Amendoim: em 2022, as exportações do grão fortaleceram novos mercados, enquanto as do óleo registraram alta


 

O mercado externo constitui importante estrutura de comercialização da produção brasileira de amendoim, concentrada no estado de São Paulo1. A mercadoria em grão cru ocupa espaço significativo na pauta de exportações da cadeia de produção, que também atua no segmento de óleos vegetais2, tendo no território paulista a origem de 99% dos embarques.

Em 2022, foram exportadas pouco mais de 285 mil toneladas de amendoim em grão, 11% a mais do volume registrado no ano anterior, representando US$332 milhões, total 0,6% superior aos valores computados em 2021. A diferença entre os percentuais de crescimento dos volumes e dos valores denota a retração das cotações que, nos anos de 2020 e 2021, acompanhou o cenário de alta de preços pontuado pela pandemia da covid-19. Apesar da retração, cabe apontar que, quando comparado aos resultados alcançados entre 2018 e 2019, 2022 apresentou valorização do produto (44%) e incremento de 38% nos volumes exportados (Figura 1).

As exportações de amendoim em grão, em 2022, tiveram como destino mais 90 países. Nesse conjunto, apenas 12 destinos representaram 85% do total do volume exportado, como segue: Rússia, Argélia, Países Baixos (Holanda), Reino Unido, Espanha, Polônia, Colômbia, Turquia, Ucrânia, África do Sul, Austrália e Emirados Árabes Unidos. A Rússia respondeu por 34% do total (98 mil toneladas), representando US$109 milhões e, quando comparado a 2021, indicou recuo de 5% nos volumes e de 16% nos valores, mantendo sua posição, ocupada desde 20163, de principal importador do amendoim paulista e brasileiro.

A Argélia foi o segundo principal destino, com 14% do total dos volumes exportados, seguida da Holanda com 8%, compondo, assim, os três principais destinos que, juntos, responderam por 56% do total. Importante pontuar que, quando se compara 2022 com 2021, foi registrado recuo de 3% dos volumes importados pela Argélia, totalizando pouco mais de 39 mil toneladas, e de 16% nos valores, contabilizando US$43 milhões. Por outro lado, para a Holanda foi registrado o aumento de 12% nos volumes, em torno de 24 mil toneladas, e de 2% nos valores exportados, US$31 milhões, reforçando os indicativos de queda nas cotações do amendoim em grão (Figura 2).

 

Nos últimos cinco anos a Ucrânia também ocupou posição de destaque entre os principais destinos do amendoim brasileiro, especialmente entre 2020 e 2021, quando foram exportadas, respectivamente, 16 mil toneladas e 22 mil toneladas, somando pouco mais de US$48 milhões nos dois anos. Em 2022, o conflito com a Rússia impactou fortemente a dinâmica de exportações do grão para a Ucrânia que, em comparação ao ano anterior, retrocederam em 62% nos volumes e 67% para os valores, somando apenas em torno de US$10 milhões, desempenho próximo aos registrados nos anos de 2018 e 2019 (Figura 3).

 

Por outro lado, nos últimos cinco anos, o Reino Unido tem mantido participação entre os destinos importantes para o amendoim brasileiro, com valores entre US$5 milhões e US$9 milhões. Contudo, no último ano, as exportações atingiram mais US$20 milhões, registrando um salto de 164% em comparação a 2021. Comportamento semelhante foi verificado para Espanha que, em 2002, importou US$13 milhões, valor 143% superior que o registrado em 2021 (Figura 4).

 

Na figura 4, é possível também observar a manutenção dos patamares das exportações de amendoim em grão, especialmente para a Polônia que, no último ano, registraram alta de 48% e valores próximos aos posicionados nos anos de 2019 e 2020. Já a Colômbia manteve valores similares aos observados nos últimos quatro anos, variando entre US$8 milhões e US$10 milhões.

O contexto das exportações do grão aqui relatado está em interação com a dinâmica socioeconômica das regiões produtoras e dos municípios paulistas que beneficiam e exportam as mercadorias da cadeia de produção. Em 2022, o município de Tupã foi responsável por 28% dos valores exportados, seguido por Borborema com 17%, e que juntos com municípios de Jaboticabal (7%), Sertãozinho (7%), Pompéia (6%) e Taquaritinga (5%) cumprem com frequência e regularidade a pauta de exportações do amendoim em grão. Já os municípios de Ribeirão Preto, com 10% das exportações de 2022, e de Parapuã com 8%, incrementaram suas operações, principalmente a partir de 2021.

 

As operações agroindustriais da cadeia de produção do amendoim também envolvem a produção e exportação de óleo de amendoim. Em 2022, essa atividade, em expansão, principalmente no estado de São Paulo, contribuiu de forma importante para minimizar a queda de preços do produto em casca no mercado interno e das perspectivas pouco animadoras posicionadas pela retração das exportações do amendoim em grão à Ucrânia.

