Mercado de Café sob Estresse das Restrições Produtivas/Comerciais


 

Em julho de 2024, houve forte aceleração na evolução da média semanal das cotações cambiais (PTAX –BACEN), especialmente após a segunda semana do mês, contabilizando alta desde esse momento de 4,42% (Figura 1). Com real desvalorizado há pressão de venda no mercado interno induzindo os investidores externos a oferecerem menores cotações ao produto.

 

As causas dessa pressão sobre o real decorrem das incertezas quanto ao compromisso das autoridades monetárias no ajuste das contas públicas e controle das pressões inflacionárias. Também, houve pressão externa refletindo aspectos geopolíticos (tensão no Oriente Médio) e desempenho duvidoso da economia americana.

Na Bolsa de Nova York, praça em que são negociados os contratos futuros de café arábica, em julho de 2024, após registrar média semanal de US$¢227,80/lbp para a posição de dezembro na média das cotações da primeira semana do mês, tais preços oscilaram positivamente, mas sem capacidade de sustentação, fechando o mês com ligeiro incremento de 0,35% para a posição da média das cotações da quinta semana, e contabilizando média semanal de US$¢228,61/lbp (Figura 2). Não houve alterações no fluxo de suprimento (embarques brasileiros do produto seguem firmes)2.

 

Em Franca, regional da CATI mais importante na produção cafeeira do estado, o preço médio recebido pelos cafeicultores, em julho de 2024, foi de R$1.453,89/sc. 60 kg3. Efetuando-se as conversões, empregando o dólar médio do mês (US$1,0=R$5,55), esse montante representa US$¢199,96/lbp que, comparativamente à cotação média da primeira semana em segunda posição (dez./2024), representa ganho de US$¢27,83/lbp, ou seja, US$36,80/sc. de vantagem econômica para o hedge contratado nessas condições, frente ao mercado spot francano. A depender das despesas frente ao registro, emolumentos, custo administrativo da corretora (ajuste diário), juros sobre o depósito garantidor da operação, e acréscimo do diferencial frente ao contrato C, tal vantagem pode ser insuficiente para rentabilizar a operação futura.

Na praça londrina, em que são negociados os contratos futuros de robusta, após a expressiva valorização ocorrida ao longo das semanas para as posições futuras, o mês se encerrou com pequena variação positiva frente a média da cotação contabilizada na primeira semana do mês em movimento similar ao exibido pelo arábica em Nova York (Figura 3).

 

São inúmeros os acontecimentos que estão pressionando as cotações do café. O encarecimento do frete marítimo decorrente das tensões no mar Vermelho (especialmente a passagem pelo estreito de Bab elMandeb), antecipação das aquisições dos importadores europeus mediante a futura imposição da lei antidesmatamento, preocupações com relação a estiagem prolongada nos cinturões cafeeiros do Brasil e a especulação em torno da ascensão de massas polares, escassez de produto para embarque entre concorrentes e manutenção da taxa de crescimento médio histórico para o consumo da bebida, compõem o quadro de pressão sobre a formação dos preços.

O movimento dos investidores na Bolsa de Nova York foi bastante favorável aos comprados com saldo líquido oscilando em torno dos 45 mil contratos, denotando a expectativa de no mercado de café os importadores se precavendo com possíveis restrições ao fluxo de abastecimento (Tabela 1).


 

Diante do atual contexto espera-se cotações pressionadas ao longo dos próximos meses. Havendo alguma recuperação cambial do real, mediante a confirmação dos compromissos com o rigor fiscal das autoridades monetárias, essa tendência ganha ainda mais concretude. As possibilidades de um regime climático não muito favorável às lavouras do Centro-Sul é outro fator que entrou no radar dos investidores que poderá injetar mais volatilidade ao mercado.


1O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.

 

2“A exportação brasileira de café totalizou 3,774 milhões de sacas de 60 kg em julho desse ano, primeiro mês da safra 2024/25, volume que implica evolução de 25,7% sobre os 3,002 milhões de sacas embarcados no mesmo período de 2023”. Disponível em: CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL. Relatório mensal de exportações. São Paulo: Cecafé, 2024. Disponível em: https://www.cecafe.com.br/publicacoes/relatorio-de-exportacoes/. Acesso em: 23 jun. 2024.

 

3INFOIEA. Preços médios diários recebidos pelos produtores: no Estado de São Paulo nos principais escritórios de desenvolvimento rural. São Paulo: IEA, 2024. Disponível em: https://infoiea.agricultura.sp.gov.br/BancoDeDados/PrecosDiarios/Recebidos. Acesso em: jul. 2024.

 

Palavras-chave: mercado futuro, cotações do café, Bolsa de Valores.


 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. Mercado de Café sob Estresse das Restrições Produtivas/Comerciais. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 19, n. 8, p. 1-5, ago. 2024. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 26/08/2024

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor