Incertezas dominam a economia global. Políticas de contingência energética, adotadas pela União Europeia, serão postas à prova com a aproximação do inverno. Em contrapartida, o mercado acionário precifica recessão de moderada a profunda para o continente, inclusive para aqueles territórios menos dependentes do gás russo. A desvalorização das moedas (€ e £) sinaliza a descrença dos investidores com o futuro dessas economias, ampliando os desafios a serem enfrentados pelas respectivas autoridades monetárias.

Do outro lado do Atlântico, ainda que beneficiados pela busca de proteção patrimonial entesourando dólares, os EUA amargam um tipo de inflação estrutural e pouco usual que advém do mercado de trabalho altamente demandante, mas sem capacidade para o preenchimento das vagas disponíveis. A escalada dos custos com mão de obra constitui o cerne da inflação naquele país, assumindo movimento inercial, tornando-se de mais difícil enfrentamento. Concomitantemente, no acumulado entre janeiro a setembro de 2022, o índice SP 500 da Bolsa de Nova York registrou -20,5% frente ao mesmo período do ano anterior².

As incertezas ganham contornos exponenciais com o prolongamento da invasão russa a territórios ucranianos e as investidas chinesas em sua pretensão de reintegrar Taiwan a seu controle. As ameaças somente não se concretizam em decorrência da dependência chinesa da indústria taiwanesa de microchips e semicondutores (importações de aproximadamente US$350 bilhões ao ano). Visando superar essa dependência, investe pesadamente na nacionalização dessa indústria, mas ainda se mantém tecnologicamente distante de suplantá-la.

Questões logísticas ainda atormentam o comércio internacional. A coqueluche que assola os mercados financeiros em torno da ESG tende a ampliar os custos e as barreiras às transações. A realização da Copa do Mundo de futebol terá repercussão sobre os negócios com redução do número de dias de comércio plenamente ativo.

Em setembro de 2022, o mercado de câmbio no Brasil permaneceu relativamente

estável ao longo das três primeiras semanas do mês. Entretanto, ocorre uma disparada na média das cotações semanais na última semana do mês, alcançando R$5,37/US$1,00³. Desfecho incerto do processo eleitoral brasileiro e maior dinamismo, tanto para a economia como para o mercado de trabalho, intensificou as preocupações com o desempenho futuro (Figura 1).

As médias semanais das cotações dos contratos futuros de café arábica negociados na Bolsa de Nova York, em setembro de 2022, exibiram tendência de contínua baixa (Figura 2). A antecipação das precipitações, encerrando a estiagem sazonal típica dos principais cinturões de arábica e, na sequência, a explosão das floradas dos cafezais, pressionaram as cotações em Nova York. Todavia, como é o consenso entre os analistas desse mercado, o excedente exportável brasileiro é bastante limitado, estando os estoques minguados, ou seja, a temporada passada tem excedente suficiente para atender a demanda por suprimento até a próxima colheita.

No principal polo cafeeiro paulista - CATI Regional de Franca -, em setembro de 2022, os produtores negociaram o produto em média por R$1.346,15/sc 60 kg⁴, ou seja, US$256,90/sc., considerando o dólar médio do mês de R$5,24/US$1,00. A média semanal das cotações na quarta semana de dezembro atingiu US$¢224,82/lbp. Efetuando-se as devidas conversões, esse valor corresponde a US$297,45/sc., ou seja, R$1.558,64/sc. convertido pelo mesmo dólar médio. Considerando-se os custos de transação para contratação do hedge (aproximadamente 20% da cotação em Nova York), o montante residual não é suficientemente atrativo para que os cafeicultores contratem proteção para os preços.

Em contrapartida, na Bolsa de Londres, o mercado de robusta exibiu maior sustentação para as cotações ao longo do mês de setembro (Figura 3). Teme-se que o Vietnã já tenha exaurido seus estoques de robusta e não disponha mais de produto para atender ao fluxo de suprimento. Na mesma situação encontram-se os embarques brasileiros que, no acumulado do ano (janeiro a agosto de 2022), encolheram 61% frente a igual período do ano anterior⁵ .

Em setembro, a posição comprada dos fundos e dos grandes investidores manteve o saldo líquido positivo para o mercado de café. Esse maior interesse pelo produto aparentemente não foi ainda suficientemente elevado para forçar as cotações a patamares mais elevados. Persiste ainda ceticismo quanto à escassez do produto, considerando-se que se espera substancial redução do consumo, especialmente no mercado europeu (Tabela 1).

Os investidores do mercado de café posicionam-se de maneira contraditória. Por um lado, creem na escassez do produto no curto prazo, mas, por outro, apostam em declínio do consumo para arrefecer a demanda pelo produto. As floradas ocorridas ao final de setembro e no início de outubro, nos principais cinturões brasileiros de arábica, trouxeram alguma perspectiva favorável quando ao volume da próxima safra. Todavia, as previsões são ainda muito incipientes para formar quadro real do futuro atendimento a demanda mundial pelo produto.

¹O autor agradece o trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido por Paulo Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do IEA.

²FELIX R. U.S. Stocks on Track for Worst Year Since 2008.  Statista. Hamburgo, 5 out. 2022. Disponível em: https://www.statista.com/chart/28401/annual-returns-of-the-sp-500/ /. Acesso em: 10 out. 2022.

³BANCO CENTRAL DO BRASIL. Banco de dados. Brasília: BCB, 2022. Disponível em: www.bcb.gov.br. Acesso em: 10 out. 2022.

⁴INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2022. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6. Acesso em: 10 out. 2022.

⁵CONSELHO DOS EXPORTADORES DE CAFÉ DO BRASIL – CECAFÉ. Relatório Mensal de Exportações. São Paulo: CECAFÉ, 2022. Disponível em www.cecafe.com.br. Acesso em: set. 2022.

Palavras-chave: preços futuros, Bolsa de Valores, mercado de café.

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. Regularização das Chuvas e Dúvidas sobre a Evolução do Consumo Pressionam as Cotações Internacionais do Café. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 10, p. 1-5, out. 2022. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.