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Momento Especulativo Requer Cautela para os Negócios com Café
Apesar da desvalorização do dólar frente as
principais moedas internacionais, o real continua amargando depreciações em
decorrência da percepção dos agentes de mercado de que a sinalização de
compromissos com o equilíbrio fiscal, que ao menos mantenha o endividamento do
governo federal como porcentagem do PIB, tem promovido muita especulação em
torno da paridade cambial. O governo que se inicia enfatiza a necessidade de
racionalização das despesas públicas, reforma tributária e novas regras para
limitar as despesas em substituição ao teto de gastos que, já no governo
anterior, havia sido rompido. A oscilação cambial manteve o real com cotação
entre R$5,20 a R$5,30 ao longo de dezembro (Figura 1). A depender da implementação das decisões
macroeconômicas e do alinhamento entre Fazenda e Bacen no ajuste do combate à
inflação, associadas a cautelosos incentivos ao investimento, a trajetória de
desvalorização do real poderá ser revertida para o ponto de equilíbrio dessas
duas moedas, favorecendo as cotações no mercado de commodities. No mercado futuro de café arábica negociado na Bolsa
de Nova York, as posições futuras exibiram ligeira valorização ao longo do mês.
Para a posição de maio de 2023, a média das cotações na primeira semana do mês foi
de US$¢161,32/lbp, saltando para US$¢169,97/lbp na média das cotações da quarta
semana, ou seja, ganho de 5,36% ao longo do mês (Figura 2). Apesar dos números
extremamente discrepantes apresentados pelos órgãos responsáveis pelas
estimativas de safra no Brasil, há no mercado a percepção de que a produção não
será portentosa a ponto de atender ao aumento da demanda e o incremento de
estoques. A queda de 11,8% nos embarques brasileiros,
registrada em dezembro de 2022 frente a igual mês do ano anterior, pode ter
sido um dos gatilhos dessa alta observada2. Salienta-se que o primeiro
trimestre do ano é considerado a entressafra de café no Brasil, em que,
portanto, diminuem tanto a comercialização interna como as exportações,
ensejando, assim, ambiente favorável para a alta de preços. No principal cinturão de lavoura cafeeira do estado
de São Paulo - CATI Regional de Franca -, o preço médio recebido pelos
cafeicultores foi de R$1.025,77/sc. para o tipo 6 bebida dura3. Esse
preço convertido pelo câmbio médio do mês (R$5,25/US$) representa US$195,38/sc
60 kg. Cotejando-se esse preço com a cotação futura para segunda posição na
quarta semana do mês de US$¢169,97/lbp ou de US$224,82/sc 60kg, constata-se
diferença de US$29,44 entre preço recebido e cotação em Nova York. Considerando-se
as despesas para contratação do hedge
parametrizadas, arbitrariamente, em 20% da cotação registrada (saldo de
US$179,86/sc 60 kg), esse diferencial desaparece, tornando não atraente nesse
momento aos cafeicultores, a contratação da proteção para os preços. No mercado futuro de robusta transacionado na Bolsa
de Londres, as cotações do produto exibiram baixa especialmente nas médias das
cotações futuras entre a terceira e quarta semana do mês (Figura 3).
Considerando-se a posição futura de março, a cotação que vinha estável até a
terceira semana de dezembro baixa 3,09%. Dentre as razões para essa queda está
o recorde de embarques vietnamitas, notadamente, da província de Dak Lak4,
território onde se concentra a maior parte da lavoura de robusta no país. O volume de contratos
negociados semanalmente na Bolsa de Nova York registrou, entre fundos e grandes
investidores, perfeito alinhamento com a movimentação das cotações. Ainda que o
saldo penda para os vendidos, houve queda no balanço em que vigoravam -24,9 mil
de saldo na primeira semana, declinando para -15,6 mil na quarta, ou seja,
crescimento do interesse pelo produto entre os investidores posicionados
comprados (Tabela 1). As incertezas quanto ao desempenho da economia
global, prevalecendo as expetactivas de arrefecimento nos índices de
crescimento associadas ao prolongamento do conflito russo/ucraniano,
persistência da inflação na UE e contaminação dos balanços dos trades que
rolaram contratos de entrega futura negociados no sentido de evitar o não
cumprimento, são razões aparentemente explicativas para a acentuada queda nas
cotações iniciadas no último trimestre do ano. Todavia, pelo lado dos
fundamentos, avança a percepção de que a magnitude da safra brasileira não
corresponde aos exageros anunciados pelas agências internacionais, de
representantes do comércio exportador e dos departamentos das instituições
financeiras responsáveis pelas análises do segmento. 1O autor agradece
pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo
agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA, o analista de
sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco. 2BRUMATTI G. CAFÉ/SECEX:
Exportação Recua 3,74% Em 2022 Ante 2021, Para 37 Milhões De Sacas, Mas Receita
É 57,7% Maior, Portal Broadcast. AGRONEGÓCIOS. 03/01/2023
http://broadcast.com.br/cadernos/agro/?id=dzdEaXpEYlJnOFpaWFlhTlZtUVl4QT09. Acesso em: 3 jan.
2022. 3INSTITUTO
DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios
diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6.
Acesso
em: 3 jan. 2022. 4NHÂN
DÂN. Dak Lak records highest-ever coffee
export volume. Hanoi, December 30, 2022 Disponível em: https://en.nhandan.vn/dak-lak-records-highest-ever-coffee-export-volume-post121422.html. Acesso em: 03 jan. 2022. Palavras-chave: mercado de café, cotações futuras, Bolsa de Valores COMO
CITAR ESTE ARTIGO VEGRO, C. L. R. Momento Especulativo Requer Cautela
para os Negócios com Café. Análises e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 18, n. 1, jan. 2023, p. 1-5. Disponível em: colocar o link do
artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 06/01/2023
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor