Cocoicultura no Estado de São Paulo, 2015 a 2020


 

Considerado uma palmeira de múltiplas funcionalidades, o coqueiro2 tem elevado potencial econômico devido à gama de produtos que fornece para serem explorados como a casca do coco, usada na fabricação de cordas, tapetes, chapéus, encosto de veículos, óleo e água. O óleo é largamente usado na indústria alimentícia como óleo de mesa, na produção de margarina, glicerol, cosméticos, detergentes sintéticos, sabão, velas e fluidos para freio de avião, entre outros.

No Brasil, com o crescente e significativo consumo da água de coco3, a demanda passou a ser suprida pelo comércio do fruto, principalmente, com o envasamento da água extraída por empresas de diversos portes4.

Enquanto a fibra do coco maduro é largamente aproveitada pela indústria e agricultura, a do coco verde ainda tem baixo aproveitamento, embora sua matéria prima pudesse ser mais utilizada na produção de artefatos como vasos, placas, substratos e outros5.

A cocoicultura tem despertado interesse de produtores pelo curto período de produção, a possibilidade de colheita no decorrer do ano, pela comercialização do produto e ser outra fonte de renda para a unidade produtiva. Este artigo tem por objetivo disponibilizar informes atualizados da cultura no estado de São Paulo.

O agronegócio do coco no estado de São Paulo é analisado por meio da dinâmica da produção agrícola entre 2015 a 2020. As informações sobre os pés plantados (novos e em produção) e a produção de coco tiveram como fonte os levantamentos sistemáticos de Previsões e Estimativas das Safras Agrícolas Paulistas, realizados conjuntamente pelo Instituto de Economia Agrícola (IEA) e a Coordenadoria de Desenvolvimento Rural Sustentável (CDRS-CATI), órgãos da Secretaria de Agricultura e Abastecimento (SAA)6.

Ao se observar os dados da cocoicultura paulista em 2020, esta totalizou 21,9 mil pés novos. O EDR de São José do Rio Preto foi o que indicou o maior número, 10,0 mil pés novos, destacando o município José Bonifácio. O segundo foi o EDR de Jaboticabal, onde o município de Itápolis possuía 4,0 mil pés novos. Em 2020 os EDRs de Presidente Venceslau, Presidente Prudente, Tupã e Pindamonhangaba o plantio tem se mantido estável (Tabela 1 e Figura 1). Esses dados sinalizam que a cultura vem se estabelecendo no estado.

 

Ao se observar a distribuição espacial da cocoicultura indica que está presente nas diferentes regiões do estado, passando a ser uma alternativa para diversificar a produção e renda dos produtores (Figura 1).

Em 2020, constatou-se que 67,5% dos EDRs cultivaram plantas de coco, contudo os dez maiores produtores são responsáveis por 82,6%. Os EDRs de Pindamonhangaba, que totalizou 50,0 mil pés em produção, General Salgado 40,5 mil pés, Presidente Venceslau 32,4 mil pés e São José do Rio Preto 27,1 mil pés (Tabela 2). No decorrer dos últimos três anos observa-se estabilidade no número de pés em produção em torno de 272,0 mil.

 

 

Os cultivares de coco são classificados em dois grupos, com fundamento na morfologia: alto7 e anão, este último é o mais cultivado no estado. O coqueiro anão é planta de porte baixo, atingindo cerca de 12 metros de altura, utilizado para atendimento do consumo de água de coco (“in natura” ou envasada). Começa a produzir com dois anos e meio após o plantio, apresenta produtividade de 120 frutos/planta/ano, podendo alcançar 250 frutos/planta/ano em sistemas irrigados. O coco anão vive, em média 20 anos, ou seja, bem menos tempo do que o centenário coqueiro comum.  Para cultivares comerciais esse período de duas décadas possibilita o desenvolvimento de novas variedades com vantagens agronômicas e econômicas. Como a produção de frutos se dá durante todo o ano, a atividade de colheita acompanha esse período gerando ocupação e, consequentemente, renda aos trabalhadores e produtores rurais. O mercado de água de coco é quase totalmente suprido por plantas dessa variedade.

O Estado de São Paulo tem substituído, nos últimos anos, a cultura do coco centenário por coqueiro anão, devido à grande procura pela água do fruto8.

Os informes da produção do fruto no estado, no ano de 2020, mostra que os dez principais EDRs produtores são responsáveis por 86,5% com destaque para os EDRs de General Salgado (23,1%), Presidente Venceslau (10,4%) e Jaboticabal (10,3%). A falta de água em algumas regiões em 2019 e a não utilização de sistemas de irrigação contribuíram para queda da produção no estado. A produtividade média da cultura nesses seis anos ficou em torno de 61 frutos/pé/ano, o que pode ser melhorado com a utilização de irrigação e a total substituição dos coqueiros centenários pela variedade anão (Tabela 3).

 

 

De maneira geral, a cocoicultura tem apresentado uma queda maior no número de pés em produção do que na produção, sinalizando que os pés remanescentes são mais eficientes. A proximidade do mercado consumidor paulista leva a um dinamismo da cultura em ocupar novas áreas, contudo, a produção não atende as necessidades do mercado consumidor paulista e a importação do produto para suprir o mercado ainda é significativo9.

  

1Os autores agradecem a Josilene Ferreira Coelho pelas contribuições auferidas no texto.

 

2Originário do Sudeste da Ásia. Introduzida no Brasil no século XVI na Capitania de Pernambuco, disseminando-se por muitas regiões, principalmente pelo litoral nordestino. Por seu fruto ser pouco denso e flutuar, a planta é espalhada prontamente pelas correntes marinhas que podem carregar os cocos a distâncias significativas. A palmeira do coco prospera em solos arenosos e salinos nas áreas com luz solar abundante e pancadas de chuva. O termo "coco" foi desenvolvido pelos portugueses no território asiático de Malabar, na viagem de Vasco da Gama à Índia (1497-1498), a partir da associação da aparência do fruto, visto da extremidade, em que o endocarpo e os poros de germinação assemelham-se à face de um "coco" (monstro imaginário com que se assusta as crianças; papão; ogro). COQUEIRO. In: WIKIPEDIA: a enciclopedia livre. São Francisco: Fundação Wikimedia, 2021. Disponível em: https://pt.wikipedia.org/wiki/Coqueiro. Acesso em: 7 maio 2020.

 

3A casca de coco verde é um subproduto do consumo e da industrialização da água de coco e tem se tornado um problema ambiental nos grandes centros urbanos, seja depositada nos lixões ou às margens de estradas, praias, lotes vagos etc. É um material de difícil decomposição, levando mais de oito anos para se decompor. Portanto, a utilização da casca do coco verde processada, além da importância econômica e social, é também interessante do ponto de vista ambiental. Suas fibras são quase inertes e têm alta porosidade. A facilidade de produção, baixo custo e alta disponibilidade são outras vantagens adicionais apresentadas por este tipo de material. Para a obtenção da fibra e seu uso, a casca de coco passa por diversas operações, como corte, desfibramento, lavagem, trituração, secagem e, quando necessário, compostagem. Cerca de 80% a 85% do peso bruto do coco verde é considerado lixo. O CULTIVO e o mercado do coco verde. Sebrae, S. l., 7 jan. 2016. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-cultivo-e-o-mercado-do-coco-verde,3aba9e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 1 jun. 2020.

 

4As multinacionais de bebidas (refrigerantes), por exemplo, já visualizam o crescimento do mercado de bebidas naturais, em detrimento de refrigerantes e produtos artificiais. O mercado de água de coco é quase totalmente suprido por plantas da variedade anã. Estima-se que apenas 15% do mercado de água de coco seja suprido pelos plantios de coqueiro gigante.

 

5Op. cit. nota 3.

 

6Esses levantamentos são chamados de municipais ou subjetivos, pois consistem na coleta de dados em 645 municípios do estado, segundo o conhecimento regional dos técnicos da CDRS-CATI.

 

7O coqueiro é uma planta de grande longevidade, podendo viver além dos 150 anos, chega a atingir 35 metros de altura. Isso dificulta bastante a coleta dos frutos, tornando-a uma atividade arriscada e que exige do apanhador grande destreza, prática e coragem. As variedades anãs têm vantagens evidentes para a colheita mesmo assim algumas variedades anãs crescem a uma altura considerável, em ambas, quanto mais velhas as árvores estão, mais difícil resultam suas colheitas. Uma das características mais importantes do coco é ter uma produção escalonada durante todo o ano, em virtude da sua floração ser ininterrupta. O CULTIVO e o mercado do coco verde. Sebrae, S. l., 7 jan. 2016. Disponível em: https://www.sebrae.com.br/sites/PortalSebrae/artigos/o-cultivo-e-o-mercado-do-coco-verde,3aba9e665b182410VgnVCM100000b272010aRCRD. Acesso em: 1 jun. 2020.

 

8Atualmente pesquisas tem sido realizada para a pasteurização da água de coco verde no próprio fruto, aumentando assim a vida útil do produto. A CULTURA do Coqueiro. Geocities, S. l., [1999]. Disponível em: http://www.geocities.ws/coqueiroanao/origem.htm. Acesso em 1 jun. 2020.

 

9O estado São Paulo importou, em 2019, US$5,9 milhões dos seguintes produtos: cocos, frescos ou secos, dessecados com o valor FOB de US$3,9 milhões, outros óleos de coco (óleos de copra) com valor FOB de US$843,1 mil, revestimentos para pisos (pavimentos), de cairo (fibras de coco) com valor FOB de US$439,5 mil, óleo de coco (óleo de copra), em bruto com valor FOB de US$427,9 mil, cocos frescos com valor FOB de US$173,1 mil, água de coco (Cocos nucifera) com valor Brix* superior a 7,4 com valor FOB de US$66,9 mil e fios de cairo (fios de fibras de coco) com valor FOB de US$48,1 mil. MINISTÉRIO DA ECONOMIA, INDÚSTRIA, COMÉRCIO EXTERIOR E SERVIÇOS. Secretaria de Comércio Exterior. Sistema Comex Stat. Brasília: ME: SECEX, 2019. Disponível em: http://comexstat.mdic.gov.br. Acesso em: 13 abr. 2020. *O teor de Sólidos Solúveis Totais – SST (brix) está diretamente relacionado à doçura e manifestação do sabor da água, uma vez que, em grande percentagem é representada pelos açúcares, existindo, portanto, uma forte correlação dessa característica com a qualidade final da água. VASCONCELOS, B. M. F. Qualidade físico-química da água de coco comercializada por ambulantes no município de Mossoró/RN. Revista QCTS Química: ciência tecnologia e sociedade, Natal, v. 4, n. 2, p. 1-10, 2015.  Disponível em: http://periodicos.uern.br/index.php/qcts/article/view/1887. Acesso em: 31 jul. 2020.

 

Palavras-chave: coco, previsão de safra, estado de São Paulo.

 

 

 

 

                                                                             

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

BAPTISTELLA, C. S. L.; COELHO, P. J. Cocoicultura no Estado de São Paulo, 2015 a 2020. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 11, p. 1-6, nov. 2021. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 23/11/2021

Autor(es): Celma Da Silva Lago Baptistella (csbaptistella@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor
Paulo José Coelho (pjcoelho@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor