Artigos
Evolução dos Preços da Cesta de Mercado de Alimentos no Município de São Paulo em 2024
Em 2023, a variação de
preços dos alimentos no Brasil ficou abaixo da inflação brasileira (IPCA),
conforme dados do IBGE2. Esse cenário foi favorável ao consumidor
final e retratou uma safra de alimentos positivo e uma cotação de dólar que
recuou frente ao real em aproximadamente 9,0%, quando comparado o valor do
primeiro dia útil do ano de 2023 com o último. Todavia, para o
consumidor final, a situação foi revertida em 2024, sendo a produção de
alimentos impactada por eventos climáticos severos, como as chuvas no Rio
Grande do Sul e a estiagem associada às altas temperaturas observadas na
maioria dos estados brasileiros. Quanto ao dólar, o ano de 2024 marcou a maior
cotação da história do real e acumulou uma alta ao longo do ano de
aproximadamente 27%3. Especificamente no
município de São Paulo, o Instituto de Economia Agrícola (IEA) acompanha a
variação de preços da Cesta de Mercado composta pelos produtos de maior
relevância de consumo pelas famílias paulistanas dentro dos domicílios. Nesse
ano, a inflação acumulada neste conjunto de alimentos foi de 10,1%4,
e esse índice equivale a mais que o dobro da expectativa da inflação brasileira
pelo BACEN, estimada em 4,9%5. O cálculo de variação
da cesta de mercado realizado pelo IEA contempla a coleta diária de preços de
mais de uma centena de produtos nos principais locais de compras de alimentos
dos paulistanos, como supermercados, feiras livres, açougues, sacolões/varejões
e padarias. Os preços coletados são consistidos e ponderados conforme a
heterogeneidade socioeconômica verificada nos 96 distritos que compõem a cidade
de São Paulo. Por fim, os resultados são organizados em seis grupos de
produtos: Carnes e Derivados, Leites e Derivados, Ovos, Frutas, Hortaliças, e
Produtos Básicos. São calculados então três índices: IPCMA (Índice de Preços da
Cesta de Mercado de Produtos de Origem Animal); IPCMV (Índice de Preços da
Cesta de Mercado de Produtos de Origem Vegetal) e IPCMT (Índice de Preços da
Cesta de Mercado Total) (Tabela 1). Pelos resultados
contabilizados, observa-se nos índices mensais que o IPCMV marcou a maior e a
menor variação de preços no período. Em janeiro, os preços do agrupamento
vegetal subiram 3,96% e em julho a redução foi de 1,619%. Também no IPCMV
observa-se uma sequência de quatro meses de índices negativos (junho a
setembro), e no acumulado anual a variação de preços da Cesta de Mercado dos
Produtos de Origem Vegetal foi de 11,37%. Em relação ao IPCMA (produtos de
origem animal), observa-se que o acumulado até setembro era de 0,94%; no
entanto, o ano fechou em 8,99%, total obtido em virtude da variação dos preços
dos últimos três meses do ano. Contabilizando-se a variação de todos os itens
de origem animal e vegetal, o acumulado anual de variação da Cesta de Mercado
Total (IPCMT) foi de 10,11%. Em relação à evolução dos indicadores (Figura 1), observa-se
claramente como os preços dos produtos de origem animal e vegetal subiram a
partir do mês de outubro. O agrupamento de produtos de origem animal é formado
por três subgrupos (Carnes e Derivados, Leites e Derivados, e Ovos), enquanto a
lista vegetal forma os seguintes subgrupos: Frutas, Hortaliças e Produtos
Básicos. Nota-se pelo gráfico que dois grupos acumularam variações negativas ao
longo do ano de 2024: o subgrupo Hortaliças, com redução de 9,38%, em que se
destacam os três produtos de maior queda de preços médios no ano (tomate para
mesa com -28,23%, cebola com -26,47% e cenoura com redução média de 19,75% nos
preços praticados ao consumidor). Em relação ao tomate, os preços recebidos
pelos produtores variaram bastante ao longo do ano: em janeiro de 2024, os agricultores
recebiam em média R$66,00/cx. de 22 kg e, em junho, R$109,00/cx. Três meses
após essa alta, os preços caíram para R$31,00/cx., e em dezembro a caixa estava
sendo comercializada a R$46,11. Se compararmos o valor de dezembro de 2023 com
o de dezembro de 2024, verifica-se que os preços pagos ao produtor foram
reduzidos em 40,02%5, e esse cenário de elevação de preços até o
meio do ano e de queda nos últimos meses do ano foi retratado pela mídia. Em
abril, o Globo Rural divulgou um
texto com o título “Por que o preço do tomate aumentou? O campo ajuda a
explicar os motivos”7, e esse mesmo veículo em novembro publicou a matéria
“Preço do tomate segue em queda com aumento da oferta”8. Em resumo,
o calor intenso prejudicou a safra de verão, enquanto a safra de inverno teve
alta produtividade. No caso dos Ovos, a queda de preços médios de 10,74%
justifica-se pelo volume recorde produção no Brasil em 20249. Os subgrupos
Carnes e Derivados, Leites e Derivados, Frutas e Produtos Básicos apresentaram
variação positiva bem superior à estimativa de inflação brasileira para 2024.
Como visto na tabela 1, o IPCMA, índice que acompanha a variação de preços da
cesta de mercado de produtos de origem animal, se manteve estável até setembro
e acelerou nos últimos três meses do ano. Especialistas do setor pecuário
indicam que o alto número de abates dos últimos dois anos fez a oferta de bezerros/bois
magros cair face à demanda aquecida pela queda do desemprego e, concomitantemente,
pela valorização do salário mínimo, potencializando a procura por carnes. Tais
fatores associados às queimadas em pastos e com exportações aquecidas explicam
o aumento de preços no último trimestre do ano10. A variação dos
preços de Leites e Derivados está muito associado ao clima e à certa
valorização de preços ao produtor11. No subgrupo Frutas,
o destaque foi a laranja, produto líder em variação de preços no ano contabilizando
56,56%. O clima seco e com altas temperaturas impactou a produção e o tamanho
dos frutos, enquanto, por outro lado, a demanda por suco estava aquecida e, com
isso, os preços atingiram valores recordes nesse ano12. O agrupamento de
maior peso na cesta de mercado dos paulistanos, Produtos Básicos, marcou uma
variação acumulada de 13,42%, valor influenciado por importantes produtos, como
arroz, óleo de soja e café em pó. Este último não apresentava aumentos
significativos ao consumidor há anos, mas, em 2024, acumulou variação média de
preços de 32,96%, terceira colocação do ranking das maiores variações
percentuais positivas.O café torrado e moído (pacote de 500 g) teve elevação
percentual de 32,96% no ano. Tal majoração decorre, fundamentalmente, das
consecutivas frustrações de safra brasileira (geada, altas temperaturas e
estiagem prolongada nessa ordem ocorridas) que debilitaram as lavouras com
profundos reflexos sobre a produtividade das plantas. Outros países produtores,
concorrentes do Brasil, também devido a problemas climáticos associado à
progressiva diminuição dos estoques, não foram capazes de compensar a
frustração brasileira, elevando exponencialmente as cotações do produto nas
bolsas internacionais. Essa alta transferiu-se imediatamente para os preços
praticados no mercado doméstico, explicando o encarecimento contabilizado. A
curto prazo não se observa qualquer tendência de reversão dessa alta, que deve
perdurar ao longo de 2025. Resumidamente,
em 2024, dos 38 itens de origem animal que compõem a Cesta de Mercado, 26
acumularam aumento nos seus preços médios e 12 apresentaram variações
acumuladas negativas. Entre os produtos de origem vegetal, 26 tiveram acumulados
positivos e 10 itens apresentaram queda de preços ao longo de 2024. Com isso,
conclui-se que, para as famílias paulistanas, a aquisição de produtos
alimentícios para consumo dentro do domicílio demandou parcela substantiva do
orçamento. 1O
autor agradece o pesquisador Celso Luís Vegro na análise da variação do produto
café em pó e a equipe de trabalho do Sistema Varejo: Andréia Brazão, Valdecir
Garcia Luchiari, Cristina Almeida Paes, Michelle
Quirino Bettencourt e Magali Aparecida
Schafer de Lucca, 2IBGE. Instituto Brasileiro de
Geografia e Estatística. Índice Nacional
de Preços ao Consumidor Amplo. Rio de Janeiro: IBGE, [20--]. Disponível em:
https://www.ibge.gov.br/estatisticas/economicas/precos-e-custos/9256-indice-nacional-de-precos-ao-consumidor-amplo.html.
Acesso em: 2 jan. 2025. 3EXCHANGE RATES. Histórico da taxa de câmbio USD/BRL 2024. [S. l.: s. n.], [20--].
Disponível em: https://www.exchange-rates.org/pt/historico/usd-brl-2024. Acesso
em: 2 jan. 2025. 4IEA. Instituto de Economia
Agrícola. Portal do varejo: mercado
varejista na cidade de São Paulo. São Paulo: IEA, [20--]. Disponível em:
http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/out/varejo.php. Acesso em: 2 jan. 2025. 5BCB. Banco Central do Brasil. Focus: relatório de mercado. Brasília:
BCB, [20--]. Disponível em: https://www.bcb.gov.br/publicacoes/focus. Acesso
em: 2 jan. 2025. 6IEA. Instituto de
Economia Agrícola. Preços médios mensais
recebidos pelos agricultores. São Paulo: IEA, [20--]. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_sis=2. Acesso em: 2
jan. 2025. 7WALZBURIECH, D. Por que o preço do tomate aumentou? O campo ajuda a explicar os motivos.
Florianópolis: Globo, 15 abr. 2024. Disponível em:
https://globorural.globo.com/agricultura/hortifruti/noticia/2024/04/por-que-o-preco-do-tomate-aumentou-o-campo-ajuda-a-explicar-os-motivos.ghtml.
Acesso em: 2 jan. 2025. 8BELEDELI, M. Preço do tomate segue em queda com aumento
da oferta: safra de inverno, que ainda está sendo colhida, apresenta alta
produtividade. Porto Alegre: Globo, 15 nov. 2024. Disponível em:
https://globorural.globo.com/agricultura/hortifruti/noticia/2024/11/preco-do-tomate-segue-em-queda-com-aumento-da-oferta.ghtml.
Acesso em: 2 jan. 2025. 9CEPEA. Retrospectiva 2024: ovos Cepea: recorde
na produção pressiona cotações em 2024. Piracicaba: ESALQ/USP, 2024. Disponível
em:
https://www.cepea.esalq.usp.br/br/diarias-de-mercado/retro-2024-ovos-cepea-recorde-na-producao-pressiona-cotacoes-em-2024.aspx.
Acesso em: 3 jan. 2025. 10SALATI, P. Preço da carne bovina voltou a subir e deve
continuar alto nos próximos meses; entenda.
Rio de Janeiro: Globo Comunicação e Participações S.A., 14 nov. 2024.
Disponível em:
https://g1.globo.com/economia/agronegocios/noticia/2024/11/14/preco-da-carne-bovina-voltou-a-subir-entenda-em-4-pontos-o-que-aconteceu-e-se-valor-vai-baixar.ghtml.
Acesso em: 3 jan. 2025. 11NOTÍCIAS AGRÍCOLAS. Leite: retrospectiva Cepea: lento
avanço da oferta sustenta preço do leite na maior parte de 2024. São Paulo:
Notícias Agrícolas, 27 dez. 2024. Disponível em:
https://www.noticiasagricolas.com.br/noticias/leite/391322-leite-retrospectiva-cepea-lento-avanco-da-oferta-sustenta-preco-do-leite-na-maior-parte-de-2024.html.
Acesso em: 3 jan. 2025. 12NERY,
C. F. Laranja: produção baixa e
demanda aquecida garantem preços recordes em 2024. Cuiabá: Cenário MT, 31 dez.
2024. Disponível em: https://www.cenariomt.com.br/agro/laranja-producao-baixa-e-demanda-aquecida-garantem-precos-recordes-em-2024/.
Acesso
em: 3 jan. 2025. Palavras-chave:
cesta de mercado, preços, alimentos, São
Paulo. COMO CITAR ESTE ARTIGO MARTINS,
V. A. Evolução dos Preços da Cesta de Mercado de Alimentos no Município de São
Paulo em 2024. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 20,
n. 1, p. 1-6, jan. 2025. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 21/01/2025
Autor(es): Vagner Azarias Martins (vagnermartins@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor