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Análise da Balança Comercial da Floricultura Brasileira de 2011 a 2023
As exportações dos
produtos da floricultura brasileira, no período de 2011 a 2023, apresentaram
uma taxa de crescimento média negativa de -6,15%, em que obtiveram US$28,29
milhões em 2011, e US$14,41 milhões em 2023, segundo a SECEX2. A
importação, por sua vez, teve uma taxa de crescimento média de 0,65%,
alcançando em 2011 o valor de US$35,62 milhões e em 2023 o valor de US$44,34
milhões. O saldo da balança dos produtos da floricultura ficou negativo em
todos os anos, sendo que em 2019 apresentou o menor valor, US$35,07 milhões
(Figura 1). A pandemia da covid-19 impactou o setor de flores e
plantas ornamentais, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo, provocando
mudança no comportamento e no padrão de consumo dessas mercadorias. Este
mercado chegou a temer por sua derrocada nos primeiros momentos pandêmicos, com
o fechamento de lojas e a proibição dos eventos, até mesmo os fúnebres.
Contudo, durante a pandemia, a participação do autosserviço se expandiu
firmemente e esses equipamentos estratégicos de abastecimento permaneceramabertos e constituíram-se no canal de salvação comercial
de toda a cadeia produtiva3. O Brasil está exportando
principalmente mudas e bulbos. O envio de flores cortadas para o exterior vem
diminuindo no decorrer dos anos, devido aos altos custos e, principalmente, ao
mercado interno aquecido. Com o enfraquecimento do real, a importação de mudas,
bulbos e sementes - materiais básicos para a produção - ficou muito caro. Isso
tem um impacto muito grande nos custos para os produtores. Mesmo com um câmbio
valorizado, a exportação continua em níveis muito baixos no que diz respeito ao
produto final. Para os produtores de mudas e bulbos, a exportação é uma ajuda
importante4. As exportações de produtos da floricultura
brasileira em 2023 tiveram como destino 59 países. Dentre os parceiros
comerciais brasileiros estão Holanda (34,6%), Estados Unidos (20,8%), Uruguai
(15,2%), Itália (5,4%) e Bélgica (5,2%), que foram responsáveis por 81,2% do
total do valor exportado de produtos da floricultura (Tabela 1). Em relação a 2022, três
parceiros apresentaram crescimento: Holanda, que ocupou a primeira posição no ranking, com aumento de 10,5%; Estados
Unidos, na segunda posição, com crescimento de 23,5%; e Uruguai, na terceira
posição, com aumento de 21,3%. Já a Itália e a Bélgica apresentaram decréscimo
de -32,9% e -14,0%, respectivamente, ocupando a quarta e quinta posição no ranking. A exportação para a Holanda totalizou US$5,00 milhões FOB em produtos da
floricultura brasileira, distribuídos nos seguintes grupos5: grupo
de bulbos (87,8%), sendo 99,7% transportados via marítima e 0,3% por via aérea;
grupo de mudas (5,4%), em que o transporte foi feito praticamente por via aérea
(99,8%) e apenas 0,2% por via marítima; grupo de folhagens (4,2%), sendo 86,2%
transportados por via marítima e 13,8% por via aérea; e grupo de flores (2,6%),
em que predomina o transporte por via marítima (74,1%), com 25,9% por via
aérea. Os Estados Unidos importaram do Brasil aproximadamente US$2,88 milhões
FOB em produtos da floricultura brasileira em 2023. O principal grupo foi o de
bulbos, com 47,0% do total, sendo 97,3% transportado por via marítima e 2,7%
por via aérea. Em seguida, o grupo de folhagens, com 35,9% do total, sendo
57,8% transportado por via marítima e o restante, 42,2%, por via aérea. Por
último, o grupo de mudas, com participação de 16,9%, sendo transportado em sua
totalidade por via aérea. Em relação ao ano anterior, alguns parceiros chamaram a atenção na
variação percentual das exportações de produtos da floricultura brasileira, como
Suíça, Índia e Malta, com crescimentos de 2.823,5%, 2.417,5% e 1.179,7%,
respectivamente (Tabela 1). O grupo de bulbos foi o mais importante nas exportações de produtos da
floricultura brasileira em 2023, totalizando US$5,85 milhões FOB (44,5% do
total), seguido pelo grupo de mudas, que totalizou US$5,02 milhões FOB (38,2%
do total). O grupo que sofreu a maior variação em relação ao ano anterior foi o
de flores, com um crescimento de 75,0%, mas apresentando valores baixos na
ordem de US$0,21 milhões FOB. A importação de produtos da floricultura brasileira em 2023 apresentou o
grupo de mudas como destaque, totalizando US$36,32 milhões FOB (81,97% do
total), seguido pelos grupos de bulbos e de flores. O saldo da balança em 2023
dos produtos da floricultura brasileira totalizou US$-31,17 milhões FOB, em que
o grupo de mudas foi o destaque, totalizando US$-31,30 milhões FOB (Tabela 2). Dentre os 14 estados exportadores dos produtos da floricultura
brasileira em 2023, os destaques foram: São Paulo, com US$9,27 milhões FOB
(64,3% do total; São Paulo é, de longe, o estado onde se produz mais flores e
plantas - em vasos-, como também é o maior consumidor), Rio Grande do Sul, com
US$1,84 milhão FOB (12,7% do total), Minas Gerais, com US$1,59 milhão FOB
(11,1% do total), e Ceará, com US$1,42 milhão FOB. Esses quatro estados
totalizaram 98,1% das exportações. Outro detalhe das exportações dos produtos da floricultura é o tipo de
transporte empregado, sendo o principal a via marítima (52,3%), seguido por via
aérea e via rodoviária, com 32,8% e 15,0%, respectivamente. Este trabalho evidencia que o saldo da balança do setor de floricultura
no Brasil está apresentando uma taxa de crescimento negativa, com tendência de
agravamento. O Brasil, por meio do Ministério da Agricultura e Pecuária, possui
condições de reverter essa tendência, estimulando os produtores a aumentarem
sua produção, principalmente no que se refere aos grupos de mudas e de flores,
os quais são responsáveis pelo saldo negativo do setor. A análise da cadeia de flores e plantas ornamentais com informações
atualizadas sobre a dimensão e o desempenho
se torna essencial diante do dinamismo que esse setor possui na ocupação de mão
de obra e na distribuição de renda. É um setor similar a de outros produtos considerados
superiores ou de luxo (vinhos, frutas mais caras, alimentos light, orgânicos).
Além disso, apresenta grande variedade de agentes atuando no pós-porteira,
formando uma complexa rede de inter-relações, como comércio atacadista, floriculturas,
serviços de decoração, paisagismo, jardinagem, nos supermercados e
hipermercados. Estes últimos vêm crescendo firme e de forma sustentável ao
longo dos últimos anos, com a introdução constante de melhorias logísticas e
operacionais6. O bom desempenho do setor de flores e plantas
ornamentais está intrinsicamente relacionado a estabilidade econômica do país7. 1Os autores agradecem a Josilene Ferreira Coelho pelas contribuições
auferidas no texto. 2Considerou-se nesta análise o grupo de produtos
especificados na Nomenclatura Comum do MERCOSUL, NCM 06 da SECEX/MDIC e o Saldo
da Balança Comercial brasileira de plantas vivas e produtos da floricultura.
Ver: BRASIL. Ministério do Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior -
MDIC. AliceWeb. Brasília: MDIC, 2023. Disponível em:
https://indicadores.agricultura.gov.br/agrostat/index.htm. Acesso em: 28 jan.
2024. 3ABRE. O mercado brasileiro de flores e plantas
ornamentais em 2023. São Paulo: ABRE, 23 jan. 2023. Disponível em:
https://www.abre.org.br/inovacao/o-mercado-brasileiro-de-flores-e-plantas-ornamentais-em-2023/.
Acesso em: 14 set.
2023. 4SCHOENMAKER, K. O mercado de
flores no Brasil. Holambra: Instituto Brasileiro de Floricultura, jan.
2022. Disponível em:
https://www.ibraflor.com.br/_files/ugd/b3d028_2ca7dd85f28f4add9c4eda570adc369f.pdf.
Acesso em: 14 set. 2024. 5O Capítulo 6 da Nomenclatura Comum do Mercosul
(NCM) é composto por quatro agrupamentos de produtos: de Bulbos (bulbos,
tubérculos, rizomas, etc.), de Mudas (mudas de plantas ornamentais, de
orquídeas etc.), de Flores (flores cortadas para buquês, frescas ou secas) e
Folhagens (folhas, folhagens e musgos para floricultura). No grupo de mudas,
estão incluídos os de não ornamentais como café, cana e videira, em valores
ínfimos. 6Op. cit.
nota 3. 7CENTRO DE
ESTUDOS AVANÇADOS EM ECONOMIA APLICADA. PIB
das cadeias de flores e plantas ornamentais. Piracicaba: CEPEA, 25 ago.
2022. Disponível em: https://www.cepea.esalq.usp.br/br/pib-da-cadeia-de-flores-e-plantas-ornamentais.aspx. Acesso
em: 14 set. 2023. Palavras-chave:
floricultura, exportação, importação, saldo, comércio exterior, grupo de
flores, grupo de bulbos, grupo de folhagens, grupo de mudas. COMO CITAR ESTE ARTIGO COELHO,
P. J.; BAPTISTELLA, C. da S. L.; BRENA, T. H. Análise da Balança Comercial da Floricultura
Brasileira de 2011 a 20231. Análises e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 19, n. 4, p. 1-6, abr. 2024. Disponível em: colocar o link do artigo.
Acesso em: dd
mmm. aaaa.
Data de Publicação: 08/05/2024
Autor(es):
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Thiago Brena Consulte outros textos deste autor