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Custo Operacional e Rentabilidade da Cultura de Seringueira, Estado de São Paulo - safra 2021/22
Dados estatísticos e
análises econômicas realizadas especificamente para as atividades agrícolas contribuem para a compreensão da
dinâmica da produção e para a tomada de decisão acerca de sua gestão. Neste
sentido, a utilização de estimativas de custos de produção na administração de
empresas agrícolas assume importância crescente, quer na análise da eficiência
de determinada atividade ou de processos específicos de produção, os quais
indicam o sucesso de empreendimentos no esforço de produzir. Assim, a gestão de
custos pode auxiliar na mitigação de riscos observados na evolução ocorrida
entre oferta e demanda de borracha natural que colocam o Brasil em situação
vulnerável as importações e, consequentemente, as variações de preço do mercado
internacional e também das incertezas que cercam a oferta da matéria-prima. De acordo com o Instituto
de Economia Agrícola (IEA), a estimativa final para a seringueira, safra
2020/21, apresentou produção total de 246,2 mil toneladas de coágulo, 0,6%
inferior ao obtido na safra 2019/20. A área total com os seringais, de 129,3
mil hectares, diminuiu 4,5% em relação à safra passada, sendo que a área em
formação caiu
22,6% e
a área em produção obteve pequeno aumento de 1,0%. A produtividade média
apresentou queda de 1,6%, acompanhando a tendência observada nas safras
anteriores (2.351 kg de coágulo por hectare)1. A borracha natural
ocupou, em 2020, a 19ª posição no ranking
do valor da produção agropecuária (VPA) do estado de São Paulo, alcançando R$639,0
milhões em termos nominais, 9,34% superior ao ano anterior2, enquanto
dados preliminares para 2021 indicam valor de 1,07 bilhão3. Consiste
na quinta atividade em VPA no Escritório de Desenvolvimento Rural (EDR) das
regiões de São José de Rio Preto e Votuporanga4. São Paulo é o maior
produtor nacional, com 60% da produção, e os EDRs de São José do Rio Preto
(28,7%), Votuporanga (12,6%), General Salgado (11,8%) e Barretos (11,7%),
concentram 64,8% do total da produção paulista5. Problemas climáticos (deficit hídrico, altas temperaturas e
ocorrência de incêndios), como a falta de chuvas, e conjunturais econômicos têm
impactado na diminuição da área plantada e na produtividade da cultura. Isso
tem dificultado a aquisição e o uso dos fatores e insumos em seu manejo numa
conjuntura de custos de produção crescentes, e tem conduzido em queda na
rentabilidade e consequente descapitalização do produtor que não favorece
investimentos em novos plantios. Calculou-se
o custo de produção para a cultura da seringueira utilizando a metodologia de custo
operacional do Instituto de Economia Agrícola6, que preconiza a
concepção de curto prazo, sendo que as remunerações do capital, terra e
empresário não são computadas, supondo-se que isso se fará pela renda líquida7.
A estrutura de custos do sistema é composta de: a) custo operacional efetivo
(COE) - despesas efetuadas com mão de obra, encargos sociais (40% sobre o valor
da despesa com mão de obra), operações de máquinas/equipamentos, veículos e
materiais consumidos ao longo do ciclo da cultura; e b) custo operacional total
(COT) - o COE acrescido da contribuição à seguridade social rural, CSSR (1,5%
do valor da renda bruta), depreciação de máquinas e do seringal, encargos
financeiros que se referem aos juros de custeio à taxa de 6,0% a.a. sobre o
COE, e despesas com serviços de assistência técnica. Os indicadores de
análise de resultados econômicos utilizados são os seguintes: receita bruta
(RB) é a produção x preço; margem bruta (MB) é a receita bruta dividida pelos
custos, em percentagem; ponto de equilíbrio (PE) é a produção necessária para
remunerar os custos; lucro operacional (LO) é a receita bruta menos o COT; e
índice de lucratividade (IL) é a relação percentual entre LO e MB8. As
matrizes de coeficientes técnicos de fatores de produção calculados referem-se
a uma propriedade padrão composta por: área plantada de 50 ha, clone RRIM 600,
espaçamento de 2,5 m2 x 8 m2, 20 m2/planta, 500 pés
plantados, 400 em produção (considerando-se perda de 20% das árvores no período
de formação), 25 anos de idade do seringal (para o seringal em plena produção),
sistema de sangria D4, produtividade de 7 kg de coágulo/planta, 2.800 kg de
coágulo/ha, e ano agrícola da cultura de setembro a agosto.9. Os
preços dos fatores de produção que compõem as matrizes foram coletados na
região produtora e referem-se ao mês de setembro de 2021. Considerando-se o
seringal adulto em plena produção calculou-se o custo de produção e a análise
de seus resultados econômicos. O
COE para o quilograma de coágulo foi estimado em R$4,09 (R$11.458,58/ha), e o
COT atingiu o valor de R$13.662,38/ha ou R$3,50 por kg de coágulo (Tabela 1). Tabela 1 - Custo de produção
e participação percentual dos itens componentes do custo de produção para a cultura
da seringueira, sistema de produção D4, produção de 2.800 kg de coágulo,
hectare, região noroeste, estado de São Paulo, em R$ de setembro de 2021 Item Valor (R$) COE (%) COT (%) Custo (kg de coágulo) Mão de obra comum1 1.209,06 10,6 8,8 0,43 Mão de obra sangria 2.710,01 23,7 19,8 0,97 Mão de obra tratorista 174,62 1,5 1,3 0,06 Fiscal 1.150,00 10,0 8,4 0,41 Transporte de pessoal 645,00 5,6 4,7 0,23 Operação de máquinas 929,93 8,1 6,8 0,33 Adubo 1.120,40 9,8 8,2 0,40 Defensivos 1.090,49 9,5 8,0 0,39 Materiais 331,61 2,9 2,4 0,12 Encargos Sociais2 2.097,47 18,3 15,4 0,75 Custo operacional efetivo (COE) 11.458,58 100 4,09 Depreciação de máquinas 310,99 2,3 0,11 Depreciação do seringal 1.109,64 8,1 0,40 CSSR 188,16 1,4 0,07 Encargos financeiros3 275,01 2,0 0,10 Assistência técnica 320,00 2,3 0,11 Custo operacional total (COT) 13.662,38 100 4,88 1Refere-se a 40%
do valor da mão de obra. 2Refere-se a
Contribuição a Seguridade Social Rural em 1,5% do valor comercializado. 3Refere-se à taxa
de juros de 6% ao ano. Fonte: Dados da pesquisa. O item de maior
participação percentual no custo de produção (COT) é o da mão de obra, que soma
38,4% (comum, sangria tratorista e fiscal), seguido dos custos dos encargos sociais
(15,4%). A seguir, as maiores despesas são com fertilizantes (8,2%) defensivos
(8,0%), operação de máquinas (6,8%), acompanhados dos gastos com transporte de
pessoal (4,7%). Nota-se que, da parcela de custos fixos, a depreciação do
seringal assume 8,1% das despesas. Esse valor se justifica pelo alto custo de
implantação da cultura, base de cálculo desse item que tem sido onerado pelos
altos custos da mecanização impactados pela alta nos preços das máquinas e
combustíveis e seus derivados. Conhecendo
os itens que mais oneram os custos, pode o produtor, a partir dessas
informações, exercer maior controle em seu uso e determinar prioridades em sua
gestão. No caso da seringueira, observa-se que os gastos associados ao uso da
mão de obra representam 64,1% do COE, e que ao somar-se aos de transporte de
pessoal, atinge 69,7% do COE, incorrendo nesse fator de produção o maior
impacto nos custos de produção de borracha. Deve-se observar que somente as
despesas com a sangria oneram a produção em 23,7% e o sangrador é o trabalhador
que passa maior tempo em contato com a planta, estando sua atividade
estritamente ligada ao manejo da sangria, responsável pela obtenção do produto
final. Quando
os gastos com mão de obra são avaliados em relação às despesas totais, o
percentual aponta 58,5% do COT, corroborando o impacto do item nas despesas com
a produção da borracha. Observa-se
o aumento da participação percentual dos itens operações de máquinas, adubos e
depreciação do seringal nos custos de produção da seringueira que tem sofrido
forte impacto devido aos crescentes reajustes ocorridos nos preços dos insumos
utilizados na produção do coágulo. A alta do dólar em relação ao real bem como
o aumento nos custos internacionais de matérias-primas e transporte estão entre
as causas da elevação do preço dos insumos agrícolas no Brasil10. Os
indicadores de rentabilidade foram calculados com as produtividades de 2.200
kg/ha, 2.800 kg/ha e 3.200 kg/ha de coágulo e com os preços médios recebidos
pelos produtores de borracha do estado de São Paulo em setembro de 2021,
publicados pelo IEA11, e o preço mínimo de garantia do governo
federal estabelecido pelo Ministério da Agricultura e Pecuária do Brasil (Mapa),
por meio da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab) a partir de julho de
2021 (Tabela 2). Tabela 2 - Indicadores
de rentabilidade para a cultura de seringueira, para diferentes níveis de produtividade
por hectare e dois diferentes preços recebidos pelo produtor (preço mínimo e IEA-
setembro de 2021) Indicador Unidade Produção (kg de coágulo) 2.200 2.800 3.200 Preço mín. IEA set./2021 Preço mín. IEA set./2021 Preço mín. IEA set./2021 Receita bruta1 R$/ha 7.502,00 9.856,00 9.548,00 12.544,00 10.912,00 14.336,00 Margem bruta (COE) % -34,5 -14,0 -16,7 9,5 -4,8 25,1 Margem bruta (COT) % -45,1 -27,9 -30,1 -8,2 -20,1 4,9 Ponto de equilíbrio (COE) kg 3.360 2.558 3.360 2.558 3.360 2.558 Ponto de equilíbrio (COT) kg 4.007 3.050 4.007 3.050 4.007 3.050 Lucro operacional R$ -6.160,38 -3.806,38 -4.114,38 -1.118,38 -2.750,38 673,62 Índice de lucratividade % -82,1 -38,6 -43,1 -8,9 -25,2 4,7 1A renda bruta foi calculada com os seguintes preços de venda:
preço mínimo de R$3,41/kg de coágulo e preço médio recebido pelos produtores de
borracha, do Instituto de Economia Agrícola no mês de setembro de 2021, de R$4,48/kg
de coágulo. Fonte: Dados da
pesquisa. Ao
se analisar o resultado econômico em relação aos custos de produção, observa-se
que o valor do preço mínimo (R$3,41.kg-1 de coágulo) não apresentou
resultado positivo em nenhum indicador e em nenhum nível de produtividade. Os
indicadores de rentabilidade, quando calculados com o preço IEA de R$4,05,
apresentaram resultados negativos para os níveis de produtividade de 2.200
kg/ha e de e 3.200 kg/ha de coágulo. Para a produtividade de 2.800 kg/ha, esse
preço cobriu o COE, apresentando margem bruta positiva de 9,5% e ponto de
equilíbrio de 2.558 kg/ha (quantidade produzida que cobre o custo de produção),
não remunerando o COT. Nesse caso, a produção consegue se manter no curto
prazo. Com a produtividade de 3.200 kg/ha, o preço do coágulo de R$4,48 é
suficiente para remunerar o COE e o COT, apresentando todos os indicadores
positivos. Nota-se que o lucro operacional é de R$672,62/ha, apontando índice
de lucratividade de 4,7%. Há de se ressaltar que, além dos custos aqui
calculados, deve-se levar em conta que existem outros gastos envolvidos na
produção que dependem da renda líquida para serem remunerados: o capital e a
terra, o pró-labore do empresário e ainda outras despesas da propriedade.
Assim, nos casos em que os indicadores se mostram negativos, há de se avaliar a
sustentabilidade da atividade no médio prazo. Os produtores de borracha natural devem
se atentar a questão da gestão de custos de produção que envolvem a compra de
insumos (compras conjuntas, melhores negociações nos preços), utilização de
máquinas e equipamentos adequados (regulagens), e as boas práticas de manejo. Devem
também procurar obter racionalidade na produção pela melhoria da produtividade,
visto que somente com a maior produtividade aqui analisada foram obtidos
resultados econômicos positivos. Ademais, por meio de melhores negociações de
contratos e outras medidas coletivas de organização do produtor, obter maiores
e os preços. É imprescindível ao produtor se munir do maior número de
informações disponíveis na gestão de seu negócio e na tomada de decisão. Dados
econômicos e estatísticos, assim com os relativos as condições do tempo e
variações climáticas, podem fornecer um pouco de previsibilidade na produção. Em relação
à mão de obra, o treinamento do sangrador pode ser opção, pois uma boa sangria
impacta tanto na qualidade do coágulo como na preservação da árvore. Há de se
considerar, também, os aspectos ambientais da cultura da seringueira que são
altamente positivos em relação a agenda proposta pelo setor ambiental. Um
importante desafio é aperfeiçoar as formas de coordenação e negociação entre os
segmentos da cadeia, seja entre produtores e usinas, e entre estas e a
indústria consumidora de borracha. 1CAMARGO, F. P. de et al. Previsões e Estimativas das Safras
Agrícolas do Estado de São Paulo, Ano Agrícola 2020/21, Junho de 2021. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 16, n. 8, p. 1-16, 2021. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-34-2021.pdf Acesso em: out. 2021. 2SILVA, J. R. da et al. Estimativa do valor da
produção agropecuária do estado de São Paulo para 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio,
São Paulo, v. 16, n. 4, p. 1-7, abr. 2021. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-13-2021.pdf. Acesso em: out. 2021. 3SILVA, J. R. da et al. Valor da produção agropecuária do
estado de São Paulo: resultado preliminar 2021. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 12, p.
1-6, dez. 2021. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-52-2021.pdf. Acesso em: dez. 2021. 4SILVA, J. R. da et al. Valor da produção agropecuária
nas regiões do estado de São Paulo em 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 5, p.
1-7, maio 2021. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/AIA/AIA-18-2021.pdf. Acesso em: out. 2021 5INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados:
estatísticas da produção paulista. São Paulo: IEA, 2021. Disponível em:
http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/subjetiva.aspx?cod_sis=1&idioma=1. Acesso
em: out. 2021 6MATSUNAGA, M. et. al. Metodologia de custo utilizada
pelo IEA. Agricultura em São Paulo,
São Paulo, ano 23, t. 1, p. 123-139, 1976. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/out/verTexto.php?codTexto 7MARTIN, N. B. et al. Sistema integrado de custos
agropecuários - CUSTAGRI. Informações
Econômicas, São Paulo, v. 28, n. 1, p. 7-28, 1998. Disponível em:
http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/1998/tec1-0198.pdf. Acesso em: jan. 2022. 8Op. cit. nota 7. 9OLIVEIRA, M. D.
M. et al. Custo de implantação, produção e rentabilidade do cultivo da seringueira
no estado de São Paulo, 2016. Informações Econômicas, São Paulo, v. 47, n. 1, p. 31-49, 2017.
Disponível em: http://www.iea.sp.gov.br/ftpiea/ie/2017/tec3-0117.pdf. Acesso
em: jan. 2022. 10GOTTEMS, L.
Porque subiram os preços de insumos no Brasil? Agrolink, S. l., 16 jun.
2021. Disponível em:
https://www.agrolink.com.br/noticias/porque-subiram-os-precos-de-insumos-no-brasil-_451631. 11INSTITUTO DE
ECONOMIA AGRÍCOLA. Banco de dados:
preços médios mensais recebidos pelos agricultores. São Paulo: IEA, 2021.
Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/nia1/precos_medios.aspx?cod_ Palavras-chave: seringueira,
custo de produção, rentabilidade, produtividade, produção de coágulo. COMO
CITAR ESTE ARTIGO OLIVEIRA,
M. D. M.; GONÇALVES, E. C. P. Custo operacional de produção e rentabilidade
econômica da cultura da seringueira, estado de São Paulo - safra 2021/22. Análises e Indicadores do Agronegócio,
v. 17, n. 1, p. 1-7, jan. 2022. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.
=11566. Acesso em: jan. 2022.
html#:~:text=A%20alta%20do%20d%C3%B3lar%20norte,dos%20insumos%20agr%C3%ADcolas%20no%20Brasil.&text=%E2%80%9COs%20pre%C3%A7os%20de%20mat%C3%A9rias%2Dprimas,resinas)%2C%20foram%20bastante%20impactados.
Acesso em: out. 2021.
sis=2. Acesso em: out. 2021.
Data de Publicação: 17/01/2022
Autor(es):
Marli Dias Mascarenhas Oliveira (marlimascarenhasoliveira@gmail.com) Consulte outros textos deste autor
Elaine Cristine Piffer Gonçalves (elaine.piffer@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor