Curva Futura do Café: fluxo de suprimento sob estresse


 

Sem sinais de queda no horizonte, as cotações do dólar continuam ditando a evolução dos preços das mercadorias mais transacionadas no mercado internacional. A insegurança quanto a solidez/coerência das políticas econômicas amplifica as expectativas altistas para a moeda estadunidense. Em setembro, a desvalorização do real somou 4,45% no período (Figura 1).


 

A trajetória altista das cotações do dólar influência diretamente o mercado das commodities agrícolas no Brasil. A transmissão cambial na formação dos preços tem alavancado os preços recebidos pelos agricultores, não sendo exceção o café aos quais se somam dois outros agravantes: a estiagem prolongada (associadas a altas temperaturas) e as consecutivas ondas de massa polar que assolaram os principais cinturões de arábica. Câmbio, clima e suspeitas, por parte dos operadores desse mercado, de que o mundo se aproxima de um colapso no suprimento de café.

Os contratos futuros de café arábica negociados na Bolsa de Nova York foi pautada por oscilações nas cotações ao longo do mês. Na primeira semana de setembro, a média das cotações em segunda posição para maio de 2022 (pico da entressafra brasileira) alcançou US$¢197,98/lbp, enquanto a média da última semana do mês para a mesma posição foi de US$¢200,67/lbp, ou seja, valorização de 1,36% no período. Os operadores desse mercado sinalizam que a escassez de produto é uma possibilidade real (Figura 2).


 

A média dos preços recebidos, em setembro de 2021, pelos cafeicultores paulistas sediados no cinturão francano, foi de R$1.105,83/sc.2 Empregando-se o dólar médio de R$5,27/US$, esse montante representa US$209,83/sc. Efetuando-se as devidas conversões, tal valor representa US$¢158,64/lbp. Comparando-se essa cotação com a praticada na última semana do mês, em segunda posição para maio de 2022 (US$¢200,67lbp). Descontando-se a estimativa de 20% dessa cotação decorrente dos custos de contratação do hedge, alcança-se uma cotação líquida de US$¢160,54/lbp, montante muito aproximado ao estabelecido no mercado spot francano. Sem vantagem financeira significativa, a contratação do hedge não se mostra atrativa aos cafeicultores.

No mercado futuro de café, robusta negociado na Bolsa de Londres, foram observadas oscilações mais consistentes para a posição de janeiro de 2022 com sequências de altas ainda mais vigorosas que as contabilizadas para o arábica em Nova York (Tabela 1).

 

 

A crise global da logística do comércio internacional, representada pela escassez de contêineres, traz momento mais especulativo para o mercado futuro de café robusta que, sob colapso de oferta de arábica, exibiu cotações em elevação. Essa situação, igualmente vivenciada pelos embarques brasileiros, afeta também os negócios do país, acarretando ainda maior pressão sobre as cotações.

A evolução dos negócios da Bolsa de Nova York reagiu à pressão observada para as cotações. Entre a primeira semana e a última do mês, houve variação positiva de 7.692 entre os fundos e grandes investidores (Tabela 2).

 

Entre julho e agosto de 2021, houve ligeiro incremento nos estoques certificados estadunidenses, totalizando pouco mais de 56,1 mil sacas, conforme relatório da Green Coffee Association3. Tal aumento de sacas nos depósitos contribuiu para manter pressionadas as cotações do café arábica, à revelia do cenário crítico que se avizinha para o suprimento de produto a curto prazo.

1O autor agradece pelo trabalho de sistematização do banco de dados econômicos conduzido pelo agente de apoio à pesquisa científica e tecnológica do IEA, o analista de sistemas Paulo Sérgio Caldeira Franco.

 

2INSTITUTO DE ECONOMIA AGRÍCOLA. Preços médios diários recebidos pelos produtores. São Paulo: IEA, 2021. Disponível em: http://ciagri.iea.sp.gov.br/precosdiarios/precosdiariosrecebidos.aspx?cod_sis=6. Acesso em: out. 2021.

 

3GREEN COFFEE ASSOCIATION. Warehouse coffee stocks. New York: GCA, jun. 2021. Disponível em: em: https://greencoffeeassociation.org/wp-content/uploads/2021/06/5-2021-Warehouse-Stocks.pdf. Acesso em: out. 2021.

 

 

Palavras-chave: mercado futuro, Bolsa de Valores, cotações do café.

 

 

 


 

 

 

 

 

COMO CITAR ESTE ARTIGO

VEGRO, C. L. R. Curva Futura do Café: fluxo de suprimento sob estresse. Análises e Indicadores do Agronegócio, São Paulo, v. 16, n. 10, p. 1-4, 2021. Disponível em: colocar o link do artigo. Acesso em: dd mmm. aaaa.

Data de Publicação: 20/10/2021

Autor(es): Celso Luís Rodrigues Vegro (celvegro@sp.gov.br) Consulte outros textos deste autor