentais, visando a revisão desse choque tarifário.

O mercado mundial de café encontra-se sob um fluxo tenso, ou seja, forte escassez do produto. Sob efeito do choque tarifário, ainda que o café brasileiro se encareça frente aos demais países produtores concorrentes, são escassas as possibilidades de suprimento em substituição da origem brasileira, assim como outros destinos podem incrementar suas aquisições devido à dificuldade em manter um abastecimento regular aos respectivos mercados. Haverá, portanto, uma reorganização dos fluxos comerciais de café a depender da proatividade de nossas cooperativas, exportadores, traders e adidos diplomáticos comerciais.

No curto prazo, poderá haver na região portuária algum empoçamento de mercadoria, decorrente do vencimento de contratos futuros de café arábica até que ocorra redirecionamento do produto para outros destinos. Ainda que possa parecer uma volta ao passado, desenhar um programa de aquisições públicas de café poderia atenuar as eventuais consequências do choque tarifário. 

 

SUCO DE LARANJA

O estado de São Paulo é o maior produtor de laranja do Brasil, com cerca de 80% da produção nacional, sendo grande parte destinada ao processamento industrial e exportação de suco1. No primeiro semestre de 2025, SP exportou US$1,44 bilhão dos produtos do grupo de sucos, dos quais 97,7% referentes a suco de laranja, que se apresenta na quinta posição da pauta de exportação do agronegócio paulista com 10,8% de representatividade. Os maiores compradores desse grupo são: União Europeia (45,8%), EUA (44,4%) e China (3,5%); os demais compradores têm 5,3% de participação2.

No primeiro semestre de 2025, as exportações do grupo de sucos do estado de São Paulo para os EUA somaram US$ 638,84 milhões representando uma participação de 33,4% do total exportado ao país. Comparando os resultados do primeiro semestre de 2025 com igual período de 2024, as exportações cresceram 68,1% em valor e recuaram 9,7% em volume (Tabela 5). 

 


A imposição de tarifa de 50% sobre o suco de laranja brasileiro, caso entre em vigor, trará impactos significativos tanto no comércio bilateral quanto na economia de regiões brasileiras dependentes da citricultura como é o caso paulista. Em contrpartida, a majoração dessa tarifa deverá provocar para os EUA aumento do preço do suco brasileiro frente aos sucos de outros países tornando-o menos competitivo.

A taxação poderá provocar perdas de receitas em dólar às agroindústrias extratoras, que perderiam margem de lucro ou volume de vendas devido a desvalorização dos preços internos uma vez em que o excedente de suco não exportado pode ser redirecionado ao mercado interno, pressionando para baixo os preços. Tal cenário implicará em desemprego no setor citrícola, especialmente nas regiões produtoras no interior de São Paulo (Limeira, Araraquara, Bebedouro e outras cidades), onde o mercado de trabalho é dinâmico para o segmento.

Essas perdas se estendem também aos produtores. Redução de renda para pequenos e médios produtores ocasionada pela menor demanda e preços mais baixos, muitos terão dificuldades financeiras, podendo abandonar a atividade.

A arrecadação tributária também poderá ser afetada pois com a queda nas exportações e seus reflexos na atividade econômica (comércio e serviços). Estados e municípios produtores terão perda na arrecadação de ICMS e de outros tributos. Ademais, indústrias coligadas ao setor como empresas de logística, embalagens, processamento e transporte também serão afetadas com reflexos em toda a cadeia ligada a citricultura. Regionalmente, os municípios dependentes da citricultura podem exibir recessão.

Dessa forma, para minimizar os efeitos do aumento das tarifas impostas pelo governo americano, decisões de médio e longos prazos podem ser implementadas. A busca por novos mercados com diversificação de destinos para o suco como Ásia e Oriente Médio. Busca por incentivos governamentais como: subsídios temporários, isenção fiscal, linhas de crédito específicas para produtores afetados e ainda a reversão ou mitigação da tarifa com base em acordos da OMC ou tratados bilaterais. O mercado interno estaria apto para absorver parte da produção para consumo como laranja de mesa.

 

1ASSOCIAÇÃO NACIONAL DOS EXPORTADORES DE SUCOS CÍTRICOS. Safra de laranja 2025/26 do cinturão citrícola de SP e MG é estimada em 314,60 milhões de caixas. 2025. Disponível em: https://citrusbr.com/noticias/safra-de-laranja-2025-26-do-cinturao-citricola-de-sp-e-mg-e-estimada-em-31460-milhoes-de-caixas/. Acesso em: 11 jul. 2025.

 

2ANGELO, J. A.; OLIVEIRA, M. D. M.; GHOBRIL, C. N. Balança Comercial dos Agronegócios Paulista e Brasileiro, Primeiro Semestre de 2025. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 7, p. 1-19, jul. 2025. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/out/TerTexto.php?codTexto=16301. Acesso em: 29 jul.2025.

 

3G1. Para cada dólar exportado, Brasil gera US$ 4,3 à indústria dos EUA, diz setor do café. 15 jul. 2025. Disponível em: https://g1.globo.com/economia/noticia/2025/07/15/para-cada-dolar-exportado-brasil-gera-us-43-a-industria-dos-eua-diz-setor-do-cafe.ghtml. Acesso em: 21 jul. 2025.


Palavras-chave: exportações São Paulo, exportações Estados Unidos, tarifas americanas, balança comercial do agro.


 

 


COMO CITAR ESTE ARTIGO

ANGELO, J. A. et al. Comércio Exterior do Agro Paulista com os Estados Unidos. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20, n. 7, p. 1-10, jul. 2025. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 29/07/2025

Autor(es): José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Nabil Ghobril (nabil@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor