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Valor da Produção Agropecuária Paulista: estimativa final 2021
O valor da produção agropecuária (VPA) do estado de
São Paulo, em 2021, está estimado em R$125,84 bilhões, 28,64% superior ao
resultado alcançado no ano anterior (Tabela 1), principalmente diante da
elevação expressiva e generalizada dos preços. No caso das commodities,
essa evolução reflete o alto nível das cotações internacionais dos produtos de
exportação1, resultado predominantemente da elevação da demanda e da
queda acentuada dos estoques, em especial de soja e milho. Os preços dos produtos mais característicos ao
direcionamento de consumo no mercado interno foram afetados pela queda de produção
decorrentes de períodos de estiagem e geadas, além da elevação no custo dos
insumos agropecuários. Dos 50 produtos considerados no cálculo do VPA, 29
apresentaram redução no volume de produção. Nessa correlação entre aumento de preços da maioria
dos produtos e a diminuição da produção da maior parte (3/4) dos analisados neste
estudo, o VPA paulista de 2021, em termos reais, quando deflacionado pelo
Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA)2, apresentou
crescimento de 15,70% relativamente ao período anterior. Para o cálculo do VPA, foram utilizados os preços
médios mensais recebidos pelos produtores, extraídos do banco de dados do
Instituto de Economia Agrícola (IEA)3, e os dados de produção foram
obtidos dos cinco levantamentos sistemáticos de previsão e estimativas de safra
realizados pelo IEA e pela Coordenadoria de Assistência Técnica Integral (CATI)4,
5. Os produtos foram classificados em cinco grupos de
acordo com suas características: “produtos para indústria”, “produtos animais”,
“frutas frescas”, “grãos e fibras”, e “olerícolas”. As variações do VPA de cada
um dos produtos, entre os anos de 2020 e 2021, foram calculadas com base em
índices de preços e de quantidades construídos pela fórmula de Fisher (base
2020= 100)6. O valor da produção dos cinco produtos que ocupam as
primeiras colocações no ranking de
VPA – cana-de-açúcar, carne bovina, soja, carne de frango e laranja indústria -
representam 67,59% do produto total do estado. No grupo “produtos para indústria”, a
cana-de-açúcar, na primeira posição, responde por 33,68%, e a laranja para indústria,
5,31% do total do estado, mesmo tendo havido redução no volume produzido de
quase 7,00% em ambos os casos. Entre os cinco primeiros do ranking, dois estão classificados no grupo de “produtos animais”: a
carne bovina, na segunda colocação, com aproximadamente 13,87% do total
estadual, e a carne de frango, na quarta, com 6,11%. A produção desta última se
manteve estável, enquanto a produção da carne bovina apresentou redução de
5,85%. A
soja ocupou a terceira colocação no VPA com 8,63% do total do estado. Foi o
único, entre os cinco maiores, com incremento na produção (6,11 %). Mantendo a nona colocação no ranking estadual, o VPA do leite aumentou 12,82%, mesmo com a queda
de produção de 13,30%, ocasionada pela elevação de custos com alimentação
suplementar dos rebanhos, bem como pela redução de importações, diante da
elevação de demanda em outros mercados7. Todos os cinco grupos acusaram variação positiva do
VPA, com destaque para o de “grãos e fibras”, que aumentou 42,96%, seguido
pelos de “produtos animais” e “produtos para indústria”, com expansão,
respectivamente, de 30,40% e 29,50%. As menores variações do VPA foram dos
grupos de “olerícolas” (11,00%) e o de “frutas frescas” (6,38%). GRÃOS E FIBRAS O elevado nível de variação do VPA no grupo “grãos e
fibras” foi determinado, principalmente, pelo resultado da soja e do milho, que
responderam juntos por 78,0% do VPA do conjunto de grãos considerados e 13,2%
do estado. O aumento dos preços dos grãos, muito em função da majoração das
cotações no mercado internacional, compensou amplamente as perdas de produção
que ocorreram, principalmente, no caso do milho, trigo e sorgo, produtos que
mantêm uma similaridade de uso, notadamente o milho e o sorgo, que são insumos
destacados na alimentação animal. O trigo, mesmo predominantemente destinado à
alimentação humana, tem no farelo, subproduto da moagem, importância na
alimentação do gado, principalmente o leiteiro. Nesse contexto, destaca-se o
triticale que, mesmo sendo um produto de menor participação no valor da
produção (49º), com variação positiva de preço e incremento significativo de
área, resultou na maior variação do valor de produção (204,88%) entre os
produtos analisados, indicando a importância dessa dupla função (alimentação
humana e animal). O amendoim, cultura que se destaca no estado por representar
cerca de 80,00% da produção nacional e por ser uma cultura coadjuvante na
reforma do canavial, apresentou uma variação de 26,83% em seu VPA, situando-se
na décima posição no ranking estadual
de 2021, resultado da variação positiva no preço (17,61%) e na produção
(7,85%). PRODUTOS PARA INDÚSTRIA Neste grupo, o VPA do café manteve-se na 8ª
colocação no ranking estadual, com
uma variação positiva de 13,69%. Esse produto teve o segundo maior percentual
de perdas na produção, de 36,36%, principalmente em decorrência das geadas.
Essa restrição da oferta foi compensada pela forte subida dos preços (78,63% no
período), garantindo o crescimento no valor da produção. No caso da laranja e
da mandioca para indústria, a variação de preço foi também responsável pelo
resultado positivo no valor da produção. Apenas a goiaba para indústria
apresentou elevação de preços e produção, enquanto o resultado do tomate para indústria
manteve seu VPA praticamente inalterado, graças ao aumento substancial dos
preços (47,37%), que compensou a expressiva queda de produção (32,16%). O grupo
de “produtos para indústria” foi o que apresentou maior redução no índice de
produção (9,28%). Entre os produtos desse grupo, com exceção da goiaba para
indústria, todos apresentaram queda de produção, sendo a do café beneficiado e
a do tomate para indústria as mais expressivas. GRUPO ANIMAL No grupo de “produtos animais”, a carne suína, o mel
e a carne de frango apresentaram variações positivas de produção e preços. O
leite teve a maior perda de volume, e produtos importantes como a carne bovina
e os ovos também apresentaram reduções na quantidade produzida. Contudo, num
universo de elevações dos preços que chegaram a atingir todas suas cadeias de
valor, o VPA do grupo animal apresentou elevação de 30,40%. FRUTAS FRESCAS Entre as 15 frutas consideradas neste grupo, apenas caqui,
figo para mesa e limão apresentaram redução do VPA. A queda no caso do caqui ocorreu
em função do declínio da produção, e no de figo e limão por decréscimo, tanto
do preço como da produção. A laranja para mesa, a banana e a uva de mesa
representam juntas 57,18% do VPA do seu grupo. No ranking estadual do VPA, são as frutas mais bem posicionadas: a
laranja para mesa ocupa a 11ª posição, enquanto a banana e a uva estão na 14ª e
na 15ª, respectivamente. O VPA da laranja para mesa apresentou, em 2021 com
relação a 2020, crescimento de 19,40%, e o da banana e o da uva para mesa
aumentou, respectivamente, 7,17% e de 5,63% no mesmo período. No geral, as
elevações no VPA das frutas frescas foram expressivas. No caso do abacate,
atingiu 94,81%, e da goiaba de mesa, 42,83%. Contudo, esses produtos estão
predominantemente numa posição de menor representatividade no ranking do valor da produção estadual: o
VPA do abacate encontra-se na 23ª colocação, e da goiaba de mesa está na 45ª
colocação. OLERÍCOLAS O VPA das “Olerícolas”, com incremento de 11,00%, é
o menor valor dos cinco grupos. O tomate para mesa, na 12ª posição do ranking estadual, é o produto que tem o
maior VPA do grupo, acusando, em 2021, um crescimento de 33,56%, resultado de
maiores preços e produção. O segundo produto mais bem situado é a alface, na
13ª posição do valor da produção paulista, com ampliação de 17,63% em seu VPA.
Juntos, esses dois produtos influenciaram bastante para que o resultado desse
grupo fosse positivo. A batata é o terceiro produto mais bem situado, na
17ª posição no ranking estadual. Todavia,
o resultado desse ano registrou uma queda de 17,10% em seu VPA, influenciado
principalmente pela queda de preço em 22,38%. A cebola foi outro produto do
grupo com resultado negativo, registrando uma queda de 78,80% em seu VPA, o
pior resultado desse grupo de produtos. Todos os outros apresentaram
crescimento, mas têm menor representatividade no grupo. Ressalte-se o excelente
resultado da batata-doce e da mandioca para mesa, que apresentaram avanço do
VPA de 82,67% e 63,35%, respectivamente. CONSIDERAÇÕES FINAIS O resultado
auferido pelo setor agropecuário paulista em 2021, 28,64% maior que em 2020,
ocorreu basicamente em função da elevação dos preços, influenciados por um
conjunto de variáveis já mencionadas. No geral, considerando os 50 produtos
analisados, houve um aumento de 36,28% nos preços e um decréscimo de 5,61% na
produção. O resultado
positivo é ainda mais significativo quando é considerado um crescimento de
15,70% acima da inflação, beneficiando a maior parte da produção. Apenas em 9
dos 50 produtos ocorreu redução no valor obtido no período. Contudo, esse
resultado reflete negativamente no poder aquisitivo dos consumidores, seja pelo
impacto direto, no consumo do bem, ou indireto, quando os produtos são insumos
de outras cadeias de produção, como são o caso da soja, milho e até do trigo,
entre outros. Além disso, em função da contribuição para a inflação, gera reflexo nos outros
preços da economia. A conquista de um maior
valor da produção, quando ocorre pelo aumento de preços e não pelo aumento da
produção e produtividade, perde parte do significado, visto que provoca a
retroalimentação da inflação. Num cenário de estagnação ou redução da atividade
econômica, com elevadas taxas de desemprego, o impacto para a população é
expressivo, inclusive sob o aspecto da segurança alimentar. 3INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados: estatísticas da produção paulista. São Paulo: IEA,
2021. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1 Acesso
em: jun. 2021. 4CAMARGO, F. P. et al. Previsões e estimativas das safras agrícolas do estado de
São Paulo, intenção de plantio do ano agrícola 2021/22 e levantamento final ano
agrícola 2020/21, setembro de 2021. Análises
e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 12, p. 1-11, dez. 2021.
Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-49-2021.pdf.
Acesso em: 24 jun. 2022. 5CAMARGO, F. P. et al. Previsões
e Estimativas das Safras Agrícolas do Estado de São Paulo, novembro de 2021. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 17, n. 3, p. 1-12, mar. 2022. Disponível em:
http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-11-2022.pdf. Acesso em:24
jun. 2022. 6HOFFMANN, R. Estatística para economistas. 2. ed. São Paulo: Pioneira, 1991. 426
p. 7SILVA, R. de O. P.
e. Comportamento do mercado de leite em 2021 e expectativa para 2022. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 1, p.
1-8, jan. 2022. Disponível em: http://www.iea.agricultura.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-02-2022.pdf.
Acesso em: 18 jul. 2022. Palavras-chave:
valor da produção agropecuária. COMO CITAR ESTE ARTIGO SILVA, J. R. da; COELHO, P. J.; BUENO, C. R. F.;
BINI, D. L. de C.; PINATTI, E.; MONTEIRO, A. V. V. M.; FRANCA, T. J. F. Valor
da Produção Agropecuária Paulista: estimativa final 2021. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 8, p. 1-8, ago. 2022.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.1INSTITUTO DE PESQUISA ECONÔMICA APLICADA. Carta De Conjuntura Número 52 — Nota De
Conjuntura 7 — 3° Trimestre De 2021.
Brasília: Ipea. 3 de julho de 2021. Disponível em:
https://www.ipea.gov.br/portal/images/stories/PDFs/conjuntura/210730_nota_7_agro_iii.pdf.
Acesso em: jun. 2021.
2AGÊNCIA BRASIL. IBGE: inflação oficial fecha 2021 com alta de 10,06%. Brasília. 11
jan. 2022. Disponível
em: https://agenciabrasil.ebc.com.br ›
economia › noticia. Acesso em: jun. 2021.
Data de Publicação: 01/08/2022
Autor(es):
José Roberto Da Silva (josersilva@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
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