Os totais contabilizados, quando comparados a 2021, foram superiores em 86% para volume, somando 136 mil toneladas, e em 91% para os valores, alcançado pouco mais de US$247 milhões. Esse movimento, diferente do registrado para o amendoim em grão, apontou aumento das cotações do óleo de amendoim, ampliando o patamar de alta de preços, observados nos anos de 2020 e 2021 (Figura 6).

 

Quanto aos destinos do óleo de amendoim, tradicionalmente, China e Itália juntas respondem praticamente por 100% das exportações brasileiras. Considerando-se os últimos cinco anos, as exportações para a Itália atingiram volumes entre 9 mil toneladas e 21 mil toneladas, mantendo certa estabilidade na demanda. A China, o principal produtor e consumidor mundial de amendoim5, tem no processo de importação o atendimento ao aumento da demanda e/ou queda na produção doméstica. Nessa equação, as exportações de óleo para China avançam desde 2020 e, em 2022, somaram 114 mil toneladas, 124% superiores ao ano anterior. Em valores foram de US$207 milhões, 130% superiores aos registados em 2021, puxando a alta nas cotações do produto (Figura 7).

A movimentação positiva das exportações de óleo de amendoim também impulsiona novas operações, principalmente, em municípios paulistas, a exemplo de Itaju, que iniciou suas exportações em 2021 e, em 2022, já se posiciona como o terceiro exportador, com 21% do total brasileiro. Na mesma condição de abertura das atividades, estão os municípios paulistas de Paraíso (8%) e Parapuã (3%), além de Petrópolis no estado do Rio de Janeiro, com 4% dos valores totais exportados em 20226. Por outro lado, cabe destacar o município de Catanduva, com 24% do total e o principal exportador brasileiro de óleo de amendoim dos últimos cinco anos, assim como o município de Jaboticabal, com 10%, e o de Paraguaçu Paulista (21%), que desde 2019 vem expandindo suas exportações de óleo de amendoim (Figura 8).

 

Em 2022, as exportações de amendoim em grão encontraram um cenário de retração das cotações e de incertezas na efetivação de mercados importantes como o da Ucrânia, exigindo esforços na busca por novas posições e parcerias comerciais. Nessa caminhada, as exportações de óleo de amendoim ganharam lugar ampliando os volumes exportados acompanhados da alta de preços. Esses resultados, construídos durante o ano, amenizaram as expectativas de queda nos preços internos combinada com a alta dos custos de produção, dando espaço a boas perspectivas para a safra 2022/23 de amendoim.

 

 

 

1Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB), na safra 2021/22, foram produzidas 747 mil toneladas de amendoim em casca; o estado de São Paulo respondeu por 93% desse total. Companhia Nacional de Abastecimento. Acompanhamento da safra brasileira de grãos, Safra 2021/22, 12º Levantamento, v.9, n.12, Setembro2022 – Brasília: Conab. Disponível em: https://www.conab.gov.br/component/k2/item/download/44171_1d9f893d78f593b07d41887104acc43f. Acesso em: 12 jan. 2023.

 

2SAMPAIO, R. M. Amendoim: exportações do grão em alta e do óleo em queda, Análises e Indicadores do Agronegócio, v. 12, n. 3, março 2017. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-11-2017.pdf. Acesso em 12 jan. 2023.

 

3SAMPAIO, R.M. Amendoim em grão: Rússia é o principal destino das exportações brasileiras. Análises e Indicadores do Agronegócio, v.13, n.9, setembro 2018. Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/
ftpiea/aia/AIA-54-2018.pdf
. Acesso em 12 jan. 2023.

 

4Portal Mundo Agro Brasil. Amendoim sofre com a guerra Rússia-Ucrânia. Disponível em: https://mundoagrobrasil.com.br/amendoim-guerra-russia-ucrania/, acesso em 13 jan. 2023.

 

5Segundo o United States Department of Agriculture (USDA), a China produziu no ano-safra 2021/22 18,3 milhões de toneladas de amendoim e consumiu 18,6 milhões de toneladas, movimentado em torno de 36% do mercado mundial; já para o óleo, a produção atingiu 3,3 milhões de toneladas e o consumo ficou em 3,5 milhões de toneladas. Em: United States Department of Agriculture, Foreign Agricultural Service, PSD. Disponível em: https://apps.fas.usda.gov/psdonline/app/index.html#/app/home. Acesso em: 16 jan. 2023.

 

6SANTOS.P. Óleo de amendoim move o crescimento da Cras Brasil. Alimentos, Valor Econômico, Agronegócios, 23/12/2022. Disponível em: https://valor.globo.com/agronegocios/noticia/2022/12/23/oleo-de-amendoim-move-o-crescimento-da-cras-brasil.ghtml. Acesso em: 16 jan. 2023.

 

 

Palavras-chave: cadeia de produção, comércio exterior, mercados agroindustriais.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

SAMPAIO, R. M. Amendoim: em 2022, as exportações do grão fortaleceram novos mercados, enquanto as do óleo registraram alta. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 18, n. 1, p. 1-7, jan. 2023. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 27/01/2023

Autor(es): Renata Martins (rmsampaio@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor