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Salário Rurais no Estado de São Paulo: 2012 a 2022
Os salários rurais pagos à população ocupada são
informações relevantes quando se avalia o mercado de trabalho, e interessam ao
empregador, ao trabalhador, aos sindicatos, às associações e às cooperativas.
Estes informes constituem importante subsídio para as negociações salariais
como também, para avaliações efetuadas por diferentes instituições,
governamentais ou não, sobre a situação econômica dos trabalhadores. Além
disso, informações a respeito dos salários são componentes importantes no
cálculo de custos de produção, viabilidade econômica, contabilidade e gestão da
propriedade rural. Diante do exposto, será apresentado neste artigo o panorama
de 2012 a 2022 dos salários rurais no campo paulista. Os dados primários foram obtidos por meio de
levantamentos sistemáticos, realizados pelo Instituto de Economia Agrícola
(IEA), em conjunto com a Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI),
da Secretaria de Agricultura e Abastecimento do Estado de São Paulo (SAA). As
informações são oriundas de levantamento subjetivo, realizado duas vezes ao ano
nos meses de abril e novembro pelos técnicos das Casas de Agricultura de todos
os municípios do estado de São Paulo. Como metodologia de coleta, para cada município o
informante declara qual é, na média, a remuneração praticada para as seguintes
categorias de trabalho rural: administrador
(aquele que recebe salário mensalmente para executar serviços gerais de
administração e gerenciamento da propriedade); tratorista (é o trabalhador especializado em operação de tratores
e/ou de outras máquinas agrícolas, residente ou não na propriedade); mensalista (é o trabalhador que reside
ou não na propriedade e recebe por mês para executar as mais diversas tarefas,
especializadas ou não); capataz
(refere-se ao trabalhador que tem sob sua responsabilidade os demais
trabalhadores do imóvel rural, controlando as jornadas e a qualidade do
trabalho); diarista (compreende o
trabalhador residente ou não no imóvel rural que realiza tarefas rotineiras,
mediante pagamento diário de quantias pré-estabelecidas, em moeda corrente, e
destituídas de encargos e benefícios sociais, ou seja, "diarista a
seco"); e volante (trabalhador não residente, contratado pelo proprietário,
administrador ou outro agenciador, que muitas vezes é transportado em grandes
grupos para realizar tarefas determinadas, recebendo exclusivamente em
dinheiro). Observa-se que não estão contemplados salários muito acima ou abaixo
das médias, distanciando-se da maioria dos trabalhadores rurais do município,
ou seja, casos pontuais. Após o processo de coleta, as informações são depuradas a
fim de se detectar eventuais problemas que possam ter ocorrido, como por
exemplo, erros de digitação das informações ou o caso relatado anteriormente.
Posteriormente, os dados são divulgados no site da instituição, agregados por estado,
Regiões Administrativas (RAs) e Coordenadoria de Assistência Técnica Integral
(CATI-Regional)2, 3. Os dados aqui analisados foram corrigidos para novembro
de 2022 em valores reais pelo Índice Nacional de Preços ao Consumidor Ampliado4
(IPCA-IBGE). De forma geral, para todas as categorias de trabalho
pesquisadas, constatou-se evolução diminuta dos salários rurais, em valores
reais, ao longo do período de 2012 a 2022. A comparação de resultados entre os
trabalhadores com recebimento mensal mostrou taxa maior de crescimento para a
categoria administrador, ou seja, 0,74% a.a., e as menores para capataz e
tratorista, com 0,05% a.a. (Tabela 1). Para as categorias “diarista” e “volante”, remuneradas ao
dia, as taxas de crescimento analisadas foram 0,07% a.a. e de 0,92% a.a.,
respectivamente (Tabela 2). Em geral, as culturas anuais e semiperenes utilizam muita
força motriz em praticamente todo processo produtivo, ocupando mão de obra
especializada. No entanto, nas perenes o trabalho humano representa parte
significativa dos custos de produção. Em muitas culturas há uma alta
dependência de trabalhos manuais, como por exemplo em topografia montanhosa,
onde a inclinação do terreno dificulta o emprego de máquinas no processo de
cultivo. Contudo, é na colheita em que há maior exigência de pessoas. Nota-se que dentre as categorias de remuneração mensal, a
de administrador, com maior nível de instrução formal, obteve maior crescimento
salarial. Considera-se também que as transformações tecnológicas no setor rural
impulsionaram a readequação do mercado de trabalho no qual a especialização e a
qualificação do trabalhador são relevantes para obtenção de melhores salários. Avaliações recentes sobre as novas tendências das
ocupações têm ressaltado a importância da formação de trabalhadores capacitados
para as alterações nos processos produtivos da agropecuária paulista. Tais
constatações valem para o administrador, mas é um crescente também para outras
categorias ocupacionais como o mensalista e o tratorista, ainda que os dados
não demonstrem grandes elevações salariais ao longo do período analisado. Na oferta e na qualificação da mão de obra disponível é
que se dá a variação na renda do trabalhador na agricultura. A remuneração
aumenta à medida que os serviços se tornam especializados. O produtor rural
busca cada vez mais trabalhadores qualificados para o campo, uma vez que a
relação de troca possa ser mais eficiente, tanto na redução de custos, pois ele
tem um profissional que sabe operacionalizar equipamentos de alto custo
monetário, quanto na qualidade em operações executadas nas diferentes etapas dos
sistemas produtivos. O setor primário paulista, no período em análise,
apresentou bom desempenho em relação aos setores econômicos secundário e
terciário. Contudo, para manter a eficiência dos diferentes setores econômicos,
é necessário educar e qualificar maior número de pessoas e melhorar a qualidade
de infraestrutura para que a circulação de produtos e pessoas sejam de fato
eficientes nas diferentes regiões, resultando em maior competitividade. Elaborar informes de empregabilidade no setor rural é
complicado dada a informalidade. Contudo, para compor um crescimento econômico
rural sustentável, é necessário um estável componente social e político, além da
preservação do meio ambiente. Dados da Pesquisa Nacional de Amostra
Domiciliares – Contínua (PNAD-Contínua) aponta que, no segundo trimestre de
2023, o total de pessoas ocupadas na agricultura, pecuária, produção florestal,
pesca e aquicultura foi estimado em 675 mil pessoas5. Já os dados
mais atuais da Relação Anual de Informações Sociais para o ano de 20216 apontam
que o total de empregados com carteira assinada foi de 300.406, ou seja, ainda
que exista uma defasagem temporal entre as duas fontes de informação, estima-se
que a informalidade está presente em 55,5% do total de pessoas ocupadas no
setor rural; lembrando também que os números da PNAD também computam
proprietários e seus familiares que trabalham no setor agropecuário. Outra análise realizada neste trabalho foi observar a
equivalência dos salários médios das categorias com o salário mínimo ao longo
de todo o período. Notou-se uma nítida tendência de equilíbrio salarial para
todas as categorias de trabalhadores, ou seja, o poder aquisitivo, em relação
ao salário mínimo, sofreu uma pequena variação ao longo dos anos (Figura 1).
Vale salientar que em janeiro de 2012, o trabalhador que recebia um salário
mínimo tinha a possibilidade de adquirir 2,25 cestas básicas. Não obstante, em
janeiro de 2022 o salário mínimo comprava 1,58 cestas básicas. Essa informação
demonstra a queda do poder de compra dos trabalhadores paulistas. No entanto, ao se observarem as médias salarias das
próprias categorias no decorrer da década, as que sofrem interferência diária
foram as que tiverem melhor valoração; já para as categorias mensalistas, as
variações foram diminutas (Figuras 2 e 3). Ainda que a especialização da mão de obra seja uma
tendência no setor rural, conforme já abordada neste trabalho, ela ainda não se
faz presente para a maioria dos trabalhadores; daí os salários médios
praticados no território estadual não acompanharem, como um todo, políticas de
valorização salarial. Isso apenas corrobora outro aspecto para o setor rural,
uma evasão da mão de obra rural para outras atividades do ponto de vista
econômico e para outras atividades, fora do contexto rural, do ponto de vista
geográfico. No entanto, novas expectativas positivas surgem para a maioria dos
trabalhadores rurais, com o sancionamento da Lei n. 14.663/2023, que determina
a valorização permanente do salário mínimo a partir de janeiro de 20247
e, com isso, espera-se uma valorização também dos salários praticados para as
categorias ocupacionais citadas ao longo desse texto. E novas profissões vão sendo incorporadas ao setor rural,
principalmente aquelas com base nas tecnologias de informação. É o caso, por
exemplo, de operadores de drones,
cuja remuneração pode chegar até R$12 mil8. Não é ainda a realidade
para a maioria dos trabalhadores, conforme os dados obtidos por esse
levantamento, mas, aos poucos, vai se criando uma nova tendência para o mercado
de trabalho rural. __________________________________________________ 1Os autores agradecem a Josilene Ferreira Coelho
pelas contribuições auferidas no texto. 2INSTITUTO DE ECONOMIA
AGRÍCOLA. Banco de dados: salários
rurais. Entre 2012 a 2022. Disponível em http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precorSalarios.aspx?cod_tipo=6&cod_sis=13. Acesso em: 19 maio
2023. 3 BRASIL. Decreto Lei 66.417, de 30 de dezembro de
2021: reorganiza a Secretaria de Agricultura e Abastecimento e dá
providências correlatas. São Paulo: Diário Oficial do Estado de São Paulo, v.
131, n. 249, 2021. Disponível em: http://dobuscadireta.imprensaoficial.com.br/default.aspx?DataPublicacao=20211231&Caderno=DOE-I&NumeroPagina=1.
Acesso em: 27 out. 2023. https://www.portalbrasil.net/ipca/. Acesso em: 19 maio 2023. 5
INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICAS. Pesquisa Nacional de Amostra de Domicílios Contínua. 2023.
Disponível em https://ftp.ibge.gov.br/Trabalho_e_Rendimento/Pesquisa_Nacional_por_Amostra_de_Domicilios_continua/Trimestral/Quadro_Sintetico/2023/pnadc_202302_trimestre_quadroSintetico.pdf. Acesso em: 30 set. 2023. 6
BRASIL. Ministério do Trabalho e Emprego. Relação
Anual de Informações Sociais. Brasília, DF: Ministério do Trabalho e
Emprego, 2022. Disponível em: http://pdet.mte.gov.br/rais.
Acesso em: 30 set. 2023. 7
BRASIL. Lei 14.663 de 2023. Define o valor do salário mínimo a
partir de 1º de maio de 2023; estabelece a política de valorização permanente
do salário mínimo a vigorar a partir de 1º de janeiro de 2024; e altera os
valores da tabela mensal do Imposto sobre a Renda da Pessoa Física de que trata
o art. 1º da Lei nº 11.482, de 31 de maio de 2007, e os valores de dedução
previstos no art. 4º da Lei nº 9.250, de 26 de dezembro de 1995. Brasília:
Secretaria Especial para Assuntos Jurídicos, 2023. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2023-2026/2023/lei/L14663.htm#:~:text=dezembro%20de%201995.-,Art.,1%C2%BA%20de%20maio%20de%202023. Acesso em: 8 ago. 2023. Palavras-chave: salários
rurais, trabalho rural, estado de São Paulo. COMO CITAR ESTE
ARTIGO BAPTISTELLA, C. da S. L.; FREDO,
C. E.; COELHO, P. J.. Salário Rurais no Estado de São Paulo: 2012 a 2022. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 11, nov. 2023, p. 1-8.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.4 IPCA – ÍNDICE NACIONAL DE PREÇOS AO
CONSUMIDOR AMPLO. 2023. Disponível em
8 CANAL RURAL. Agricultura: aconteceu em 2020: especialista diz que salário de
piloto de drone chega a R$ 12 mil. 2020. Disponível em: https://www.canalrural.com.br/agricultura/aconteceu-em-2020-salario-piloto-drone/. Acesso em: 5 out. 2023.
Data de Publicação: 09/11/2023
Autor(es):
Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Carlos Eduardo Fredo (cfredo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor