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Curva Futura do Café – expectativas altistas com precificação represada
Em maio, as cotações do
real exibiram valorização em relação ao dólar por conta dos bons resultados
contabilizados pela economia brasileira (alavancado pelo incremento dos
embarques de commodities agrícolas,
minerais e petróleo com menor crescimento das importações), pela melhoria na
recuperação do emprego e pela alta nos indicadores de crescimento da indústria
e do consumo das famílias. Assim, em maio de 2022, após o registro de
R$5,13/US$ na média das cotações da segunda semana do mês, houve forte recuo na
média da cotação cambial, para R$4,80/US$ (Figura 1). Apesar de significativa valorização do real no mês,
sua influência sobre a formação das cotações de café na Bolsa de Nova York é
apenas marginal. A escassez de oferta permanece enquanto fator preponderante na avaliação dos
investidores para o movimento de compra e venda de contratos futuros. Em maio de 2022, as
cotações dos contratos futuros de café arábica negociados na Bolsa de Nova York
exibiu tendência díspares ao longo do mês, sendo que, na primeira quinzena, uma
baixa no comparativo das médias das duas primeiras semanas para depois, segunda
quinzena, exibir forte elevação. Considerando as cotações médias semanais em
segunda posição (setembro/2022), a registrada na segunda semana foi de US$?211,81/lbp,
elevando-se para US$?220,74/lbp (Figura 2), ou seja, incremento de 4,22%
no período, e mantendo-se nesse patamar na semana seguinte. Três aspectos
contribuíram para a sustentação das cotações médias: a) avanço de massa polar
sobre os cinturões de arábica no início do mês; b) aprofundamento da
problemática logística internacional com o lockdown
em megalópoles chinesas; e c) registro de baixa nos estoques certificados na
Bolsa de Nova-York. Segundo dados
sistematizados pelo IEA/CATI para o estado de São Paulo, na região de Franca,
em maio de 2022, a média dos preços recebidos pelos cafeicultores foi de
R$1.274,00/sc. para o tipo 6 bebida dura2. Considerando-se R$4,98/US$
(PTAX) como média para a cotação do dólar médio no mês3, o preço
recebido equivale a US$255,82/sc. Para a média da segunda posição na última
semana do mês, a cotação atingiu US$¢220,74/lbp que, após efetuadas as devidas
conversões, representa US$291,97/sc. Descontados aproximadamente 20% relativos
ao diferencial, taxas e emolumentos cobrados na contratação de hedge, obtêm-se US$233,57/sc., ou seja,
R$1.163,22/sc. Esse montante é insuficiente para viabilizar a contratação do hedge, uma vez que se situou abaixo do
preço médio praticado no mercado físico. Na Bolsa de Londres, as
cotações médias semanais do robusta exibiram trajetória diferenciada das
observadas para o arábica em Nova York, uma vez que, entre as médias das
cotações da primeira e quarta semana de maio de 2022, para a posição de
setembro, após registrarem US$95,90/lbp, recuaram para US$94,17/lbp (Figura 2).
Apesar da baixa registrada e tendo em conta a relativa substitutibilidade entre
arábica e robusta na composição dos blends,
deve-se esperar que as cotações em Londres voltem a se recuperar. A negociação de contratos em Nova York
conduzida por fundos e grandes investidores manteve saldo líquido aos
comprados, embora tenha havido oscilações. Com o anúncio da massa polar se
aproximando dos cinturões cafeeiros brasileiros, houve ligeiro incremento na
posição comprada (31.510 contratos) que, após a confirmação da ausência de
danos significativos, gerou uma onda de vendas (14.735 contratos). Ao longo das
duas últimas semanas do mês, manteve-se saldo líquido de posições compradas,
denotando que os investidores nesse mercado enxergam oportunidades de ganhos
especulativos com o mercado futuro de café (Tabela 1). As incertezas sobre a
evolução do conflito no Leste Europeu, possibilidade de elevação mais forte da
taxa de juros básicas estadunidense, condições climáticas no Brasil (ondas de
massa polar), estrangulamento da logística internacional e expansão do consumo
registrada por consultorias do segmento tornam o contexto para a formação dos
preços bastante volátil, prevalecendo, porém, a tendência altista para a formação
das cotações. A resiliência do processo inflacionário, em inúmeros países, pode
impulsionar a busca de proteção patrimonial no mercado de commodities, favorecendo o ativo café, tanto por sua liquidez, como
pelo momento de escassez de oferta percebida pelos operadores no mercado físico. 1O autor agradece
pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido por Paulo
Sérgio Caldeira Franco, Agente de Apoio à Pesquisa Científica e Tecnológica do
IEA. 2INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo:
IEA, 2021. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6.
Acesso em: 2 jun.2022. 3BANCO CENTRAL DO
BRASIL. Banco de dados. Brasília: BCB, 2022. Disponível em: www.bcb.gov.br.
Acesso em: 2 jun.2022. Palavras-chave: mercado futuro, bolsa de valores, café. COMO
CITAR ESTE ARTIGO VEGRO,
C. L. R. A Curva Futura do Café –
expectativas altistas com precificação represada. Análises e
Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 17, n. 6, jun. 2022, p. 1-5.
Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
Data de Publicação: 20/06/2022
Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor