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Incertezas Econômicas Globais Pressionam Cotações do Café
O certame eleitoral de outubro de 2022, no Brasil,
amplificou as incertezas econômicas, promovendo oscilações significativas na
paridade cambial. Conforme se aproximava o final do mês, com as pesquisas
indicando um contexto de profunda divisão na sociedade civil, mais pressionado
ficou o real, encerrando o mês na máxima média das cotações (Figura 1). Apesar
da relação câmbio e cotações das commodities ter perdido recentemente a
histórica aderência, ainda assim, o real desvalorizado favorece aos
importadores que tendem a depreciar o produto ocasionando quedas em seus
preços. Frente a cesta de moedas, atualmente, o dólar
americano registra sua maior cotação nos últimos 20 anos. Tal valorização tem
por consequência efeitos contracionistas2 da economia global. A
propensão dos investidores a se protegerem em moeda forte se tornou mais
atrativa, em razão de a diretiva do FED em manter a escalada da taxa de juros
básicos neste e no próximo ano, antecipando-se ao posicionamento do Banco
Central Europeu, criando-se assim substanciais taxas de retorno ajustadas ao
risco para o investidor optante pelo mercado estadunidense. O chamado efeito
manada se instala e todos os países escalam seus juros para conter o processo
inflacionário desencadeado pelo dólar forte, deprimindo globalmente a economia.
Evidentemente que tal fenômeno repercute sobre a demanda, inclusive sobre o
café, ainda que tenha a seu favor a forte inelasticidade. Reflexo desse cenário pouco propenso aos negócios,
na Bolsa de Nova York, em que são negociados os derivativos de café arábica,
foi que houve, ao longo de outubro de 2022, contínuas quedas das médias das
cotações semanais. Ao início do mês contabilizavam-se, na média da primeira
semana para a segunda posição (março de 2023), US$¢210,29/lbp, declinando para
US$¢177,89/lbp na média da última semana, ou seja, 15,41% de queda nas cotações
médias ao longo do mês (Figura 2). A Green
Coffee Association divulgou seu relatório mensal sobre os estoques de
café nos EUA que, pelos dados apresentados, baixaram 71.608 sacas em setembro,
totalizando naquele mês 6,38 milhões de sacas em território estadunidense. Também
houve baixa nos estoques certificados na Bolsa de Nova York, contabilizando-se
ao final de outubro menos de 385 mil sacas (queda de 32 mil sacas no mês). No cinturão de arábica francano, o preço médio
diário recebido pelos cafeicultores, contabilizado pelo IEA/CATI em outubro,
foi de R$1.179,23/sc., sendo que ao início do mês alcançava R$1.270,00/sc.,
encerrando o mês a R$1.050,00/sc., ou seja, diminuição de 17,32% nas cotações
regionais ao longo do mês3. Cotejando-se esse valor com a segunda
posição na quarta semana do mês em Nova York (US$¢177,89/lbp) e efetuando--se
as devidas conversões, esse montante representa US$235,29/sc., que, ao dólar
médio do mês (R$5,25/US$), soma R$1.235,30/sc. Aplicando-se 20% de descontos
(diferencial, taxas, emolumentos), esse valor totaliza R$988,23/sc., ou seja,
absolutamente insuficiente para a contratação de hedge face aos preços
praticados no mercado spot. Na Bolsa de Londres, em que são negociados os
contratos de café robusta, contatou-se em outubro de 2022 movimento similar ao
observado no mercado de arábica, ou seja, cotações médias em permanente
declínio (Figura
3). Nem mesmo a redução das exportações brasileiras de conilon tem auxiliado a
sustentação das cotações4. A posição de contratos negociados exibiu, ao longo
do mês, súbita inversão. Durante as duas primeiras semanas, saldo favorável aos
comprados e comportamento estável dos vendidos entre fundos e grandes
investidores que passam a crescer nas duas últimas semanas, culminando com
vendidos superando os comprados na última semana do mês (Tabela 1). Exportações
colombianas de café tiveram queda de 6% entre janeiro e setembro de 2022.
Paralelamente o país incrementou suas compras de café brasileiro em 32%,
adquirindo 1,15 milhão de sacas do Brasil. Assim, sem esse suprimento brasileiro, a queda dos embarques colombianos
seria ainda mais expressiva5. A pequena
majoração favorável dos embarques brasileiros em outubro, associado tanto à
excepcional florada nos cinturões de arábica como à evolução do clima bastante
propício a frutificação (precipitações regulares e temperatura amena), formou
contexto favorável a depressão das cotações internacionais. Entretanto, outras
variáveis necessitam ser contempladas para a exata situação das lavouras como: · áreas
erradicadas com tendência de sair da cafeicultura optando, alternativamente,
pelo cultivo de cereais; · desfolha
parcial dos ponteiros (baixa capacidade fotossintética); · maior
incidência de bicho mineiro em áreas em que esse problema não assumia dano
econômico; · lavouras
afetadas pela geada com brotação intensa carecendo de desbrota; · excesso
de precipitações impedindo a realização de pulverizações (controle da ferrugem
prejudicado); · episódios
de ventanias amplificando problemas com a phoma; · deficiência
de zinco e boro pronunciada; e · talhões
exigindo podas que estão sendo adiadas. A escassez
de arábica no Brasil tem elevado a composição do blend dos cafés
oferecidos no mercado interno para 75% de conilon. Mesmo com essa sinalização
de que o suprimento global está sob estresse (embarques de conilon, cadentes),
os investidores creem que haverá suprimento capaz de atender a demanda futura,
algo que os ensinamentos comerciais do pós-pandemia (ruptura dos circuitos
logísticos, súbita demanda de componentes etc.) demonstrou ser bastante
ilusório. 1O autor agradece
o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido por Paulo
Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do
IEA. 2Em razão do encarecimento da dívida dos países emergentes
expostos em dólares e do custo das importações de produtos estadunidenses
inflacionando economias de todo o resto do mundo. 3Em setembro de
2022, relatório mensal do CECAFE, contabilizou o embarque de apenas 147 mil
sacas de conilon. No ano (jan.-set/2022) os embarques do produto atingiram
apenas 1,22 milhão de sacas, representando diminuição de 60,5% frente ao mesmo
período do ano anterior. Em CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL –
CECAFÉ. Relatório Mensal de
Exportações. São Paulo: CECAFÉ, 2022. Disponível em www.cecafe.com.br.
Acesso em: 4 nov. 2022. 4INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários
recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6.
Acesso em: 04 nov. 2022. 5Boletim
Carvalhaes,
Santos. Outubro/2022. Disponível em: http://www.carvalhaes.com.br/boletins/boletins.asp.
Acesso em: 04 nov. 2022. Palavras-chave: mercado de café, cotações do café, Bolsa de Valores COMO
CITAR ESTE ARTIGO VEGRO, C. L. R. Incertezas Econômicas Globais
Pressionam Cotações do Café. Análises e Indicadores do Agronegócio, São
Paulo, v. 16, n. 11, nov. 2021, p. 1-5. Disponível em: colocar
o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 25/11/2022
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor