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Diversificação nas Origens de Fertilizantes Importados Suplanta a Escassez Causada pelo Conflito Russo-Ucraniano
A oferta de fertilizantes para a agropecuária
brasileira foi bastante afetada por fatores de natureza exógena à dinâmica da
produção, tendo em vista que o Brasil é o quarto maior consumidor mundial de
fertilizantes. Primeiramente, a invasão russa à Ucrânia, em fevereiro de 2022,
refletiu-se em colapso na oferta dos nutrientes empregados na preparação dos
fertilizantes, especialmente o potássio, devido ao embargo comercial decretado
pelo ocidente às transações russas e bielorrussas (aliados estratégicos na invasão).
Concomitantemente, a China, igualmente grande fornecedor mundial de
fertilizantes, ao implantar a política de covid-zero, desorganizou os sistemas
logísticos marítimos em todo o globo, encarecendo sobremaneira qualquer tipo de
embarque internacional. Ademais, a instabilidade político/institucional
brasileira promoveu acentuada desvalorização do real frente ao dólar,
impactando os preços dos produtos importados. Somados esses fenômenos, houve
uma explosão nas cotações das matérias-primas para a produção de fertilizantes
e os produtos acabados, ocasionando redução na demanda doméstica. Assim, em 2022, as importações de fertilizantes
recuaram 8,30% frente ao ano anterior, contabilizando 38,12 milhões de
tonelada. Em contrapartida, houve forte incremento nos valores pagos pelo
produto, que totalizaram US$24,74 bilhões, ou seja, expansão de 63,14% face ao
gasto efetivo de 2021. Ao longo de 2022, o preço médio praticado alcançou
US$649,00/t, 77,92% superior ao valor médio obtido em 2021 (Figura 1). Apesar dessa queda nas importações, houve aumento nos
estoques de passagem em 2021. Segundo dados da Associação Nacional de Difusão
de Adubos1, o volume transferido de 2021 para 2022 totalizou 7,27
milhões de toneladas que, somado à quantidade importada e à produção nacional
de 7,45 milhões de toneladas2, produz estimativa de oferta total de
fertilizantes de aproximadamente 53 milhões de toneladas, amenizando
parcialmente os efeitos da baixa nas compras internacionais do produto. A progressiva expansão da área cultivada no Brasil,
associada tanto ao aumento da tecnologia empregada nos cultivos, e visando o
incremento da produtividade, como a elevação nas cotações internacionais das
principais commodities, tem exigido
crescentes importações de fertilizantes. Essa tendência tem se manifestado no
último quinquênio, com exceção de 2022, quando os fenômenos
geopolíticos/sanitários relatados se fizeram pesar. Apesar dos investimentos efetuados pelas empresas e
dos esforços para diminuir a dependência internacional por fertilizantes, a
expansão da produção no Brasil exibiu crescimento moderado, registrando 3,3% de
incremento entre 2021 e 2022, totalizando 7,21 milhões de toneladas, com
preponderância do salto na produção de ureia3. O gás natural é o principal insumo empregado na
produção de fertilizantes nitrogenados. Averiguando-se a evolução do índice de
preços para o gás natural, constata-se que, em agosto de 2022, ocorreu pico nas
cotações do produto, passando desde então a recuar, mas se mantendo em
patamares bem acima da média do índice em período precedente (Figura 2). Essa
majoração nas cotações do gás natural tem efeitos diretos sobre o preço final
dos fertilizantes nitrogenados. Apesar de todas as repercussões do conflito
internacional, o principal parceiro comercial do Brasil no fornecimento de
fertilizantes em valores continua sendo a Rússia, seguida pelo Canadá e pela China.
Em 2022, esses três países perfizeram, aproximadamente, 47% do valor total pago
pelas importações pelo país. Acrescentando-se outras origens das compras
brasileiras (Estados Unidos, Marrocos e Israel), a concentração das aquisições
internacionais superou os 65% no ano (Figura 3). O Brasil importou da Rússia 8,03 milhões de
toneladas de fertilizantes em 2022, resultando em diminuição de 13,3% frente ao
ano anterior. Todavia, o valor desembolsado pelas aquisições elevou-se para
US$5,61 bilhões, contabilizando majoração de 58,8% frente ao praticado em 2021.
O bloqueio aos meios de pagamento impetrado pelo Ocidente contra russos e
bielorrussos, associado aos problemas na logística de fretes internacionais,
permitiu ao Canadá se posicionar como alternativa mais acessível enquanto fonte
de suprimento de fertilizantes ao Brasil, ainda que as cotações dos
fertilizantes dessa origem tenham exibido elevação substancial. As lavoras de soja, milho e algodão serão as mais
afetadas pela escassez de fertilizantes (NPK), uma vez em que respondem por
quase 70% do total das entregas do produto (Figura 4). Em 2022, estimou-se que
a cultura da soja tenha demandado 17,69 milhões de toneladas de fertilizantes
(ligeiro crescimento de 1,10% frente ao ano anterior), representando
isoladamente 47% da demanda total de fertilizantes do país. Somada à cultura do
milho (expansão de 1,43% frente a 2021), a demanda de ambos cultivos alcança
24,75 milhões de toneladas, ou seja, 65% do total4. O prolongamento da invasão russa sobre o território
ucraniano ainda repercute sobre o cenário de abastecimento global de
fertilizantes. As cotações dos principais ingredientes continuam elevadas
(porém, em queda), implicando em aumento substancial dos custos de produção dos
agricultores. No Brasil, a problemática dos preços e a escassez dos fertilizantes
entraram na pauta da segurança nacional (em razão do possível desarranjo do
sistema agroalimentar), mobilizando as agências governamentais na elaboração de
planos estratégicos para mitigar a elevada dependência brasileira5. Para o estado de São Paulo, em 2022, 55% das compras
paulistas em termos de valores se concentraram em três países: Rússia, Canadá e
Estados Unidos (Figura 5). Apesar de terem sido construídos cenários de
escassez para a oferta do produto ao longo do ano-safra, a capacidade em
diversificar origens permitiu que a safra corresse sem grandes prejuízos de
produtividade para as lavouras. As importações de fertilizantes canadenses
foram ainda mais relevantes em São Paulo do que a média brasileira. Em 2022, no estado de São Paulo prevê-se elevação
real de 10% no valor da produção agropecuária, totalizando em torno de R$135
bilhões. Com a estabilização dos preços recebidos pelos produtores ao longo de
2022, esse maior montante foi majoritariamente formado pelos ganhos de
produtividade das commodities produzidas no estado. O comportamento favorável
do clima para as lavouras de verão foi decisivo para esse resultado. A queda nas cotações dos fertilizantes reflete-se
nos preços pagos pelos produtores. Em São Paulo, segundo dados do IEA, o preço do fertilizante 20-05-20 depois de atingir os R$5.926,25/t em
junho de 2022, recuou para R$3.822,42/t em fevereiro de 2023, ou seja, queda de
35,50% no período. A possibilidade de recessão global a partir da escalada dos
juros básicos das principais economias mundiais pode baixar ainda mais as
cotações dos fertilizantes, pressionando menos os custos de produção dos
agricultores (Figura 6). A elevação dos preços dos fertilizantes no mercado
doméstico refletiu-se em maior demanda por biofertilizantes. Não existem
estatísticas consolidadas sobre o emprego de fontes alternativas aos
fertilizantes químicos. Uma aproximação para o fenômeno da procura pelos
organominerais pode ser percebida pela expansão de empresas cadastradas no
Ministério de Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA) enquanto
produtoras/misturadoras de fertilizantes organominerais (412), consistindo em
expansão de 18,7% frente a 20216. 1ASSOCIAÇÃO
NACIONAL PARA DIFUSÃO DE ADUBOS. Anuário
estatístico do setor de Fertilizantes 2021. São Paulo: ANDA, 2022. 176 p. 2CATUVER, D. Entregas de fertilizantes ao Brasil em 2022
somou 41 milhões de toneladas. 2023. Disponível em: https://sba1.com/noticias/noticia/25266/Entrega-de-fertilizantes-ao-Brasil-em-2022-somou-41-milhoes-de-toneladas. Acesso em: 29
mar. 2023. 3Ver op. cit.
nota 1. 4SEIXAS, M. A. A crise dos fertilizantes e o aumento da
insegurança alimentar global impactos do conflito Rússia-Ucrânia no mercado de
commodities agrícolas. Brasília: EMBRAPA, 2022. 22 p. Disponível em:
https://www.embrapa.br/documents/10180/26187851/A+CRISE+DOS+FERTILIZANTES+E+O+AUMENTO+DA+IN 5BRASIL.
Ministério da Agricultura e Pecuária. O
Plano Nacional de Fertilizantes. Brasília, DF: Ministério da Agricultura e
Pecuária, 2022. Disponível em: https://www.gov.br/agricultura/pt-br/assuntos/insumos-agropecuarios/insumos-agricolas/fertilizantes/plano-nacional-de-fertilizantes/o-plano-nacional-de-fertilizantes. Acesso em: abr.
2023. 6TSUZUKI, A. Mercado de fertilizantes orgânicos.
2022. Disponível em: https://globalfert.com.br/OGFposEvento/arquivo/Outlook-GlobalFert-2022.pdf.
Acesso em: abr. 2023. Palavras-chave: fertilizantes,
importação de fertilizantes, demanda por fertilizantes. COMO CITAR ESTE ARTIGO VEGRO,
C. L. R.; ANGELO, J. A. Diversificação nas Origens de Fertilizantes Importados
Suplanta a Escassez Causada pelo Conflito Russo-Ucraniano. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 4, p. 1-8, mar. 2023.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
SEGURAN%C3%87A+ALIMENTAR+GLOBAL_IMPACTOS+DO+CONFLITO+RUSSIA-UCRANIA+NO+MERCADO+DE+COMMODITIES+AGRICOLAS.pdf/0283733c-bf26-5f6f-6d7b-a971ff35dc53?download=true#:~:text=O%20conflito%20R
%C3%BAssia%2DUcr%C3%A2nia%20atingiu,de%20alimentos%2C%20de%20longa%20dura%C3%A7%C3%A3o.
Acesso em: abr. 2023.
Data de Publicação: 24/04/2023
Autor(es):
Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
José Alberto Angelo (jose.angelo@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor